Beatrice e Matheus escrita por ACL


Capítulo 18
Aniversário




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Em 17 de junho de 2010, Beatrice completou catorze anos. Os aniversários dos Matoso eram bem comemorados. Eram uma família pequena e unida, então todos se conheciam bem e sabiam o que agradava a cada um. George e Ana apreciavam um bom jantar com alguns amigos de longa data e filhos. Cecília era viciada em praia. Emanuel, marido de Cecília, gostava de almoço com música ao vivo. Clarisse preferia sair para jantar em algum restaurante bom e gastar dinheiro em um presente caro para si mesma, mas no dia exato do aniversário. Olívia gostava de festas, mas algo mais íntimo. Theo, pelo contrário faria o que fosse, desde que pudesse chamar muita gente. Beatrice gostava de música dançante e pessoas legais, sem abrir mão de sair com seus melhores amigos.

Como faltava pouco menos de uma semana para o início do recesso de meio de ano, ela e a mãe planejaram uma pequena comemoração na sexta-feira da semana seguinte. Marcou, então, uma ida ao cinema no dia seguinte para os mais íntimos. Valentina, que tinha conseguido uma antecipação das férias para comemorar o 15º aniversário da sua irmã na Itália, não poderia ir. Júlia tinha sido proibida pela mãe de sair até melhorar as notas, mesmo sendo o aniversário de Bia — quase sua irmã. Restava, então, Matheus e ela temia que ele não fosse aceitar, ou pior: querer levar Manuela. Ele confirmou sem nem mencionar Manu.

Foi um dia bem agradável, apesar de esquisito. Eles assistiram a um filme de animação (Toy Story 3, que estreava naquele mesmo dia) e saíram nostálgicos e saudosistas em relação à infância há pouco terminada. E culpados por deixar seus brinquedos para o esquecimento. Compraram algumas roupas, com o dinheiro que o pai de Bia deu e Mati presenteou-lhe com um livro de fantasia.

Ao terminar, digiriram-se à praça de alimentação. Bia sentou-se à mesa preferida deles enquanto Matheus fazia os pedidos (um Big Mac com batatas fritas e milk-shake de morango para ele, na McDonalds e um Whooper com refil de refrigerante da Burguer King para ela) e pagava, complemento do presente de aniversário.

Sair para comprar os lanches foi a desculpa perfeita para Mati pensar se realmente queria dizer o que martelava sua cabeça nas últimas duas semanas. Não só ele, mas todos os que se importavam com Bia estavam preocupados com essa história entre ela e Caio. Não preciso reiterar o tipo de pessoa que Caio é, vocês já sabem. Aliás, se eu estou certa em pensar no afeto que criaram por Beatrice, também preocupam-se com ela e com a possibilidade de sair quebrando o coração repetidas vezes — e voluntariamente.

Matheus sentou-se à mesa e começou a comer (já tinha levado o sanduíche de Bia). Fazia menção de falar alguma coisa, mas sempre fechava a boca. Não conseguia pensar em estragar o dia da amiga e, ao mesmo tempo, não podia deixá-la se envolver mais seriamente com Caio.

— Bia, eu preciso falar com você — disse ele, enfim.

Ele mirou seus olhos, tentando decifrá-la, mas Bia não era mais tão fácil. Ela suspirou, impaciente, já sabendo do que se tratava. Compreendia a preocupação, mas a considerava excessiva. Bia não era mais nenhuma criança — ou ela achava assim.

— Se for sobre Caio, me poupe do sermão — queixou-se em resposta. — Eu sei muito bom o que você pensa sobre ele, não preciso de conselhos.

— Bia, você sabe quem Caio é. Só pense se vale a pena se arriscar tanto para sair por cima em relação a algo tão bobo.

Bia estreitou o olhar ao ouvir a última frase.

— O que você quer dizer?

— Eu estou namorando Manu e Valentina está quase chegando lá com Lucas. Júlia anda se pegando com todo mundo — não que eu esteja julgando ela, claro — e Giovanna dá uns beijos em Hélio. Tem também Gustavo com Mari e Mayra com Pedro. Você não quer ficar sozinha, eu entendo.

Bia deixou seu queixo cair. Não acreditava que logo Matheus pensava isso dela. Ele nem pensava isso, na verdade. Manuela tinha mencionado outro dia e ele não percebeu que assimilou até demais a informação.

— Eu não estou ficando com Caio para não ser passada para trás ou algo do tipo! Eu não sei em que tipo de bolha você tem estado nos últimos meses, mas eu não sou esse tipo de pessoa.

— Desculpa, Bia. Eu não acho isso. É que eu estava falando com Manu outro dia e...

— Claro que tinha dedo de Manuela nisso — Bia resmungou.

— Pelo amor de Deus, Beatrice, já está na hora de você superar essa briguinha com Manu — exaltou-se Matheus. — Faz um ano que você só faz falar mal dela sem nem se dar o trabalho de conhecer a menina. Aliás, ela é uma ótima pessoa!

— Quer saber? — esbravejou, recolhendo seus pertences. — Esquece isso tudo. Nem sei por que você veio, afinal. Eu já disse que odeio quando você tem essas crises de irmão mais velho mandão.

— Para de ser tão dramática! É por isso que quase ninguém te aguenta mais. Você só faz reclamar de tudo e de todos. Isso é tão chato que está te tornando uma pessoa chata.

Matheus tinha o costume de agir antes de pensar. Sabia que palavras eram cortantes, mas só se dava conta disso quando as proferia. Quando o dano estava feito. Só viu Bia magoada correndo em direção ao ponto de taxi, sem coragem de ir pedir desculpas.

 


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