Dois tons de amor. escrita por Greyce


Capítulo 3
Destino Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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At times life's unfair

And you know it's plain to see

Hey God I know I'm just a dot in this world

Have you forgot about me?

Whatever life brings

I've been through everything

And now I'm on my knees again

Creed - Don't Stop Dancing

 

10 anos atrás…

Eu me lembro daquele dia.

Era final de abriu, final da estação preferida de Anne.

A Primavera.

Ela era louca por flores, sempre me disse que os cheiros que elas exalavam, eram como bálsamos para a alma, e que o cheiro da Verônica era suave e delicioso, e que a flor era linda por ser pequenina e delicada.

Lembro-me de como ela gostava de fazer tranças em seu cabelo e o enfeitar com essas flores.

Meu sorriso aumentou ao olhar o buque ao meu lado, um pequeno e singelo buque de Verônica azuis eu sabia que ela iria adorar, tanto as flores como a noticia que eu levava comigo.

Eu estava voltando pra casa tinha ido em uma entrevista de emprego em santos, litoral paulista, tinha visto uma casa linda grande com cerca branca e venezianas azuis, a casa era cercada por uma sacada, ali tinha um espaço enorme para Anne plantar suas flores ela dava vista para o mar. Fechei meus olhos por alguns segundos e pude ver a felicidade que aquela casa nós daria, vi nossos futuros filhos correndo, vi Anne sorrir, senti uma paz é uma felicidade enorme dentro de mim. Depois de sofrer muito com nossas famílias que eram contra nosso namoro, resolvemos viver longe deles para que nosso relacionamento não sofresse influencia deles em nossas vidas. Queríamos educar nossos filhos de modo diferente como fomos criados, queríamos que a conversa fluísse na família que eles fossem não só nossos filhos, mas nossos amigos, e que acima de tudo queríamos ensinar o respeito de amar quem eles quisessem.

Teríamos 3 meninas e 3 meninos, é eles viveriam com a gente até quando quisessem, não iríamos nos importar que depois de casados eles morassem ao nosso lado, já que a vizinhança ainda estava crescendo.

Fui tirado dos meus pensamentos com o telefone tocando, olhei o visor a foto de Anne sorrindo piscando para mim, sorri e atendi o celular, com um sorriso enorme no rosto.

— Oi amor, estava pensando em você!

— Onde você está Elliot? — Ela me parecia impaciente.

— Eu estou voltando, com ótimas noticias.

— Jura?

— Sim amor

— Me conte, ande. — ela disse apressada. Eu até podia vê-la no meio da sala da casa dos pais dando pulinhos de alegria

— Não quando eu chegar em casa eu te ligo e combinamos de nós ver.

— Mas Elliot!

— Amor, vou desligar começou a garoar.

— ­Tudo bem eu te amo venha devagar.

— Ok! Te amo também.

Sempre ouvi falar que deveríamos deixar as pessoas que amamos, com coisas boas, com sentimentos agradáveis, com palavras de amor e ternura, porque talvez seja a ultima vez que a gente possa falar com ela.

Falar eu te amo pra Anne foi pouco, porque ela era muito mais pra mim.

Porque sem ela eu não existia, sem ela eu era um nada. Nosso amor era algo raro, era algo de Deus, ele havia mandado ela para que eu soubesse que anjos existem, para que eu pudesse por sempre outra pessoa em primeiro lugar sem ser eu, sendo assim deixando meu egoísmo e meu ego para trás. Sempre soube que isso seria para sempre, que envelheceríamos juntos, é que na hora da nossa morte morreríamos juntos porque Deus não deixaria que um ficasse sem o outro.

Ledo engano meu, fui ingênuo em achar que seria feliz sem nenhum tipo de obstáculo. Afinal a vida não é um conto de fadas, não existe um foram felizes para sempre e fim. Sempre, sempre há alguma coisa para nós privar da felicidade completa.

Um cachorro passou na frente do carro eu estava distraído, quando percebi já estava muito em cima, a freada brusca vez o carro girar no asfalto molhado e capotar em seguida, quando ele parou de girar, suspirei aliviado eu estava vivo, um pouco dolorido, mas vivo, tatei o teto do carro peguei meu celular, tendei discar o número dos bombeiros, mas meus dedos não me obedeciam, tentei retirar então meu cinto, eu não conseguia respirar, um pânico foi tomando conta de mim, eu precisava de sair de dentro do carro, soltei o celular e com força tentei soltar o cinto, escutei um barulho e meu coração apertou eu estava em uma curva e vinha algum veiculo na direção oposta de certo não me veria capotado bem no meio da estrada.

— Por favor, Deus! Por favor, por favor.

Foi quando consegui soltar o cinto e cair desajeitadamente no teto do carro, mas eu não fui rápido o suficiente, um caminhão me acertou, jogando meu carro barranco abaixo, esses poucos segundos foram os piores da minha vida, sentir meu corpo batendo conta volante, bancos, janelas, senti minhas costelas se quebrando, senti o sangue escorrer. Quando ele finalmente bateu de encontro com uma árvore e parou de cair me senti tonto, minha cabeça sangrava, eu tentei ficar de olhos abertos, não dormir, mas não consegui, meus olhos pesavam, minhas pálpebras pareciam chumbos, a última coisa que vi foi o motorista do caminhão levando as mãos á cabeça e gritando por socorro.

Era estranho, me sentia flutuar, me sentia como se meu corpo não tivesse gravidade, me lembro de ter pensado que talvez fosse assim no espaço, essa sensação de liberdade, essa sensação de desprendimento, a sensação que você no mundo não pesa-se mais que uma grama. A sensação era gostosa, era calma, era aconchegante, quase me rendi a ela, fechei os olhos e vi uma luz brilhante em cima de mim, ela me erguia e me imundava de paz.

Mas dai pensei em Anne, na família que queria construir com ela, pensei na minha mãe, no meu irmão, é uma força foi me puxando pra baixo, fui me sentindo pesado, me senti fora do lugar, me senti estagnado, não conseguia me mexer, foi então que senti uma corrente elétrica passando por mim, senti que ela irradiava no peito, passava pelo meu coração e chegava ao meu cérebro, minha cabeça doía queria pedir pra que parassem, mas eu não conseguia me mexer, meus lábios pareciam selados.

Percorri um longo caminho um barulho alto soava em meus ouvidos, parecia uma sirene, me lembro de olhar o redor e ver duas pessoas, dois paramédicos mexendo no equipamento, lembro abrir meus olhos e um deles falar comigo.

— Elliot, Elliot Rans, consegue me ouvir?

Mas eu não conseguia falar, balancei a cabeça em positivo.

— Aguente firme estamos indo para o hospital.

Porque eu precisava de um hospital? O que tinha acontecido comigo? Porque eu não conseguia me lembrar do... O Acidente, eu tinha sofrido um acidente, uma lágrima escapou pelo meu olho esquerdo.

— Anne, eu sinto muito.

Essa foi à última coisa que eu consegui dizer, antes de apagar totalmente.

Coma é um nome que assusta não é verdade? Para alguns é um longo caminho sem atividade sem volta, o que muitas pessoas não sabem é que o coma e um estado que o cérebro da a si mesmo para se recuperar de uma lesão, significa também perda de consciência, que é a capacidade de interação com o meio.

Eu sempre achei muito engraçado as pessoas pedindo para tratar de coma, isso é um mito coma não são tratáveis, ouvi varias vezes mamãe pedindo para que me dessem remédios para acordar, mas eles sempre explicavam para ela que a única coisa que poderiam fazer era fazer com que eu respira-se e manter a minha circulação ativa, já que eu tinha sofrido um acidente.

Mas ela sempre se recusava a aceitar me trocou de hospital várias e várias vezes quando os médicos falavam isso para ela. Mamãe envelhecera muito com isso, seu medo era que eu ficasse desse jeito para sempre, um vegetal em cima da cama, apenas um amontoado de carne respirando artificialmente, é sim isso era possível os médicos não viam nada de errado comigo, era como se eu não quisesse acordar, ela ouviu relatos de um paciente que acordou depois de 28 anos de coma, acordou assim como se tivesse ido se deitar no dia anterior.

As médicos sempre conversaram comigo assim como as enfermeiras e a mamãe lembro dela contando coisas fúteis de como foi o passeio no shopping ou de como Marcos tinha ganhado uma causa, pelo que eu via ele se juntou ao papai no escritório de advocacia da família e estavam se saindo bem, uma dupla imbatível.

Eu sei pode parecer bobeira, ou devem estar pensando que não me lembro disso tudo, nem os médicos acham que e possível ouvir e registrar as conversas em nossa volta, mas sim algumas coisas eu lembro, lembro também de como eu sentia, fome, sede e frio, mas o que mais me deixava triste era falta que eu sentia de Anne, fazia alguns meses que ela não me visitava, em sua última visita ela chorou disse que me amava, que estava sendo difícil pra ela viver sem mim, pediu implorou pra que eu acordasse e cuida-se dela, lembro-me de como me senti um inútil em não poder me levantar e confortar ela, de não poder mexer sequer um dedo nem que fosse o mindinho pra mostrar que eu á escutava, que eu estava ali vivo. Por fim soluçando e chorando muito ela se levantou deu um beijo em meus lábios e partiu. Eu me lembro de como algo dentro de mim se partiu ao vê-la ir embora, lembro-me de como chorei, de como me encolhi dentro de mim e de como essa despedida me doeu fundo, porque eu sabia que essa era uma despida para sempre.

Ficar preso a uma cama sem poder se mexer era difícil, eu tentava gritar, eu tentava falar “eu tô aqui”, mas nada saia, meus braços e pernas pesavam como chumbo e quando tiravam o oxigênio meu peito parecia que ia explodir.

Algumas vezes eu chorei, outras me revoltei com Deus, em outras amaldiçoei o motorista do caminhão, em outras eu revoltava comigo mesmo por ter sido tão estúpido e descuidado.

Lembro-me de que várias vezes me deparei com um muro alto de mais e para todo lado que eu olhava ele estava lá grande, enorme implacável eu gritava, gritava ate minha garganta doer, eu pedia por socorro, por uma ajuda, mas nunca ninguém veio ao meu encontro, ninguém me ouvia era como se todos tivessem ficado surdos, enlouquecidos era como se eu não existisse mais nesse mundo, era dias como este que eu chorava o tempo todo, era essas vezes que eu me encolhia dentro de mim mesmo, pensei por diversas vezes que eu tinha cavado minha própria cova sem saber, era injusto estar preso dentro de mim e irônico também  eu era a única pessoa que poderia me salvar, mas eu não sabia como fazer isso.

Can you help me out can you lend me a hand

It's safe to say that I'm stuck again

Trapped between this life and the light

I just can't figure out, how to make it right

A thousand times before

I've wondered if there's something more

Something more

Creed — Rain


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Notas finais do capítulo

E ai o que acharam, me contem.
Obrigada



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