Uma pessoa magoada não costuma agir com sensatez. Adolescentes, ainda menos. Beatrice não fugia à regra.

Uma vez que Matheus não tinha mais tanta disponibilidade para as saídas deles, Júlia assumiu seu lugar como fiel escudeira de Bia. Nos primeiros meses, elas costumavam ir para lugares mais simples: uma festa do pijama na casa de Valentina, um dia no cinema com os pais de Giovanna, comemorar o aniversário de 14 anos de Eduarda Mourão na boate que a mãe dela reservou.

Então 2009 deu lugar a 2010 e elas decidiram ousar um pouco mais. Conseguiam convites para entrar nas festas de 15 anos de quem não conheciam e quando não, entravam mesmo assim. Por volta do mês de abril, as matinês de todo sábado deram lugar às house parties. Não tenho conhecimento da popularidade dessas festas hoje em dia, mas em 2010 era uma boa pedida para celebrar aniversários.

As mães de Júlia e Bia não conheciam muito da fama de tais festas, então, não preocupavam-se tanto com as filhas quanto deveriam. Tinham o cuidado natural, aquele instinto que toda mãe tem, mas também confiavam muito nas meninas – que tinham se mostrado muito prudentes até então. Como as festas aconteciam, na maioria das vezes, nas casas de amigos cujos filhos eram bem criados, elas permitiam que as filhas fossem. “É melhor que ir para essas boates”, pensavam. Elas só não sabiam como circulavam drogas e bebidas naquelas reuniões.

Não, nem Bia nem Júlia eram imprudentes ao ponto de experimentarem drogas, lícitas ou não. Bia entendia que tudo o que colocava dentro do seu organismo causaria uma reação e tomava cuidado com o que ingeria. Júlia, apesar de gostar do perigo, tinha medo das consequências. O que fariam seus pais se chegasse em casa cheirando a álcool?

Sendo assim, o perigo não eram as substâncias alucinógenas, mas sim as próprias pessoas que circulavam nessas festas. Os rapazes de boa família em quem Clarisse e Adriana tanto confiavam. Ou as moças que apareciam bem comportadas nas reuniões familiares, mas se mostravam longe dos olhos dos pais.

Os meninos nos seus quinze a dezesseis anos, estimulados principalmente pelo álcool, tinham duas opções para não passarem as noites sozinhos: meninas mais novas ou meninas bêbadas. Aqueles que tinham um pouco mais de caráter aderiam à primeira opção e iam, como abutres em cima de meninas como Bia e Júlia. Elas sentiam-se no céu por serem olhadas por meninos mais velhos. Afinal, qual menina da oitava série não queria seu garoto do ensino médio?

Beatrice conheceu como é se sentir desejada. Não amada, como sempre tinha sido pela família; não querida, como sentia com os amigos. Ela conheceu a sensação de ter dois ou mais garotos querendo beijá-la nas festas. Gostava de quando passavam a mão sobre seu corpo, em lugares específicos, agradecida por estar criando um corpo, afinal de contas. E ela sempre queria sentir mais disso.

Em meio de tantos olhares masculinos, um deles atraiu a atenção de Bia. Não se façam de desentendidos, vocês sabem quem é. Caio Henrique Moura de Azevedo, dezesseis anos, segundo ano do ensino médio. Pode-se dizer que é um dos meninos mais desejados da escola, numa posição bem alta entre os desejados. E se ele, logo ele, queria ficar com Beatrice (mais uma vez) ela não podia recusar. Digo, ela podia, mas justificava para si mesma sua atitude com essa desculpa.

No começo de junho de 2010, Bia cometeu o engano de aceitar ter um relacionamento com Caio. Não era namoro, mas era sério o suficiente para deixar uma pulga atrás das orelhas dos amigos de Bia.