Marcada escrita por Violet


Capítulo 8
Good Bye Friend


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu, deixa respirar aqui. Huhuhuhuhu *arfando*
Acho que esse foi o capítulo mais trabalhoso que fiz in my life x___x
Vou logo avisando, se você tiver problemas cardíacos ou doenças afins, tome logo seu remedinho antes de ler. Tá de uma emoção só. Preparem logo o psicológico de vocês, o coraçãozinho, e vamos à leitura! õ/
~Violet



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— July? É você?

                A garota recua alguns passos. Logo atrás estava Kaeth que já saía do carro com o celular em mãos chamando Jessie. Ele gritava que era perigoso, e ela devia voltar para o carro, Jessie o ignora. Os trajes da garotas estavam sujos e amarrotados, a regata com a estampa dos Rolling Stones estava manchada de sangue. O suspense rouba a cena, a garota parece dispersa de si. É possível ver a lateral de seu rosto que estava parcialmente virado para Jessie. Da sua testa escorriam algumas gotas de sangue, havia um corte pouco profundo nela. Foi o bastante, a ruiva já ia de encontro a garota a passos rápidos, mas tem seu braço puxado para trás por Kaeth.

— O que você ta fazendo? Preciso falar com ela!

— Pode ser perigoso, gatinha. Você não sabe se é realmente ela, pode ser uma armadilha.

— Claro que é ela! É minha amiga, preciso ir até lá.

— Desculpa gatinha, mas não posso deixar você ir. Mesmo que seja ela, não sabe se está sóbria. Pode ter algum demônio manipulando-a.

— Kaeth, eu agradeço a sua preocupação. Mas é a minha melhor amiga que está ali, eu vou até ela com ou sem o seu consentimento – concluiu apontando com o olhar para a mão que segurava seu braço.

— Tá. Mas tenha cuidado, pode ser uma emboscada – depois de uma longa pausa hesitante, ele a deixa ir.

                Jessie caminha a passos lentos até a garota que permanecia na exata mesma posição. A ruiva se aproxima, tenta fazer algum contato, mas interrompe o movimento antes que sua mão pudesse tocar-lhe o ombro. O sangue que escorria da garota já formava uma pequena poça ao seu redor, ela toca levemente os fios de cabelo castanhos que escorriam sobre aquela regata amarrotada. Seus dedos estão manchados, ela os aproxima do rosto, seu sangue está em suas mãos. O silêncio reina no lugar, mais uma rajada de vento para tencionar a noite.

— July? Sou eu, Jessie! O que aconteceu com você? – perguntou, segurando finalmente seu ombro e virando-a para si. Ela fixava seu olhar no asfalto molhado abaixo de si.

— Jess... Você veio – sua voz era rouca, seu olhar era vago, sua mente dispersa. Ela sorria entre pequenos e baixos soluços. Do seu queixo gotejavam algumas lágrimas que se misturavam ao sangue de sua roupa.

— July, o que houve aqui? Por que você está chorando? O que fizeram com você? – analisava as roupas rasgadas da garota.

— Você precisa ir, Jess! Eles vão vir atrás de você – gaguejou ainda entre soluços e lágrimas.

— Eles quem, July? Quem fez isso com você? – ela só negava com a cabeça tentando conter as lágrimas.

— Você precisar ir embora, por favor Jess, por favor... – as lágrimas contidas já corriam livres acompanhados de intensos soluços.

— Gatinha, precisamos ir – interveio Kaeth já se aproximando

— Precisamos levá-la pro Hospital, ela está sangrando muito. Consegue me acompanhar, July? – negava continuamente.

— Ela não pode, gatinha.

— O quê?

— Não foi um Anakin que a atacou, foi um guardião

— Guardião? O que é isso? E por que atacariam ela?

— Ele era um guardião da Fênix. Eles são responsáveis pela punição de crimes que são cometidos contra o céu e o inferno. A sua marca, eles te consideram uma ameaça que pode romper o equilíbrio. Eles querem te atingir.

— Mas é a mim que eles querem, não é? Por que envolvê-la nisso?

— É tarde gatinha, ela já foi sentenciada.

— Sentenciada? Do que você ta falando? Precisamos levá-la pra um Hospital rápido, Kaeth! – a garota já não a mais encarava, seu olhar continuava cravado abaixo de si, assim como seus pés.

— Os guardiões são responsáveis por carregar as almas que não tem para onde ir, ou sentenciar os vivos a se juntarem a eles. Eles querem você, gatinha. Por isso vieram atrás dela. Quando uma pessoa é sentenciada por um guardião, é questão de tempo até chegar a óbito.

— Não, não! Você ta enganado. Eles não podem levá-la, não vou deixar! Mas que merda Kaeth, você me ajudar a levá-la ou ficar aí parado – tentava posicionar o braço da garota acima dos seus ombros, ela hesitava veemente.

— Gatinha, gatinha!  Jessie! – segurava seus dois braços forçando-a a encará-lo – Não adianta, ela já está sentenciada. Esse sangue todo são por causa dos cortes que estão surgindo. Quanto mais próximo da sentença final, mais cortes se abrirão nela.

— Não, não! Não pode ser... – Jessie passa algum tempo observando-a, seu semblante ainda era triste e amedrontado. Ela observava o tecido ensaguentado, hesitando em averiguar. Seu olhar intercalava entre a figura de July e a convicção de Kaeth. Após uma pausa observando o sangue gotejar e se espalhar, Jessie resolve erguer lentamente sua blusa, desejou não ter feito. Dois passos para trás, uma mão levada à boca, agora as duas estavam chorando. Seu abdômen até a altura do seu busto, tudo estava cercado de pequenos cortes que abriam de dentro pra fora. – Não, não – repetia continuamente tentando enxugar o sangue que transpassava entre as brechas abertas.

— É melhor a gente ir, gatinha. Vai ficar perigoso por aqui.

— V-vamos levá-la pra casa. Seu irmão pode ajudá-la, não pode? Ele pode fazer alguma coisa, ele deve saber o que fazer.

— Ele não vai querer mais uma humana lá, principalmente uma sentenciada. Iríamos arranjar problemas com os guardiões.

— Eu não vou deixá-la aqui, Kaeth – disse tirando o próprio casaco e cobrindo a amiga. A postura frágil havia sido substituída por uma nova armadura. – Você vai me ajudar ou não? – demorou algum tempo até que o loiro se adaptasse aquela imagem de coragem e heroísmo que emanava da ruiva, até que finalmente assentiu.

— Vamos levá-la pro carro – os três caminham, ruídos fortes invadem o ambiente. Todos param, outro estrondo que fez ambos abaixarem seus corpos contra o asfalto frio e molhado, as nuvens carregadas já se mostravam também, o cenário estava montado.

— Merda! Eles estão aqui – indagou o loiro tomando a moça nos braços a fim de apressar a caminhada.

— Espera! – interveio Jessie parando no meio da estrada. – Tem algo errado – ela tomava a direção contrária, os ruídos aumentavam gradualmente. – O barulho vem de lá!

— Que legal, gatinha. Isso é um aviso pra tomarmos a direção contrária. Agora vamos! – insistia o loiro, o tempo estava esgotando, a lua se mostrava pela primeira vez naquele céu obscuro. Ótimo, tínhamos um refletor para iluminar o espetáculo que estava prestes a acontecer.

— Não, essa é a direção da casa da Kat. E se eles tiverem ido atrás dela também?

                Ambos se entreolhavam por longos segundos que se arrastavam ali. O loiro ponderava, mas a hesitação era constante. Os cortes em July começavam a se multiplicar por seus braços e pernas, seu semblante era pálido e frio, estava perdendo muito sangue. Os ruídos aumentavam cada vez mais. Outro estrondo, uma árvore imensa é arremessada contra eles, mas por sorte, conseguem desviar. Uma ave sobrevoa cortando o céu e seus tímpanos com aquele som agudo. Os guardiões estavam próximos deles, e eles próximos da morte.

— Gatinha, desculpa mas a gente tem que ir. Não temos mais tempo! – gritou o loiro sobre o som de um raio que partia o céu anunciando uma tempestade.

— Leva a July pra casa, eu vou até a casa da Kat me assegurar que ela está bem! – pediu a ruiva já tomando sua direção e amarrando seu cabelo no alto da cabeça com uma fitinha vermelha.

— Ah claro, vou deixar você ir sozinha com os céus e inferno te caçando por aí, nem fodendo! – indagou já tomando o mesmo rumo.

— Kaeth, ela precisa mais de você do que eu. Se demorarmos ela pode acabar morrendo, tem que levá-la pra casa. Eu sei me cuidar.

— Ah não sabe não. Eu vou com você, não vamos demorar. Segura ela aqui – disse soltando a garota que já se apoiava no ombro de Jessie. Ele se afasta alguns centímetros, não demorou muito e a transformação estava feita. O loiro já se transformara num perfeito lobo branco de olhos azuis. Jessie se deixou admirar um pouco, o vento que arrepiava aqueles pêlos tão brancos e macios, sua calda cortava o ar em movimentos leves de ansiedade, seus olhos azuis naquela forma eram ainda mais atraentes, ele se aproxima e circunda a sua volta aninhando sua cabeça na ruiva como um gato chamando sua atenção.

— Tá, acho que entendi. Você quer que a gente suba em você, certo? – ele para a sua frente roçando a cabeça sobre a palma de sua mão. – Ok, vamos lá então! – o lobo abaixa-se vagarosamente a fim de facilitar a subida. Primeiro July, ainda fraca ela tenta se apoiar agarrando seus pelos entre os dedos. Em seguida é a vez de Jessie, com um pouco mais de prática ela leva menos tempo parar subir, e antes de se segurar firme, ela acaricia num movimento leve o pêlo do lobo, que ao sentir seu toque tem seu rosto parcialmente virado para ela. Aquele olhar terno, o mesmo olhar que tinha em sua forma humana, aquele olhar que dizia que ele estava disposto a arriscar tudo para salvá-la. E assim, ambos foram rumo ao objetivo.

                Após alguns minutos correndo contra o tempo, eles chegam em seu destino. A casa permanecia totalmente fechada, e todas suas luzes apagadas, a iluminação da rua era fraca. Uma janela entre aberta de um cômodo qualquer batia continuamente, o que era estranho pois o vento estava calmo, mas não os ânimos. A ruiva se aproxima acompanhada da amiga e a fera branca que ergue seu focinho contra sua perna, ele não podia falar com ela por pensamentos como o outro, mas ela entendia o que aqueles olhos azuis queriam dizer, eram olhos temerosos e hesitantes. Ela assentiu com a cabeça lhe pedindo para que confiasse nela.

— Você vai ficar nessa forma? – ele desvia o olhar para algum ponto cego e se põe em postura de defesa, a exuberância daquele lobo era indescritível. – Acho que isso é um sim.

                As duas se aproximam avaliando o lugar, não parecia haver ninguém vivo lá. Alguns jornais se acumulavam na entrada da porta, a mesma estava trancada. A campainha não funcionava mais, a caixa do correio meio empoeirada não era aberta há dias. Algumas batidas na porta, não há resposta. O carro continuava estacionado na garagem ao lado, as folhagens secas untadas no chão chamara a atenção da ruiva, Kat não era de deixar as folhas acumularem, limpeza excessiva era uma característica sua.

 As duas dão a volta na casa, Kaeth caminha sempre alguns passos atrás observando cada detalhe ao redor. Mais um raio pra romper o silêncio, uma tempestade era o que menos precisavam ali. Após avistar alguns arbustos se mexendo, Jessie muda um pouco a direção, e ainda com uma visão não muito nítida, é possível ver uma silhueta caída ao chão encostada em algumas calhas velhas. Jessie corre puxando consigo a garota, o lobo tenta interrompê-las mas é tarde. Uma barreira começa a se erguer ao seu redor impedindo-o de se aproximar. Ele corre, tenta saltar pelo outro lado, mas é repelido sendo jogado longe. A ruiva se aproxima da garota desmaiada. Não há sinais de sangue, ferimentos, ela está intacta.

— Kat? Kat, você ta me ouvindo? – lhe dá leves tapas no rosto, mas não há resposta. – Kat, sou eu Jessie! Por favor, fala comigo. – ela põe o ouvido contra o peito da garota, batimentos leves e fracos, de vida só há um suspiro. Outro estrondo, as árvores começam a balançar rudemente, portas e janelas batem incontrolavelmente, mais raios, as folhas secas são arrastadas pela ventania, vidraças são quebradas. – O que ta acontecendo? – seu olhar desesperado busca o lobo, mas não há ninguém ali, ao menos não havia até então.

— São eles, Jess. Eles vieram te buscar. Você precisa ir! – pede a amiga já engasgando com o próprio sangue entre tosses.

— Eu não vou deixar vocês. Vai ficar tudo bem, eu prometo! – disse segurando seu rosto entre as mãos.

                A ventania aumenta, pequenos redemoinhos são formados, arvores são arrastada quase tendo suas raízes arrancadas. E em meio à completa escuridão é possível avistá-los. Cinco homens, dois na extremidade direita, dois na esquerda, e um no meio caminhando um pouco mais atrás. Os quatro das laterais carregavam espécies de cetros, se assemelhava a um rubi em formatos ovais. O do meio trazia uma enorme foice que ia até a altura dos seus ombros. Todos vestidos em longas batas de couro prateadas e com capuzes cobrindo-lhes os rostos, o do meio vestia uma bata de cor preta, havia um símbolo no lado esquerdo do seu peito: era o esqueleto de uma fênix.

— São eles, os guardiões da fênix – afirmou a jovem mal conseguindo se pôr de pé

— Como você sabe? – July não a responde, olhares cruzados, um de medo e um de redenção. Será que existia isso mesmo ali? – Tudo bem, vamos dar um jeito de sair daqui! – Jessie tenta apoiar a loira com mais firmeza sobre si, mas antes que pudesse dar início a sua fuga, tem sua amiga arrancada de seus braços. Ela é erguida no ar a metros de distância do chão. Gritos de euforia, ela vasculha o lugar com o olhar, mas não há ninguém próximo o suficiente. Os Guardiões, um deles erguia o seu cetro, ele estava manipulando-a, mais gritos. Após uma curta pausa, a garota é arremessada no ar batendo contra o tronco de uma árvore e indo ao chão.

                Foi a vez de July ser erguida no ar, estava sendo sufocada de dentro para fora. Gritos de desespero ecoam o lugar, enquanto isso o loiro continua tentando ultrapassar a barreira, todas tentativas são falhas, quanto mais se tenta rompê-la, mais ferimentos são causados. Desespero essa era palavra que definia o cenário. Jessie avança alguns passos com as mãos para cima a fim de chamar a atenção dos Guardiões.

— Eu estou aqui! É a mim que vocês querem, não é? Elas não têm nada a ver com isso. Eu devo ser sentenciada, por favor, deixem elas irem! Eu imploro!

— Jessie, não! Eles vão pegar sua alma como tributo! – a voz de Kaeth surge sobre o barulho que os tremores emitiam. A ruiva o encara já na sua forma humana, uma troca de olhares ternos se tem ali, aquele oceano de olhos desesperados imploravam para que ela não o fizesse. Ela observa alguns rasgões na sua roupa, e cortes no seu corpo, causa das tentativas falhas de ajudá-la. Seu olhar pousa sobre a garota caída, e a outra acima de si pendurada no ar. – Jess, por favor... não! – ele pede com seu mar transbordando em lágrimas.

                Ela desvia o olhar, mais alguns raios ameaçavam o ambiente. Jessie se aproxima com seus braços erguidos, o carrasco do meio caminha alguns passos a frente arrastando sua foice sobre aquele solo seco. July é solta no ar caindo em queda livre, porém consciente. As tosses continuavam, mais sangue sendo expelido. Os quatro se aproximam e param em suas posições perfeitamente alinhadas dando passagem ao do meio. Jessie recua alguns passos, nós na garganta, do outro lado gritos e mais gritos desesperados de Kaeth, seu rosto já sangrava aos montes assim como seus braços e abdômen, o céu já gotejava sobre aqueles corpos machucados. Quanto mais o guardião se aproximava, mais o loiro se jogava contra aquela barreira que triturava cada partícula do seu corpo, mais medo tomava a ruiva que mal se conseguia se manter de pé.

 Os quatro que permaneciam com suas posturas imóveis, cravam seu cetros no chão que começam a brilhar intensamente. Gritos incessantes e desesperados, um clarão no céu e o guardião já estava no alto com a lua cheia de fundo, deixando a mostra um par de olhos vermelhos. A lâmina de sua foice perfeitamente afiada é enaltecida pela luz do luar, ele vem em sua direção, a sentença está feita. A ruiva fecha seus olhos se pondo de joelhos clamando por redenção em pensamento, seria seu fim. Mas não carregaria mais ninguém consigo, mais um raio para iluminar o espetáculo, a velocidade com que ele salta era tanta que todos os objetos ao seu redor são arremessados longe, chegou a hora.

— Jess!!!

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— Jessie?

— Hum? Como sabe o meu nome? – perguntou a garotinha com seu vestido rosa de bolinhas brancas e seu cabelo ruivo preso em  duas marias chiquinhas, observando a outra que era uma pouco maior,ela usava uma calça jeans com uma camisa preta de detalhes vermelhos e tinha seu cabelo solto.

— Tem no seu vestido – disse, apontando para o adesivo grudado na sua roupa que a recepcionista da creche havia lhe dado – Eu sou July! – disse simplesmente, estendendo sua mão em cumprimento, a qual ela apertou ainda que um pouco hesitante. – Quer brincar?

— Pode ser. De quê? – perguntou, analisando as vestimentas da garota e outro grupinho de meninas que as observavam sussurrando coisas  sobre como eram esquisitas.

— Eu tenho uma bola, podemos brincar com ela. – exclamou empolgada, mas teve seu sorriso desfeito quando as risadas aumentaram atrás de si, era quase impossível ignorar.

— Minha mãe disse que meninas deviam brincar de bonecas, bolas são para meninos.

— Mesmo se brincarmos com uma bola, vamos continuar sendo garotas.

— Duvido muito que ela seja uma – alguém dispara num tom maldoso entre risadas abafadas.

— E então, quer vir? – ela exibia seus dentes de leite num fraco sorriso.

— Sim – assentiu, e as duas foram em direção ao parquinho. Mas antes que pudessem chegar ao seu destino, uma das garotinhas do grupo estende a perna no meio do corredor fazendo a garota de cabelos vermelhos tropeçar e cair ao chão. Ao observar as risadas das meninas ao seu lado, ela contém o choro, mas permanece no chão com seu rostinho enfiado entre os joelhos lutando contra a dor e as lágrimas.

— Algum problema? Seu joelho parece estar ferido – disse uma das meninas em seu vestido de babados com tom irônico. Não há resposta, e logo todas voltam a rir novamente, até a garota ser acertada por uma bola de futebol e caindo com o impacto.

— Algum problema? Seu rosto parece um pouco amassado – surgia a dona da bola, recolhendo a mesma e encarando todo o grupinho com um olhar intimidador.

— Você vai ver! Vou contar tudo pra minha mãe, sua esquisita! – saiu correndo a garotinha sob reclamações, acompanhada das outras.

— Aproveita e pede pra ela não acabar te confundindo com um bolo de casamento e te comendo, com todos esses babados! – retrucou a garota, já se voltando para Jessie. – Você ta bem?

— Uhum – assentiu a ruiva entre soluços.

— Deixa eu te ajudar – retirava um curativo do bolso.

— Por que você tem uma coisa dessas consigo?

— Eu me machuco constantemente. Seja jogando bola, subindo em árvores, pulando cercas, sempre acabo com alguns arranhões, então já ando com alguns no bolso. – concluiu terminando de pôr o curativo no joelho da garota.

— Obrigada! – disse já se levantando e enxugando o restante das lágrimas.

— De nada. Quando precisar, vou te ajudar! – indagou exibindo um sorriso mais sincero que o primeiro.

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— Me dá esse colar!

— Vem pegar! – erguia o objeto, o capitão do time de futebol e jogando para o colega em seguida.

— Por que vocês têm que ser tão babacas, hein? Mas que droga, Raven, me dá isso! – dava pequenos pulos tentando alcançar o colar.

— Não, não. O que vocês acham de uma recompensa, hein garotos? Já que ela quer tanto o colar... – disparou maliciosamente levando todos à euforia.

— Mas que merda! Esse colar era da minha mãe, me devolve!

— Awn, é mesmo? Então vem pegar. Ou melhor, dança pra gente! O que acham, hein rapazes? – todos iam ao delírio, dando risadinhas enquanto tentavam apalpá-la.

— Dá o colar pra ela, Raven! – ordenou a garota que surgia em meio ao restante dos rapazes. Com uma meia calça preta por baixo de um short  jeans com detalhes meio rasgados, e uma camisa de mangas longas também preta, com o símbolo da banda Guns “n” Roses, um piercing na sobrancelha, outro no nariz e um terceiro na língua. Seu cabelo era um castanho escuro naturalmente liso, com algumas finas mechas roxas.

— Uh, chegou a revoltadinha! Mas chega aí, quanto mais melhor, não é rapazes? – exclamou e sua manada de amigos bêbados respondiam no mesmo ânimo.

— Raven, dá a droga do colar pra ela, agora! – ordenou com seu característico semblante intimidador.

— Por que não vem pegar? – desafiou-a

                As vaias estimulavam a intriga e a expectativa sobre o desafiante levava o grupo ao delírio. A garota recua alguns passos, as vaias aumentam. Ela toma impulso e salta num ângulo de trezentos e sessenta graus por cima do rapaz e se pondo atrás dele numa chave de braço. Seu corpo estava paralisado, seu pescoço está cercado pelo braço de July, e seu braço sendo puxado para trás a pouco de ser quebrado. O jogador começa a se contorcer de dor e a implorar que o solte, todos observam a cena perplexos e sem ação alguma.

— Você vai dar o colar pra minha amiga, e implorar seu perdão de joelhos---

— Eu o quê? Não vou fazer merda nenhuma!

— Oi? Desculpa, não consigo te ouvir direito – pressionava ainda mais seu braço para trás provocando mais intensos e dolorosos gritos.

— Eu disse que vou fazer, vou fazer! Agora me solta, por favor!

— Olha, ele sabe ser educado. Eu vou soltar, mas antes tem mais uma coisa. Ta vendo aqueles cães sarnentos e imundos dos seus amigos? Cada um deles vai beijar os pés dela, e quando a gente passar vão permanecer de joelhos beijando o chão que a gente pisar, entendido? – após uma longa pausa e troca de olhares entre o garoto e o restante do time, ele finalmente assentiu.

                E assim foi feito, mesmo sob hesitação, as condições foram cumpridas. Cessado as imposições, cada um deles tinha beijado os pés de Jessie. Todos observavam a cena entre gargalhadas, alguns filmavam das câmeras de seus celulares, outros faziam ainda mais alarde. E assim as duas saíram desfilando em meio ao corredor de gente que se formara, e todo o time permanecia de joelhos com os lábios fixados ao chão frio. E para terminar, July abaixa-se um pouco igualando a altura a do capitão, encarando-o fixamente nos olhos.

— E da próxima vez que você se aproximar dela, eu vou enfiar a sua preciosa bola de futebol num lugar que você não vai alcançar! – disse por fim, cuspindo sobre o garoto.

— Você é cruel, sabia? – comentou a ruiva abafando uma risada.

— Os melhores heróis são aqueles que agem como vilões!

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— Ora, ora... Se não é a garota do cabelo de fogo! – zombava a loira  com a sua turma.

— Ashley, me deixa em paz, ok? Só quero pegar meu almoço. – tentava se desvencilhar.

— Opa, opa! Eu disse que você podia sair?

— Não enche, Ashley!

— O que será que acontece se o cabelo de fogo realmente pegar fogo? – ascendia um isqueiro a sua frente, o que a fez parar.

— O que acontece se eu atear fogo nessas duas bolas de plástico que você chama de peitos? – interveio July tomando o isqueiro nas mãos. – Será que eles derretem? Posso até sentir o cheiro de silicone queimado, não seria uma experiência maravilhosa? – aproximava o isqueiro aceso da garota que já recuava com os olhos prestes a saltarem das órbitas. Um movimento falso de July foi o bastante para fazer todas correrem feito crianças assustadas.

— Ah meu Deus, o que seria de mim sem você, July Klerck?

— Nadinha! – respondeu jogando o isqueiro para cima entre risadas.

— Você sempre surgindo como minha heroína quando mais preciso.

— Eu já te falei, não foi? Eu vou  proteger você. Sempre que você estiver precisando de ajuda, vou me jogar na sua frente com minha capa de heroína e te salvar!

                “Sempre que você estiver precisando de ajuda, vou me jogar na sua frente e te salvar. Vou te proteger. Vou me jogar na sua frente e te salvar. Vou te proteger. Vou me jogar na sua frente. Vou te proteger. Sempre que... Te proteger. Vou me jogar na sua frente e te salvar. Me jogar na sua frente e...”

Jess!!!

                Um corpo é jogado a sua frente. A foice vem ultrapassando velocidades, sua lâmina cumpre seu propósito. A sombra da garota sendo cortada a sua frente congela a cena. Seu cérebro não raciocina mais, o coração já havia parado, a imagem captada por seus olhos não conseguiam ser processadas. Tudo estava em câmera lenta. Uma mecha roxa passa diante dos seus olhos, um corte,milhares de gotas de sangue salpicadas em seu rosto. Seu perfume é sentido uma última vez. O céu está chorando, Jessie quer fazer o mesmo. Estado de choque, era isso o que queria dizer aquela frase? As gotas de chuvas se tornavam mais intensas e pesadas, vinham para carregar o sangue espalhado, limpar a alma.

 Após longos instantes observando o sangue gotejando seu rosto, o que se espalhava pelo seu corpo com á água que escorria daquelas nuvens negras, aquele sangue... não era seu sangue. Seu coração está parando, tudo está pesado, o ar não passa por entre seus pulmões, o sangue já não circula mais. Seu olhar desce lentamente para o chão, por Deus, como desejou não ter mudado o foco. Do seu lado esquerdo estava metade do corpo de July, gotas de chuva pingavam na imensa poça de sangue formada, do outro lado o restante de seu corpo, do tronco para baixo estava jogado no chão frio, suas entranhas se espalhavam pelo lugar. O céu está trovejando, o sangue escorrendo. Um círculo de fogo se ergue ao redor de todos, tudo está queimando, até a marca de Jessie, seus olhos perdem a cor, olhando aquele cenário, ela sabia... Seu inferno havia começado.


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Notas finais do capítulo

PS: Não me matem, não me matem! *correndo como se não houvesse amanhã*
~Violet



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