A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 15
2.12


Notas iniciais do capítulo

A Frase em itálico é da Big Great World & Christina Aguilera - say something



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Ainda estou aprendendo amar. Apenas começando a engatinhar

 

Já fazia quase duas semanas que eu não me encontrava com Aspen, e não foi por falta de insistência por parte dele. Eu que não quis, eu que não quero encará-lo por um tempo até finalmente sentir que tudo está certo, que não há nada de errado em mim mesma e em meus sentimentos. 

Seguro a caneta de forma firme, olhando para o papel como se assim ele me dissesse qual seriam as palavras certas a dizer. Lentamente, minha mão começa a se movimentar, rabiscando palavras que poderiam ser interpretadas de muitas formas, pelo o que conheço dele.

"Aspen, 

Sinto muito não ter respondido às suas cartas anteriores, mas é que realmente estava ocupada. Alguns preparativos estão começando a se desenrolar por aqui para o casamento e eu preciso participar, já que volta e meia o Lorde Clarkson chama algum jornalista para fotografar e deixar rolando pela a internet, ou jornais informais. Sinto muito mesmo. 

Quanto ao seu pedido, esse que você me cobrou nessas três últimas cartas que enviou, bom...espero que entenda, mas eu sei o que preciso fazer, e não você. Eu é que estou aqui, e meu amor por você continua o mesmo, mas tomei uma decisão e ela se seguirá a risca. Não vou forçar Maxon a me mandar embora para casa, não quando não há necessidade para isso. Consigo entender o seu receio, mas não vou abrir mão de escolher o que julgo ser melhor para todos os envolvidos. 

Com amor, 

America."

Assim que a mansão ficara um tanto pacata e silenciosa, pedi para Eduardo me levar até o correio e enviei a carta, um tanto apreensiva, para Aspen. No caminho de volta, meus pensamentos iam de encontro com o meu passado com Aspen Leger. Ele foi, sem duvida, a primeira pessoa que eu confiei em um momento em que havia sido mortalmente magoada por uma das pessoas que mais amo no mundo, meu pai, quando achava que nunca mais poderia confiar em alguém na vida de novo. O único que amei além da minha família, aquele que me senti à vontade para desabafar e chorar, aquele que me quis mesmo sabendo que estava prometida a outra pessoa e, ainda assim, me amou e ainda me ama. Será que eu estou certa em renunciar um pedido dele para não abalar a minha relação com Maxon? 

Me encolho no banco de trás do carro, meus olhos fitam atraves da janela mas não enxergam nada. Por que eu me importava tanto com o que Maxon pensaria de mim caso eu levasse meu plano antigo a cabo? Talvez tivesse sido melhor não ter me apegado, não ter feito dele um amigo tão...importante. 

Talvez tivesse sido mais fácil se Maxon não fosse tão...Maxon. 

Meia hora mais tarde, com o coração pesado e a mente vagando entre mil possibilidades, passo pela a porta e dou de cara com Madame Amberly sentada em seu sofá espaçoso, uma xícara está em sua mão esquerda e uma fumaça singela saí do líquido quente em seu interior. Pretendo apenas sorrir e subir diretamente para o quarto, mas ela parece animada e pede para que eu me sente e a acompanhe.

—Chá? - Pergunta-me com um sorriso. Mordo meu lábio inferior por um segundo e ergo um ombro só.

—Na verdade, não sou muito fã de chá. - Murmuro um pouco sem jeito.

Madame Amberly assente com a cabeça e solta uma risada divertida.

—Às vezes me esqueço que você é americana! - Afirma, balançando sua cabeça e fazendo com que seus cabelos leves balançassem junto. 

Não sei exatamente o que responder, então fico calada e sorrio. Em boca fechada não entra mosca, como mamãe costumava dizer.

—Então, gostaria de...café? - Tenta ela. Dessa vez meu sorriso é mais autêntico.

—Amo café. 

Ela sorri para mim e chama com delicadeza uma das empregadas que passava por ali.

—Mariana, por favor, um café para America. - Pede. Mariana olha dela para mim e faz um breve gesto de cabeça, sinalizando que havia entendido. Ela parte sem dizer nenhuma palavra.

Olho para os lados, cruzo e descruzo as pernas, enquanto Madame Amberly parece calma.

—Está nervosa, querida? - Questiona ao dar uma bebericada em seu chá e então repousá-lo na mesinha de centro.

—Não, não. - Respondo no ato, e ela me sorri sem mostrar os dentes dessa vez. 

—Entendo. Gostaria de conversar com você sobre o seu casamento com Maxon. - Diz ao pegar uma revista que está ao seu lado, folheando algumas páginas antes de voltar sua atenção para mim novamente. - E sobre o próprio Maxon. 

Fui pega de surpresa e não pude evitar o leve rubor que tomou minha face. No mesmo instante Mariana chega trazendo meu café e açucar em uma bandeja. Me concentro em por duas colheres de açucar dentro da xícara e agradecer Mariana com um sorriso. 

Tomo um gole, sentindo a delícia da cafeína entrar em contato com o meu organismo. Eu sou uma grande amante de café, coisa herdada de papai, diga-se de passagem. Arrisco uma olhada para Madame Amberly, e ela me encara com as sobrancelhas erguidas, obviamente esperando que eu respondesse alguma coisa. 

Solto um pigarro.

—Não sei exatamente o que quer saber, Madame Amberly. - Respondo com a voz soando um pouco fina demais. 

—Apenas Amberly, querida. - Me repreendeu com uma careta engraçada. -Quero saber se gostaria de cuidar dos preparativos junto com Maxon. Acredito que seja algo em que ambos deviam trabalhar, um ao lado do outro. - Seu olhar ao finalizar transmitia uma série de emoções, e a que mais me deixou curiosa era o divertimento que vi ali. 

Desvio o olhar para o carpete azul marinho.

—Ér...se Maxon quiser, por mim tudo bem.

Amberly abriu um sorriso largo.

—Ele quer, pode ter certeza. 

—A...senhora já conversou com ele sobre isso? - Questiono, meus olhos ainda estão baixos. 

—Já, ele pareceu gostar da ideia. Clarkson também gostou. America?

Pisco duas vezes antes de erguer meu rosto de forma digna.

—Parece constrangida com algo.

—Impressão su...

Sou interrompida quando ela começa a rir. Aguardo intrigada e um pouco incomodada até que sua voz soa pela a sala alta e clara, como é de seu costume.

—Sou macaca velha, como diz minha irmã mais nova! - Ela parece lembrar-se de algo e ri novamente. -Não tente me enganar. E, por favor, não tente se enganar também. 

Seco minhas mãos discretamente no tecido da minha calça jeans e não resisto em franzir a testa. 

—Entendi. - Digo eu, mesmo não tendo entendido nada.

—Meu filho é seu noivo, não há com o que ficar encabulada. 

Meu sorriso agora saiu afetado.

—Noivo de mentirinha. 

Amberly arqueia as sobrancelhas.

—Ainda assim é seu noivo. - Sua voz é firme, carregada de sentimentos e conhecimentos. 

Constrangida, concordo com a cabeça, porém a mantenho erguida.

—Certamente. 

—Gostaria de te informar também, que o senhor Johnson e e sua filha irão jantar conosco está noite. 

—Obrigada. - Obrigada por não me avisar em cima do laço, completo em em minha mente. 

—Parece que você está um pouco abalada hoje...gostaria de descansar um pouco antes do jantar? 

—A senhora é encantadora, mas sim...é verdade, estou um pouco...cansada hoje.

Ela faz um sinal de compreensão com a cabeça e que não havia problema. Me levantei e quando comecei a rumar em direção às escadas, ela me chamou. 

—Sim?

—Não é nada demais, só queria dar uma dica, que já dei para Maxon, mas acho que preciso dá-la a você também.

—Claro. - Digo começando a me sentir nervosa.

—Caso esteja em dúvida em qual profissão seguir, recomendo que seja a de atriz. - Franzo o cenho, confusa com as palavras dela. Em seguida, como se tivesse interpretado minha expressão, Amberly continua: - Você e Maxon fingem muito bem que gostam um do outro. Falei isso para ele hoje também e o engraçado é que a sua expressão foi a mesma que a dele! - E começou a rir, olhei para o grande espelho que ficava na sala, curiosa para saber qual seria a minha expressão e, então, entendi o motivo da graça. Meu rosto está vermelho e constrangido. -Esses jovens. - Concluí ela, fazendo um gesto de reprovação com a cabeça.

Desço as escadas vestindo jeans e uma camisa de seda branca. Um colar de perólas pequenas e um brinco também de peróla terminaram de compor o look da noite. Meus cabelos estavam muito frizados hoje, então decidi amarrá-lo em um rabo de cavalo frouxo e passar um mousse para mantê-los controlados.

Quando me viu, o senhor Johnson abriu um sorriso enorme e me abraçou quando cheguei perto o suficiente. Retribuí de bom grado, sentindo até mesmo um certo contentamento com o seu gesto tão caloroso e, aparementemente, verdadeiro.

—America! Está linda, como sempre. - Elogia ele.

—O senhor que é gentil, como sempre. - Retruco com sinceridade, recebendo uma gargalhada de trovão. 

—Queria que conhecesse Celeste, minha filha. - Senhor Johnson olha por sobre o seu ombro, procurando por alguém. Quando finalmente encontra, faz um gesto agitado e animado para uma garota que reconheci vagamente. - Querida, venha cá!

A menina vestia-se com uma calça social branca e uma camisa vermelho sangue de botões dourados, seus lábios são grossos e vermelhos. Os cabelos estão presos em um coque cheio e despojado no alto da cabeça. 

—Papai, por que você sempre tem que gritar tão alto? - Pergunta ao pai de forma gentil e reprovadora na mesma medida.

—Estamos entre amigos, filha, não há necessidade de formalidades!

Celeste revirou os olhos e sorriu, agora focando sua atenção em mim.

—Espero que não tenha ficado surda. - Brinca ela. 

Acabo rindo um pouco.

—Não, seu pai é muito legal. - Falo de forma sincera. 

—Celeste, essa é America Singer. - Apresenta-me ele. Celeste ergue a mão de forma firme, quando a pego seu aperto é forte e me passou a impressão de que ela era uma mulher decidida.

—Celeste Newsome, é um prazer conhecer a nova queridinha de papai. 

Coro um pouco o rosto. 

—Celeste é uma peste, mas é um amor também. - Diz o senhor Johnson antes de me lançar uma piscadinha e dar um beijo amoroso em cada lado das bochechas da filha. - Clarckson!- Berra ele, se despedindo antes de ir cumprimentar o seu amigo. 

Celeste faz uma careta e eu rio novamente.

—Então, acho que já vi você antes. - Murmuro enquanto caminhávamos uma ao lado da outra até a mesa de jantar. - Você não é amiga da Kriss? Kriss Ambers?

Celeste bufa alto e sentamos lado a lado.

 —Não sou amiga dela. Kriss é muito songamonga!

Levo uma das mãos a boca para reprimir a risada.

—Mas vocês estavam conversando, pensei que...

Ela faz cara de tédio.

—America, ainda não aprendeu que nesse mundo quase tudo é aparência? Temos que conversar com todos e aparentar estar gostando, mesmo que seja exatamente o contrário. - Diz em tom baixo, com os olhos atentos fitando cada rosto que se aproximava de nós. - Aprenda comigo.

Fiquei sem reação por um segundo.

—Você é sincera. 

—Só quando me sinto à vontade com a pessoa. - Então pisca para mim e eu abro um sorriso. Um homem entrou na sala e eu pensei que era finalmente Maxon, mas ele ainda não tinha chegado. Não o via há bastante tempo, e quando esbarrava com ele pela a mansão, era apenas um "bom dia", um sorriso, "oi" ou "boa noite". Quando muito, ele me perguntava como eu estava. Maxon está muito atarefado, ainda mais agora que sua candidatura havia sido lançada para a inglaterra inteira.

Meus olhos correm para cada movimento, na esperança de vê-lo entrar e me cumprimentar com aquele sorriso que fazia uma covinha aparecer em sua bochecha.

Ouço Celeste fazer algum ruído com a garganta e então volto a minha atenção para ela.

—Ele não vem hoje.

—Ele quem? - Me faço de desintedida. Ela revira os seus olhos.

—Maxon.

—Como você sabe? - Fico curiosa.

Celeste afofa seus cabelos ondulados e escuros e me encara com um olhar brilhante.

—Meu pai é como...sei lá, um segundo pai dele. Sei muitas coisas sobre Maxon, America. - Responde com um sorriso presunçoso. 

—Vocês já...ahn, sabe como é...já tiveram algum tipo de relacionamento? - Não pude impedir que minha voz soasse um pouco dura.

Celeste solta uma risada autêntica, porém discreta.

—Não! Mas se você largá-lo, não vou me importar de catá-lo depois! - Mais uma risada, dessa vez acompanhada de uma piscadinha marota.

Reviro os olhos.

—Pode deixar. - Respondo com a voz monótona, desviando o olhar para Amberly, Clarkcson e o senhor Johnson conversavam como se fossem grandes amigos há muito, muito tempo. O que era verdade.

Sinto um cutucão no braço, olho para a Celeste que se controlava para não começar a rir.

—Ei, America. Tenho namorado, não precisa ficar com ciúmes. - Murmura, divertindo-se à minha custa. Sinto um certo alívio quando ela diz que tem namorado.

—Quem disse que estou com ciúmes? - Pergunto em tom petulante e com as sobrancelhas erguidas.

—A sua cara, querida. Sua cara que está me dizendo que você está morrendo de ciúmes. - Provoca.

Na manhã seguinte acordo antes do despertador, por conta de Silvia, que me chamava alegremente pelo o Walktalk.

—Silvia, isso são horas? - Pergunto assim que pego o aparelho na mão. Me sento na cama e encosto a cabeça na parede gelada.

Escuto uma risada masculina.

—America, minha cara. - Murmura Maxon. De repente, me sinto alerta e com uma sensação engraçada no estomago.

—Maxon, que milagre te ver por aqui. - Brinco, começando pouco a pouco a me sentir mais desperta.

—Gostaria de uma xícara de café? - Pergunta ele com um sorriso na voz. Sorrio de volta.

—Não seria muito incomodo?

—Não, seria uma honra. - Responde, agora rindo novamente. -Temos uma lista que minha mãe deixou para nós executarmos hoje. - Ele faz uma pausa, quando volta a falar sua voz soa um pouco cansada. - E é enorme...desde verificar comida, até flores e...nossa, qual a diferença entre rosa bebê e rosa fraco? -Questiona com a voz incredula.

Solto uma gargalhada.

—Já estou indo te ajudar.

Assim que tomo um banho rápido e faço uma maquiagem para não mostrar minha cara de sono, fecho a porta do quarto e caminho animada pelo o corredor em direção às escadas. Porém, antes disso, acabo dando de cara com o Lorde com uma expressão séria, mas não amendrontadora.

—Bom dia, senhor Clarckson. 

—Bom dia. - Respondo com um breve balançar de cabeça. Estou prestes a desviar dele, mas sou impedida pelo o seu olhar grave. -America, gostaria de pedir que seja mais discreta com as cartas para a sua família...não queremos que nenhum paparazzi a veja e crie fofocas nessas revistas vulgares.

Sinto meus olhos se arregalarem, mas logo trato de me recompor.

—Tu-udo bem. - Engulo em seco. 

—Estou de olho em você, hein?! - Diz em tom de brincadeira antes de passar por mim e subir o próximo lance de escadas. Fico paralisada  por alguns segundos, sentindo suas palavras rondando minha cabeça. Será que ele estava brincando mesmo, como a sua voz sugeria? 

Sigo o meu caminho ainda atordoada, mas assim que vejo Maxon me esperando deixo todas as preocupações para depois. 


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