Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 44
Capitulo 44


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Espero que gostem. Obrigada!!!!!!!!



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   Pov – Jesus

   Escalo pela parede me apoiando em um latão de lixo, ainda sinto uma mão tentar agarrar meu pé. Chuto usando toda força que tenho. Consigo apoiar o pé esquerdo na calha, uma mão segura no cano que vai do telhado ao chão.

   A janela está a alguns centímetros da minha mão direita. Fechada porque as coisas sempre se complicam. Felizmente estou de luvas e soco o vidro com toda força que disponho. No segundo soco o vidro se rompe e estilhaça caindo na pequena multidão de zumbis que tentam me alcançar.

   Quando pretendia me lançar num impulso para dentro um zumbi surge na janela.

   ─Mas que diabos! – Reclamo irritado. Eles nunca facilitam meus talentos para escapar. Uso a mão para segurar sua camisa e puxa-lo. O corpo vem de imediato me encolho quando ele passa por mim e num rasante cai sobre os zumbis logo abaixo, meia dúzia de corpos se espatifam sob seu peso. Pernas e braços saltam em todas as direções. Sorrio mesmo sabendo que não devia ser engraçado.

   Menos impetuoso eu salto para dentro do cômodo. É um quarto feminino. Cortinas leves e tons de rosa, perfumes empoeirados sobre uma bancada com um espelho e um banco trabalhado.

   Na hora penso em Beth, ela é vaidosa, vejo pelas pulseiras e brincos que está sempre usando, a trancinha que acompanha sempre o rabo de cavalo. As garotas desse novo mundo não gastam mais tempo com esses detalhes, mas ela ainda faz isso. Não consigo guardar o sorriso idiota que surge sempre que penso nela.

   Vou abrindo os vidrinhos esquecido da pressa de voltar para casa. O primeiro é tão doce que enjoa um pouco, faço careta, o segundo não tem cheiro de nada.

   ─Perfume vagabundo senhorita. – Abro o terceiro vidro, o cheiro é agradável, não muito forte, lembra primavera. Eu gosto. Tampo mais uma vez e coloco no bolso da jaqueta. – Vamos presentear a garota mais bonita do apocalipse.

   Antes de me voltar eu vejo pelo reflexo do espelho a possível dona do perfume surgir no quarto, tem um ferimento gigante no braço, usa um vestido verde rasgado e algum dia foi uma moça elegante e alta. Agora é só um corpo morto que se esqueceu de deitar e dormir o sono dos justos.

   Me esquivo quando a mão tenta me alcançar. Ergo a perna num movimento preciso que acerta sua cabeça, ela cai derrubando junto toda a bancada e o barulho ecoa pelo ambiente.

   ─Silencio! – Exijo quando as mãos ainda determinadas tentam me alcançar. Pego minha faca e acerto o cérebro, tudo se estingue, como devia ter sido há muito tempo. Quando a morte a encontrou. – Sinto muito.

   Me lembro da pressa em voltar para casa. A razão por ter decidido cortar caminho pelas ruas da cidade e acabei encurralado em um beco e quase devorado. Muito esperto Jesus. Muito esperto! – Me censuro mentalmente.

   Com minha faca na mão eu deixo o quarto, o resto do andar de cima está vazio, nas escadas eu tomo cuidado com o andar de baixo, demoro a descer tentando ter certeza que está tudo seguro, com todo o barulho se tivesse mais algum ele teria aparecido, timidez não é defeito de zumbis.

   A porta da frente está repleta de zumbis, o trinco balança com a força que eles fazem para entrar. Essas coisas não têm nenhum termômetro que mostre quando estão sendo inconvenientes. Como agora que quero sair. Caminho pela casa, na cozinha dois copos descansam sobre a mesa de vidro. Ao lado de um deles o que um dia foi um sanduiche e agora é só um pó mofado e fedorento.

   Era um minuto tranquilo de um casal e então tudo acabou. Sinto pena, fico pensando porque alguns simplesmente resistiram, tiveram sorte e força para sobreviver enquanto o resto simplesmente se foi.

   A janela da cozinha é ampla e tenho uma boa visão da rua lateral. Parece limpa, todos concentrados na porta da frente. Hora de voltar para casa. Abro a porta evitando barulho, passo para o lado de fora, pulo uma pequena cerca de ferro e corro.

   Correr é meu segundo nome. O de todos que vivem nessa merda. Depois de uns quarteirões as ruas acabam e atravesso a estrada pegando de novo a floresta. Posso respirar um pouco e volto a caminhar.

   Mais algumas horas e estou de volta a Hilltop. A colônia nunca foi tão desejada como agora que sei que Beth está lá. Desde que chegou não tive mais do que cinco minutos com ela.

   Não podia deixar de levar Rick para ver Ezequiel, não importa muito como está meu coração, isso é prioridade. Negan não perde tempo e temos que fazer o mesmo.

   Me lembro do espanto de Rick e Michonne quando viram Shiva. Ainda bem que ele estava na coleira, se estivesse solto teria sido um problema. Como eu iria imaginar que Michonne puxaria aquela Katana danada da vida pronta para cortar o pescoço de todos nós achando que eu os tinha levado para uma armadilha? Ainda bem que Ezequiel está acostumado com a impressão que Shiva sempre causa as pessoas.

   Espero que quando conhecer Alexandria ele se convença que derrubar Negan é nossa única chance de crescer e ter segurança. Pulo um tronco de árvore, do outro lado um tronco de zumbi com braços e cabeça se arrasta em minha direção. Uma onda de piedade passa por mim.

   Não é sempre que sinto isso, depois de um tempo eu simplesmente parei de pensar nele como qualquer coisa senão robôs da morte, mas as vezes algo assim me faz sentir pena, um dia essa coisa foi como eu, amou, odiou e teve medo, por alguma razão estúpida acabou assim, rastejando eternamente e acerto sua cabeça por pura benevolência.

   Sigo meu caminho. Toco o bolso para sentir o vidro de perfume. Acho que ela vai gostar. Lá está o sorriso dançando em meu rosto. Não vou poder ficar muito. Logo tenho que juntar homens e seguir para Alexandria, mas dessa vez eu vou beijar Beth.

   Como posso estar assim todo derretido por ela sem ter dado ainda um único beijo? Aqueles dois tocar de lábios não foi mais que um convite promissor.

   Dessa vez não vou perder tempo. Eu vou caminhar até ela e beija-la, é isso que vou fazer, antes que outro faça. Já dei sorte de encontrar uma garota como ela que esteja sozinha. Não vou continuar contando com isso.

   ─É isso. Chegar, envolver e beijar. Está decidido. – Um casal de esquilos atravessa meu caminho subindo apressados em uma árvore. – Como sabe que é um casal? Agora vai ficar vendo casais por aí? Pensando no mundo como se tudo fosse amor e romance? Chegar, envolver e beijar, antes que vire um idiota e acabe se dando mal. Precisa tirar isso do caminho para enfrentar a guerra. E ter um bom motivo para lutar.

   Earl está no portão mais uma vez. Jordan com ele. Os dois me acenam. Aceno de volta cheio de pressa. Talvez eu volte a dirigir para tornar essas viagens mais rápidas, ou aceite um dos cavalos que Ezequiel tanto insiste. Os portões se abrem apenas o bastante para que eu passe.

   ─É bom ter você de volta. – Earl me cumprimenta e apenas balanço a cabeça concordando. Meus olhos procuram Beth pelo pátio onde todo mundo parece fazer algo. – Maggie está na enfermaria ainda. Beth nos fundos, pendurando roupas eu acho. Trabalhando, ela se adaptou... – Eu não fico ali escutando todo o discurso, só caminho para os fundos do casarão. Passos firmes e pesados, coisa que antes não tinha.

   Circundo a casa em silencio. Eu a vejo pendurando umas peças de roupas num fio longo que prende da cerca a parede do casarão. Está linda e distraída. Eu acho, está de costas, mas como ela sempre está linda então sei que dessa vez não vai ser diferente.

   Chegar, envolver e beijar. Como o planejado. É isso que vou fazer. Assim que me aproximo tomo sua cintura. Num movimento único eu a seguro e viro em minha direção. É só o tempo dela se dar conta de minhas mãos nela e erguer o joelho num golpe potente e certeiro no meio das minhas pernas. Vejo estrelas. Me falta ar. Caio de joelhos.

   ─Aí meu Deus Paul! Desculpe! – Eu adoraria dizer qualquer coisa, mas nem mesmo consigo respirar. De joelhos com as mãos entre as pernas. – Eu sinto muito.

   ─Sinto mais, acredite! – A foz sai um tanto falha. – Quanto tempo que não sou nocauteado.

   ─Eu só... foi reflexo. – Balanço a mão.

   ─Já entendi que não quer filhos! – Ela tampa a boca com as mãos e mantem os olhos arregalados. – Existem outros métodos menos radicais eu te asseguro.

   ─Nem me passou pela cabeça que pudesse ser você. Está doendo?

   ─Têmpora, antes que eu vire um zumbi. – Aponto a cabeça com a mão. – Isso é... desumano no mínimo. Por isso nunca luto com uma mulher. Homens tem um código. Nem seu pior inimigo iria tão baixo. Literalmente tão baixo.

   ─Estou começando a me sentir culpada.

   ─Começando? – A dor vai diminuindo. Meu sangue começa a voltar a circular e o oxigênio parece voltar a encher meus pulmões. – Retire aquele negócio de fada. Não tem nada de fada em você. No momento eu meio que te odeio.

   ─Paul eu não sei o que dizer. Como me desculpar. – Fico de pé num movimento preciso. Tudo parece bem de novo. A cor deve ter voltado ao meu rosto.

   ─Onde aprendeu a lutar assim?

   ─Daryl me ensinou umas coisinhas. – Ela diz dando um passo em minha direção. Os olhos azuis se destacam e o rosto delicado lindo como todos os dias lembra sim uma fada. – Não é inteligente se aproximar assim nesse mundo. Qualquer um faria isso.

   ─Eu não pensei muito nisso. Só queria... – Me calo. Ela para bem diante de mim. Seus olhos investigam o meu semblante. ─Não estou te odiando mais e ainda parece uma fada. Só parece deixemos registrado.

   ─ Dissimulada? – Ela sorri de modo franco.

   ─ Vê como faz sentido?

   ─A minha reação. Tem uma explicação para ela, mas um outro dia eu conto. Está mesmo bem?

   ─Estou.

   ─O que tinha em mente chegando assim sorrateiro? – Ela pergunta em tom de crítica.

   ─Isso. – Não espero mais, antes que a gente se perca em mais conversas eu a envolvo como o planejado, trago seu corpo de encontro ao meu e ele simplesmente se encaixa, aquele é o lugar dela. Desço meu rosto de encontro ao seu, apesar do ar surpreso eu sei que seus lábios esperam pelos meus. Beijo Beth.

   Os lábios macios se abrem como um convite e aceito, é fresco, delicado e vivo. Seus braços me envolvem, minhas mãos a trazem mais para perto, nenhuma distância é aceitável e prolongo o beijo. Uma mão vai para sua nuca, seu corpo é delicado, ela é toda extremos e isso me atraí e consome como fogo em palha.

   ─Paul... – Ela diz meu nome quando nos afastamos um momento, meus olhos se encontram com os dela e as palavras se perdem, me faz sorrir. Volto a beija-la. Agora que comecei não quero mais parar.

   ─Planejei isso todo o caminho. O tempo todo só pensando em você. – Digo baixo, os olhos de novo presos na imensidão dos olhos azuis. Um mundo encantado refletidos na íris colorida. – Quero isso desde que eu a vi pela primeira vez.

   ─Acho que eu também. – Ela me conta. Volto a beijar Beth. Acho que Negan pode esperar, e a guerra e os zumbis, a fome e todo o resto. Ela está finalmente em meus braços. – Você está bem?

   ─Mais ou menos, talvez precise de cuidados. – Ela ri me empurra de leve. – Linda! – Eu a beijo e depois ela se afasta um pouco.

   ─Está cansado? Parece esgotado. Você não para nunca?

   ─Culpa sua. Desde que vi você, fiquei assim elétrico, indo e vindo sem parada. Correndo com pressa de acabar logo para poder estar com você. Aqui, em Alexandria. Mudou minha rotina. E como sou recebido?

   ─Vai ficar me lembrando disso?

   ─Vou. – Ela volta sozinha para meus braços, toca minha barba.

   ─Gosto dela.

   ─Gosta? – Passo por seu pescoço. Ela se esquiva, mas tem o rosto suave, beijo seus lábios mais uma vez. Depois a solto. – Como está sua irmã? – Pergunto pegando uma muda de roupa e estendendo. Ela pega outra e começamos a fazer isso juntos.

   ─Fisicamente bem. Emocionalmente eu não sei como ela pode superar. Glenn e Maggie tinham uma relação perfeita. O que um foi capaz de fazer pelo outro. O amor era sempre tão grande que decidiram mesmo nesse mundo ter um bebê e ele nunca vai poder acolher o filho nos braços. – Ela estenda e última peça com os olhos marejados.

   ─Jesus! – Brianna grita de dentro do casarão. Quando encontro seu olhar ela me convida.

   ─Daqui a pouco. – Aviso ela se retira. – Douglas curioso. Ele que espere. – Me volto para ela. – Maggie vai superar, acho que o bebê ajuda. Estou aqui Beth, para o que precisarem. Isso é uma promessa.

   ─Obrigada. – Caminhamos até os degraus da porta dos fundos, sentamos lado a lado.

   ─E você? Como você está? Dormiu no meu quarto como sugeri?

   ─Sim. Maggie dormiu na enfermaria. A última noite, David disse que ela está recuperada. Acontece que apesar da delicadeza de todos ninguém nos ofereceu um espaço definitivo. Sinto como se não fossemos realmente bem-vindas. – Douglas é um maldito mesmo. Isso é coisa dele.

   ─Vou resolver. Não se preocupe. Estão apenas esperando uma ordem.

   ─Entendo. – Ela olha para as botas longas sujas de barro. – Sinto falta das pessoas de Alexandria, ainda mais quando uma guerra se aproxima. Eu preciso estar pronta para a luta ao mesmo tempo não consigo pensar na Maggie sozinha com um bebê. É uma decisão difícil.

   ─Lutar? Você? – Me surpreendo.

   ─Paul eu não sou como as mulheres daqui, nem a Maggie é. Na nossa família não existe distinção. Trabalho de homem, trabalho de mulher, somos todos iguais e sempre lutamos juntos.

   ─Eu vejo isso. Você é forte. Sabe atirar?

   ─Aprendi com os melhores. Shane, Andrea. Eles não estão mais aqui, mas outros que amo estão. Daryl me ensinou muito também, por um tempo eu era mais protegida. Quando começou tudo isso era quase uma menina. Mesmo assim ia aprendendo. Até que um dia acabamos apenas nós dois e ele me ensinou sobre sobreviver.

   ─Só os dois é? – Fico meio incomodado. Ela sorri.

   ─Somos irmãos. Ele ama Hannah. Foram feitos um para o outro, são uma família linda.

   ─Bom. Acho que não sei disputar.

   ─Está muito confiante! – Ela provoca e seguro sua mão.

   ─Esperançoso. – Corrijo.

   ─Saímos às pressas, minhas coisas ficaram lá. Roupas para o bebê que tínhamos separado, minhas armas.

   ─Tenho que ir a Alexandria, resolver as questões sobre essa possível guerra. Posso pedir a alguém de lá para organizar tudo.

   ─Ou pode me levar com você. Eu vou de qualquer modo, se for comigo Maggie fica mais tranquila.

   ─Vai sozinha? Andar por aí sozinha? – Fico de novo surpreso.

   ─Acha que seria a primeira vez? Se engana comigo. Sei muito bem viver lá fora Paul.

   ─Tinha uma fada ai dentro. Onde ela está? – Eu a balanço segurando seus braços. Ela ri. Beth se refaz rápido.

   ─Perdida em algum lugar, ainda vive, não se preocupe.

   ─Que bom. – Fico de pé e seguro sua mão. – Vem comigo. – Eu a puxo e ela me segue confusa. Earl está de volta em seu posto de ferreiro, com sua delicada e especial tarefa de forjar o aço. – Earl. Acho que conhece Beth, não é?

   ─Sim. Como vai Beth. – Ele tira a grossa luva e coloca os óculos de segurança na testa, estende a mão que ela aperta sorrindo.

   ─Pode fazer um facão especial para ela? Leve e grande o bastante para protege-la respeitando o fato que ela não é tão alta?

   ─Vamos ver. – Ele sorri, olha em volta. Pega um pedaço de madeira. Se aproxima de Beth. – Deixa eu ver essa mão. – Ela estende a mão depois de franzir a testa. – Que mãozinha pequena. – Ele brinca. – Fica pronta ao anoitecer. Duas forjas. Não vai ter ossos que resistam.

   ─Obrigado Earl. – Toco seu ombro e puxo Beth. Ela acena para ele.

   ─Obrigada! – Diz caminhando ao meu lado.

   ─Se vai comigo a Alexandria então é bom que esteja preparada. Tenho que tomar um banho, achar algo para comer e depois conversar com Douglas. Depois falamos. Tudo bem?

   ─Sim. – Ela afirma. – Vou ver a Maggie.

   ─Aquela Maggie? – Aponto para uma roda de pessoas, Maggie parece ser o centro das atenções, gesticula mostrando algumas coisas. As pessoas parecem atentas.

   ─Ela tem talento para dar ordens, não consegue evitar. Obedeço Maggie a vida toda.

   ─Eles precisam de alguém assim. – Douglas está ultrapassado, não confio nele e acho bom que Maggie comece a tomar a frente. As pessoas parecem mesmo dispostas a ouvir o que ela tem a dizer. – Te vejo depois. – Me curvo e toco seus lábios com os meus antes de me afastar apressado. Eu agora sou assim. Beijo a garota a toda hora na frente de todos e estou só esperando quando as perguntas começam.

   ─Namorando Jesus? – Dante surge rindo com um fardo de feno na mão. Aceno sem responder. Fico pensando se as coisas vão evoluindo ou eu tenho que ter uma conversa esclarecedora com ela.

   Vou direto para o banho, depois Jane me serve um pedaço do pão que nós mesmos produzimos desde o trigo até o produto final. Muita gente morreu para chegarmos a isso, mas Hilltop conseguiu. Ela me estende uma xicara de chá fumegante. É realmente reconfortante.

   ─Obrigado Jane. Agora vou ver o Douglas.

   ─Boa sorte. – Ela me deseja com cara de irritada. Douglas não tem nenhum respeito pelas mulheres, não chega a ser um canalha completo porque nunca forçou nenhuma, mas não cansa de se insinuar para boa parte delas. Por um tempo Jane gostava, os dois até tiveram um envolvimento, mas ele não estava disposto a exclusividade e ela se cansou.

   Abro a porta da elegante sala que ele faz questão de manter como se fosse o salão oval. A primeira coisa que vejo são seus olhos arregalados enquanto Beth empunha sua faca que nesse momento está encostada em sua jugular.

   ─Nunca mais tente nada comigo. Pouco me importo se é o líder ou um soldado. Não seria o primeiro canalha que mato e não ligo a mínima. – Será que ela nunca vai parar de me surpreender e intrigar? Os olhos suplicantes de Douglas em minha direção chamam sua atenção. Ela me vê, empurra ele para longe e guarda a faca. Passa por mim me ignorando totalmente e deixa a sala batendo a porta.

   ─O que foi isso?

   ─Eu que devia perguntar Jesus. Por que acha que pode trazer quem quiser e simplesmente oferecer abrigo?

   ─Por que faço tudo por essa comunidade desde sempre? O que fez a ela? – Meu sangue começa a ferver. Ele caminha pela sala tentando virar o jogo, minha mente cria situações que simplesmente não gosto de pensar. – O que fez? – Meu tom soa pesado e ele se espanta.

   ─É uma mulher linda. Eu a convidei para uma conversa. Já conheci a irmã, mas ela não, fui educado, esperei passar o choque da perda que sofreram.

   ─O que fez? – Me aproximo mais dele e isso o assusta.

   ─Estávamos vendo os livros, ela pareceu bem interessada, bom, eu disse o quanto era bonita e achei que estávamos indo bem, avancei para o segundo estágio.

   ─Que merda é essa? – Pego seu colarinho. – Que segundo estágio seu babaca?

   ─Abracei ela. Pretendia beija-la. – Sim ele acha que pode fazer o que quer, ele acha que pode tudo porque anda com uma porcaria de camisa engomada. Por que as pessoas precisam de abrigo e comida. Meu ódio é tamanho que o empurro em direção a estante, seu corpo vai de encontro a madeira e livros caem pelo chão.

   ─Beija-la? Achou que ela estava correspondendo? Ou só tentou a sorte porque se acha dono de tudo?

   ─Jesus essa sua insolência...

   ─Insolência? – Volto a pega-lo pelo colarinho. O atiro de novo contra a outra estante, mais livros caem. – Acha que trabalho para você? Eu sou livre! Ajudo a comunidade, não sou seu escravo e nunca mais vai tocar nela. Entendeu?

   Ele vem em minha direção, tenta me dar um soco, me esquivo num movimento inesperado e acerto eu um soco nele.

   Douglas desiste como o covarde que é. Me olha com a mão no queixo.

   ─Essas pessoas precisam de mim, da minha liderança.

   ─Não mais! – Eu aviso. – Alguém mais capaz e corajoso que você está aqui agora. Maggie. As pessoas estão loucas para seguir alguém com honra.

   ─Acha isso? Duvido. Elas vão embora, não quero nenhuma das duas aqui.

   ─Sabe da força delas, não é? Por isso quer tanto que vão embora. Elas não vão, não vão porque eu decido que ficam.

   ─Já entendi. – Ele diz com a mão ainda no queixo. – Quer entrar na disputa pela loura?

   ─Não entendeu ainda? – Volto a segurar seu colarinho. Os olhos dele arregalados. – Não tem disputa. Beth é minha mulher e você vai ficar longe. Com seu posto de líder de fachada como sempre foi até que você seja enviado ao inferno. É isso ou lidero um levante contra você Douglas, pego as pessoas, tudo que produzimos, tudo que conquistamos e levo para Alexandria. Vai ficar sozinho.

   ─Calma Jesus. Talvez eu tenha me excedido. As coisas vão ficar como estão, elas podem ficar. – Canalha covarde. Balanço a cabeça com nojo.

   ─Vou conversar com o grupo no jantar. Vamos para essa guerra ao lado do Reino e de Alexandria. Não sei quando, mas vamos. E não vai fazer nada contra isso como sei que deseja. Por que é fácil para você dar metade do que temos para os Salvadores, não caça, não planta, não mata zumbis, passa seus dias nessa sala se achando um primeiro ministro pomposo e estúpido. Não sabe nada do suor no rosto de todos, dos perigos. Fica longe da Beth. É meu único aviso.

   Agora sou eu a sair e bater a porta atrás de mim. Beth está do lado de fora a minha espera. Meus olhos encontram os dela.

   ─Ouvi tudo. – Ela diz diante de mim. Tudo até a parte que é minha mulher? Tenho vontade de perguntar, mas fico constrangido. Beth caminha até mim e me abraça, eu a envolvo e só de tê-la ali já me acalmo. ─Gostei de tudo que ouvi. Tudo!

   ─Muito rápido para você? – Pergunto com ela encostada em meu peito. Ela balança a cabeça negando.

   ─A vida no apocalipse é curta demais para as formalidades de antes.

   Me curvo para beija-la. Beth tem razão. Muito curta para formalidades. Temos que viver, apenas isso.


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Notas finais do capítulo

Cometem!!!! BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSSS