Marcada escrita por Violet


Capítulo 14
Duelo de TItãs


Notas iniciais do capítulo

Olaaaaaa pessoas!! Sejam bem-vindos a mais um capítulo de Marcada!!! Gente, que saudade que eu tava de postar pra vocês, meus pãezinhos de queijo ♥
Antes de qualquer coisa, queria trocar uma ideia com vocês.
A gente sabe que quando se lê um livro, uma fanfic qualquer coisa que não tenha uma imagem, fica ao nosso critério imaginar a aparência do personagem. Pra ajudar tem as descrições, você que tem certas dificuldades em imaginar, procurem as descrições e imaginem como lhes convir. Eu particularmente para criar o Derick, me inspirei no boy Imran Abbas Naqvi, em sua versão com o cabelo um pouco mais grandinho, ele me inspirou. Já o Kaeth, foi o ator Alex Pettyfer em sua versão com o cabelo um pouco mais curtinho, sem barba e mais novo. Eu ia postar as fotos deles aqui, mas ainda sou uma anta no site, então vocês podem pesquisar se quiserem. É só uma dica. Sem mais delongas, que o capítulo tá bom pra caçamba, recém saído do forno. Deixem seus comentários, leitores fantasmas se assumam! E vamooooo que vamoooo!
~Violet



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Já fazia algum tempo desde que os três haviam entrado no templo. Ele parecia incrivelmente antigo, porém digno de um poderoso deus. As paredes eram rochosas e o solo empoeirado. Não havia sinal de nada e nem ninguém, apenas o vazio dos corredores que não pareciam ter fim. Um pouco mais frente guiando o caminho, estava Derick segurando uma das tochas que estavam presas às paredes iluminando o percurso. Um pouco mais atrás, estava Sam portando também uma tocha e tentava analisar as paredes em busca de alguma brecha ou vestígio.Por último em passos lentos estava Jessie, com os braços contraindo o próprio peito, ela reparava em cada detalhe ao seu redor, e não era nada menos do que assustador.

— Isso não vai acabar nunca? – perguntou a ruiva já se aproximando dos outros dois.

— Bom, acho que acabar não vai, mas achamos um começo – indagou Derick parando alguns metros a frente, levando todos a fazerem o mesmo. Eles tinham chegado em um enorme e vago salão, à sua frente haviam três aberturas que davam à três caminhos diferentes. – Pelo menos já sabemos por onde começar. – concluiu o moreno já indo em direção à primeira abertura.

— Onde você pensa que vai? – irrompeu Sam, com o mesmo semblante repreensivo que usava para dar ordens.

— Ué, pegando um dos caminhos. Três caminhos... Somos três aqui, um pra cada. Matemática, Sam. – disse como se estivesse explicando o óbvio.

— Pode ser uma armadilha Derick. O ideal é que---  – ambos pararam para notar Jessie, que já caminhava rumo ao caminho do meio. – Ei, o que você ta fazendo?! Não decidimos ainda. – ela parecia ignorar completamente, só continuava caminhando como um sonâmbulo ou algo do tipo. – Jessie! Não podemos nos arriscar sem um plano primeiro, eu ordeno que volte! – ordenou num tom mais rígido que o de um general.

                Os irmãos continuavam a chamá-la, mas ela não respondia ou nem mesmo parara para encará-los. Seus cabelos ruivos esvoaçavam, o que era estranho pois não haviam aberturas que permitissem a passagem de ventanias. Os dois pararam de tentar impedi-la ao notar que a marca em seu braço reluzia intensamente. Sem precisar a voz, Derick pediu ao irmão que a seguissem, e após confirmar com um acenar de cabeça, ambos se foram, deixando que aquela nova bússola os guiasse.

                Após uns minutos de caminhada em silêncio, Jessie finalmente havia interrompido as passadas. Eles estavam em outro salão, um pouco maior que o primeiro. Haviam estátuas de cobras espalhadas pelo lugar, e ao lado a estátua de um homem erguendo o coração recém arrancado do peito frente à uma parede com alguns desenhos abstratos.

— Ai, meu Deus! – Jess exclamou, após um grito ao ver o amontoado de esqueletos jogados nas extremidades das paredes.

— Acho que você encontrou a anciã, rosinha! – disparou Derick, exibindo um sorriso ao avaliar o lugar.

— Eu... eu não entendo. Como viemos parar aqui?

— Boa pergunta, eu também queria saber. – refutou o moreno, tomando o braço de Jess e erguendo-o no ar, exibindo sua marca.

— Por que há esqueletos aqui?

— Porque eles morreram, Jess. É isso que acontece quando você morre, você vira um esqueleto e não um unicórnio rosa – interveio Derick num tão irônico quanto impaciente. Sam persistia em analisar cada centímetro daquelas paredes com o auxílio da tocha.

— Tsc! – a ruiva bufava, mas preferiu ignorar a última fala e se concentrar no ambiente ao redor. Ela reparou em especial na estátua do homem que erguia o próprio coração. Ela observava à frente da estátua e restava apenas uma parede rochosa. Seguindo o ângulo de apontamento da estátua Jess se aproxima da parede, e começou a apalpar toda a região, até que num lugar um pouco mais preciso, ela achara um pequeno buraco retido na poeira. Após alguns sopros, ela havia conseguido se livrar de toda aquela sujeira, e o buraco se moldava em um formato bruto de um coração.

— Achou alguma coisa? – perguntou Sam, já se aproximando e tomando ciência da situação.

— Não sei. Não é estranho que esse homem esteja erguendo o próprio coração? Sei lá... É como se ele estivesse oferecendo-o para alguém. – ela voltava a analisar a estátua do homem.

— Antigamente os deuses recebiam algumas oferendas quando seus servos lhes pediam favores.

— Isso! – exclamou em êxtase ao concluir seu raciocínio. – Ele está oferecendo o coração como uma oferenda. – agora ela havia se limitado a analisar somente a pedra em formato de coração presa à estátua. – Nós viemos em busca de um favor, certo? Talvez para que ela nos atenda, precisamos dar-lhe alguma oferenda.

— O quê? Sugere que a gente arranque nossos corações e ofereça pra ela? – interveio Derick, com a mesma ironia e sarcasmo carregados.

— Claro que não! Isso é apenas um enigma, uma referência. E se... – após algumas tentativas, ela arrancara a pedra que o “homem” segurava e analisava-a profundamente. Os dois a olhavam curiosos e ansiosos por seu próximo movimento. Com a pedra já em mãos, Jessie observa um pouco mais o buraco na parede, e lentamente ergue a pedra, até ter seus movimentos interrompidos por um braço que segurava firmemente seu pulso.

— O que você ta fazendo? – seu olhar intercalava entre a mão que lhe segurava e o dourado dos olhos de Derick.

— Não sabemos como ela é e nem se podemos confiar nela. O melhor é que ela não veja a marca. – concluiu, já retirando o casaco e atraindo o olhar da ruiva. Seu próximo gesto foi envolvê-la com a peça que emanava o cheiro dele, já se misturando ao seu próprio.

— Ele está certo, o melhor é que ela não saiba do porque de estarmos aqui.

                Cessado os diálogos, e com o casaco já devidamente abotoado, Jessie continuava o seu feito. A essa altura ela já posicionava o “coração” em seu devido lugar, e o encaixe foi perfeito. A pedra antes sem vida, brilhava intensamente tomando a cor de um rubi. O chão tremia como num pequeno terremoto, ambos se entreolhavam tentando se manterem juntos o máximo possível. Cessado os tremores, fora a vez de Jessie se desesperar. Serpentes surgiam de todos os lados e se enroscavam, subindo pelo seu corpo.

— T-tirem elas de mim! – gaguejou em súplicas.

— Calma, ela estão reconhecendo você! – disse Derick, tentando repassar o máximo de cautela na voz.

— Como você sabe? Elas vão me matar, isso sim!

                Após se enroscarem em todo o corpo da ruiva, e exibirem suas línguas, as serpentes finalmente deixaram-na, se posicionando frente à Jessie. Um amontoado delas se formava, e logo todas começaram a se metamorfosear e se moldar num corpo. Ao final, a frente de todos eles, estava a tão requerida anciã. Ela era alta, de pele meio esverdeada e cercada por fracas escamas. Seus cabelos eram negros e cacheados. As pupilas de seus olhos se moldavam perfeitamente à de uma serpente. Seu nariz era fino, e seu sorriso exibia quatro presas extremamente finas cujas gotejavam ao que parecia ser algum tipo de veneno. Seu corpo era metade mulher e a outra metade cobra. Seus membros inferiores eram substituídos por uma cauda imensa que rastejava freneticamente pelo salão. E em suas mãos, no lugar de dedos, havia um conjunto de pequenas cobras que se erguiam avidamente, essas pareciam ter vida própria. Um pequeno esforço, e ela já estava frente à Jessie, observando-a com um olhar curioso.

— Hum... Vejam o que temossss aqui! – ela parecia se deliciar com a imagem de Jessie, o que deixara os irmãos em posição de alerta. – Carne fresssca – até sua dicção fazia referencia à uma cobra. – Masssss e então, o que viesssstessss fazer aqui? – ela permanecia rodeando Jessie e analisando cada parte do seu corpo, sempre com expressão de êxtase.

— Nós viemos pedir a sua ajuda e-------- - Sam se pronunciou, mas fora interrompido.

— Silêncio! – ela gritou, e sua voz ecoou fazendo as paredes tremerem. – Eu perguntei à ela! – ela tornou a se aproximar da ruiva, e as pequenas cobras que adornavam seus dedos, acariciavam o rosto de Jessie, deslizando suas línguas sobre ele. – E então, garotinha... O que você quer de mim?! – seu tom era sensual e irônico. Jessie tentou erguer o rosto a fim de encará-la, mas lembrou do conselho que havia recebido momentos antes. Ela permanecia com os olhos cravados no chão e se esforçando para não transparecer o medo e desespero que estava sentindo.

— Eu... eu – as palavras estavam grudadas em sua mente, e mal conseguiam subir à garganta. Ela continuou – Eu preciso da sua ajuda! – disparou finalmente.

— Claro que precisa, meu amor. Todossss só vêm aqui por um motivo: pedir favores! Ssssempre foi assssim, desde osss tempossss antigossss. Astridessss tinha tantasss virtudesss, massss até mesmo naquele clã imundo, só bussscavam Astridessss para lhe pedir favoressss. Bassstardos! – seu tom estava mais rígido que no começo. As palavras saiam afiadas e carregadas de mágoa e raiva. – Masss talvezzz possamossss fazer um bom negócio, querida. – essa última frase veio para aliviar a tensão. Seu semblante era de alguém que estava prestes a barganhar algo. – Diga-me, o que quer?

Jessie engoliu a seco antes de responder, os irmãos observavam tudo atentamente prontos para intervir a qualquer momento.

— Preciso de um feitiço que só a senhora tem. – concluiu, com a voz fraca e relutante.

— Feitiço? Interessssante... E que feitiço seria?

—  Um chamado; Separador de Almas.

— E para que queressss esse feitiço, menina? – sua expressão estava tensa. E seus olhos analisavam Jessie desconfiadamente. Ela se aproximava, e sua cauda balançava em ansiedade.

— É para o nosso pai! – interveio Sam, usando o tom mais sério e seguro que tinha. – Ele está sendo usado por um demônio antigo e precisamos do feitiço para retirá-lo. – concluiu ajustando o terno, ainda sem desviar o olhar. Agora ele já tinha a atenção da mulher que rastejava em sua direção, observando-o intrigada.

— Hum... E o que doisssss demônios esssstão fazendo com uma humana?

— É uma longa história. A gente marca de tomar um chá qualquer dia desses e te conta. Agora, o feitiço, por favor! – o peso das palavras de Derick só fora sentido quando ele notara que havia atraído um olhar de preocupação, um de repreensão, um de confronto, e o dele agora era de arrependimento.

— O que foi que disssssse? – a cauda da megera já ia de encontro à Derick e se enroscava no seu pescoço, levantando-o no ar. – Com quem pensasssss que esssstá falando, ssssseu abutre! – sua cauda se enroscava cada vez mais, comprimindo suas vias respiratórias.

— Pare! – Jessie gritou, atraindo sua atenção no mesmo instante. – Não o machuque, por favor!

O medo carregado naquela súplica instigara a anciã que já se voltava para a ruiva, que agora estava mais assustada que aliviada.

— Uma humana defendendo um demônio?! Isssso sim é algo intrigante! Diga-me querida – ela soltara um pouco o pescoço de Derick, que aos poucos ia retomando o fôlego. – você por acaso sssabe de onde elesss vêm? Ssssabe quem são elessss? Hum? – Jessie não sabia que resposta dar à ela. Realmente não sabia nada sobre suas origens, e quem eles realmente eram. Não que isso importasse, pois aquela altura eles eram a única família que ela tinha. Então, ela se limitou a baixar o olhar. – Elessss são demônios, sabe o que sssssignifica isso? Que elessss são a parte ruim do universo, pessoasssss como você sofrem até a morte por causa de seressssss como elesssss.

— Chega! Isso não está em pauta aqui. Viemos em busca da sua ajuda, mas se recusas a nos ajudar, vamos embora. – concluiu Sam, forçando o máximo de firmeza na voz.

                Foi a vez dele atrair sua atenção. Ela se aproximava encarando-o com um olhar sádico. Não demorou muito para ele ter o mesmo destino do irmão. O braço direito da anciã se transformou em uma só serpente que rapidamente alcançou sua cabeça e a enroscou bruscamente.

— Vocêssss vieram até mim, vocêsssss comprometeram suas almasssss à este templo. Então, eu – gritou – digo o que essssstá ou não em pauta aqui! – a “serpente” já se preparava para arrancar a cabeça de Sam, quando Jessie se jogou à sua frente.

— Pare, pare! Por favor, eu imploro! Não os machuque! Eu faço o que quiser, mas por favor, não os machuque!

— Você sssse importa tanto assim com elesssss? – o silêncio e um acenar de cabeça foram as únicas respostas. Após um longo ponderar, ela solta Sam, e se volta inteiramente para a ruiva que já a encarava ignorando qualquer aviso ou conselho.

— A senhora vai nos ajudar?

— Hum... Sssssim, eu irei! Massss – deu uma exagerada ênfase na conjunção. –irei querer algo em troca, claro.

— O que quiser!

— Hum... – ela exibia um sorriso de triunfo.

— Jess, não! – Derick grita, e é arremessado contra uma pilastra que por pouco não desaba.

— Silêncio, todos vocêssss! – uma barreira é erguida do solo separando-os do salão. – Melhor assim. Onde esssstávamos, querida? Ah sim, na parte em que você estava se disssspondo a fazer uma troca. Massss que tal nosss divertirmossss antessss? Hum? O que me diz?

Jessie buscava algum resquício de ajuda, mas nenhum dos irmãos conseguia se aproximar. Uma barreira mágica os mantinham afastados, mesmos sob socos e gritos, ela permanecia impenetrável. O momento em que ela teria enfrentar algo sem eles, havia chegado. Suas pernas tremeram quando sentiu as escamas frias percorrerem seus braços. Ela não tinha escolha, teria que seguir em frente. Com um esforço indescritível ela conseguira esboçar um fraco sorriso, e falar com a voz menos embargada.

— Claro, por que não?

— Ah, que maravilha! – ela exclamava exibindo seu sorriso de poucas presas. – Vamossss começar com algumassss perguntasssss, que tal? Eu irei perguntá-la sobre algo e você terá que resssssponder a verdade. A cada mentira dita, será um membro que irei arrancar do ssssseu amado. – ela sorria preponderante dando uma última olhada em Derick que já esbravejava pelos poros.

— Como a senhora quiser. – concluiu engolindo a seco.

                Ela rastejou sua cauda pelo salão, assim como seu olhar. Astrides avaliava cada expressão, bastava exibir a língua que já conseguia saber cada emoção que eles estavam sentindo, isso só a instigava ainda mais. O primeiro foi Sam, ela o observava e sabia que ele estava pensando em milhões de possibilidades para escapar dali, sua concentração e inteligência lhe atraíam de uma certa forma. Um extenso sorriso foi exibido, quando ela parou para avaliar Derick. O desespero que ele tinha para sair dali, as várias e brutas formas as quais ele já havia planejado matá-la e o medo de que acontecesse alguma coisa à Jessie fizeram uma mistura de sentimentos que levaram a anciã ao completo êxtase. Seu olhar pousou uma última vez em Jessie e ao checar sua reação, fora o suficiente para motivar a primeira pergunta do jogo.

— Acho que já tenho minha primeira pergunta. – ela sorria em pura adrenalina. – Vejo que sssse importa muito com essessss demôniossss. Honestamente, essssstou basssstante curiosa para saber qual a ssssua relação com elessss. Massss fiquei me perguntando, será que existe um outro alguém cujo você ame maissss do que ossss que esssstão aqui presentessss? Há?

Jessie não esperava que a primeira pergunta fosse direto ao seu ponto fraco. Será que ela sabia sobre sua história, sobre ele... Milhares de imagens e lembranças começaram a bombardear sua mente, e ela tentava de alguma forma contê-las. Seu olhar cruzou o de Derick que tinha seus quatro membros enroscados rigidamente por aquelas imensas serpentes. Seu semblante estava mais calmo que antes, e aquele par de olhos dourados lhe acariciavam ternamente. O receio de respondê-la facilmente fora notável. Quanto mais relutante Jessie se mostrava, mais eufórica a megera ficava.

— Sim. – balbuciou em um fraco sussurro.

— Desssssculpe, querida. Acho que não ouvi. Poderia repetir um pouco maisssss alto para que nossos espectadoressss entendam, por favor? – Jessie a fuzila por um momento com o olhar. Ela já tinha conhecimento da situação, e estava se divertindo com isso.

— Eu disse que sim! Há alguém que eu amo mais, que não está aqui. – as palavras saíram como balas de prata, e haviam atingido perfeitamente seu alvo. Jessie tentou olhá-lo novamente, mas seus olhos já não a encaravam mais. Ela podia sentir seu coração se comprimindo mais do que aquelas serpentes em volta de si.

— Hum, masssss isso está ficando maisssss interessante do que nunca! – ela zombeteava entre gargalhadas que ecoavam pelas paredes rochosas. – Deixe-me ver... E a ssssua família, onde esssstá? Não acredito que elesssss iriam gosssstar que sua filha esssstivesse em posse de doissss demônios, não é? Onde estão elessss?

— Minha... família? – Jessie repetia para si mesmo tentando achar a resposta, mas não a tinha. Um enorme vazio ecoava na sua mente, um buraco negro, uma enorme peça que faltava no quebra cabeças. Ela tentava buscar alguma explicação, resgatar algo de seu passado, mas só havia o vazio, o espaço vago no meio de sua mente.

                Na barreira Sam cerrava os punhos como se estivesse travando uma enorme batalha contra si mesmo. Ele balançava-se para frente e para trás freneticamente, balbuciando algumas palavras soltas.

— Sam?

— Ela vai morrer... – ele repetia para si mesmo, e suas veias já dilatavam de angústia.

— Sam... Diz que você não fez isso! – a barreira permitia que eles ouvissem o que estava acontecendo no salão, mas impedia que elas os ouvissem. – Sam, diz que você não apagou as memórias da família dela! – ele esbravejava, seus olhos transbordavam ira. Sam não conseguiu encarar o irmão. Seu silêncio e o acenar fora o suficiente.

— Porra, Sam! Você sabe o que você fez?! Ela vai errar a resposta porque não lembra de nenhuma família! Ela vai morrer, seu imbecil!

— Eu sei, eu sei! Eu... sei – ele permanecia sentado no chão empoeirado que agora se misturava com as gotas que lhe escorriam a face. – Merda, merda, merda! – um grito e um soco carregado fizera a barreira inteira tremer.

— Eu não tenho família. – concluiu ainda perdida em seus pensamentos.

— Como não tem família? E seussss paissss, parentessss... Ou vai me dizer que caiu de paraquedasssss no inferno?!

— Não... eu só... – ela tentava forçar alguma lembrança, mas nada vinha a sua mente. – não tenho ninguém.

Após um momento de pausa, uma das serpentes da anciã, escorrega entre seus braços pousando em seu ombro, e exibindo sua língua como se estivesse estabelecendo algum tipo de comunicação.

— Que pena, querida... Massss eu não cossssstumo tolerar mentirassss. Ressssposssssta errada!

— Não, não! Eu... eu não menti, eu juro!

— Jurar só piora sssua ssssituação! Vejamossss... que membro eu devo arrancar primeiro? – ela se voltava para Derick que tentava se livrar das serpentes que o prendiam fortemente. – Já ssssei! Arranquem todosssss de uma vez! – ordenou e as serpentes já se enroscavam mais forte para puxá-los.

— Não! – gritou Jessie e as pilastras balançaram com o eco. – Não o machuque! Eu imploro, não o machuque! Fui eu quem errei, não foi? Pode me punir, mas ele não! Por favor, ele não! – a anciã foi facilmente atraída pela ruiva, que já cintilava algumas lágrimas naqueles olhos castanhos. Um largo sorriso se estampara no rosto da mulher, e ela ordenou para que as serpentes o soltasse. Mesmo sem poder ouvi-lo por causa da barreira, em sua mente ela podia ouvir sua voz. Derick gritava desesperadamente, e ela não sabia porque estava conseguindo ouvi-lo daquele jeito.

— Que contraditório, você dizzz amar alguém maissss do que ele, no entanto se oferece para ssssser punida em seu lugar, masss que hilário!Hum... Que tal mudarmos o jogo? – seu tom estava incrivelmente desafiador. Como um jogador que já está com o jogo ganho, apenas esperando o momento certo de pôr suas cartas na mesa. – Você quer o feitiço, não é? Eis aqui... – ela erguera uma das mãos, e um pergaminho de páginas velhas, mas perfeitamente enrolado em uma fita aparecera a sua frente flutuando no ar. – Masss antesss, você vai ter que me derrotar!

Todos pararam para observá-la, ela realmente estava falando sério. A luta seria apenas uma distração. O poder de um ancião é quase inigualável, não havia a menor possibilidade dela ser derrotada pelos irmãos, muito menos por Jessie. Ela sabia disso, todos sabiam. Mas não pareceu suficiente para fazê-la recuar. O olhar de expectativa foi substituído por um vitorioso, aquilo era um prato cheio para a anciã. Jessie encara uma última vez os irmãos, Sam a olhava sem expressão e parecia conformado. Já Derick socava contínuas vezes a barreira, e ela ainda conseguia ouvir sua voz ecoando em sua mente pedindo para que não aceitasse. Imagens soltas bombardeavam sua mente, lembranças, momentos... A ruiva encara o ambiente ao seu redor, e engole a seco quando avista o amontoado de cadáveres no salão. Suas pernas estavam tremendo, seu olhar se volta para seu inimigo. As escamas da mulher se erguem freneticamente excitadas, seu olhar sádico a amedronta profundamente. Uma última lembrança percorre seu cérebro, Derick a encarando com o mesmo olhar sádico, sua espada passando de raspão por seu pulmão. As últimas palavras de Derick, o pacto poderia ser desfeito, a imagem do lobo branco viera à sua mente, e ela sorriu imaginando o que ele diria naquele momento; “Eu confio em você. Acaba com ela, gatinha!”

— Eu aceito! – o sorriso estampado no rosto da ruiva, era o estimulante perfeito para o desafio. Seria matar ou morrer!

— Maravilha! Aqui essssstá a ssssua arma! – ela ergueu a mão, e apareceu uma espada à frente de Jessie, era um pouco maior do que a que ela havia usado para lutar contra Derick. Mesmo com a dificuldade de empunhá-la, tentava juntar toda a coragem e determinação que tinha naquela arma.

                Astride não esboçava muita preocupação, nem mesmo se prostrara em posição de ataque. A primeira a atacar fora Jessie, ela corria tomando impulso para saltar e tentar golpeá-la por cima. Ela consegue desviar, mas com um giro maior, a ruiva consegue cortar ao meio algumas de suas serpentes. Mas antes que ela pudesse cantar vitoria, as serpentes se regeneravam, e a anciã sorria triunfante. Após duas horas de tentativas falhas de derrotá-la, Jessie já estava no seu limite. Não importava quanto ela cortasse, ou como ela cortasse, ela sempre se regenerava.

— Canssssada, querida?

— Nem comecei ainda. A não ser que a senhora esteja, afinal... já está meio velha, não? – ironizou a ruiva, fazendo o semblante da sua inimiga mudar radicalmente. Pela primeira vez desde que a luta havia começado, ela finalmente se prostrara em posição de ataque. Ela erguera suas duas mãos, e ambas se transformaram em duas enormes serpentes que já voavam na direção de Jessie. Por muito pouco, ela consegue desviar dando um salto de cento e oitenta graus. Pendurada em uma das pilastras sob um novo ângulo, a ruiva consegue avistar uma única parte do corpo da anciã cuja ela ainda não havia cortado; a cabeça.

— Acho que já chegou ssssua hora, garotinha. É uma pena... Massss não se preocupe, eu vou cuidar bem dossss seussss amigossss. – ela observava os irmãos com um sorriso vitorioso nos lábios.

 Fora a vez de Astride atacar. As serpentes que deslanchavam-se do seu corpo iam a toda velocidade na direção de Jessie, que havia parado de atacar, e agora apenas corria em sentido contrário. Algumas investidas falhas das serpentes haviam provocados colisões nas pilastras rompendo parte delas. A perseguição continuava, e quando já estava cercada, Jessie para e espera o ataque. Ela permaneceu intacta observando todas aquelas serpentes virem em sua direção, seria um estrondo daqueles. A ruiva intercalava o olhar entre as serpentes e as pilastras que pendiam atrás de si, seria um imenso risco, qualquer mínimo erro poderia provocar sua morte. Segundos antes da colisão, Jessie crava a própria espada na parede atrás de si, e eis que no momento do encontro, as serpentes colidem com na espada com uma força exorbitando forçando a mesma a penetrar ainda mais fazendo todas as pilastras desabarem e esmagarem as serpentes. Com os braços presos debaixo dos escombros, Jessie aproveita a oportunidade para pegar sua espada e correr na direção da anciã. Ela salta sobre seu ombro, e finalmente estava prestes a cortar a única região que não se regeneraria.

— Hora de morrer, querida! – indagou Jessie, já empunhando a espada.

Estava tudo perfeito, as serpentes não poderiam ajudá-la por estarem presas debaixo dos escombros, e nem podiam se regenerar porque não haviam sido cortadas, a cabeça era o seu ponto fraco. Do outro lado do salão os irmãos a observavam perplexos, tentando compreender a situação. A lâmina da espada já estava posta no seu exato ângulo, estava pronta para cortar de vez a cabeça da anciã. Mas Jessie interrompeu seus movimentos quando viu um largo e sarcástico sorriso estampado em seu rosto. E eis que saíra uma nova e maior serpente de dentro da anciã a altura do peito e fora direto em Jessie. A cobra tinha o dobro do tamanho das outras, e se enroscava em todo o corpo da ruiva, esmagando tudo o que podia. Do outro lado da barreira, Sam observava a cena sem esboçar nenhuma reação, nenhum raciocínio lógico, nenhuma palavra motivadora, ele só observava como um espectador que deposita toda a sua expectativa num jogador em campo nos últimos minutos de jogo. Derick já continuava a socar a barreira incansáveis vezes, e a esbravejar, amaldiçoando a tudo e a todos.

— Penssssei que fosse resisssstir maissss... – disse com indiferença, jogando o corpo de Jessie contra o solo seco. Com a cauda ela cutucava Jessie que não reagia mais. Sua clavícula havia sido quebrada, e seu rosto tomava um tom meio arroxeado devido a asfixia. Mais gritos, mais lágrimas.

Antes da anciã voltar-se para os irmãos presos, ela nota algo que a faz se aproximar subitamente da ruiva. Seu braço já descoberto devido as lesões, deixava a mostra o início da sua marca. Ela toma Jessie pelo braço e seu semblante muda completamente ao avistar o restante da marca. Ela a toca, e um bombardeio de imagens invade sua mente. Homens correndo, anjos com suas asas arrancadas, fogo por todo o lugar, gritos de almas desesperadas, há sangue por toda a parte e no final, uma mulher com roupas manchadas de sangue que não era seu. Ela carrega uma foice com o símbolo de um coração em chamas. Ela tem os cabelos presos no alto e as faíscas das chamas pousavam levemente nos fios ruivos da mulher. A pele branca está manchada e atrás de si deslanchavam-se um par de asas vermelhas com suas pontas douradas, como se estivessem pegando fogo.

Ela solta Jessie, e cambaleia recuando alguns passos sem acreditar nas visões que acabara de ter. A marca começa a brilhar intensamente, e rajadas de vento arrebatam o lugar. A anciã é surpreendida por uma outra pilastra que despencava atrás de si, ela desvia ainda desnorteada. E a visão que tem a seguir lhe faz ficar perplexa. Jessie estava de pé novamente, mas o olhar não era o mesmo, aquele olhar... Astrides conhecia muito bem. Ela teve que levar a mão à boca em descrença do que estava vendo. A ruiva já portava a espada de antes, e deslizava sobre o ar como uma pluma e era ágil como um leopardo. Ela empunhava a espada com mais vigor que antes, e avidamente corta-lhe o tronco lançando sua cauda longe, essa já se retorcia incontrolavelmente. Astrides tenta golpeá-la com suas serpentes, mas a garota é mais rápida, ela já tinha sua espada apontada perfeitamente para a cabeça da anciã.

— Não pode ssser! – sussurrou tentando convencer a si mesma do que estava vendo. – Você...Lily!

— Olá, minha querida! – disse exibindo um sínico e sádico sorriso.

Ela tenta deferir o golpe, mas a cobra maior bate contra seu braço deixando a espada cair alguns metros à frente. Jessie recua em um salto ágil a fim de recuperar a espada. A anciã que já tinha sua cauda regenerada ia a toda velocidade em sua direção. Era um duelo de Titãs! A ruiva chega a centímetros de pegar a espada, mas Astrides é mais rápida e enrosca a cauda em seu pescoço, levantando Jessie no ar. Ela tenta se soltar, mas sua garganta estava sendo comprimida e esmagada por aquela serpente. Com o cérebro quase isento de oxigênio, ela segura a cauda que lhe enroscava e começa a fazer uma certa pressão. E do lugar onde ela segurava começava a queimar, as chamas eram de cor preta e se alastravam por toda a extensão da cobra que já agonizava em dor. Jessie retomava a espada e já empunhava pronta para dar seu golpe de misericórdia, mas sua marca voltara a queimar. Ela já estava de joelhos no solo empoeirado, tossindo e expelindo sangue. Mais dores, e Jessie desmaia.

                A barreira havia sido desfeita. Derick corre em direção da ruiva tentando reanimá-la. Sam observava a anciã intrigado, ela ainda agonizava, e mais da metade do seu corpo havia sido consumido pelas chamas, e não havia sinal de regeneração. Ele se aproxima para entender melhor os balbucios dela.

— Vocêssss... – mais tosses – têm que matá-la enquanto há tempo. Vocêsss irão se arrepender sssse não a matarem.

— Não podemos fazer isso. Ela não tem culpa, vamos salvá-la! – retrucou tentando entender as afirmações dela.

— Você não entende! Sssse ela voltar, vai sssser o fim para todos vocêssss. O céu e inferno entrarão em guerra novamente, só haverá caosss e destruição! – ela tossia mais a medida que as chamas se aproximavam do seu rosto. – Se ela voltar, ninguém poderá pará-la! Vocêssss... precisam matá-la, rápido! – ela fez um gesto para que Sam se aproximasse, e ainda que relutante, ele o fez. Com a distância um pouco mais curta, ela morde a nuca de Sam, e as gotas de veneno já penetravam em sua pele. Seus gritos de dor ecoavam pelo lugar, fazendo as paredes estremecerem. Sem pensar duas vezes, Derick apanha a espada ao lado e decepa a anciã que morre finalmente.

— Sam? Sam, fala comigo! – ele não respondia, seu corpo se retorcia freneticamente, e o veneno já havia sido absorvido por completo e se espalhava pelo seu corpo rapidamente. Suas veias dilatavam, e a sua pele já tomava um tom incrivelmente pálido. Após mais alguns gritos agonizantes, ele desmaia. – Não, não! Não faz isso comigo, seu idiota! Sam! – ele dava tapas tentando reanimá-lo, mas não havia reação. – Acorda! Sam, fala comigo, cacete! – ele se aproximava do coração do irmão a fim de ouvir seus batimentos cardíacos, mas não havia um. – Porra! Não faz isso, acorda! Por favor, cara... – após várias tentativas falhas de reanimação, Derick olha o salão ao seu redor e o pânico começava a tomar conta de si. As pilastras tremiam, com a morte da anciã responsável, o templo desabaria rapidamente. Além do fato que eles tinham suas almas presas aquelas pedras, se não saíssem a tempo poderiam ficar presos para sempre. – Vamos, atende, atende! – ele pressionava o celular contra o ouvido, impaciente. – Alô?! Não sei se é uma boa hora, mas... estamos precisando de uma ajudinha aqui!


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