Até que ponto é fantasia escrita por Niebla


Capítulo 1
Ops...


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, se acham que já me viram por aqui ou no Social Spirit (numa conta com o mesmo nome), não foi por acaso. Eu tinha começado com a história aqui, mas excluí para reescrever e deixá-la melhor, como consegui, decidi compartilhar com vocês!

Boa leitura.



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— Atende logo… — Aperto fortemente meus braços contra o corpo, subindo e descendo ansiosamente nas pontas dos pés.

Aquela era a segunda vez que eu tocava a campainha e Gabriel não dava nenhum sinal de que vida. Estava frio. Olhei para a grande janela retangular da sala imaginando que lá dentro estaria quentinho… Era um belo sobrado. Quem visse apenas a fachada não imaginaria que era tão grande. Eu visitara o andar de cima apenas uma vez, mas tinha certeza de que, ao todo, eram três quartos espalhados em um longo corredor.

— Oi, Lun, você chegou cedo. Tudo bem com você?

— Uhum, e trouxe tudo o que me pediu. — Estendo várias folhas recém-impressas amarradas frouxamente com um barbante.

Atrapalhado com os prazos, Gabriel esqueceu de mandar imprimir a parte teórica de um dos trabalhos mais importantes do semestre. Seu pendrive com o arquivo estava com um supervisor que ainda estava no campus, assim como eu. Para a sorte dele consegui imprimir lá mesmo, afinal, eu era uma das poucas pessoas a ficarem depois das aulas em plena sexta-feira.

— Obrigado. — Ele me abraça. — Você está ocupada hoje?

— Na verdade não. Por quê? — O encaro curiosa.

— Eu estava aqui pensando que você bem que poderia me ajudar com o meu trabalho… com a parte do design, slogan e tals… Estou sem muita criatividade e sei que você tem de sobra. Por favor…

Aquela cara de pidão sempre era muito convincente e, como uma boa amiga, eu não podia recusar. Nos conhecíamos há tão pouco tempo e mesmo assim já sabíamos que poderíamos contar um com o outro.

— Só porque pediu com jeitinho. — Abro um sorriso largo.

— Vamos.

Gabriel trancava o portão enquanto assobiava. Era seu jeito secreto (mas não tão secreto assim) de comemorar as coisas. Se ele se empolgasse só mais um pouco agiria exatamente como um personagem de desenho animado antigo.

Entro na sala e tiro o meu casaco, pendurando-o junto com os outros atrás da porta. Lá estava bem mais quente do que do lado de fora. Quando tento dar um passo para frente sinto Sherley, a gata, esfregando-se em minhas pernas. Eu agacho, acariciando seu macio pelo malhado.

— Conseguiu o que queria? — Len, o irmão de Gabriel, pergunta.

Ele estava esparramado no sofá grande comendo o último cookie de um pote sobre a mesinha. Nunca o vira tão descontraído, era o extremo oposto de todas as últimas vezes que nos vimos. Ele vestia um jeans surrado, um moletom azul-marinho e meias, os sapatos dele estavam encostados na lateral do sofá. Seus cabelos escuros estavam bastante bagunçados, algumas mechas caiam desengonçadas sobre a armação de seus inseparáveis óculos, outras tocavam de leve seu pescoço.

— Consegui.

— Por que “aquela menina” veio junto? — Faz uma breve careta enquanto se ajeita no sofá.

Eu fecho a cara; não entendia como alguém podia simplesmente detestar até mesmo mencionar a presença de uma pessoa que mal conhecia e que nunca lhe fizera nada. Por que raios ele me odiava tanto?

— Porque ela vai me ajudar.

Gabriel olha para mim como se pedisse paciência. Ele sonhava com o dia em que nós dois nos entenderíamos. Iludido… Eu olho ao redor, reparando que tinham colocado um tapete novo. O de agora era de um tom escuro de creme e bem mais felpudo do que o antigo. Eu vou até ele, mas Sherley para bem na minha frente, me fazendo perder o equilíbrio.

— Opa.

Sempre tão atrapalhada… Por muito pouco não deixei o único quadro da estante cair. Gabriel ri; ele sabia o quanto eu era distraída e que minha coordenação nunca fora o meu forte. Já Len apenas bufa, apoiando o queixo em uma das mãos bastante entediado.

— Senta aí — Gabriel aponta para o sofá em que seu irmão estava. — Que eu vou buscar o notebook e o resto das coisas.

Ele sobe as escadas correndo. Estava mais animado com aquele trabalho do que o normal. Deveria ser ansiedade, afinal ele tinha só mais três dias de prazo e apenas metade concluída.

Eu sento no extremo oposto do sofá, olhando para o teto. O silêncio dele me incomodava, mas eu me recusava a puxar assunto. Misteriosamente, ao invés de fingir que eu não existia, ele pigarreou erguendo uma das sobrancelhas na minha direção. O que ele queria?

— Quer dizer que você também sabe ficar calada? — Pergunta em tom de deboche, ajeitando seus óculos com o rosto virado para a televisão desligada.

Deveria ter imaginado que seria para algo assim… Encho os meus pulmões de ar. Só de estar perto dele eu já sentia meu sangue começar a ferver e o jeito dele proferir cada uma daquelas palavras era como mais e mais lenha na fogueira. Não queria ceder às provocações dele, mas minha língua coçava.

— Não leve para o lado pessoal. — Diz uns segundos depois.

Olhei para ele irritada, mas percebi que havia algo levemente estranho na expressão fria dele. Queria saber o que era, mas eu não perguntaria. Ajeito os meus óculos me lembrando de nossos últimos e nada agradáveis encontros.

— Você que leva tudo para o lado pessoal! — Digo entredentes.

— Falou a Miss Simpatia… — Zomba.

— Como se você se pudesse ver alguma coisa além do seu próprio umbigo. — O fuzilo com os olhos. Detestava ficar brava, mas era impossível simplesmente contar até dez quando se tratava dele.

— Você se esforça bastante para responder à altura, não é mesmo, estranha? — Ele vira para mim com um sorriso de escárnio.

— Oras seu… — Aponto para ele, já vermelha, batendo a mão no sofá quase em cima dele, pronta para…

— Pessoal? — Gabriel tenta chamar nossa atenção, eu apenas me afasto sem olhar para ele.

Provavelmente, ele nos vira trocando faíscas há algum tempo e só agora decidiu se envolver. Não sabia o que ele via de interessante em nos deixar na mesma sala por mais de dois minutos, talvez pensasse que fossemos nos entender de uma hora para a outra ou algo igualmente absurdo. Ele dizia que seu irmão dificilmente insistia em implicar com alguém e que eu era o seu recorde, isso só me fazia entendê-lo ainda menos. O que raios ele tinha contra mim!?

— Mãos à obra!

— Nossa! Quanta coisa! — Arregalo os olhos ao vê-lo com as mãos cheias.

Ele despeja tudo no sofá pequeno enquanto seu irmão erguia uma das sobrancelhas constando que eram muitas coisas mesmo. Gabriel começa a arrumar as coisas e eu ligo o notebook. Sentada no tapete eu começo a separar algumas folhas que ele me entregara. Observo Len levantar; levava consigo o pote que deixara sobre a mesinha. Ele vira para mim e pede para eu não espalhar as coisas. Eu apenas bufo enquanto ele sai da sala rindo.

Depois de me explicar a proposta, Gabriel pediu para que eu lesse umas páginas da parte manuscrita do trabalho. Foi fácil de entender. Antes mesmo de terminar a primeira página comecei a ter ideias que logo se transformaram em anotações e rabiscos prontamente aprovados por ele.

— Aí, podemos jogar um laranja bem vibrante aqui para rimar com aquele amarelo hiperativo no meio do slogan. — Sorri satisfeita com a imagem mental de meus rabiscos, até agora cinzentos.

— Você fala das cores de um jeito engraçado.

Enquanto mexia em umas folhas ele aponta com o ombro para o irmão que ligava a televisão fingindo não estar interessado no que falávamos. Mas ele não fingia muito bem…

— Mas é assim. — Viro os olhos. — É que eu estou sem lápis de cor aqui e não quero que imagine um amarelo muxoxo e aguado, por exemplo… Tem que chamar atenção, mas sem muito contraste pesando em tudo. — Eu sabia muito bem do que estava falando. — Tente fazer algo assim, mesmo que mais suave no design da página. Aposto que vai ficar bom.

— Exato! Estou começando a ter ideias. — Ele afaga minha cabeça como se eu fosse um gato. — Obrigado Lun. Você captou a ideia rapidinho.

— O que mais esperava de mim? — Pisco.

— Hm…

Gabriel põe a mão embaixo do queixo encarando o teto fingindo estar pensativo. Brincalhona eu dou um peteleco no pescoço dele.

— Ai! — Ele esfrega a nuca. — Defenda seu irmãozinho! — Resmunga para Len que levanta uma sobrancelha como se perguntasse se ele estava falando sério.

Abafo meu riso, espalhando mais anotações na folha do slogan para então rabiscar completamente distraída a seguinte página do meu bloco de notas. Era um fato, eu não podia ficar com um papel em branco e, qualquer coisa que escrevesse na mão por dois minutos sem que começasse a rabiscar as pessoas e coisas ao meu redor. Minhas bochechas arderam feito brasa quando me dei conta de que meus rabiscos formavam o rosto de Len. Penso em amassar a folha e picotá-la em milhões de pedacinhos, acender a lareira e… Largo o papel assustada com a música barulhenta do celular de Gabriel.

— Quem é? — Gabriel o atende antes que tocasse de novo.

Ele sobe para o quarto sem dizer nada. Provavelmente era um dos meninos do grupo pedindo alguma coisa… Essa mania de deixar tudo para a última hora tinha esses empecilhos. Poucos minutos depois ele desce, desligando o aparelho para começar a colocar as folhas que estavam no chão em cima do sofá.

— Eu vou ter que sair e é para ontem. — Suspira. — Relaxem e não se matem.

Ele sorri brincalhão, vestindo o casaco marrom pendurado atrás da porta que ele abre agachando para amarrar os cadarços. Uma corrente de ar frio percorre toda a sala me deixando arrepiada.

— O-onde você vai? — Levanto mordendo o lábio preocupada.

— Daqui a meia hora eu volto! — Gabriel grita, segundos antes de bater a porta.

Sento no braço do sofá um tanto aborrecida. Mais uma vez ele me largara com o louco do seu imprevisível irmão. Olho para os meus all stars vermelhos pensando em como me entreter durante todo aquele tempo.

— A Sherley comeu a sua língua? — Len implica enquanto brincava com um cubo mágico que até então eu não tinha visto. — Hein? — Mexe-se desconfortavelmente no sofá.

— Quem sabe… — Dou de ombros suspirando. Eu não estava em um dos meus dias mais tagareláveis, por assim dizer. — Sua avó não está aqui hoje.

Era difícil não ver Dona Serena em sua casa numa tarde comum de sexta-feira como aquela. Normalmente ela estaria tentando me empanturrar com seus deliciosos bolinhos de amora.

— Ela foi fazer compras ou algo assim. — Esclarece. — Logo deve estar de volta.

Ficamos em silêncio por longos e entediantes minutos. Len tinha feito e desfeito a combinação das cores do cubo dezenas de vezes enquanto eu, jogada no sofá, tinha mudado o canal da televisão centenas delas.

— Aff…

Ele se levanta bufando e vai, com seus passos firmes, para a cozinha. Ele estava irritado por algum motivo que eu desconhecia, talvez minha presença. Torço o nariz azeda, só tinham se passado onze minutos de algo que parecia ter sido uma verdadeira eternidade. Ele não podia fingir gostar de mim só um pouquinho para fazer tudo aquilo ser um pouco menos aborrecedor? Se não fosse por Gabriel, com certeza eu já teria ido embora. Escuto a campainha tocando e me levanto para ver quem era.

— Você ainda está aí na sala? — Len pergunta da cozinha. — Você pode atender? Eu estou meio ocupado.

— Tudo bem… — Suspiro indo até a porta.

No portão da frente havia uma senhora grisalha que usava um vestido marrom com enormes flores amarelas. Atrás dela havia uma caixa bem grande apoiada num carrinho. Ela parecia cansada por ter carregado tanto peso até ali, mas mesmo assim seguia os meus passos com seus olhos escuros e um sorriso no rosto.

— Oh, uma jovem tão adorável! Você deve ser netinha dela…Sua avó está?

— A Dona Serena não está e eu sou só uma amiga dos netos dela.

— Tudo bem. — Ri. — Você poderia, por favor, receber isso por ela? — Aponta para a caixa. — Diga que foi uma velha amiga que deixou.

— Claro. Você não aceitaria um copo d'água ou algo assim? — Pergunto quando finalmente consigo destrancar o estreito portão de ferro.

— Não precisa, e obrigada pelo favor. — Aperta minha mão firmemente. — Aposto que vocês, crianças, vão adorar isso.

— Não foi nada…

Acabei rindo sem graça. Quantos anos aquela senhora pensava que eu tinha? Eu até pareço ser mais nova, mas não é para tanto…

— Oh, lá está ela.

A senhorinha acena para Dona Serena que descia a rua apressada com as mãos cheias de sacolas. As duas velhas amigas se abraçam sorrindo e falando sobre coisas simples do dia à dia enquanto eu brincava com a chave entre os dedos. Depois de se despedirem, Dona Serena pega a chave e me abraça.

— Que bom que você está aqui, querida.

Abro um sorriso e me agacho para erguer a caixa de papelão que era imensamente mais pesada do que eu imaginara. O que tinha lá dentro? Tijolos!? Estava louca para largar aquilo assim que pudesse.

— Quer ajuda?

— Não precisa.

— Tem certeza? — Insiste, vendo seu neto encostado na porta.

— Tenho, eu estou bem. — Tento passar confiança.

Depois de respirar fundo começo a andar. Agora viria a pior parte, o caminho até a casa. Eram poucos metros, mas não seriam muito agradáveis. Se eu andasse depressa, talvez ela não pesasse tanto. Dona Serena leva suas sacolas para dentro, mas não sem antes beijar a bochecha de Len que parecia estar me esperando ou algo assim.

— Quem era? — Pergunta quando me aproximo.

— Uma velha amiga da sua avó, ela me pediu para receber essa caixa enorme aqui…

Eu a coloco no chão tomando muito cuidado para não a deixar cair antes disso. Len arqueia as sobrancelhas enquanto passa a mão em seus cabelos escuros. Ele parecia… desconfortável?

— Devo te ajudar? — Ele estende as mãos sem saber muito bem o que fazer.

— Não, eu acho que consigo sozinha.

Era verdade, não era como se a caixa pesasse uma tonelada. Eu a ergo e dou uns passos, mas “azaradamente” tropeço em meus próprios pés. Instantes antes de cair no chão, consigo me jogar para o lado da caixa que por pouco não me esmaga. Não tinha sido uma queda muito grande, mas meu traseiro doía e certamente ficaria com o cotovelo roxo.

— Ops! — Eu sorri sem graça.

— Ops?

Ele começa a rir da minha cara. Caramba, ele não podia ao menos fazer de conta que se importava!? Eu poderia ter me machucado feio! Acho que nem assim ele ligaria, talvez risse mais ainda.

— Gostou mesmo do chão ou não está a fim de se levantar? — Diz em tom de deboche. — Mas é claro! Onde está o meu cavalheirismo?

Estende a mão teatralmente. Ele só podia querer me deixar mais irritada! Eu não aceitaria a ajuda daquele idiota. Len estava ficando gradualmente mais sério, provavelmente por causa do meu silêncio, mas não era como se pudesse ser algo franco.

— Hmpf! — Levanto sozinha.

— Você se machucou?

— Não.

Olho para a caixa preocupada, esperava não ter quebrado nada. Ajeito meus óculos pensando em como carregá-la sozinha para dentro da casa… Sem chances de sair sem prováveis dores musculares e mais quedas.

— Eu te ajudo a carregar essa coisa. — Diz num tom que deixava claro que ele o faria mesmo se eu não quisesse. — Só tente não nos jogar numa parede.

Seu meio sorriso sarcástico me faz respirar fundo, ignorando a provocação. Erguemos a caixa do chão e com bastante cuidado eu nos guio para dentro da casa. Falo para ele esperar quando passamos pelo meio da sala e pergunto para Dona Serena onde deveríamos colocar a caixa.

— Na biblioteca.

Ela aparece brevemente na porta da cozinha enxugando as mãos num pano de prato. Parecia estar se divertindo com nossas expressões.

Quando entramos na biblioteca eu procuro por um bom lugar para depositar a caixa. Encostada na única parede livre de prateleiras parecia um ótimo lugar. Sentia que logo aquele frágil papelão poderia se rasgar entre meus dedos e não queria que seja lá o que estivesse dentro caísse nos meus pés.

— Acho que podemos soltar aqui.

Nos preparamos para abaixá-la com cuidado, mas o papelão rasga e o que julgo ser um baú de mogno cheio de doces gravuras florais simplesmente cai no chão. Nós largamos o papelão rasgado e nos agachamos simultaneamente sobre o tapete tocando o novo objeto de madeira maciça. O enorme cadeado de ferro que ele ostentava não parecia ser muito fácil de abrir.

— Incrível! Ainda existem coisas assim!

— Grande coisa…

— Só se for para você!

— Curiosos?

Dona Serena nos olhava sorrindo, talvez porque não estávamos brigando tanto quanto usualmente, apenas implicávamos um com o outro. Ela mexe nos bolsos e deles tira uma chave prateada.

— Vocês estão contratados para vasculhar isso por mim. — Entrega a chave para o neto. — Vou fazer um chá para bebermos quando vocês terminarem.

Pega um livro de receitas antes de sair da biblioteca. Ela tinha vários deles na estante do lado esquerdo da mesinha. Já nas outra três, sendo uma delas muito maior do que as outras, ela guardava livros e enciclopédias de todos os tipos.

— Agora me dá a chave, quero ver o que tem dentro.

— E se eu não quiser? — Sorri desafiador.

— Sei ser persistente.

— Sério… — Ri sarcástico erguendo as sobrancelhas e apoiando o peso do corpo nas mãos. Irritante.

— O que é isso?

Eu levanto procurando saber o que era aquela coisa brilhante embaixo do resto da caixa de papelão. Era uma pequena garrafa de vidro tampada frouxamente com uma rolha.

— O que foi?

Ele parecia impaciente. Não era como se eu gostasse de provocar os outros, mas com ele era diferente… Ele merecia. Eu pego um livro aleatório da estante e começo a folheá-lo fazendo pouco caso.

— Fala logo…

— E se eu não quiser?

Ri orgulhosa por poder devolver a frase. Imaginar que ele deveria estar me fuzilando com os olhos me fez sorrir largo. O que estava acontecendo comigo?

— Só por que eu sou boazinha, façamos um acordo. — Guardo o livro. — Vamos cooperar um com o outro só dessa vez…

— Droga…

Len estava visivelmente infeliz com essa ideia, mas se o fizesse seria melhor para nós dois. Ele estende uma das mãos na minha direção. Eu não imaginava que sua curiosidade pudesse superar sua teimosia tão rapidamente… Aperto a mão dele firmando o acordo e então lhe entrego o pote.

— A estrelinha de dentro é igual a da chave… — Penso alto.

Ele analisa cuidadosamente o frasco com uma expressão esquisita, talvez estivesse um pouco decepcionado por não ser nada demais. Eu me aproximo do baú procurando alguma gravura que me ajudasse a descobrir de onde ele era. Na parte de cima da sua tampa envergada havia um emblema com um formato estranho, mas não parecia muito relevante. Como se formasse uma cinta decorada com pequenos elos de metal, uma liga de madeira envolvia toda a borda da parte de cima da base do baú. Quando levantei o cadeado vi um pedaço de ferro oval; nele, apenas conseguia ver com clareza a letra “A”.

— O que está escrito aqui?

— Não pergunte para mim. Eu sou cego.

Len levanta as palmas das mãos como se dissesse que era inocente. Não me diga… Eu viro os olhos segurando o riso. Eu esfrego a manga da minha blusa no metal até conseguir ler alguma coisa.

— Arca do… — Quase encosto o nariz na madeira. — Tempo… Que nome mais estranho… Pensei que era um baú.

— Baús são retos. — Ele gesticula. — E arcas, arqueadas. Qualquer semelhança com o nome é mera coincidência…

— Sem graça…

Desvio o olhar rindo baixinho. Eu era tão desatenta para esse tipo excessivamente óbvio de coisa. Ele deveria pensar que eu era estúpida, mas eu não podia fazer nada além de tentar fazer minhas bochechas esfriarem um pouco enquanto tentava imaginar o que havia dentro da ARCA.


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Notas finais do capítulo

Prometo ir até o fim com essa história e espero que me acompanhem até lá (e mandem reviews se forem legais comigo rsrs)Beijinhos de brigadeiro pra vocês!