Kian.

Já passa das duas da madrugada e meu peito se enche de um vazio enorme. Apesar do cansaço físico, o sono não vai vir até mim. Decido me levantar e dar uma voltinha pelo jardim. Eu sei que a essa hora todos devem estar dormindo, aliás, tal como eu deveria estar. Desço as escadas e me deparo com Alice andando de um lado para o outro impacientemente.

– Acordada a essa hora? - eu pergunto, no último degrau. Ela se vira para me encarar, assustada.

– Você me espantou - reclamou ela, levando a mão ao peito.

– Desculpe - eu disse. - O que está fazendo andando de um lado para o outro desse jeito?

– Marina está na ala hospitalar. - respondeu baixinho.

– O que houve com Marina? - perguntei, receoso.

– Teve um ataque de claustrofobia - Alice franziu o cenho.

– Espero que tenha melhoras - desejei com sinceridade. Me aproximando vagarosamente dela.

– E o que você faz a essa hora? - a garota levantou as sobrancelhas.

– Estou sem sono - hesitei um pouco antes de continuar. - Minha cabeça está cheia de problemas, Lizzi. Não consigo pregar os olhos.

A morena demorou algum tempo para responder. - Não se preocupe, tudo vai ser como deve. Amanhã vai se sair maravilhosamente bem.

– Esse é o problema - balancei negativamente a cabeça. - não sei se consigo. Ser rei. Não me imagino como o meu pai daqui alguns anos; velho, cansado, colocando suas necessitadas antes das pessoas que o condenam.

– eu te entendo - Alice assentiu compreensivamente. - Kian, no fim, decida o que te faz bem. Porque quando for a hora, é você quem vai exibir a coroa na cabeça.

– Obrigado...

(...)

Na manhã seguinte, encontrei minha mãe e Amber cercadas por profissionais do castelo. As duas tagarelavam assuntos, que na minha opinião são bobos e fúteis.

Respiro fundo. Faria alguma diferença para você se eu dissesse que nada mais me importa? Me sinto cair em um buraco profundo e talvez não queira uma mão para me segurar, só que o fim chegue logo. Papai jamais me perdoaria se soubesse o que estou pensando. Me odiei por decepciona-lo.

– Kian. - mamãe me chamou. Sua voz suave me fez ruir por dentro. Avancei ao encontro de Héstia e Amber, que pousavam para o fotografo.

Mesmo que minha dor seja maior que eu, prometi sorrir. Tiramos algumas fotos, mamãe, papai, Amber e eu. Eles pareciam realmente empolgados. Fiquei imaginando o que aconteceria quando eu tivesse de dizer ....

As garotas começaram a chegar. Todas ali; Alaska Roth, Alekxandra Romanov, Nickole Sangiorgi, Aley Clair Dontson, Luana Rebecca Santiago, Gabriela, Marina Mattedi, Bianca Leonor, Alice Kingslay, Annelise Mount-Royal e Sofia Helena.

Todas pareciam tensas e receosas. A câmera focava em mim. Respirei profundamente, sentindo as entranhas congelarem. Tem gente que me conhece demais. Sabem quando eu minto. Falam que os meus olhos me entregam. E tem gente que nunca viu os meus olhos. Sinto aquela sensação ruim. De vazio. Angústia. Medo, medo do que ainda está por vir, medo do tempo, maldito tempo. Maldito Kian.

Reuni toda minha coragem antes de proferir; - A Seleção está cancelada. Todas podem voltar a suas casas, eu renuncio ao trono.

Héstia caiu desmaiada no colo do meu pai. Amber arregalou os olhos e deixou escapar um "OOO". Sean fez uma careta. Papai agarrou mamãe a tempo. As Selecionadas se entreolharam confusas.

Engulo em seco. Está feito....

– Kian, você não pode - Amber berrou, Sean a segurou, impedindo de avançar contra mim - Me solte! Você não pode ir!

– Então fique no meu lugar se quiser. - respondi rudemente. Sem pensar duas vezes, sai pela porta e a bati com força. Eu estava encrencado.... Depois dali nada teria mais volta....