Hotel California escrita por Moonpierre


Capítulo 1
Hotel California




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Tirava a areia de minhas botas, suspirei e finalmente pude observar melhor a construção em estilo vitoriano, feita de pedras com janelas altas. Talvez eles me ajudassem a encontrar o caminho de volta, ou me oferecer abrigo por essa noite.

Não precisei bater na porta, um homem vestido com trajes finos da década passada a abriu:

–Bem vindo senhor ao Hotel California. - me disse com uma voz grave.

A decoração da recepção do hotel continuava sendo antiga, porém impecável, lustres de cristais e sofás com estofados vermelhos e madeira nobre. Inalava um cheiro de couro misturado com cigarros e perfume, olhei para os espelhos que ficavam ao lado da porta e pude me observar - meus cabelos pretos pareciam decentes, o terno continuava bem alinhado, minha calça não aparentava possuir buracos.

Perdi alguns segundos analisando o lugar e esqueci de perguntar onde eu estava, então me virei, mas o idoso que me abriu a porta já havia ido embora.

Comecei a caminhar, observando as pessoas: haviam mulheres muito belas lá, tantas curvas que despertou-me o desejo de dormir com algumas.

Entrei em um salão de jogos - caça níquel, poker, roleta, blackjack, as pessoas, realmente, apostavam muito dinheiro, percebi, com os olhos arregalados.

Dirigi-me ao bar, atraído pelas diversas garrafas de vinho e champagne, que ficava perto das mesas que serviam o jantar - um banquete com frutas tropicais, lagosta, e até mesmo caviar, sorri, parece que tive sorte, esse lugar era maravilhoso, sentei-me em uma cadeira com o estofado de couro justamente quando o garçom chegava:

–Por favor, traga meu vinho - semicerrei os olhos.

–Não temos essa disposição aqui desde 1969 - ele sussurra, indo para trás do bar.

Observei o palco ao lado do bar, com cortinas de veludo, uma música começou a tocar, e uma morena apareceu no palco, era curvilínea, com cabelos pretos lisos, usava um lindo vestido curto, verde, estava descalça e em seus tornozelos pulseiras douradas cintilavam, pouco a pouco foram aparecendo homens vestidos apenas com jeans agarrados e peitos desnudos, eles começaram uma performance sensual e insinuante. Dançavam muito bem. Logo me trouxeram uma garrafa inteira de vinho com uma taça, comecei a bebê-la, e parecia que o álcool não me afetava tanto quanto antes.

Quando a dança acabou, e consequentemente minha garrafa de vinho fui falar com ela, a morena de vestido verde:

–Olá - falei sério - como aprendeu a dançar tão bem assim? - perguntei-lhe sorrindo maliciosamente.

–A dança está no meu sangue - responde, duramente - alguns dançam para lembrar, outros para esquecer - sussurra, como se isso fosse um pensamento.

Continuei a lhe olhar, pasmo com tamanha beleza, seus olhos verdes e suas curvas acentuadas, ela pousou uma mão em meu pescoço.

–Deseja ficar comigo? - sorriu-me.

Olhei em seus olhos com ainda mais intensidade.

–Isso é um sim, creio eu - ela continua - me chamo Esmeralda.

–Prazer senhorita - beijo a mão que estava, agora, em meu ombro - refira-se a mim como Allan.

–Quarto 666 - ela sussurra, em meu ouvido - venha.

Depois de colocar a mão em sua cintura começamos a caminhar, segundos depois paramos em uma porta com a inscrição em dourado "666".

Ela me beijou enquanto fechava a porta com um empurrão do pé, quando tirou seu casaco, estava nua. Apressadamente, me desfiz daquele terno sufocante, beijei-lhe com intensidade, depois mordi seu ombro, joguei-a em cima da cama e pude observar seus profundos olhos verdes, transformando-se, agora em vermelho sangue, suas unhas ainda mais afiadas, fincaram-se em minhas costas, observei com espanto um sorriso demoníaco se formando, suas pupilas dilatadas, me faziam perceber o desejo de possuir minha alma, foi quando me levantei assustado e sai correndo pelos corredores escuros daquele hotel, ouvindo sua voz ecoar:

– Aqui, somos prisioneiros do nosso próprio ardil - diz ela com uma voz monstruosa, seguida por uma gargalhada sinistra. Eu procurava uma porta de saída, correndo, via todas as pessoas se divertindo com jogos de azar, banquetes e mulheres. E perto de uma grande porta de madeira estava o mesmo homem vestido com roupas da década passada, que havia me recepcionado, ele leu meus pensamentos:

–Nós estamos programados para hospedar, você pode desocupar o quarto a qualquer hora que desejar, mas nunca poderá sair - gargalhando.

Hóspedes começaram a cantar baixinho:

"Bem-vindo ao Hotel Califórnia

Um lugar tão encantador

Uma aparência tão amável

Muitos quartos no Hotel Califórnia

Qualquer época do ano, você pode nos encontrar aqui"

Esse poderia ser o paraíso ou o inferno, reflito. Caí de joelhos, e no espelho vi uma marca de tiro por onde meu sangue escorria na camisa. Minha vida passa como um filme, me despertando a memória, eu sou músico e, quando tocava em um show, ouvi um estampido, reconheci a pessoa que empunhava a arma, era meu agente, que eu havia tentado enganar para conseguir suas riquezas.

Era o inferno.


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