Ato 1-Skip it. Now.

Cena-2

Lily Evans

Timor-Leste. Minha vida está acabada.

Quando recebi uma proposta de emprego com dezoito anos, para outro país, minha mãe ficou extasiada. Era uma ótima maneira de começar a vida adulta, então larguei meu clube de ginástica e procurei a Sra. Genovêva - a gerente da fábrica em que eu trabalharia, que pagaria minha passagem e me entregaria os documentos e contratos. Ela disse que meu cargo seria numa empresa de sucos, em Timor-Leste, e é claro, eu seria paga de acordo.

Não era realmente o que eu queria, para dizer a verdade, mas a oportunidade praticamente havia se jogado na minha frente, o que eu poderia ter feito? Assim, embarquei num avião, sentindo que havia feito burrada.

Nessas horas, sua parte Adele dispara e canta a todo custo Set Fire To The Rain, só que sem o cara que te beija. É sério! Eu estava ouvindo a música de longe, ecoando nos meus pensamentos que eu me arrependeria daquela escolha para o resto da vida... Ou será que estava com fone? Tanto faz. Eu comecei a chorar no avião, borrando meu rosto com um rímel que Petúnia, minha irmã, havia forçado sobre meus olhos, e assim que me vi no reflexo daquela janelinha, quase vomitei. Sério, nunca queira ver uma ruiva, retardada como eu - o que é impossível -, com cara de louca , escutando músicas depressivas, saindo dos Estados Unidos para um país que tem no máximo uma página na Wikipédia, dizendo: Timor-Leste é uma ilha. A combinação é aterradora.

É mais ou menos nesse momento em que você tem a deixa para me perguntar: Por que está fazendo isso, então?

E eu respondo, com sinceridade, que se eu tivesse algum controle sobre minha vida, eu não estaria escutando Adele, para começar.

*

Devo dizer que essa foi uma das piores viagens da minha vida, contando com todas as crianças chorando e berrando pela gelatina vermelha e gosmenta do avião e os entediados, assistindo South Park clandestinamente, em seus IPads. Afinal, "quem liga" para segurança?

Mas então, quando embarquei num novo país, sem ao menos saber boa parte do idioma - Genovêva disse que haveria muitos estadunidenses, a maioria de 18 a 20 ou de 40 a 50 anos, desesperados para fazerem algo da vida, em geral - eu me desesperei. Enquanto Genô me mostrava a minha função, eu gritava por dentro.

Meu emprego era oferecer amostras de limonada para senhoras e senhores querendo gastar dinheiro na empresa de sucos, Juice-Limon.

Hoje? Faz um ano que estou aqui, e bem... Digamos que melhorou muito: Não preciso mais usar um chapéu que combinava com o uniforme.

–Ei, garota, me trás mais uma limonada. -dissera Monise, uma velha francesa com o desejo de viajar pelo mundo começando pelo fim dele. Nunca conversei com ela, de fato, só ouvi boatos de que era um pouco desagradável ficar no mesmo recinto que ela.

–Claro senhora... -forcei um sorriso -vai querer a sua limonada com ou sem açúcar?

Ela notou meu cabelo ruivo, em uma trança - regras de trabalho - e provavelmente, meu sotaque. Devia estar avaliando se eu era ou não, uma clandestina que havia pulado de um navio estrangeiro e fingindo trabalhar aqui. Por fim, disse:

–Você é estranha. Com açúcar, por favor.

E esse foi mais um dia da Lily! Uma maravilha de chatice com porções fartas de tédio!

Eu queria muito sair daqui, mas ao mesmo tempo, fico me perguntando... Vale a pena? É que... Eu não sei. Já ganho dinheiro aqui, e se do nada me for, o que o mundo tem para me oferecer? Eu tenho tudo que alguém precisa para sobreviver, e se resolver largar tudo para trás, nunca mais poderei voltar para recuperar qualquer coisa.

–Lily, -chamou Caile, um colega de trabalho -Sr. Jeremmy quer falar com você.

Genial, me chefe quer falar comigo.