100 OneShot's escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 1
Someone Like You - Adele


Notas iniciais do capítulo

Eu não poderia começar por outra música, se não, esta. É a minha preferida. E eu já tentei escrever algo inúmeras vezes nesse tema. Então saibam que é triste, dramático e não tem final feliz.

Ah, mandem suas sugestões nos comentários. Estou ansiosaa!!!



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Eu ouvi dizer que você está estabilizado

Que você encontrou uma garota e está casado agora

Eu ouvi dizer que os seus sonhos se realizaram

Acho que ela lhe deu coisas que eu não dei

Puxando a mala, meio hesitante, eu andei pelo portão de desembarque. Pessoas passavam por mim, umas riam descontraídas e outras resmungavam algo sobre o atraso de voos e como as companhias aéreas não eram confiáveis. Eu só segui meu caminho, em ritmo lento, sem realmente imaginar quem estaria esperando por mim ali.

Fazia mais de seis anos que eu não aparecia em “casa”, e não é como se eu pudesse explicar necessariamente com palavras o motivo de estar em Seattle nesse fim de ano. Certamente, quando as pessoas me vissem, saberiam de cara. Eu havia visto algo no facebook no inicio da semana passada, e isso quebrou meu coração em milhões de pedaços que eu jamais imaginei que seria possível. Então, depois de uma das ligações habituais para os meus pais, eu estava de volta. Com a desculpa mais esfarrapada que eu poderia arrumar: preciso de uns documentos da escola... Algo, que realmente, achei que funcionaria. Funcionou com Renée, Phil – meu pai – não acreditou, porém.

— Nossa você realmente veio!

Ouvi o grito e ainda estava distante o bastante, mas Alice parecia ser aquelas pessoas que não importava o quão constrangedor fosse, ela faria você se sentir amado da maneira mais bizarra.

Eu, na verdade, entendia sua surpresa. Não era a primeira vez que ela me esperava em um aeroporto, mas era a primeira vez que eu realmente desembarcava.

— Eu senti sua falta também, Allie — Nos abraçamos quando eu estava perto o bastante.

Alice. Ela seria a primeira a notar meu real motivo, por mais que tenha rido do meu motivo falso. Ela certamente me olharia – como faz agora, e suspiraria – exatamente como faz agora. Balançando sua cabeça em uma negativa nítida.

— Certo, devemos ir então. Como estão as coisas em Manhattan? — Ela me perguntou, puxando minha mão.

Eu ri um pouco, porque era fácil lidar com ela. Com sua irmã, Rosalie, não. E seu irmão... Era infinitamente difícil.

— Estão ótimas. Eu agora sou coeditora na Rolling Stones.

— Aff, você sempre tem algo para se gabar. Da última vez que eu a vi você me esfregou na cara aquele seu namorado bonito.

Eu ri um pouco, quando nós saímos do aeroporto e seu motorista estava a nossa espera, abrindo a porta do carro e lidando com minha mala. Eu lhe sorri agradecida, então Alice me puxou.

Eu me lembrava de bem da última vez que havíamos nos visto, fora no começo do ano e ela e seu marido viajaram de férias para New York. Naquela época, eu estava tendo um caso antiético com meu chefe, e Alice nos pegou em situações constrangedoras quando ela apareceu de surpresa em meu apartamento. O caso não durou muito, como todos os outros, e eu logo estava sozinha de novo.

— Bom, se te consola, ele está com alguém novo agora. E muito inferior à nós — Alice deu uma risada e eu sabia que ela procuraria por notícias na internet.

— Bom, me consola — Concordou — Deixe-me ver. Justamente na noite de Natal você chega? O que deu em você? Renée não podia enviar os documentos?

— Eu liguei para a escola e seria resolvido com rapidez se fosse eu mesma. Mas, o que foi, está triste por eu estar aqui?

— Lógico que não, Bella! — Ralhou Alice — Eu estou surpresa, vadia.

Nós rimos outra vez.

Eu senti o famoso frio na espinha, passando pelas costelas e fazendo cocegas, se alojando em meu estomago, como mil borboletas voando ali e eu sabia exatamente o porque disso.

— Por que você não me atualiza? — Sugiro e a ouço rir um pouco mais alto.

— Quer saber de Rosie e Emm? Eu e Jasper? Ou... — Alice fez uma parada dramática e arqueou a sobrancelha — Sabe, você viu as fotos?

— Que fotos?

Blefar. Eu sabia claramente fazer isso, mas sabia que nunca funcionava com o pequeno demônio chamado Alice Cullen-Whitlock. E sim, Alice era uma dessas mulheres que usam hífen e ela se orgulhava disso.

— Do casamento. Dele. Edward se casou há duas semanas, com Tânia Denali. Você viu.

Eu fiquei em silêncio, batendo meus cílios fortemente e desviando o olhar – e também as lágrimas.

Edward e eu namoramos por anos na adolescência. Alice descobriu que eu era apaixonada por seu irmão assim que eu comecei a frequentar sua casa, ainda na quinta série. Edward era um menino mais velho, mas ele era de longe um menino idiota. Ele era doce e amável. Nos ensinava o dever de casa e nos buscava em festas. Ele era o filho querido e amado. Responsável, e muito bonito. Com um futuro brilhante pela frente. Além de ser completamente lindo da cabeça aos pés. Não era difícil se apaixonar por ele. O difícil era realmente esquecê-lo.

— Oh, você sabe, eu vi. Eu não sabia que ele estava namorando. Ele nunca namora sério.

— Bom, nem nós — Alice grunhiu — Mas ela... Está grávida, Bella. Então... Edward resolveu que era a hora.

Um nó se formou em minha garganta ao ouvi-la pronunciar as palavras. Eu tentei muito fortemente segurar as lágrimas, bom, elas simplesmente saíram por conta própria.

Ainda o amava. Com tudo que eu tinha. E nosso fim não havia sido nada legal.

Com os anos passando, Edward e eu crescendo, ele indo para faculdade fora de Seattle, eu indo em seguida. Nós nos distanciando... Ninguém queria ceder. Ele era um gênio em Oxford, e para ele e sua família, eu era uma menina mimada em Manhattan. Não era a mulher que Esme queria para ser a esposa de seu filho. E eu nunca saberia se teria alguém bom o suficiente para Edward, aos olhos dela.

— Você sabe, esse sempre foi o sonho dele... — Alice sussurrava agora.

— É, eu sei... — Engasguei um pouco ao dizer, e senti minha amiga segurar minha mão — Ele está feliz?

— Seria mentira se eu dissesse que não, Bella — Pausou, puxando sua respiração — Ele parece muito feliz. Ela não mediu esforços para deixar o emprego e ir para Oxford com ele, uma vez que Edward decidiu voltar.

— Seria mentira se eu dissesse para você que eu não estou sofrendo com isso, mas... Eu também estou feliz por ele.

Em partes, a mais absoluta verdade.

Alice e eu seguimos viagem em silêncio. Porque ela sabia que eu precisava pensar, e que depois de toda conversa séria, silêncio sempre era sábio.

Estava segurando minhas emoções para quando eu chegasse a sua casa, porque ela havia me dito dias atrás que esse ano receberia sua família para a ceia de Natal. Inclusive, ela disse que Edward traria sua esposa e um amigo com ele, a qual me veio à ideia de me juntar a eles no Natal. Como antigamente.

Mas vê-lo, após anos, eu nunca faria ideia de como seria. Como ele reagiria, ou como eu mesma reagiria. Eu só sei que vendo suas fotos, meu coração acelera e ele quase dá um tranco em meu peito. Então... Vê-lo deve ser algo indescritivelmente pior.

Velho amigo, por que você está tão tímido?

Não é do seu feitio se refrear ou se esconder da luz

Eu odeio aparecer do nada sem ser convidada

Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar



Eu esperava que você visse meu rosto

E que você se lembraria

De que pra mim não acabou



O carro parou. Fazendo com que minhas duvidas – momentaneamente – cessassem.

Alice estava fora no minuto seguinte e eu fiz meu caminho para fora também.

O céu estava negro, além de a noite ter caído gradativamente enquanto fazíamos nosso caminho. Eu fitei ao longo sua casa, nada modesta, e imaginei que era exatamente num lugar como esse que Alice moraria.

— O que você achou? — Como uma criança, ela queria aprovação.

— Você se inspirou na Casa Branca? — Eu ouvi minha amiga rir, quando claramente a resposta era sim.

Eu andei com ela para dentro. Estava tão nervosa dentro de mim. Nervosa porque eu encararia meus demônios do passado e nervosa porque os demônios eram em partes tão demoníacos quanto o próprio Lúcifer.

As primeiras pessoas que eu vi, quando meus pés tocavam o piso branco da sala de Alice, foram Rosalie, com sua filha nos braços. A pequena Paige de quase quatro anos, e Esme, minha ex-sogra, que parecia tão surpresa ao me ver, quanto seu marido, ao seu lado.

Carlisle era um homem doce, onde eu sabia que Edward havia herdado a maioria de suas qualidades. E eu não me surpreendi quando ele sorriu sincero para mim.

— Amendoim! — A voz agradável e saudosa me cumprimentou — Você cresceu uns dois centímetros?

Eu ri, porque claramente isso se dava ao fato das minhas botas de salto alto.

— Você é detestavelmente perspicaz, Emmett — Eu o abracei.

— Nossa, Bella! — Jasper, que surgiu do nada, também parecia surpreso.

Mas só então... Só então eu percebi o corpo retraído no sofá. Com os ombros encolhidos e a feição desnorteada. Como também, parecia pálido demais. Visto que seus lábios estavam sem cor, e seus olhos, confusos. Ele não sabia? Ou como eu, não imaginava esse momento?

Meu coração acelerou, e ao contrário de Edward, eu sabia que meu rosto estava imerso de cores. Eu o sentia queimar. E então, estava corando, estupidamente.

— Eu senti sua falta no Halloween — Jasper grunhiu.

Eles sempre me viam no Halloween, mas esse ano, Alice quis ficar com Rosalie, que havia acabado de descobrir que estava grávida de seu segundo filho, na época.

— Jazz, você é um querido! — Sussurrei para ele, o abraçando.

— Certamente há um abraço para mim, aí — Ouvi a doce voz de Carlisle, enquanto eu só queria desgrudar de Jasper e andar até Edward. Tocar seu rosto e lhe perguntar sobre sua vida.

Carlisle me abraçou em seguida. Um abraço forte, como de um pai saudoso. Eu retribui, porque também sentia sua falta, apesar de tudo.

— Não sabia que Alice tinha estendido os convites esse ano... — Uma voz visivelmente aborrecida soou.

Esme.

Ela não era conhecida por sua cortesia e gentileza. Ela geralmente tinha os comentários mais ásperos em momentos impróprios. Como este.

— Bella é convidada todos os anos, mãe — É uma mentira, mas Alice defendeu.

Eu odeio aparecer de repente. Principalmente em uma data tão... Significativa para uma família, principalmente uma família que passará seu primeiro Natal juntos, como Edward e sua esposa. Mas... Havia algo no meu peito. Algo que gritava dia e noite que eu nunca mais conseguiria dormir, sem olhá-lo e sem saber que o que eu sentia, ele também sentia. Que estava vivo entre nós dois. Um amor eterno.

— Certamente é — Esme disse novamente.

Eu a vi dar um sorriso torto, antes de deixar a sala, levando Rosalie junto.

— Uau, ela ainda é sua sogra? — Esse comentário estupido só podia surgir de Emmett.

Alguém pigarreou. Sim, o homem do sofá parecia estar engasgado. Ou provavelmente lembrando que esse sempre havia sido o jeito que sua mãe me tratara quando estávamos juntos. E eu absolutamente havia deixado de me importava há algum tempo.

— Não importa quanto tempo passe, algumas maneiras carinhosas ainda permanece, você sabe que ela adora você, Bella.

— Oh, eu sei, Carlisle — Dei um sorriso, enquanto ele mortalmente parecia envergonhado.

— Edward, você não vem dizer “oi” a Bella? — Foi Emmett, novamente, que disse.

Eu queria chutar a boca do estomago do homem que não conseguia controlar nenhum comentário em sua boca, desde sempre.

Eu vi o homem no sofá se contorcer, enquanto ele levantava e abaixava sua cabeça, finalmente se levantando. Eu senti minhas pernas pesarem nesse instante, quando meu sobretudo preto e quente me sufocou. Eu queria muito correr e abraça-lo. Atirar-me em seus braços, ao invés disso, eu permaneci no meu lugar, quando sabia claramente que um sorriso imenso se abria em meu rosto.

Edward estava impassível. Ele dera passos pequenos na minha direção. Seu rosto, já recuperado do choque, agora estava normal. Ele estava muito bonito em uma blusa de manga cumprida cinza, jeans claro e tênis. Ele não usava mais óculos, e seu cabelo tinha um corte bonito, diferente das últimas fotos que eu havia visto. Ele tinha um pouco de barba no rosto, o que era definitivamente uma novidade. E para um homem de vinte e sete anos, parecia incrivelmente jovem e bonito. Ainda muito bonito.

Eu deixei claro, com meu gesto seguinte, que eu o amava. Eu simplesmente andei para ele, não conseguindo controlar o ímpeto, quando abria meus braços e o recebia em meu abraço. Eu passei minha mão por todo seu cabelo, infiltrando meus dedos entre seus fios sedosos. E eu cheirei seu pescoço, como um cão que fareja. E, apesar de seu rosto impassível, seu abraço era quente, e apertado. E eu senti seu nariz quente tocar minha nuca, enquanto eu me apertava um pouco mais contra ele.

Eu senti lágrimas brotar e derramar de meus olhos, automaticamente recordando-me de momentos em que abraços como esse eram seguidos de beijos apaixonados, quando ele voltava da faculdade para me ver, no meio do semestre, sem se importar. Porque a saudade era forte o suficiente para isso.

Como diabos um amor tão grande como esse acaba? Simplesmente acaba de um jeito tão fodido, que você passa seis anos sem se quer falar com a pessoa?

Deixe para lá, eu vou achar alguém como você

Não desejo nada além do melhor para vocês também

Não se esqueça de mim, eu imploro

Vou lembrar-me de você dizer

"Às vezes o amor dura, mas, às vezes, fere"

Edward me afastou aos poucos, quando finalmente estávamos tempo demais abraçados e eu sabia disso.

Seus olhos estavam vermelhos, e eu disfarcei ao secar minhas lágrimas. Não me surpreendi quando não havia mais ninguém na sala. Ele, porém, parecia inquieto olhando para as escadas.

Sua esposa estava aqui, isso me veio à cabeça. Provavelmente, no andar de cima. No quarto em que os dois estavam compartilhando na casa de Alice.

Eu não poderia ficar. Isso logo me bateu em mente, como uma bola acertara minha cabeça uma vez, há muito tempo, na educação física da escola. Eu não poderia ficar, e vê-los juntos, eu decididamente não aguentaria, uma vez que percebi que ainda o amava como antes. Ou até um pouco mais, se meu coração velho e idiota suportasse isso.

— Então.

— É. — Nós dois dissemos ao mesmo tempo, quando ele soltou uma risada, acenando para que eu continuasse a falar — Você parece bem.

De tudo que eu poderia dizer, como “eu senti sua falta” “ainda amo você” simplesmente pontuei o quanto ele estava bem, Edward riu um pouco mais, assentindo, entendendo claramente o meu desconforto.

— Você está ótima também, Bella — Ele elogiou de volta, e eu assenti também — Quanto tempo pretende ficar?

— Oh... Eu vim só... Hm, pegar uns documentos, então... Hm... Eu vou embarcar na terça-feira.

Ele assentiu. Nós estávamos na véspera de Natal e eu prometi aos meus pais que estaria no feriado com eles, uma vez que ficaria a virada na casa de Alice. Mamãe havia ficado tão chateada... Mas agora eu sabia que ela estaria feliz, uma vez que eu estivesse em casa na noite de Natal.

— Faz muito tempo que você não vem para casa. Não pode ficar um pouco mais? Tenho certeza que Renée e Phil iriam adorar isso.

Ele parecia ansioso, pelo jeito que falava e mexia suas mãos. Eu assenti um pouco, atordoada.

— É... Eu não posso... Tem o trabalho e tudo mais... — Eu menti, e se ele me conhecesse como sempre conheceu, saberia disso.

Edward assentiu de volta, claramente aceitando o que eu havia dito e eu meio que sorri, sem graça. Completamente.

Havia um enorme e desconfortável elefante branco na sala.

— Você quer andar? — Ele perguntou, voltando a olhar para as escadas.

Sua esposa, outra vez, me veio a mente quando eu aceitei.

Edward apontou pela porta, da qual eu havia vindo, e eu andei.

Meus saltos cravaram no piso e eu tentei não fazer muito barulho, enquanto abria a porta. Edward a fechou atrás de si, e quando eu me virei, ele estava colocando o casaco que havia pegado no suporte antes de sair. Era Natal, e a neve estava caindo.

Fumaça saiu pelos meus lábios quando eu respirei, colocando minhas mãos dentro do bolso do meu casaco.

Você saberia como o tempo voa

Ontem foi o momento de nossas vidas

Nós nascemos e fomos criados numa neblina de verão

Unidos pela surpresa dos nossos dias de glória



Eu odeio aparecer do nada sem ser convidada

Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar

Eu esperava que você visse meu rosto

E que você se lembraria

De que pra mim não acabou


Eu só ignorei o frio por um instante, enquanto andava pela calçada de Alice, para fora de sua propriedade. Edward ainda olhava para a direção da porta, mas eu sabia que ele fazia o caminho para junto a mim. Continuamos andando, até estarmos na direção oposta da casa de Alice, longe o suficiente.

— Como estão as coisas? New York ainda é um sonho? — Ele disse um tempo depois, caminhando ao meu lado.

Eu ponderei em minha mente, dando-me o privilegio do silêncio, antes mesmo de pensar em responder qualquer coisa.

— É pequena e suja. E todas aquelas outras coisas que você dizia — Ri, me lembrando.

Lembrando basicamente do tempo em que nós éramos apenas um, e Edward me convencia a recusar o convite da faculdade em New York, e simplesmente voar para Oxford com ele. Para que nós pudéssemos ficar juntos... Mas aí, seria um de nós feliz, enquanto o outro, cedia. Desde cedo, eu ouvi meu pai dizer que ceder nunca era bom. O meu pai biológico, Charlie, a qual eu via poucas vezes no ano. Porém, meu outro pai, Phil, que me criou, dizia que o amor era bondoso. E que ceder fazia parte de amar genuinamente.

— Eu realmente dizia isso... — Ele riu também — Porém, hoje eu acho um pouco charmosa, sabia?

— É sério isso? — Eu ri, o cutucando com o braço.

Era sorriso demais. E era estranho. Algo como se... Não houvesse o mesmo “time” de antes, que nos ligava. Sempre conectados em tudo.

— É sério... — Repetiu — Então... Sua vida lá é boa?... Você tem alguém? Renée não deixa isso escapar quando eu ligo para verificar as coisas.

Ele ligava? Deus... Edward ainda falava com minha mãe? Então era por isso que ela sempre dizia que ele estava bem, quando falava comigo? Certo. Essa era uma novidade nova, que balançou o inferno dentro de mim.

— Você e Renée sendo amigos? — Ignorei sua curiosidade para alimentar a minha. Edward soltou uma risada.

— Sua mãe sempre foi minha fã — Era verdade.

— Ao contrário da sua — Atirei, um pouco magoada. Ele não riu dessa vez — Ela ao menos... Gosta da sua esposa?

O silêncio de Edward me incomodou por alguns segundos. Ele simplesmente ficou me olhando, como se ele quisesse dize algo, mas outra coisa o deteria. Algo claramente nítido.

— Gosta... — Ele bufou ao dizer.

Bom, qualquer garota loira, de olhos verdes e bonitos pra caramba era melhor que a Bella.

— Bom... Isso é realmente, bom, não é?

— Isso facilita algumas coisas, Bella — Ele disse um minuto depois — E você? Tem alguém?

Eu apenas jurava que ele queria ouvir essa resposta de qualquer jeito. Seu rosto estava ansioso, enquanto eu imaginava que ele torcia seus dedos dentro do bolso do casaco. Eu parei de andar, então fitei seus olhos verdes, molhados e ansiosos. Edward arqueou a sobrancelha, instigando-me a responder.

— Não. Eu não tenho. — Disse, enquanto eu via seus olhos relaxarem um pouco — Ainda esperando alguém como você.

O silêncio se aprofundou, enquanto Edward abria seus olhos, numa surpresa inegável. Eu me senti automaticamente uma idiota por ter dito isso, quando claramente, ele havia virado essa página.

— Você sabe... Rico — Tentei consertar e dei uma risada. Ele, porém, continuou com seus olhos bem abertos, enquanto fingia rir também.

Nós voltamos a andar depois disso, mantendo o silêncio.

Um casal vinha na nossa direção, com seu bebê no colo e o homem segurava a coleira de seu cachorro. Eles pareciam irritados, porém, era o cenário da família americana feliz e comum. Pelo visto, o homem tinha se atrasado e eles ficariam sem algum ingrediente da ceia de natal, porque a mulher brigava por ele ser tão distraído.

— Por que nós nunca mais nos falamos? — Edward grunhiu quando o casal passou por nós — Seis anos... E nada.

— Bom, você se lembra de como acabou?

Nós dois berramos palavras duras um ao outro, fizemos acusações, e Edward disse que queria transar com outras garotas enquanto estava em Oxford, uma vez que sua namorada era fria o bastante para suportar a distância.

Eu fiquei horrorizada demais naquele primeiro momento, ficando tão aborrecida... Mas, depois, quer dizer, hoje eu entendo que ele só queria me deixar tão brava ao ponto de segui-lo.

— Eu me lembro de termos sido idiotas. E lembro que aquilo não era realmente um motivo para um termino final.

— Mas foi o suficiente. Por seis anos — Declarei — Suficientemente fortes. Mais forte que todas as promessas feitas... Uma casa pequena e quente, em um lugar que não chovesse muito. Um par de filhos... Até um cachorro ou dois. Apenas um cientista esquisito e uma escritora sonhadora.

Essa foi à vez de Edward se interromper. Ele parecia surpreso com a minha declaração, assim como eu sabia que iriamos iniciar uma briga, porque ele estava com aquele vinco estranho na testa, que dizia que ele estava prestes a discordar de mim.

— Então nós não nos amávamos? — O vinco da testa suavizou quando ele murmurou as palavras.

Eu o encarei, com o coração acelerado. Com tantos sentimentos que poderiam explodir dentro de mim.

— Muito... Mas eu lembro que você dizia: Quando o amor não dura...

— Na verdade, era que às vezes o amor perdura, mas às vezes, ele fere — Edward me interrompeu e eu respirei fundo — Nesse caso, doeu para o senhor caralho.

Eu ri um pouco, porque vê-lo falar um palavrão era – e sempre foi - engraçado. Edward não era desse tipo de cara.

— Ainda dói — Eu, porém, disse o que ele não deveria esperar. Porque novamente seu rosto estava impassível, seus olhos entreabertos, bonitos e verdes, diziam que ele claramente não esperava.

— Bella... Eu...

O vi tirar as mãos do bolso, quando ele visivelmente não tinha mais o que dizer. Edward jogou sua cabeça para trás e sussurrou algo aos céus, que eu não me permiti questionar. Era sua prece com Deus.

Eu saberia se era querida ou não aqui, eu saberia em seus olhos. Nesse momento eu só vejo a confusão, percebendo como diabos isso é injusto para ele. Uma vez que construiu sua vida, anos após, e eu ainda estava aqui. No mesmo lugar. Mas não era algo que eu conseguia segurar.

— É que eu ainda sinto tudo...-

— Eu sou casado agora, Bella — Ele me interrompeu — Eu esperei por seis anos.

— Então por que eu não estou casada também?!

Edward não respondeu.

Como uma criança, eu queria sentar na calçada, bater os pés. Fazer um bico, cruzar os braços e chorar. Como uma adulta que sou, apenas balancei minha cabeça em um sinal afirmativo, dizendo que entendia claramente o que estava sendo dito. Alguns seguem, enquanto os outros lidam com o fardo.

— Eu não vim aqui para estragar sua vida, Edward, eu sinceramente desejo melhor para vocês dois.

— Então por que você veio? — Ele disparou rapidamente.

Eu não estava preparada para essa pergunta, não agora, ela me pegou de surpresa. Eu segurei um pouco respiração, antes de pensar no que dizer.

— Eu não sei. Ver com meus olhos que acabou, o que eu não acreditei com o tempo. E talvez, deixar você saber, que para mim não acabou.

— Eu sei disso — Ele disparou novamente.

Desviando seus olhos dos meus, Edward virou para a esquerda, enquanto enfiava suas mãos no bolso novamente.

Éramos um ex casal, numa calçada vazia, na véspera de natal. Com os calçados sujos de lama. E uma explosão de sentimentos e nostalgia.

— Bella... Eu...

— Não, Edward, está tudo bem... Sério... Está tudo bem.

Eu toquei seu ombro sob o casaco. E eu respirei fundo, controlando minha voz embargada. Eu alisei seu ombro, e sorri calmamente, enquanto me virava para andar para longe deles.

As palavras haviam sido ditas... Todas da minha parte. E eu precisaria seguir agora.

Deixe para lá, eu vou achar alguém como você

Não desejo nada além do melhor para vocês também

Não se esqueça de mim, eu imploro

Vou lembrar de você dizer

"Às vezes o amor dura, mas, às vezes, fere"

— Bella! — O seu grito impediu que eu desse mais um passo, enquanto eu ouvia suas passadas apresadas para próximo a mim.

Edward me virou bruscamente, deixando-me um pouco entorpecida. Lábios frios chocaram-se fortemente contra o meu, enquanto seus braços protegido por camadas de tecido enrolavam-se na minha cintura.

Era exatamente como eu me lembrava. Quente, e a língua dele ainda tinha o gosto conhecido. Ele ainda era viciado em café. E eu sempre brincava dizendo que beijá-lo era como tomar um expresso bem quente.

Edward sugou meu lábio inferior e arrastou sua língua sobre ele, de uma maneira sensual. Sua maestria nisso sempre me deixava embriagada no começo. Eu amava o jeito como ele me segurava em seus lábios, e fazia amor com a minha boca, sem ao menos tocar-me de uma maneira íntima. Nossos amigos sempre odiou a maneira como nos beijávamos em público. E como os deixávamos desconfortáveis o tempo inteiro.

Nos separamos somente quando o ar se fez necessário. então eu percebi que além de vermelhos e ofegantes - nós dois estávamos chorando.

— Por favor, por favor... — De repente, eu me vi implorando.

Eu segurava a gola do casaco de Edward, e implorava, sem saber realmente o porque, enquanto ele segurava meu rosto entre suas mãos.

— Se acalme, amor, se acalme... — Ele sussurrou como sempre fazia — Bella, eu amo você. Sempre será o amor da minha vida, mas eu preciso deixá-la ir.

— Não! — Exclamei em desespero, selando nossos lábios — Por favor, Edward.

— Eu não posso...

Ele chorou também.

Nossas testas unidas, nossas lágrimas se misturavam. Enquanto sentíamos a respiração um do outro. Era agonizante. O pior momento da minha vida.

— Você a ama? — Ele não me respondeu — Você me ama?

Então, eu também tive o silêncio. Minhas lágrimas continuaram descendo, uma atrás da outra.

— Venha, eu vou levá-la até um táxi.

Edward se afastou de mim, enquando entrelaçava nossos dedos. Eu não conseguia impedir meus soluços, tão pouco as lágrimas. Nós andamos por quase um quarteirão, até vermos pontos de ônibus e táxi.

Eu o vi falar com um taxista, de longe, até abrir a porta para mim.

— Direi a Alice que Renée ligou. Ela vai enviar suas coisas pelo motorista — Ele me avisou, enquanto eu assentia — Bella...

— Deixe-me ir, Edward — Eu tentei empurrá-lo para entrar no táxi, mas ele me segurou.

Nossos lábios se tocaram novamente e nosso beijo tinha um gosto salgado. De lágrimas.

— Por favor... Por favor... — Implorei, novamente, recebendo seu silêncio como resposta.

Havíamos acabado. E eu sabia que não teria volta. Edward, pela primeira vez, estava me negando. Nunca havia acontecido algo assim.

Me empurrando gentilmente para dentro do táxi, ele fechou a porta.

Eu vi o motorista entrar, enquanto chorava mais alto agora, soltando o pranto.

Eu coloquei as duas mãos no vidro, olhando as lágrimas de Edward, que também escorriam. Eu abri meus lábios, em meu ao meu pranto, para dizer.

— Não me esqueça, por favor, por favor... — Eu sabia que ele não estava ouvindo, porque o motorista já havia fechado sua porta e se preparava para ligar o carro — Eu imploro.

— Não vou — Porém, ele respondeu sem voz, li seus lábios e aceitei sua promessa — Eu amo você — Ele me disse.

— Eu amo você — Eu disse de volta.

O carro andou.

— Edward! — Eu gritei, como se ele pudesse ouvir.

Eu o vi ficar cada vez pequeno, quando a distância entre nós era maior.

Nada se compara, nenhuma preocupação ou cuidado

Arrependimentos e erros, são feitos de memórias

Quem poderia ter adivinhado o gosto amargo

Que isso teria?

Eu vi o homem me encarar, sem palavras, pelo retrovisor, quando eu secava meu nariz que escorria pela manga do meu casaco. E os olhos também.

Eu me sentei, virando-me para frente novamente, tentando controlar as lágrimas. Pensando na maldita ideia que eu tive, porque eu não conseguia evitar e como eu me sentia destruída.

Quando eu tinha 12 anos, eu havia achado que Edward era um sonho. Muito distante. Quando eu fiz 14, e nós nos beijamos pela primeira vez, eu senti meu peito explodir pela paixão e a felicidade. Quando eu fiz 16, e nós começamos a namorar sério - com nossos pais cientes - eu não podia estar mais completa. Aos 17, quando nós tivemos nossa primeira vez, soube que ele era o amor da minha vida. Aos 18, quando nos separamos, eu sabia que nunca mais amaria alguém dessa forma. Mas ainda assim... Havia tanta esperança.

Quem diria?

Quem iria prever?

Se me dissessem o final antes, provavelmente eu estaria aqui, cometendo os mesmos erros. se me dissessem que eu poderia voltar e mudar, eu voltaria e mudaria. Ninguém vai poder dizer com exatidão qual é a sensação do vazio. Uma vez eu ouvi uma piada, algo que dizia que era como a fome, mas não... A fome pode ser saciada. Mas esse vazio, algo como um buraco negro no universo, não é algo que facilmente alguém vá preencher. Mesmo que eu encontre, eventualmente, alguém como ele.

Quem poderia ter adivinhado o gosto amargo que isso teria?


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar qual música vocês gostariam de ver virar uma história. Beijão! Vejo vocês na próxima.



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