Dois tons de amor. escrita por Greyce


Capítulo 4
Ao acordar.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Nós vemos lá em baixo.



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Cause I always saw in you my light, my strength

And I want to thank you now for all the ways

You were right there for me

You were right there for me always

Faith Hill - There You'll Be

 

Senti frio, muito frio.

Um formigamento nas pontas dos dedos dos pês, que iam subindo pelas minhas pernas, tronco, braços e cabeça.

Puxei forte o ar e abri os olhos.

Uma dor imensa foi tomando conta do meu corpo todo principalmente do me peito.

Tentei falar, mas não conseguia.

Algo obstruía minha garganta, meus olhos pesaram.

Tentei me mexer, mas meu corpo parecia chumbado na cama.

Sentia-me estranho.

Sentia-me vazio.

Sentia-me oco.

Senti-me como um frasco vazio, era estranho se sentir já que sempre me senti cheio.

O engraçado é que eu achei que quando acorda-se eu iria ser recebido pela minha mãe e por Anne que elas teriam sido grandes amigas enquanto eu dormia, achava que dariam uma festa para celebrar minha recuperação, mas me enganei essa não era a minha realidade fora do coma. Quem acabou me vendo acordado foi uma enfermeira, não me recordo do nome dela, mas me recordo de como ela conversava suave comigo sempre que vinha fazer exercícios em minhas pernas e braços, ela tinha um sorriso doce e dentes perfeitos.

Lembro-me de uma vez que ela me encarou e começou a falar algumas palavras com os olhos cheios de lágrimas, o que me deixou surpreso.

— Sente falta dela, não sente Elliot? — Ela disse me olhando enquanto acariciava minha cabeça.

— Sim eu sinto, sinto muito. — disse como se ela me ouvisse. — Eu a amo.

— Não fique tão triste assim, afinal é a vida, um dia eu creio que você vai se levantar, e vai reencontrar ela e ser feliz, meu pai sempre me dizia que o que é bom e eterno.

Ela me olhou no fundo dos olhos, levantou uma sobrancelha e sorriu.

— Está acordado Elliot?

Eu queria dizer sim estou, queria saltar da cama e abraçar ela e falar eu acordei, mas não consegui, apenas assenti com a cabeça e as lágrimas emundaram minha face.

O que veio a seguir?

Uma bateria de exames, me senti como um et sendo estudado de várias formas possíveis, fiz ressonâncias, exames de sangue, exames de meningite, e outros exames que nem eu mesmo sabia para que servia.

Sempre achei que quando acorda-se todos que eu ama-se estariam ali presentes para partilhar comigo a alegria de eu estar de volta. E de fato todos estavam, quando deram a noticia a minha mãe ela não tardou a chegar, com ela estava papai e Marcos, quando eu os vi procurava entre eles Anne mas me decepcionei algum tempo depois quando eu percebi que ela não viria.

Eu estava um pouco confuso, eu queria perguntar dela, perguntar para mamãe do porque ela não tinha avisado a Anne que eu acordei, mas eu não conseguia falar, os meses seguintes foram de tratamentos com psicólogos — o qual achava inútil já que não falava — eu me afundava na cadeira e fazia cara de poucos amigos, detestava o Dr. Felipe ele era um velho chato que me mostrava uns desenhos e queria que eu fala-se o que via.

— Vamos Elliot se esforce. — ele dizia me deixando ainda mais chateado e furioso, se eu ao menos pudesse mexer meus dedos escreveria um bilhete bem maldoso pra ele, ou então mostraria o dedo meio só pra ele fazer a cara de espanto e de choque pela minha falta de educação — sorri ao pensar na cara dele se isso acontece-se.

Lembram-se daquela enfermeira simpática que me viu acordar? Seu nome era Amélia ela era fisioterapeuta e me ajudava com minhas pernas e braços, sempre alegre e falante Amélia animava meu dia, sorria das suas piadas sem graça.

— Qual é Elliot e engraçado. — ela dizia desenhando um sorriso na minha face, ou às vezes me fazendo cocegas nos pês.

Era engraçado como ela me fazia sentir, embora eu estivesse chateado porque Anne não tinha vindo ainda, ela me trazia conforto e paz.

As sessões de fonoaudiologia eram legais Dr. Miguel era bem profissional e os exercícios que ele me passava eram fáceis, mas demorou três meses para que eu conseguisse falar e mais dois para que eu recuperasse os movimentos da cintura para cima.

— Bom dia Elliot. — Amélia sorria ao entrar no meu quarto.

— Bom dia. — respondo um pouco sem animo.

— O que houve?

— Saudades.

— Elliot meu amigo, não se atormente.

— Como não? — Disse pausadamente, ainda gaguejava, e errava na hora de falar.

— Ela vai aparecer.

— Eu nem sei se mamãe ligou pra ela, e não me julgue por duvidar de dona Elizabeth ela detesta Anne.

— Não estou te julgando. — ela disse pegando minha perna. — eu só acho que Anne não está preparada pra te ver, foram 10 anos Elliot.

Virei à cabeça a fim de encerrar a conversar e também não queria que ela me visse chorando, ajeitei o oxigênio no meu nariz porque um dos meus pulmões não funcionava mais e pelo visto o outro estava querendo parar, meu fígado estava seriamente comprometido, passei 10 anos em coma para acordar é morrer de falência múltiplas dos órgãos e Deus valeu pela oportunidade.

Na manhã seguinte assim que abri meus olhos e fitei o teto branco do meu quarto suspirei, o dia parecia que seria belo e majestoso, ansiava por sentir o vento e os raios de sol em minha pele. Tentei me levantar e não consegui, apesar de ter algum movimento com os meus braços eles estavam fracos ainda, mas não demorou muito pra que Amélia entrasse no quarto, ela que sempre sorria ao me ver parecia triste nessa manhã, ela me ajudou a me levantar me sentou na cama, colocou as duas mãos do meu lado e abaixou a cabeça, percebi que seu corpo tremia e ela soluçava.

— O que aconteceu?

— Elliot, eu...

— Você o que?

— Me desculpe eu...

— Por Deus Amélia! Me fale logo o que aconteceu está me deixando nervoso.

— Eu queria ajudar, eu juro, pensei na melhor forma de te contar isso até cogitei a possibilidade de não contar, mas...

A fiz levantar o rosto, lágrimas corriam livre pelo seu rosto, seus lábios tremiam e sua voz falhava ao me contar o que ela tinha feito, eu não a culpava muito pelo contrario eu a agradecia por ter sido tão boa e amiga pra mim nesses 6 meses que fiquei internado. Pra quem já estava todo ferrado por dentro e por fora ter o coração partido não fazia a mínima diferença.

— Eu juro Elliot que eu queria que fosse diferente.

— Eu sei, está tudo bem. — Eu a abraçava forte e a embalava em meus braços, estava me fazendo de forte para não desmoronar na frente dela, ela não precisava presenciar a porra do meu coração estilhaçando. — Vamos fazer nossos exercícios hoje lá fora, por favor?  — disse, me desprendendo dos braços dela.

— Sim hoje o dia está bonito. — ela limpava os olhos com a camisa.

Assim que ela me ajeitou e me ajudou a subir na cadeira de rodas fomos ao pátio, o dia estava exuberante, o céu sem nenhuma nuvem o sol quente, sorri ao sentir seus raios queimando minha pele, abri os braços e Amélia me olhava com olhos curiosos, não falamos mais sobre nossa conversa no quarto, ela se sentia culpada por me trazer noticias ruins e eu me sentia de coração partido.

— Muito bem Elliot, estou gostando e muito da sua evolução.

— Acha que um dia eu volto a andar?

— Elliot, eu não sei, o que sei é que você está indo bem e sim tem grande possibilidade de andar novamente, mas não sei quando, e nem se andara normalmente, talvez precise de muletas.

— Pelo menos terei alguma companhia. — sorri de canto, ela também sorriu, ela empurrava minha cadeira de rodas pelo pátio do hospital enquanto conversávamos sobre a vida, ela parou se sentou num banco e me fitou.

— O que pretende fazer quando sair daqui?

— Recomeçar, voltar a estudar fazer faculdade e ir morar em uma fazenda.

— Não sabia que gostava do campo.

— Gosto por causa da Anne, ela me mostrou que a natureza trás paz para os corações aflitos.

Um estranho e incomodo elefante branco se sentou ao nosso lado, ela se calou e suspirou pesadamente.

— Não fique assim, por favor, não e culpa sua.

— Mas eu...

— A culpa e minha, fui eu que escrevi esse capitulo na minha vida, fui eu que causei o acidente, fui eu que escolhi essa maldita sorte, mas apesar de tudo Amélia não me arrependo, sofrimento e evolução de espirito, não atormente o seu só porque me deu uma noticia triste.

— Eu sinto muito Elliot, muito mesmo.

— Eu sei, eu também.

— Algum dia vai esquecê-la?

— Não sei, talvez nunca, quem sabe!

Ela colocou a mão em meu joelho e eu a afaguei, essa era a vida certo? Coisas boas acontecem, coisas ruins acontecem, mas como diria um grande sábio que soube viver de um modo espetacular: A vida é feita de momentos, momentos pelos quais temos que passar, sendo bons ou não, para o nosso aprendizado. Nada é por acaso. Precisamos fazer a nossa parte, desempenhar o nosso papel no palco da vida, lembrando que ela nem sempre segue o nosso querer, mas é perfeita naquilo que tem que ser. (Chico Xavier)

E seria assim que eu encararia isso sabendo que nada e por acaso e que cada dor cada sofrimento em minha vida tinha um único proposito evolução espiritual.

— Achei vocês.

— Mamãe você aqui essa hora?

— Sim filho, tenho ótimas noticias pra você.

— Boas noticias tem certeza? Eu tenho lá minhas dúvidas. — Olhei pra Amélia ela desviou o olhar.

— Sim querido, estava falando com os seus médicos, e...

— E o que mamãe?

— Você terá alta amanhã.

— Jura?

— Sim querido vai poder voltar pra sua vida.

Olhei para Amélia que agora me encarava com grandes olhos brilhantes ela sorria exageradamente.

— Fico muito feliz em saber disso. — Disso acompanhando Amélia naquele sorriso largo

— Eu também.

Mamãe passou o resto do dia me adulando, eu até que gostei, gostei dela falar sobre uma amiga dela que pagou um mico no shopping e de como Marcos estava se saindo bem ao lado do papai no escritório. Gostava de saber de como o papai tinha mudado algumas visões dele sobre a vida, de como ele tinha se apegado mais em Deus pedindo pela minha recuperação.

Assim que ela foi embora e que eu jantei me arrumaram na cama e eu olhei o teto branco e então me permitir por um segundo desabafar toda a dor que eu estava sentindo, chorei, chorei por tudo, mas principalmente chorei porque eu sabia que ela não iria aparecer, chorei até quando os primeiros raios de sol entrassem pela janela daquele quarto frio e sem vida.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham sentindo o que senti ao escrever esse capítulo. Elliot ás vezes me consome de mais com seus sentimentos, o que vocês acham do sentimento dele por Anne ainda?



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