A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 14
2.11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/665850/chapter/14

Entre a mente e o coração

Eu não sei quando foi que chegamos àquela situação! Aspen deslizava as mãos pelas as minhas costas, seu rosto enterrou-se em meu pescoço causando arrepios incontroláveis, enquanto eu mesma tentava retirar a sua camisa. Ele me ajudou, e em todo o momento eu mantinha os olhos fechados, me concentrando apenas nas sensações e emoções que ele me causava. Abri a boca para soltar um suspiro contente e finalmente comecei a me mexer e tirar a camisola fina que usava. Os nossos lábios se encontraram logo depois, em um beijo que fazia com que minhas pernas tremecem, tão doce e apaixonado. Só podia ser de Aspen.

–Não tente lutar contra o seu coração, ele sempre tem razão. - Murmurou antes de voltar a me beijar. Mas eu paralisei, meu rosto inteiro ficou tão vermelho que com certeza daria inveja a qualquer tomate maduro que se preze. Abri meus olhos lentamente e meu coração disparou. Aquela não era a voz de Aspen, não mesmo.

–Maxon. - Falei com uma voz fininha e me levantei da cama num rompante. - O que está fazendo aqui? - Pergunto exasperada e constrangida. Como eu vim parar aqui? Céus, Aspen não merecia isso!

Maxon sorriu para mim, e seu rosto começou a ficar borrado...tudo ao nosso redor começou a desaparecer rapidamente...

Acordo sentindo gotas de suor escorrendo pelo o meu rosto, suor frio. Olho pro lado para vê-lo, e ele ainda estava na mesma posição de quando adormeceu, com seu rosto tranquilo, e um sorriso pequeno havia se formado em seus lábios. Me levanto as pressas, praticamente correndo até o banheiro e joguei água gelada no meu rosto, logo depois apoiei minhas mãos na pia e encarei meu rosto corado e molhado através do espelho.

–Foi só um sonho, nada demais. - Sussurro para mim mesma. Abaixo a cabeça e respiro fundo, sentindo meu coração ir se acalmando aos poucos.

Meu cabelo está preso no alto de minha cabeça com um rabo de cavalo frouxo, alguns fios escaparam e acabaram por ficar colados no suor pegajoso de minha testa e bochechas. A praia está lotada, cheia de corpos de biquínis, sungas e bermudas. O sol e o mar estão, definitivamente, perfeitos. Apoio meus cotovelos no tecido que estendi na areia e inclino a cabeça para trás por alguns segundos, quando volto a olhar para frente vejo Maxon saindo da água, correndo em direção a mim com um sorriso bonito no rosto. Seu cabelo tentou resistir e permanecer arrumadinho, mas estava praticamente rendido. Maxon tem muitos músculos, não podia negar que está em bela forma e eu me pergunto quando é que ele arranja tempo para malhar.

De forma desagradável lembrei-me do sonho que tivera e que me fez perder o sono por no mínimo uma hora inteira.

–Você está corada. - Observa ele assim que se senta ao meu lado e repousa os braços nos seus joelhos. - Aconteceu alguma coisa? - Questiona, agora me olhando com atenção.

Solto um pigarro alto e ele abre um sorriso de lado.

–Não, o sol...há tempos que eu não ia à praia, havia esquecido que minha pele é fácil de queimar e ficar vermelha. - Afirmo de forma convincente, e eu nem estava mentindo para falar a verdade (?).

–Deveria passar mais protetor solar.

Levanto meus óculos Ray Ban, como se fosse uma tiara e sorrio para ele.

–Não se preocupe, passei bastante. - Dou uma olhada em suas costas, que começavam a ficar em um tom de vermelho suspeito. Arqueio uma sobrancelha. - Mas acho que você não passou o suficiente.

Maxon inclina a cabeça para o lado.

–Não?

–Suas costas estão levemente queimadas. - Respondo.

–Ah, sim. Bom, não consegui espalhar o protetor direito por ali..., você se importaria?

Pego o protetor solar de dentro da bolsa que levara, e ergo diante do meu rosto.

–O que seria de você sem mim, hein?

Maxon solta uma risada alta.

–Por enquanto poderia dizer que seria como um camarão dolorido. - Afirma.

Quando chegamos de viagem Lucy veio me entregar três cartas, todas tinham May Singer rabiscado no papel. Agradeci à ela e caminhei lentamente até a escrivaninha e me sentei na cadeira de estofado escuro. Com o dedo indicador rasguei as de Aspen primeiro.

"America,

Por quê não me ligou ontem? Estou muito preocupado. Aconteceu algo?Por favor me ligue hoje ou se não puder, pelo menos me envie uma carta!

Nunca esqueça que te amo muito,

Aspen Leger"

Solto um suspiro longo e pesado. Em seguida, rasguei o outro papel.

"Meri,

Estou com saudade de você e queria te ver. Será que dá pra me responder? Eu sei que você não pode vacilar com os Schreave, mas você é inteligente e com certeza irá conseguir bolar algum plano para podermos nos ver, você é minha namorada genial, lembra?

Com tanto amor que chega a transborar,

Seu namorado Aspen"

Guardo as cartas de Aspen dentro de um rasgo profundo que eu mesma fiz no colchão do quarto. Todas as cartas dele estavam ali, desde as que eu guardava em Carolina, até as últimas que ele me enviara. Me levanto e vou até a sacada, sentindo a brisa fria de Londres acariciar o meu rosto e meus braços desnudos, encolho os meus ombros enquanto fecho os olhos com força. Eu precisava ver Aspen urgentemente, morria de saudade dele, mas ao mesmo tempo tinha algo me impendindo, implorando para protelar o máximo possível. Seria a culpa por ter beijado Maxon? Pelo o fato de ter sonhado que estava no maior amasso com ele na cama?

Bem, nós não temos controle sobre os nosso próprios sonhos, o problema de verdade é que aquilo mexeu comigo de um jeito bem esquisito e eu não sabia o que significava. Eu estava me apaixonando por Maxon? Acho que não, minha mãe sempre disse que era impossível se apaixonar por duas pessoas ao mesmo tempo, que os livros e filmes eram apenas ficção. Então essa possibilidade estaria excluida, já que eu tinha certeza absoluta de que amava Aspen, mesmo com as nossas brigas...eu ainda nutria a minha paixão por ele.

Mas...o que era então? Atração física? Talvez eu estivesse confundindo a nossa amizade, eu adorava estar em sua companhia e depois do nosso beijo forçado algo havia mudado (nem tão forçado assim, eu admito), acho que me dei conta de que ele não era de se jogar fora. Mas isso não implicava paixão, não...esse sentindo eu reservava para Aspen.

Abro os olhos e faço uma careta enquanto observo uma chuva fina começar a cair sobre o jardim, fazendo com que parecesse gotinhas de gelo sobre as flores e a grama. Entro para dentro do quarto novamente, fechando a porta de vidro com um baque quase inaudível e me sento em uma das poltronas. Eu tinha certeza de que não odiava Maxon, mas também não o amava...por que diabos eu me sentia tão confusa então?

Talvez fosse coisa da minha cabeça, talvez fosse a minha inexperiência com rapazes que me fazia enxergar coisas onde não havia, talvez fosse porquê eu nunca tinha sentido vontade de beijar alguém além de Aspen até aquele momento. Talvez eu fosse louca, e disso eu não duvidava.

Deslizo as duas mãos em meus cabelos, forçando-os para trás. Eu me encontraria com Aspen hoje e então tudo ficaria bem, tudo ficaria como sempre foi. Apenas ele e eu.

Eu já me encontrava no lado de fora da mansão, o ar está mais gélido do que da última vez em que saíra escondida, então tive que me abraçar forte enquanto esperava Aspen chegar com a sua velha moto. Ouço um ruído de motor e poucos segundos depois o vejo dobrando a esquina, então começo a correr para encurtar o espaço entre e nós e ele desce do veículo de forma rápida e habilidosa, sorrindo pra mim e me causando uma sensação engraçada no estômago. Suspiro aliviada...eu ainda o amava, agora tinha certeza.

Aspen me abraçou forte, muito forte, como se não quisesse me soltar nunca mais e eu senti vontade de chorar. Sempre fui chorona, mas de alguns anos para cá me obriguei a aparentar ser durona, mas eu não era. Era quase fraca demais para o meu gosto.

–Vamos sair daqui antes que alguém nos veja. - Sussurrei em seu ouvido, e ele concordou com a cabeça.

–Melhor assim, quero ficar a sós com você. - Murmura, me olhando de um jeito todo dele e que eu já havia me acostumado há anos.

Assim que chegamos no mesmo motel da outra vez que saímos, ele me agarrou forte e me beijou com muita intensidade, fechando a porta com o pé. Eu deslizava minhas mãos pelo o seu braço e o puxava para mim, queria que a gente nunca mais se afastasse. Aspen me jogou na cama, subindo para cima de mim, ficando entre as minhas pernas. Seus lábios eram rápidos e já conheciam muito bem os pontos que me faziam suspirar e arrepiar.

Nunca passamos disso. Sabia que se algo a mais acontecesse, não seria nada difícil para a família de Maxon provar que eu já não era mais virgem, e eu, mesmo a contra gosto, queria preservar o contrato que papai fizera, e sempre tive que levantar a bandeira branca mesmo querendo continuar até o fim, pedir para que Aspen parasse de me deixar louca.

Hoje, porém, tive uma vontade insana de me entregar a ele, de tê-lo pra mim de verdade. Uma insanidade, sem dúvidas. Graças a Deus Aspen parou de me beijar quando as coisas começaram a ir...longe demais.

Minha respiração está irregular e as pupilas de Aspen ainda estão dilatadas. Seus olhos verdes me encaravam e eu escondi o meu rosto em seu pescoço, deitando praticamente colada a ele na cama. Suas mãos começaram a acariciar meus braços, minhas pernas, como sempre fizeram.

–Eu amo você. - Eu digo baixinho, sentindo as minhas próprias palavras afundarem dentro de mim. Eu estava sendo sincera, tinha certeza disso. Então por quê? Por que eu sentia tanta urgência em sentir a boca de Aspen? Sabia que tinha algo atrás dessa minha locura, mas parecia que tinha algo nublando os meus pensamentos, me impendindo de chegar ao X da questão. Eu queria provar algo para mim mesma com isso (de querer me entregar a ele de vez), mas algo está errado com essa minha atitude. E o que era?

–Eu te amo mais.

Dou uma risadinha.

–Fico feliz em saber.

–Meu pai quer que eu me candidate à deputado esse ano. - Me conta.

Afasto-me um pouco, apenas o suficiente para erguer o olhar e fitá-lo com um ponto de interrogação no rosto.

–E você? - Perguntei.

–Aceitei. Você sabe, sempre quis ser alguém importante...sem ficar à sombra de papai, e essa é uma boa oportunidade.

Sento na cama, pensando que assim seria mais fácil digirir as palavras dele. Ele nunca, nunca, nunca havia mencionado para mim essa vontade de entrar na vida política.

–Tem certeza? - Questionei, tentanto disfarçar a incredulidade em vão.

Aspen não me olhava, eu odiava isso. Odiava quando ele preferia olhar para qualquer lugar, menos para mim.

–Preferiria ser governador ou algo tipo, mas não tenho idade o suficiente. - Finalmente seus olhos encontram os meus e ele sorri.

Penso sobre aquilo por um bom e longo segundo.

–Aspen...- começo, tentanto soar tranquila e não acusativa. - Você não está fazendo isso para competir com o Maxon, né?

Ele me fita incrédulo, como se eu o tivesse ofendido ou algo do tipo.

–Nossa, America...acha que eu faria isso só pra...nossa, America!- Se exaspera ele, revirando os olhos e se afastando de mim na cama de forma proposital.

–Desculpa, mas é que você...nunca me disse que queria entrar pra esse mundo da politicagem.

–Politicagem? Palavra horrível, garanto que foi você que inventou, né? - Zomba ele, rindo um pouco. Agora foi a minha vez de revirar os olhos.

–O ponto não é esse. Desde quando você tem essa vontade?

–Um ano mais ou menos.

–Pensei que sabia tudo sobre o que você queria, que sabíamos muito um sobre o outro, por isso fiquei surpresa, não precisava se exaltar. - Murmuro, minha voz soando seca contra a minha vontade.

Aspen relaxa o corpo novamente, me puxando contra si, mas eu resisto.

–Não, America, me desculpa você. Eu sou um idiota.

–Ainda bem que você sabe.

–A lingua afiada como sempre.

–É, eu continuo a mesma de sempre, nada mudou. - Provoco, olhando para o seu rosto de um jeito bem acusativo.

–Será mesmo? Por que não veio me ver durante esses dias?

–Não pude, se eu tivesse a oportunidade com certeza viria.

–Onde você estava?

Olho para baixo, agora fora a minha vez de desviar o olhar.

–Miami. - Respondo, sentindo meu rosto corar. Aspen percebe e claro que ele perceberia. Me odiei por dentro por isso.

–Deve ser por isso que está um pouco bronzeada.

–É. - Me limito a responder.

–America, você sempre foi sincera comigo e eu sempre te admirei por isso. - Começa ele, se aproximando de mim e me olhando nos olhos. - Você está apaixonada por Maxon?

–Eu sou apaixonada por você, Aspen, só você. - Respondo rapidamente. Ele me abraça forte.

–Não quero te perder, faço qualquer coisa por você, America. Você sabe disso, não sabe?

–Eu sei...- sussurrei.

–Então acaba com isso logo, ponha esse plano seu de infernizar Maxon até que ele te odeie e a mande embora. Faça isso por nós, não empurre mais isso com a barriga, dê uma chance pra gente ser livre e feliz, meu amor. - E então me beija suavemente. Meu peito doeu um pouco.

–Não preciso fazer mais isso, acho que vou conseguir fazer ele ser meu amigo o suficiente pra me deixar ir sem nenhum problema. - Argumento com um sorriso animado, para convencê-lo. Mas Aspen balança a cabeça firmemente de um lado para o outro, sua mandíbula está trincada e seu olhar é duro.

–America, estou começando a achar que você está gostando dele até demais.

Fico chocada por um instante, mas logo depois me recomponho.

–Tudo bem. - Digo com a voz alta, minha respiração se acelerou.

–Essa é minha gatinha. - Responde com um sorriso vitorioso e aliviado ao mesmo tempo, me abraçando e começando a me beijar lentamente até que se tornou intenso e fogoso. Mas eu não me entreguei por completo àquele beijo, uma parte de minha mente vagava longe. Bem longe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!