Beatrice e Matheus escrita por ACL


Capítulo 3
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Beatrice tendia a ser uma criança solitária. Costumava viver trancafiada em seu quarto, com suas quase únicas amigas – as bonecas presenteadas pelo seu pai quando precisava compensar alguma ausência.

Seu pai era especialista em ausências. Um ótimo exemplo, a vez em que ele faltou à apresentação de dança da filha por problemas na indústria onde trabalhava e deu-lhe uma Barbie bailarina. Aos sete anos, Bia amou o presente. Outro, quando ela tinha quase oito, ele lhe deu um celular da Xuxa, muito popular entre crianças daquela idade, em troca de faltar o dia da profissão na escola em que Bia estudava.

Entretanto, e ainda bem, presentes nunca a compraram. Ela não é uma menina comum. Nem mimada, nem chata, nem nada do esperado para uma menina nascida em berço de ouro, a quem não falta absolutamente nada. Bia é uma menina extremamente curiosa, de mente brilhante, e ávida por conhecimento. E este lhe começou a ser dado por meio de histórias. E estas tornaram-se o pagamento dos seus não compareciementos.

– Era uma vez – como em qualquer história que se preze, Alexandre começava com a famosa expressão – uma coisa desconhecida. Ela estava tão presente na natureza quanto o ar que respiramos, quer dizer, ainda mais. Mas ninguém sabia da existência de tal coisa porque ela é minúscula. Pequena o suficiente para não ser vista pelo olho das pessoas. Menor ainda. Menor que muita coisa invisível aos olhos humanos. Um dia, um senhor descobriu a existência dessa coisinha. Chamou-a de átomo e disse ser a menor coisa que existia, e o seu nome significa indivisível. Porem, o homem estava enganado. Mais tarde descobriu-se a divisibilidade do átomo. Ele é, na verdade formado por pequenas outras coisinhas, ainda menores. O senhor átomo desfila por aí, presente em todas as coisas da natureza e também em coisas que não fazem parte dela, com suas coisinhas pequenininhas bem arranjadas em suas duas partes. O núcleo e a eletrosfera.

A primeira pausa é feita pelo pai quando a menina faz uma careta para o nome esquisito. Ele ri e diz que o nome não importa e que ainda vêm mais nomes esquisitos.

– Então, dentro do núcleo moram os prótons e os nêutrons. Na eletrosfera circulam os elétrons. Todos os elétrons e prótons são apaixonados uns pelos outros. Se atraem. Mas eles não podem viver juntos porque senão, destroem o átomo. Por isso, os elétrons vagueiam pela eletrosfera enquanto seus amados prótons são protegidos pelos nêutrons.

A esse ponto, Alexandre nota que a filha está a ponto de dormir. Ela faz várias perguntas sobre o relacionamento entre prótons e elétrons – e deduz que, na verdade, os nêutrons são mães ciumentas que não deixam seus filhos viverem por conta própria (quase igual à avó dela). O pai recusa-se a responder porque precisa ter história para contar na noite seguinte. Beija a testa da filha e deseja boa noite. Antes de ele sair do quarto, a menina já está dormindo.

E foi assim que Bia aprendeu sobre o átomo.


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