Marcada escrita por Violet


Capítulo 25
O Rei do Inferno


Notas iniciais do capítulo

Olá, bem vindos a mais um capítulo de Marcada! Se você chegou até aqui, parabéns, você é um vencedor, hahaha. Bom, devido a imensa pausa que dei à fic, está um pouco difícil de retomá-la, então estou indo aos poucos, conto a compreensão de vocês. Lembrando que Marcada encontra-se em sua reta final, então espero que estejam gostando do rumo que ela está tomando (daí a importância dos comentários), aos leitores fantasmas, saiam do além e se mostrem, a opinião de vocês por mais simples que seja, é muito importante para nós autores amadores. Sem mais delongas, até o próximo capítulo! Jya!
~Violet



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Já havia se passado meia hora desde que havia partido, meus olhos vagavam entre o papel em minha mão e o ponto cego a minha frente, tinha que planejar algo, lidar com o Crowley era algo impossível de se imaginar, ele era o tipo de ser que você tremia só de ouvir falar. O "convite" que segurava era a chave para o lugar onde você não se pode chegar a menos que ele queira que você chegue, os Salões Infernais. Lá, além de ser o lugar de onde ele observava tudo e todos de cima do trono, era também onde se resolviam as questões burocráticas do Inferno, de qualquer forma, o lugar que havia evitado por severos quarenta e sete anos.
Com um pouco de esforço e um pequeno punhal, tinha o que faltava para abrir a minha passagem, meu sangue! Ao gotejá-lo algumas vezes sobre o convite que Crowley havia deixado para mim, o portal logo se abrira a minha frente. Algumas piscadas e estava imersa num imenso salão de estrutura arcaica, não era muito diferente do que era descrito nos livros, talvez um pouco mais luxuoso do que presumia. Suas colunas extensas, e poucas vidraças bloqueavam a luz, mas nada que alguns lustres suspensos não resolvessem. O piso era repleto de desenhos abstratos que faziam referência às guerras. Não pude deixar de notar a quantidade de escultura de anjos pelo salão, julgando por suas espadas e pelo sofrimento dos homens ao seu lado, presumi que fossem anjos caídos. Alguns passos a frente e me deparo com o próprio diabo de três metros de altura em sua forma reluzente e não menos assustadora que a forma real, ele sorria sadicamente em êxtase enquanto parecia sugar a alma de alguém que ardia em dor e sofrimento, imerso em uma enorme poça de sangue.
— Vejo que chegaste ao meu humilde aposento. - sua voz era tão grave e penetrante que senti cada músculo do meu corpo paralisar. Sua presença era tamanha intensa que fazia a aura do ambiente mudar completamente a ponto de congelar uma pessoa viva. - mal posso descrever as sensações que tenho ao vê-la aqui em minha fente. - pude sentir seu hálito quente deslizar sobre minha nuca, engoli a seco.
— Onde está Kristen? - perguntei forçando um pouco de firmeza na voz.
— Quem sabe... - ele continuava a me rondar, sentia o espaço comprimir a minha volta cada vez mais, estava difícil respirar.
— É a mim que queres não é? Estou aqui, agora me diga onde está minha irmã?
— Ora vejam, um demônio que se importa com a família, isso não é um pouco raro para alguem da sua... classe? - sua fala era carregada de deboche e sarcasmo.
— Onde, está Kristen?
— Não se preocupe querida, ela está em ótimas condições, diria até que está gostando da sua estadia aqui.
— Deixe-a partir, é a mim que você quer!
— Agora que mencionastes, chega a ser interessante. - ele finalmente se afastara e parecia menos intimidador com uma postura mais relaxada. - Quarenta e sete anos, quarenta e sete anos fugindo de mim e nos enganando. Me pergunto o quão astuta foste para ludibriar-me todo esse tempo, chega a ser engraçado e audacioso - ele ria de si mesmo - e sabe o que é mais interessante? - seus olhos encontraram os meus e pude sentir uma última batida em meu coração - Eu não gosto dessa sensação. - rapidamente sua expressão mudara, seus olhos estreitos me diziam que estava prestes a arrancar minhas entranhas, minhas pernas trêmulas reclamavam coragem. - Me pergunto o quão imensa será sua punição, mas acredito que conseguirei pensar em algo. - seus lábios se esgueiraram sadicamente para o lado forçando uma espécie de sorriso, temi por minha vida.
— Deixe-me vê-la
— Claro, por que não? - ele estalou os dedos e dois guardas de chifres em forma de caracol apareceram trazendo-a.
— Kristen! - gritei
— Ana? O que está fazendo aqui? - suas sobrancelhas arqueadas demonstraram uma reação totalmente oposta a que eu esperava.
— Vim tirar-lhes daqui. Você está bem? Está machucada?
— Crowley, o que está acontecendo? Achei que eu fosse a escolhida! - ela me ignorara completamente.
— Bom, como pode ver, sua irmã está ótima. Eu não a raptei, ela se ofereceu para vir comigo.
— Kristen, está tudo bem, não precisas se sacrificar mais, eu cuidarei de tudo.
— Sacrificar? Tsc! - ela me fitava ironicamente como se eu tivesse dito um completo absurdo. - Achas mesmo que vim para cá para me sacrificar? E por quem? Pela nossa família? Ah, não sejas tão tola irmã. Por que achas que treinei todo esse tempo escondida e estudei tantas magias negras? Queria estar forte o suficiente para quando fosse recrutada, meu dever é seguir Crowley, não sou como você que nega sua própria essência!
— Como podes dizer uma coisa dessas? Sabes muito bem o que acontece com quem se junta à ele. Perderás todos os laçõs, memórias, não serás mais dona nem da própria vontade, estarás presa à ele pelo resto da eternidade para servir de peão em suas guerras. Está tão obsecada assim por poder?!
— E se for? Estou cansada de viver me escondendo naquela miséria com aquela família estúpida, por mim que morram todos! - juro que senti um pesar maior nos dedos quando minha mão bateu contra sua face, mas ainda sim, pude descarregar um pouco da raiva que estava sentindo ali.
— Como pôde? - ela me encarava furiosa com mão contra o rosto. - Ora sua---!
— Parem! - o trovão em forma de voz se alastrara pelo salão fazendo as pilastras balançarem e Kristen interrompeu seus movimentos. - Fico excitado em vê-las brigando assim, mas não tenho tempo para dramas familiares. Vamos ao que importa, os negócios! - seu olhar voltou a me analisar minuciosamente. - Sua irmã realmente tem um grande talento, só de estar perto dela consigo sentir uma aura negra e perversa. Acho que seria ótimo tê-la comigo, a não ser que... Você tenha algo melhor a me oferecer!
— Não a escolha, Crowley. Eu vos servirei melhor, posso até derrotá-la para mostrar-lhes que sou mais forte!
— Pare de ser tão tola, Kristen! - gritei um pouco mais alto do que pretendia. - Ele nunca quis recrutá-la, seu alvo sempre fora eu desde o começo, você foi apenas uma isca para me atrair até aqui.
— Não é verdade!
— Chega! Mocinha, deixe os mais velhos negociarem está bem?! Não quero ter que ser rude tão rápido assim. Mas e então, qual é a sua oferta, querida Anastacia?.
— Não finja que não sabe, no momento em que cheguei aqui já sabias o meu propósito!
Risos - Gosto da sua audácia, mas não gosto da sua arrogância, ela me irrita um pouco e não irás querer ver o rei do Inferno irritado não é mesmo? Acredite, não irás querer. - ele balançava o indicador com desdém.
— Eu me ofereço para ficar no lugar de Kristen. Farei o pacto, mas antes... Tenho uma condição.
— Por que não estou surpreso?!
— Quero que faças um portal para ela, quero ter certeza que ela chegará a salvo em casa.
— O quê?! Não! - ela continuava a esbravejar nervosamente, definitivamente não era a irmã que eu havia convivido por todo esse tempo.
— Tudo bem. Normalmente não concedo favores, mas como estou de ótimo humor, lhe concederei esse desejo. - dois estalares de dedos e um portal se abrira a nossa frente, mesmo com a imagem contorcida conseguia avistar de longe a nossa pequena casa. - Vá!
— Mas Crowley--------
— Eu mandei ir! - sua postura intimidadora rompia qualquer hesitação. Não era atoa que diziam que ele era o único ser cujo você não poderia dizer um "não".
Ainda relutante ela atravessara o portal. A atenção de Crowley retornara a mim, e me perguntei por quanto tempo iria suportar aquilo. Ele era increvelmente alto, sua postura totalmente ereta e intimidadora,seus ombros eram largos, o contorno de seu rosto era fino a ponto de deixar seu maxilar um pouco a mostra, a pele era grossa e rígida, nenhuma parte do seu corpo era exibida além do rosto. Sua pupila negra se expandia por todo o olho, não havia íris, não haviam cabelos, ou dentes, apenas presas grossas e chifres que não se restringiam apenas a cabeça, mas a partes do corpo cujas ultrapassavam o manto escuro que lhe escondia.
— Aonde estávamos? Ah sim, na sua punição... Como devo proceder? Tenho tantas opções na minha mente que mal posso me conter! - ele agarrara um fio do meu cabelo e o inalava como uma droga. - Será que devo usar os mesmo métodos de tortura que você usava com aqueles inocentes no passado?!
— ...............
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— Sam! Sam!
— Hum?
O irmão mais novo corria em seu encalço, mas ele parecia absorto naquele livro de magias.
— Sam, é importante!
— Hum... - ele suspirava enquanto devolvia o livro ao seu local de origem. - O que foi dessa vez?
— Kaeth teve outro sonho, ele parece estar em choque.
Não demorou muito e os dois corriam em direção ao quarto do mais novo. Kaeth permanecia sentado próximo à cabeceira da cama, com seus pequenos olhos azuis fixados em algum ponto cego à sua frente, suas madeixas loiras retidas em sua testa suada, e seus finos e pequenos dedos tremiam freneticamente enquanto apertava os lençóis da cama.
— Kaeth? O que houve? Outro pesadelo? - segurava seu rosto entre as mãos, mas seu olhar ainda parecia distante.
— Eu vi, Sam! Eu a vi!
— Quem? Quem você viu?
— A moça de antes, eu a vi de novo, Sam!
— Tem certeza que era ela?! O que você viu exatamente?!
— Sam, você está apertando os braços dele - interveio Derick já se aproximando dos dois.
— Ah, desculpe! Preciso que me diga exatamente o que viu, Kaeth!
— Ele ainda está em choque, é melhor fazê-lo se acalmar.
— Não, você não entende, preciso saber o que ele sonhou!
— E que diferença faz saber o que ele sonhou, Sam?
— Sangue... - indagou o mais novo ainda sem desfocar seu olhar.
— Sangue? O que mais? - insistia Sam desesperadamente.
— Um homem, ele a torturando, mais sangue, gritos de dor...
— O lugar, consegue descrever o lugar?
— Um imenso salão, quadros, há estátuas de anjos com espada.
— Estátuas de anjos você disse?
— Hum - ele acena afirmativamente de volta para o irmão.
— Salões Infernais - sussura
— Isso não é-----
— Derick, preciso que fique aqui com ele, se algo acontecer chame a mamãe, me avise se ele tiver uma nova visão!
— Aonde você vai?
— Confias em mim?
— Não!
— Pois terás que confiar dessa vez!
Em sua biblioteca, Sam continuava a vasculhar cada prateleira em busca de algum livro que fizesse menção aos Salões Infernais, seus dedos deslizavam pelas páginas cautelosamente, não podia deixar passar nenhuma informação despercebida.
— Achei! - exclamou ao concluir seu objetivo.
"[..] Para se chegar aos Salões Infernais o indivíduo deverá preencher o convite com seu próprio sangue, o mesmo deverá ser um documento autêntico enviado pelo rei, cópias não servirão para abrir o portal. Só terão acesso aos Salões Infernais aqueles cujos forem convocados diretamente ou indiretamente por Crowley ou cometerem um crime de alta gravidade, onde dar-se-á o seu julgamento."
De volta ao seu quarto, Sam torna a apanhar alguns de seus pertences, o casaco preto cujo mantinha guardado no fundo de uma de suas gavetas mais reservadas, as luvas de couro que se ajustava perfeitamente aos seus longos dedos, o capuz que cobria-lhe boa parte do rosto, e o item final... Sua espada que agora pendia sobre a cintura, ele estava pronto. Já no relento da noite com a lua iluminando seu caminho, ele libera seu par de asas negras que se deslanchavam prontamente levantando a poeira seca, elas se erguiam elegantes e intensas contra o vento e a gravidade.
— Espero que exista mesmo essa tal de redenção... - ele fitava algum ponto abstrato acima de si, e logo alçara voo.


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