Apartamento 804 escrita por Drama Queen
Notas iniciais do capítulo
Oi, amores! Perdoa o sumiço de 3 ou 4 anos e não desiste de mim ♡ espero que curtam
A mulher loira está sentada no sofá com uma xícara de café em mãos, Vick está em pé, desconfortável, com as mãos nos bolsos e eu estou sentada na cadeira ao lado do sofá. A tensão no ar poderia ser cortada com uma faca. A mulher não consegue, ou não tenta, esconder a insatisfação.
— Então, mãe. O que te fez me visitar? - Pergunto, tentando puxar assim e entender o que está acontecendo.
— Eu estava passando pela cidade e decidi fazer uma surpresa, imaginei que você iria gostar. Eu te comprei um presente.
Ela então tira um pequeno pacote da enorme bolsa, estampado com a marca de uma joalheria. Abro delicadamente e me deparo com uma gargantilha prateada, extremamente delicada, com um ponto de luz como pingente. É linda, mas não se parece nada com as bijuterias que carrego no pescoço ou nos braços. Sorrio meio sem graça.
— Obrigada, é linda.
— É uma bijuteria, lembrei de você quando vi.
— É? Por quê?
— Parece as correntinhas que eu comprava quando você era pequena.
— Ah... Claro.
— Mas então, você está morando aqui agora? Quer me mostrar seu quarto?
Troco olhares com Vick. Ambas percebem o esforço intencional de minha mãe para ignorar a garota e nós duas sabemos que admitir que dormimos juntas seria assumir o relacionamento. Vick abre a boca para dizer algo, mas se contém e permanece em seu silêncio.
— Eu estou dormindo na sala. Aqui é temporário, até eu achar um lugar seguro.
— E aqui é seguro?
— Sim, é. - Responde Vick, finalmente falando alguma coisa.
— Como vocês se conheceram?
— Na universidade. - Digo, antes que Vick fale qualquer coisa.
A mulher contrai os lábios em desaprovação. Eu conheço essa expressão. Ela não acredita, mas prefere não questionar para não descobrir algo que não goste.
— Acho que podemos tomar um café em algum lugar, o que acha? Eu e você. - Ela diz, finalmente.
— Tem café aqui... - Vick murmura.
— Eu pago, vamos.
Concordo com a cabeça e digo que vou buscar minha bolsa. Vick me segue e fecha a porta atrás de si, deixando minha mãe sozinha na sala. Sua expressão mostra sua indignação antes mesmo que diga qualquer coisa.
— Que merda foi essa?
— Eu não sei, mas eu não estou pronta pra contar pra ela, ok?
— Qual das partes? Que você é gay? Que você tem uma amizade com benefícios comigo? De onde você tirou isso, inclusive?
— Eu não sei, ok? Eu não sei, eu não tive tempo pra pensar em nada disso.
— Mas teve tempo de montar um teatro todo.
— Para com isso. Eu só vou tomar um café com ela.
— Não esquece de pôr em ata o que ela falar de mim.
— É só um pouco, ela logo vai embora. - Abraço o pescoço de Vick e lhe dou um selinho - Eu prometo.
— Você não tem como prometer isso.
— Eu vou tentar contar pra ela, tá? Isso eu posso prometer. - Sorrio e me afasto para pegar minha bolsa.
— Christie? O que, exatamente você vai contar? Sobre a gente.
— Eu... - Coloco a bolsa no ombro. - Eu não sei. Que a gente tem algo. Que eu estou apaixonada por você.
— Você está? - Vick dá um passo a frente, aproximando-se de mim. - Porque, sabe... Eu não quero ser sua amiga com benefícios. Eu não quero ser o seu "rolo", seu "algo". Eu quero algo sério com você, Christie.
Sorrio e puxo Vick para um beijo, desses delicados, abraçando sua cintura. Quando rompemos o beijo, ainda com os olhos fechados, beijo a ponta de seu nariz, sua testa, então suas bochechas. Quando faço isso, sinto um gosto salgado em seu rosto. Abro os olhos e me deparo com Vick chorando. Ela mantém os olhos fechados e o rosto retraído enquanto as lágrimas escorrem por suas bochechas. Delicadamente, limpo as gotas d'água com as costas da minha mão.
— Eu te amo, morena. Eu vou contar pra minha mãe que você é minha namorada. - seguro as duas mãos da garota e as beijo.
Vick sorri finalmente, respirando fundo. Dou-lhe um selinho e vou até a sala encontrar minha mãe.
O café escolhido pela mulher é bonito, elegante, com grandes janelas e lustres modernos. O cardápio exibe doces, salgados, sucos e cafés mais caros do que eu gostaria de gastar em uma saída com os amigos. Minha mãe pediu um café preto e uma torta de maçã, enquanto eu pedir apenas um suco de laranja.
— Você poderia ir morar conosco novamente. - Ela diz, impaciente. - Seria um tempo até a faculdade, é verdade, mas você pode pegar nosso carro emprestado! Por que você nunca tirou a carteira de motorista, filha?
— Eu não quero morar com vocês novamente, obrigada. - Mantenho meu olhar no copo de suco vazio.
— Ao menos nos deixe pagar algum dinheiro mensalmente. Só pra você ter o seu canto.
— Eu não quero o dinheiro de vocês.
— Por que não?
— Eu não quero vocês opinando na minha vida.
— Então é isso, você prefere morar de favor na casa de uma estranha a se aproximar da sua família.
— Mãe...
— Não, é isso, então?
— Ela não é uma estranha.
— Não sei se é melhor você ser amiga de uma criatura daquelas.
— O que você quer dizer?
— Você sabe.
— Meu deus, você veio até aqui só pra me xingar e xingar as pessoas a minha volta?
— Eu vim te dar um presente!
— Esse presente era pra mim ou pra você? Eu não uso esses colares há muito tempo, mas você não me conhece mais.
— Claro que não, você se afastou da gente. Como você quer que eu conheça?
— Eu me afastei porque sempre que chego perto você me xinga de todas as formas!
— Eu nunca te xingo. Não é verdade.
— Me chamar de promíscua é o que?
— Só porque você estava querendo se atracar com aquela menina. Sua atitude foi promíscua, não você. Você não é assim.
— Nós estávamos conversando! E, como assim eu não sou assim?
— Às vezes, quando você quer ser rebelde, quando quer me desafiar, você se enrola com algumazinha por aí.
— Isso não é verdade!
— Então por que não volta pra casa?!
— Isso nem faz sentido!
— Você está agarrada naquela criatura, lá?! Por isso deu as costas pra sua família?!
— Chega! Eu não quero ouvir mais nada!
— Só me responda, complete o meu desgosto, você e aquela lá têm algo?
Meus passos andam tortos até a porta do apartamento. Tento encontrar a chave na bolsa, sem sucesso. Tateio a parece até encontrar a campainha. Vick abre a porta e eu desabo chorando em seus braços.
— Ei, ei, shhh, tá tudo, bem, eu tô aqui. - Ela sussurra.
— Por que eu não consigo me acertar com a minha família? - murmuro. - Por que eles não entendem?
— Christie, você bebeu? - Vick pergunta, me colocando no sofá.
— Eu não dou conta! De nada disso! Eu não sei, sabe? Como dá pra ser feliz no meio de tudo isso.
— Uns dias são melhores do que outros. Eu sinto muito. Você contou?
— Eu sou uma covarde.
— Como assim?
— Você sabe que eu sou.
Vick me olha com raiva, mas, por trás daquelas cortinas de ferro que são seus olhos, vejo uma tristeza profunda. Ela suspira.
— Você não contou, não é?
— Me desculpa. - Digo em meio a soluços.
— Foi uma promessa.
— Me desculpa...
Estou hiperventilando e não sei se minha tontura vem do excesso de oxigênio no cérebro ou do excesso de álcool no sangue. Abraço uma almofada e tento abafar meus soluços. Vick se levanta e vai até o quarto, me deixando sozinha entre meus choros e medos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E então, o que acharam? Amo ver o que vocês acham