A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 22
4.0


Notas iniciais do capítulo

Quando o pessoal da NET vier aqui, arrumarei esse cap e o anterior! Beijao e boa leitura :3



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Preparada ou não, lá vou eu

Eu me sentei no chão, a carta entre as minhas pernas. Observo o meu refleto aflito pelo o espelho e desvio o olhar. Respiro profundamente. Não iria doer mais do que o necessário.

Com a ponta do indicador rasgo o envelope, trazendo à luz um pedaço de papel dobrado ao meio e, cautelosamente, a desdobro. Paro por um momento, as letras desfocadas. Aspen não mandara um texto, coisa que eu não imaginava. Sua carta possuia apenas algumas frases, o que me surpreendeu. Solto um suspiro quase aliviado, mas assim que foco em suas palavras, sinto um aperto agudo no meu estômago.

"America,

Pretendo ser breve com o que tenho a dizer. Você, simplesmente, não pode dizer que está apaixonada por outro cara através de uma carta. Céus, Meri, você TERMINOU comigo através de uma CARTA!

Quero ver o seu rosto, os seus olhos enquanto pronuncia o que disse para mim, só que em voz alta. Olhando para o meu rosto. Acredito que eu mereça ao menos isso. Não precisa se preocupar, não vou tentar reconquistá-la e nem nada, apenas quero ter certeza do que me disse na carta anterior olhando para você. Não seja covarde, America, pois eu sei que você não o é.

Estou te esperando hoje a noite, às 23:00 no mesmo lugar de sempre. Nós devemos encarar um ao outro em nome de tudo o que passamos até hoje.

Essa a sua atitude de terminar comigo através de uma uma folha de papel não faz jus à você, impetuosa e corajosa.

Aspen Leger"

Meus olhos permanecem vidrados em suas palavras durante alguns segundos, até que o entendimento afundasse em minhas entranhas e meu coração começasse a disparar. Engulo em seco várias vezes e tento me acalmar através da respiração, mas não adianta. Espalmo as duas mãos no assento do sofá para me impulsionar para cima, tendo mais dificuldade do que o normal para erguer o meu corpo. Um pouco atônita, marcho até o banheiro, ligando a torneira, para depois por minhas mãos coladas uma ao lado da outra em formato de concha, capturando um pouco da água que jorrava para baixo e, então, molho o meu rosto. Em seguida, desligo-a e fecho a tampa do vaso sanitário para que eu pudesse me sentar. Abaixo a cabeça, pondo-a entre as minhas pernas e aperto bem os olhos.

Eu acho que estava tendo uma crise de ansiedade, só podia ser. Meu coração não se acalmava e meu corpo tremia de leve. Tinha quase certeza disso porque durante muitas vezes nas séries iniciais do fundamental, quando estava prestes a apresentar algum trabalho, eu me sentia assim.

Não devia estar assim, no entanto eu estava. Sabia que não tinha nada a ver com o Aspen, eu já havia feito a minha escolha e nada mudaria isso. Se ele queria me ouvir dizendo que não o amava mais, porque me apaixonei por Maxon, eu diria.

O problema é que eu não quero encará-lo, ver os seus olhos me acusando. Uma coisa era imaginar a sua reação, outra bem diferente era presenciar a situação e sentir suas palavras me açoitando. Iria doer. E eu não quero me machucar. Se eu tenho a possibilidade de evitar a dor, por que não a evitaria?. Já tinha dito tudo o que queria a ele naquela carta, não precisava de mais. Minha parte já havia sido feita.

Já tinha sido feita. Me agarrei a esse pensamento, retirando toda a culpa e responsabilidade de ser digna dos meus ombros, como a bela covarde que a cada dia que passava eu via se apoderando mais e mais de mim.

Não sei quantos minutos eu fiquei ali, no vaso, olhando para o chão ladrilhado. Mas chegou uma hora em que meus músculos estavam todos rigídos e eu tive que levantar e alongar, digamos que aquela posição não era a mais agradável. Com as pernas mais firmes e a respiração praticamente normal, me encaminhei até a minha cama, sentando na beirada no colchão macio, deixando com que as minhas mãos caíssem debilmente sobre o meu colo enquanto eu fitava a parede.

Agora que eu conseguia pensar com clareza, precisava me decidir. E se eu não fosse ver Aspen e ele continuasse a me procurar? Ou pior, e se ele viesse até AQUI me ver? Um confronto seria inevitável, podia sentir bem no fundo do meu peito. Ele tinha razão, não era certo terminar através de uma carta. Era covarde demais, até para mim. Eu teria, seria obrigada, a aguentar seja lá o que fosse me dizer. Doeria, mas seria o suficiente para colocarmos um DEFINITIVO ponto final.

Por tudo o que passamos juntos...como Aspen mesmo dissera, eu devia ao menos um término digno. Olhando no olho dele. Vendo seu rosto se contorcendo em uma cara decepcionada.

—Argh!

Me jogo para trás, minha cabeça batendo contra um dos travesseiros. De todas as coisas que alguém poderia dizer à mim para me deixar abatida, era dizer que eu havia sido uma decepção. Isso me abalava mais do que uma palavra de puro ódio.

Viro o meu rosto para o lado, agora observando a luz da tarde alaranjada entrando pelas janelas do quarto, iluminando a poeira que se elevada do chão e flutuava sem rumo. O tiquetaque do relógio desviou minha atenção para as horas. Eram 17:48, e a cada minuto que se passava, mais perto eu estaria de encontrá-lo.

—É necessário. - Digo para mim mesma, como se dizer as palavras em voz alta fosse me deixar mais corajosa e menos ansiosa.

Não funcionou.

Uma hora depois, me certifiquei de que Maxon ainda não havia chegado. Silvia não deu certeza sobre quando ele voltaria.

—Acho que ele chegará amanhã pela a manhã, senhorita America. - Respondeu enquanto inspenciova um dos grandes espelhos que ficavam no corredor direito do segundo andar. Ela deslizou o dedo na linha entre o vidro espelhado e o começo do adorno pomposo e amadeirado, e fez um biquinho de reprovação.

—Tudo bem, obrigada. - Respondi, lhe lançando um sorriso fraco, mas que ela não prestou muita atenção. Estava mais preocupada em chamar uma das empregadas para dizer algo que não parecia um elogio. Me arrastei até o meu quarto novamente, encontrando Marle no meio do caminho. Ela ergueu os braços bem alto e abriu um sorriso, indo até mim com um abraço. Marlee adorava abraçar.

—Ames! Tenho uma notícia incrível para te dar. - E então me puxou os poucos metros que faltavam até a porta, me empurrando para dentro do recinto assim que a abriu.

Tentei disfarçar tudo o que sentia com um sorriso no rosto. Ela estava tão animada que pareceu não perceber. Ou eu que estava me saindo muito bem.

—O que houve de tão importante assim? Você parece radiante. - Murmurei, agora tomando cuidado de me mover até a sacada, ficando de perfil para a pessoa de Marlee, que acabara de jogar-se no sofá com uma almofada agarrada ao peito.

—Carter e eu nos beijamos. Acho que dessa vez é pra valer. - Suspirou ela. Dessa vez meu sorriso foi sincero, e eu me encaminhei até o sofá, dando-lhe um beijo na testa.

—Você merece ser feliz, Lee. - Falei, e em seguida escondi o meu rosto entre os seus cabelos louros.

Não iria preocupá-la com os meus problemas. Iria deixá-la curtir o seu momento em paz.

O relógio marca quase 22:30 e eu estou de moletom escuro, com capuz, e calça jeans skinny pretas. Calcei meu tênis surrado, que demorei muito para achar porque estava perdido embaixo da cama e me sento na poltrona, olhando como uma maníaca os ponteiros se movendo.

Quando falta dez minutos para às 23:00, saio do quarto e tranco a porta com um baque leve. Andando pé ante pé, desço as escadas lentamente, tomando mais cuidado do que o normal para não acabar sendo pega. Respiro profundamente e saio pela a porta dos fundos, que dava de frente para o jardim. Pego os bancos que ficavam sempre ali, na beira da piscina que raramente os Schreave usavam, e me apoiei no muro fazendo força, puxando o meu corpo para cima, até que uma de minhas pernas pendiam para fora da residência. Eu estou prestes a por minha outra perna para lhe fazer companhia do lado oposto do muro quando escuto passos.

Paraliso. O ar parecia que tinha sido tirado de mim. Será que eram um dos seguranças? Se eles me vissem aqui, nessa situação, será que diriam algo para Maxon ou para o Lorde Clarkson? , engulo em seco, tentanto me abaixar precariamente na linha do muro, me arrastando como uma cobra mal matada até uma área onde a luz do poste não iluminava tão claramente assim.

—America? - Escuto a voz dele e fecho os olhos com força, rezando para ser um sonho e que quando eu os abrisse, estaria deitada em minha cama, como uma boa menina. Como eu não respondi, Maxon continuou: -O que está fazendo aí? - Sua voz ficou dura. Dura feito aço, enquanto que meu corpo ficou mole feito gelatina. Mal consegui me virar para procurar os seus olhos, mas me obriguei a me manter firme para não cair estabacada no chão. Quando finalmente encontrei o seu olhar, prefiriria mil vezes estar de costas para ele.

Seu rosto está trincado, sua respiração saí de forma desregular, assim como a minha. Seus olhos escuros por conta da luminosidade, pareciam aflitos e desapontados.

Enguli o choro.

—Oi, Max... - foi o que eu disse. Droga, será que não tinha nada melhor para dizer ao invés de 'oi, Max'?

Maxon estreitou os olhos e arqueou uma de suas sobrancelhas, sugerindo que eu lhe desse uma explicação. E eu não estava pronta para lhe contar a verdade agora. Não ainda.

—Então...eu queria dar uma olhada na rua...e... - minha voz está muito baixa, então engulo a saliva e tento usar um tom mais alto. - Eu não sabia que já tinha chegado. - Soltei por mim, me dando conta tarde demais que estou segurando o muro de pedra muito forte e que meus dedos estão começando a ficar machucados.

—É isso que você faz quando acha que eu não estou? Sair...as espreitas como uma fugitiva? Pra onde estava indo? - Ele estava irritado, mas não sei dizer se era comigo ou com ele mesmo. Piscou várias vezes e olhou para baixo, dando um sorriso de escárnio quando protelei para lhe responder. Quando voltou a me olhar, seus olhos eram como uma faca bem afiada. - Meu pai talvez tenha razão. Siga o seu caminho, America. - E então virou as costas, que estão caídas, e parte em retirada com pressa.

—Maxon! - Grito, sentindo minha garganta arranhada. Mas ele não se virou, foi embora, e eu fiquei ali. Desesperada e trêmula, eu engolia o choro e tentava descer dali sã e salva. Saio correndo pela a grama verdinha, entrando na mansão sem me preocupar se estava fazendo barulho demais ou não. Subo as escadas tão rápido, que só poderia ser algum surto de adrenalina no meu sangue. Dobro para o corredor do quarto de Maxon, a essa altura minhas lágrimas vertiam pelo o meu rosto e eu estava disposta a contar tudo. O Aspen que se dane, eu sabia que Maxon era tudo o que eu queria e importava de verdade. Bato na porta uma vez. Nada.

Duas.

Três.

Quarto vezes. E mais outras quatro vezes, e mais outras quatro, e mais outras quatro, mas ninguém apareceu. Meu coração parecia pesado demais, como se tivesse saído de seu lugar habitual e descido para o meu estômago. Será que ele iria me ignorar?

Fiquei em silêncio e colei a lateral do meu rosto na madeira gelada, tentando escutar qualquer som que fosse. Nada.

Talvez ele não tenha vindo pro seu quarto...mas pra onde então?

Fiquei de costas e me sentei em cima do tapete, sentindo que poderia formar uma poça no chão, mas dessa vez de angustia. O que ele estaria pensando de mim? Droga! Planto os pés no chão e ergo os joelhos, e então apoio minha cabeça na parede e fecho os olhos, tentando inutilmente segurar o choro.

Eu iria esperar por Maxon ali até que ele chegasse. Até que ele parasse e me ouvisse. Nem que eu tivesse que esperar a noite toda.


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Notas finais do capítulo

E agr?