— O que houve, Méri? – Daniel questionou assim que o sinal do intervalo tocou.
— Por que? – franzi o cenho ao encará-lo.
— Você está estranha. – Ele explicou.
— Não estou, deve ser impressão sua, Dan. – menti, levantando-me em seguida.
— Já sei dos boatos que estão espalhando por aí, e a Sophia também já disse que foi o Vitor quem está falando isso... Quer que eu fale com ele?
— Não Daniel, não preciso que você interfira nisso. Se você quer saber, eu nem dei importância. – Expliquei, dando de ombros.
— Você que sabe, mas se precisar, eu estou aqui para cuidar de você. – Ele disse, e eu sorri em forma de agradecimento por sua preocupação.
— Obrigada, mas não preciso mais que você cuide de mim, consigo fazer isso!
— Não tem que agradecer. Você é uma das pessoas que eu mais amo, jurei que não ia deixar que ninguém te machucasse novamente e vou cumprir. – Ele disse referindo-se ao passado, pois quando eu lhe contei que havia sido abusada por meu ex-namorado, ele disse que não deixaria ninguém mais me machucar.
— Não repita isso, não quero lembrar. Além do mais, é totalmente diferente.
— Ok, me desculpe, sei que você não gosta de falar sobre esse assunto! – Retratou-se, levantando as mãos.
— Tudo bem. E você e a Sophia? Como estão?
— Não sei, a gente ficou e tal, só isso. – Ele contou.
— Quê? Como assim “só isso”?  Você não gosta dela para valer? -dei ênfase em "só isso".
— Sou meio novo para entrar em um relacionamento sério agora.
— Daniel, não importa o que você queira fazer, a Sophia gosta de você de verdade, você a iludiu com todas aquelas coisas bonitinhas de “ah, você é minha outra metade, girl” agora, assume sua culpa.
— Eu sei, América. Mas, para ser sincero, a Sophia não é muito diferente, queria uma garota que fosse difícil no início, que me provasse que fosse diferente...  Sabe, por que o Vitor se apaixonou por você? – Ele perguntou e eu apenas fiquei calada, esperando ele continuar – Porque homem gosta de correr atrás. Você com esse disfarce todo para afastar qualquer homem de você só faz eles se atraírem mais, você é linda, mimada e complicada, sonho que qualquer malandro. Se você não fosse minha prima pode ter certeza que eu seria totalmente apaixonado por você!
— Daniel, presta atenção, você está sendo completamente estúpido... – Antes que eu continuasse, vi Sophia entrar ali.
— Não precisa dizer nada América, deixa ele pensar assim, não tem importância. Apenas quero que você não se arrependa por ter dito essas coisas, Daniel, se eu agi daquela forma com você é porque te amo e você além de ser estúpido por falar essas coisas, está sendo um tremendo idiota machista, cada um é de um jeito e eu não vou mudar só porque você quer uma garota difícil para correr atrás. – Após dizer isso, ela saiu dali rapidamente.
— Vai atrás dela, imbecil! – ordenei, mas Daniel apenas ficou com aquela expressão de quem não sabia o que fazer, então eu apenas bufei e corri atrás dela.
A garota estava no banheiro, agachada no chão, chorando. Sentei-me ao lado dela e fiquei calada por alguns minutos, apenas observando suas lágrimas caírem. Após uns 5 minutos, quando ela percebeu que eu definitivamente não iria me manifestar, ela mesma disse:
— Não vai dizer nada?
— Quer chocolate? Sempre ajuda.  – Retruquei e ela gargalhou, ainda com algumas lágrimas escorrendo por seu rosto – Soso, não liga para nada que ele disse... você é diferente sim, eu nunca conheci alguém tão maluca, diferente e especial quanto você, e eu tenho certeza que um dia o Daniel vai perceber isso.... Igual aqueles contos de fadas ridículos em que o mocinho sempre se arrepende no final.
— Por que você está dizendo essas coisas? Você mesma não acredita nisso, não precisa dizer por dó.
— Eu não acredito, mas, você acredita, isso é o que conta. Se eu acredito no amor ou não... dane-se!  Você acredita e se acha mesmo que pode viver um amor tão incrível, não vou tirar isso de você. Sabe aqueles filmes românticos que você vê? Você é a protagonista deles! É por você que os melhores príncipes vão se apaixonar.  Já eu sou aquela garota que apenas está ali, que não participa de história nenhuma, apenas vive todos os dias pensando por que tudo deu tão errado... eu queria, sério, queria muito que tivesse sido diferente; eu queria conseguir acreditar no amor e essas coisas, mas, como eu já disse, eu apenas existo. Sou a coadjuvante dessa história, a melhor amiga dark da princesa dos contos de fada, que no caso é você e, eu espero, do fundo do meu coração que você encontre seu final feliz! – Enquanto eu dizia todas essas coisas Sophia parecia realmente concentrada e deixava algumas lágrimas caírem, mas, quando eu terminei de dizer tudo aquilo, a garota apenas disparou a rir. – Do que você está rindo? – Perguntei, sem entender.
— Estou rindo por que você foi a única que ainda não percebeu que a personagem principal dessa história é você, querendo assumir ou não, garota. É para você que todos olham e também é para você que os piores ou melhores dramas estão reservados, não digo isso por inveja... talvez um pouco, porque na verdade eu queria ser a personagem principal mesmo e tudo isso que você disse... mas ao mesmo tempo sei que eu não seria tão forte para passar  por tudo que a principal sempre tem que passar, mas você consegue, então, vê se entende isso de uma vez por todas.
Então, antes que eu tivesse tempo de responder, uma garota entrou no banheiro, direcionando-se a mim:
— O diretor está te procurando.
—Hm... Tá. -respondi, me levantando, não estava com a menor vontade de falar com o diretor, mas também não estava nem um pouco afim de continuar ali, falando  com a Sophia, afinal, eu tinha ficado sem graça com suas últimas palavras. Entre as duas opções, decidi ir, mesmo sabendo que provavelmente iria me dar mal.
Sai do banheiro, sem se quer me despedir de Sophia, de onde ela tinha tirado esse lance de eu ser a protagonista de alguma merda? Eu sou só eu. Ela que fica se achando uma princesa que vai encontrar o verdadeiro amor e ser feliz para sempre... Essa não sou eu e finais felizes não existem!
(...)
— O que houve dessa vez? -eu perguntei já na sala do diretor, olhando para ele, antes que o mesmo tivesse tempo de responder, Vitor entrou na sala também.
— Só podia ser. -murmurei, revirando os olhos.
— O professor me contou que vocês brigaram na sala de aula, podem me explicar o motivo? Achei que vocês já tinham passado dessa fase! -O diretor questionou cruzando os braços.
— É porque esse imbecil fala demais, e agora todos estão sabendo da nossa incrível foda selvagem! – Expliquei, olá ironia. O diretor me olhou com certa reprovação, como se eu me importasse com a opinião dele.
— É, isso aí... - Vitor concordou, revirando os olhos - "Nossa incrível foda selvagem" - Repetiu dando ênfase na frase e soltando um sorriso extremamente forçado, como se tentasse entender o que se passava na minha cabeça.

É isso aí, De La Riva, quer que todos pensem que transamos? Todos irão pensar. Vamos ver se assim ele percebe que eu não dou a mínima.
— Poupe-me desses detalhes, senhorita Collins -o diretor pediu, olhando-me como se eu tivesse algum problema. -Vou ligar para seus pais e contar o acontecido e, além disso, quero vocês trabalhando juntos nos preparativos para o primeiro baile de máscaras que iremos realizar na escola.
— Ótimo. Era tudo que eu mais queria! -falei sarcasticamente.
— Espero que sim, podem sair agora. - O diretor falou.
— Ótimo!  - Vitor afirmou, ele parecia estar sem paciência alguma, em seguida se levantou, andando até a porta, quando ele estava prestes a sair, deu de cara com Paula.

O que essa garota estava fazendo ali?
Eles ficaram se olhando por um tempo, pois Vitor havia a segurado para que ela não caísse quando eles se esbarraram.
— Algum problema? - Indaguei me aproximando e parando ao lado de Vitor, por algum motivo que eu não consigo entender, sempre me irrita muito vê-lo perto de qualquer garota. Mesmo me matando por dentro, tentando não me importar, não consigo.
— Pergunto o mesmo. - Paula franziu o cenho sem entender o porquê do meu ato.
— O que você está fazendo aqui? - Vitor perguntou e Paula o encarou, soltando um sorriso para ele. Qual é, ela estava o devorando com os olhos, minha raiva subia cada vez mais.
— Vou estudar aqui agora, amor! - Ela explicou, deslizando a mão pelo braço de Vitor.
— Era tudo que eu precisava. - Revirei os olhos.
— Sei que você me odeia, América. Mas, eu voltei, não vou viajar de novo por um bom tempo, então você vai ter que se acostumar com meu brilho ofuscando você novamente, priminha!
Soltei uma gargalhada sarcástica e com certeza em uma altura desnecessária, em seguida, fiquei séria novamente. Poderia me considerar até uma daquelas vilãs daquelas novelas mexicanas que soltam risadas extremamente escandalosas quando estão com raiva ou algo do gênero.
— Eu não ligo pra você, não ligo pra suas tentativas de aparecer, não ligo pra sua presença e nem pro fato de você existir, sabe, nunca liguei, isso não vai mudar. Mas, vê se desencana, mostre que você tem um pouquinho de senso e melhore! Faça o que quiser, vou continuar não ligando, mas você não vai estragar a minha vida, você não vai me atormentar, eu faço o que for preciso, mas não vou permitir. Então, eu acho melhor você ficar longe de mim e do Vitor, ouviu bem? - Falei e em seguida, sai dali puxando o Vitor pelo braço.

"Seja feliz do jeito que você é, não mude sua rotina pelo o que os outros exigem de você, simplesmente viva de acordo com o seu modo de viver."- Bob Marley.