Beatrice e Matheus escrita por ACL


Capítulo 26
15 anos




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Dois mil e onze foi o ano das festas de quinze anos para Bia e Matheus. Apesar de já irem a algumas desde 2009, esse seria o ano em que as amigas de Bia comemorariam as quinze primaveras no melhor estilo possível. Afinal, estamos falando de Recife e a nossa classe média mais alta (ou boa parte dela) gosta bastante de ostentar.

 E, inclusa na não tão grande parcela da população denominada classe média alta recifense, Clarisse não poderia deixar de querer uma grande comemoração para o décimo quinto aniversário da sua filha única. Bia mantinha a opinião que tinha desde os treze anos: festas de debutante eram desnecessárias. Ela poderia trocar facilmente por uma viagem ou qualquer outra coisa.

Ela adoraria que sua mãe fosse como os Agno. Próximo aos 15 anos, eles davam aos filhos uma escolha. Quer viajar? Talvez um intercâmbio? Ou prefere guardar o dinheiro e comprar um carro quando completar 18 anos? Se quiser uma festa, tudo bem, também. Sem nenhuma diferença entre meninos e meninas. (Bia tem certeza que a data passaria batida caso fosse um menino).

No dia 13 de janeiro de 2011, Mônica e Antônio deram a Matheus a escolha. Laís fez uma festa, em Fortaleza mesmo, a maior parte custeada pela mãe dela. Aos dezoito, Antônio deu-lhe um carro, já que não gastou tanto com a festa. Quando Guilherme completou 15 anos, Mônica e Antônio ofereceram a ele as opções. Ele escolheu o carro, do qual cuida até o momento em que nossa história se passa.

Matheus era um menino do mundo. A vontade de liberdade crescia cada vez mais dentro dele, então fazia sentido ele escolher um intercâmbio. Um ano morando fora, independente dos pais e conhecendo gente nova, vivendo experiências inesquecíveis. Queria eu (e Bia) ter essa sorte!

Quando ele anunciou a viagem para Beatrice, ela não sabia bem o que sentir. Sentia-se animada pelo amigo, mas com uma pontada de inveja. Não conseguia imaginar como seria passar um ano longe dele. Um ano!

— Enquanto isso, Clarisse Matoso me obriga a fazer uma droga de uma festa. Aposto que vai ser pomposa até para os padrões de mamãe. Você acredita que ela quer que eu escolha um tema? Cores? Um príncipe! Que merda. Príncipe?

Matheus deu uma leve risada. Era 15 de janeiro e estavam no shopping, esperando o horário do cinema. Decidiram fazer disso uma tradição, mesmo depois do fiasco que foi no dia do aniversário de Bia do ano anterior. Mas esse dia foi leve. Foi tranquilo. Gostoso. Até Caio aparecer para estragar.

Bia não via necessidade de dizer cada um dos seus passos para o namorado como muita gente fazia. Então, apesar de Caio gostar de saber das coisas, ela não contava. Ou dava metade da informação. Odiava ser controlada desse jeito. Então, ela não fez questão de contar que ia para o cinema só com Matheus, que era seu melhor amigo havia cinco anos.

— Oi, Bia – disse surpreso, com um tom leve de irritação na voz. – Por que você não me disse que vinha ao shopping?

Bia abraçou o namorado e deu-lhe um beijo breve. Explicou que estava com Matheus comemorando o aniversário dele. Tinham acabado de sair do cinema.

Caio formou uma expressão furiosa. Respondeu com um grunhido seguido de um “estou indo embora, quer carona?” bem seco. Bia e Mati se entreolharam antes de ela responder que ia com os pais de Matheus para a casa do seu pai.

O resto do programa foi silêncio. Lancharam o mesmo de sempre, ou o mesmo que tinham lanchado da outra vez e acabou se tornando o lanche de sempre.

Ao chegar em casa, Bia foi correndo para o computador conversar via Messenger do Facebook com o namorado. Naquela época, já considerava o MSN obsoleto. Mainstream, era a palavra da época. O Facebook era a rede social nova que estava ganhando espaço pelo mundo. Engraçado como as coisas mudam, não é?

Quando ela fez o login, a primeira notificação à qual dá atenção é a mensagem de Caio. “Não gostei nada da palhaçada de hoje cedo, Beatrice. Precisamos conversar sobre isso.”

“Não teve palhaçada nenhuma!!!!!”, respondeu digitando com força e uma certa musicalidade. “Eu fui para o cinema com meu amigo no aniversário dele. Algum problema para você? ”

Na mesma hora, o celular de Bia tocou. Demorou um tempo para atender, pensando se valia a pena a discussão, mas ela estava tão irritada que não poderia perder a chance de reclamar com Caio, mesmo que por telefone.

Foi uma ligação longa e feia que não merece ser totalmente transcrita, mas alguns pontos merecem ser destacados. Como a opinião de Caio sobre Matheus ter acabado de ficar solteiro e ir para o cinema com Bia: ele tinha segundas intensões. Aliás, Caio percebia muito bem o olhar de vários meninos para ela o tempo todo. O que foi mesmo que Diego (o namorado de Júlia da época) queria com ela mesmo? (A resposta era comprar um presente de dois meses de namoro) Aliás, ele achava que Bia tinha amigos demais do sexo masculino. Meninos nunca tinham nada de bom na cabeça. (Mas não lembrou de mencionar todas as amiguinhas dele).

Beatrice, sem paciência nenhuma para o discurso de raiva de Caio. E, no súbito da raiva, tomou uma decisão. Talvez uma das mais corretas de toda sua adolescência. Ela decidiu chamar Matheus para ser seu príncipe.


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