Depois de um tempo tentando arrombar a porta, sem sucesso, Gustavo desistiu e deitou ao meu lado na cama. Não falamos nada, ficamos olhando para o teto.

Gustavo adormeceu primeiro, fiquei olhando para seu rosto, ele parecia exausto, olhos inchados de quem andou chorando. Será que estava realmente tão preocupado comigo? Ou haveria outro motivo?

Abracei-o, colocando minha cabeça sobre seu peito. Seja lá o que fosse nos acontecer, estava feliz de estar com ele. Não queria terminar meu dia com mais ninguém ao meu lado.

Acordei horas mais tarde, ainda era madrugada, Gustavo não estava mais na cama, estava agachado junto à porta do quarto.

– O que esta fazendo ai? – perguntei baixinho.

– Não achou que eu iria entrar aqui sem um plano B neh? – disse e me lançou um sorriso malicioso.

– Como assim? E você tentando arrombar a porta igual doido àquela hora?

– Teatro baby. – disse sem me olhar. Levantei-me e fiquei agachada a seu lado. Ouvimos um clique leve na fechadura e a porta se abriu.

Gustavo me olhou por um instante e eu entendi que não devia fazer barulho de forma alguma. Ele saiu primeiro e eu fui logo atrás dele. Estávamos em uma casa velha, quase todos os móveis eram cobertos por lençóis e eu tinha a sensação estranha de já ter estado ali antes.

Tinha certeza que em um daqueles quartos, estava Joel ou talvez Gabriel. Joel estava doido e armado com uma faca. Gabriel acreditava plenamente no pai desequilibrado e estava com uma arma.

Seguimos o corredor longo, descemos um lance de escadas e tentamos abrir a porta principal, estava trancada pelo lado de fora com uma corrente e cadeado. Seguimos por um corredor ao lado esquerdo da porta e no final dele havia uma pequena cozinha. Estava mais limpa que o resto da casa, provavelmente por ser um dos cômodos mais utilizados.

Havia uma porta no canto, ela também estava trancada com corrente e cadeado pelo lado de fora. Se eles não entravam pelas portas, como entravam ali? – pensava já quase em desespero.

No outro canto da cozinha havia outra porta menor, fui ate ela e abri devagar, dentro havia um lance de escada. Olhei para Gustavo e fiz que não com a cabeça. Ouvimos passos pesados que vindo das escadas da frente.

Gustavo veio depressa até mim e me empurrou para dentro do cômodo, fechou a porta bem devagar para não fazer barulho. Ficamos parados no topo da escada, com os ouvidos colados na porta.

Os passos pararam e começamos a ouvir barulho da água que vinha da torneira, ele parecia estar preparando algo, talvez o café da manhã. “Droga” – pensei. Se ele estivesse mesmo fazendo isso, em breve descobriria que não estávamos lá.

Comecei a descer as escadas, teríamos que encontrar uma saída por ali mesmo.

Lá era muito escuro, e tinha um forte cheiro de mofo. Havia muitas caixas, com muitos livros e outros objetos. Não quis mexer muito para não fazer barulho, porém um objeto brilhante me chamou a atenção. Uma medalha de competição de natação, nela o nome de Bárbara estava escrito em letras fundas.

Quando ia mostrar a Gustavo, ouvimos a porta acima de nós foi aberta. Deitamos no chão imundo entre as caixas. Vimos Joel com um prato na mão, ele foi para um canto mais ao fundo do porão, deixou o prato em cima de uma caixa, ficou parado um tempo ali só observando.

Gustavo ficou tão curioso quanto eu, afinal quem estaria ali? Estaria preso como nós também? Por que uma medalha com o nome da Bárbara estaria ali?

Joel então se virou e subiu as escadas novamente, fechou a porta atrás de si, e trancou.

Eu e Gustavo nos levantamos depressa. Fomos ver quem estava ali conosco?

Ao fundo havia um colchão no chão, um pinico no canto e uma pessoa em cima do colchão enrolada com cobertores. Aproximamo-nos devagar. A pessoa se mexeu e ao nos ver sentou depressa no colchão.

Aqueles olhos? Seria mesmo ela. – a encarei e reprimi um grito que quase saltou de minha garganta.