Eu sempre analisei tudo em minha vida de forma meticulosa: meu futuro, minhas notas, meus relacionamentos... E ainda assim, não fora o suficiente. Algo me escapara.

              Umbridge proibiu todas as organizações estudantis de Hogwarts, uma ação no mínimo suspeita logo depois da primeira reunião do grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas. Harry e Ron pensavam que tínhamos um dedo-duro entre nós, mas eu sabia que o caso era outro. Alguém de fora nos espionara e contara tudo para a mulher.

              - Como ela ousa...! – Wood tentou exprimir sua raiva em palavras, mas todos já tinham ideia de seus sentimentos pela vermelhidão em seu rosto e seus corpo completamente tensionado, os punhos cerrados.

              - Ela realmente não está se esforçando para gostarmos dela... – George grunhiu, bufando uma mecha de cabelo para longe de sua testa e cruzando os braços enquanto se jogava no sofá da Sala Comunal.

              - Adeus, mundo cruel! – Fred exagerou, colocando a mão na testa e caindo dramaticamente em um pufe, murmurando algo depois que seu rosto estava afundado em almofadas.

              - E agora? – Ouvi as meninas do time protestarem.

              - Merlin, não é tão grave assim! – Finalmente me expressei, atraindo os olhares indignados de todos, incluindo Ron e Harry.

              - Hermione, eu achei que você me entendia! – Fred dramatizou, humoradamente ultrajado, levantando do pufe.

              - Eu acho que você não entende a seriedade do assunto, Granger. É mais do que apenas um jogo, tem um valor simbólico e histórico para... – Wood começou um longo discurso sobre Quadribol, e sabia que não pararia nunca mais.

              - Vocês ainda podem jogar, só que os jogos não serão oficiais. Simples. Não é como se vocês nunca mais fossem encostar em uma vassoura! – Protestei, e embora o ultraje continuasse o mesmo em todos na sala, eles não tinham argumentos tão fortes. O que ninguém ali percebia era que não importa se eles fossem pegos jogando Quadribol com a escola inteira assistindo: não seria nem de longe tão sério quanto se descobrissem as aulas fora da programação, ainda mais com Harry como professor.

              - Deixe-nos lamentar nossa perda, sua insensível! – George choramingou, brincando.

              - Ela não entende nosso luto, George. – Fred entrou na brincadeira, fingindo cobrir as lágrimas e se levantando para vir sentar ao meu lado. Ele se esparramou no sofá, colocando a cabeça em meu colo e olhando para mim enquanto eu corria os dedos por seu cabelo.

              - Se serve de consolo, prometo que vou em todos os seus jogos não-oficiais. – Sussurrei para ele, recebendo um sorriso radiante e um beijo um tanto difícil por causa de nossa posição em resposta.

O dia seguinte passou lentamente, como todos nos últimos tempos. O ponto alto do meu dia foi, surpreendentemente, a aula de Snape: todos tinham que confessar que sua visível irritação com a presença de Umbridge em sua aula foi impagável.

No entanto, Edwiges apareceu com sua asa em um ângulo estranho e suas penas arrepiadas, segurando uma carta de Sirius na pata, que marcava uma nova conversa conosco. A professora Grubbly Plank concordou em ajudar a coruja, mas havia algo em minha mente que insistia em dizer que os ferimentos eram um sinal de que Umbridge estava, de fato, interceptando as cartas de Harry.

Quando conversamos com Sirius na lareira, meu peito se encheu de orgulho quando o padrinho de Harry mostrou grande entusiasmo com nosso grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas, e nos encorajou a continuar com nosso projeto. No entanto, não tive tempo de mencionar o incidente da carta quando nossa conversa foi interrompida pela mão de Umbridge tentando agarrar Sirius por entre as chamas.

Todos foram para suas camas, e quando eu estava prestes a ir para meu quarto junto com eles, Fred me puxou pelo braço para fora da Sala Comunal.

              - Tenho uma coisa para te mostrar. – Ele sussurrou, pressionando seu corpo contra o meu em uma parede. Ele me estendeu a mão, e o olhei com uma sobrancelha levantada.

              - Olhe a hora, Fred. Sinto muito, mas não podemos fazer isso agora. Não pode deixar para amanhã?

              - Por favorzinho? – Fred fez um muxoxo. – Prometo que vai ser especial!

              - Fred, já fizemos isso uma vez, e prometi a mim mesma que seria a última. Deixa para amanhã, tudo bem? – Segurei suas mãos nas minhas, tentando decifrar seus olhos.

              - Tá bom... – Ele respondeu, me lembrando uma criança contrariada. Dei um beijo rápido em seus lábios e fui para meu quarto, murmurando um “Desculpe” no caminho.

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              - George? – Chamei-o enquanto ele caminhava para guardar seus cadernos surrados antes do almoço.

              - Mione, você não reconhece seu namorado quando o vê? – Ele disse, com cara de ofendido e com a mão no coração.

              - George, eu sei que é você. – Respondi, depois de uma breve análise só para ter certeza.

              - Não me culpe por tentar, estou carente. – O ruivo brincou. – Enfim, em que posso ser útil?

              - Eu sei que você conhece Fred melhor do que ninguém. – Ele assentiu, revirando os olhos como quem ouve que o céu é azul. – Como você sabe quando Fred está magoado de verdade?

              - Ah, essa é fácil. – George riu. – Ele tenta agir normalmente, mas é bem óbvio que não tá tudo bem. E ele fica sarcástico de um jeito mais rancoroso. É até engraçado vê-lo tentando fingir que não tem nada de errado...

              - Mas você acha que ele ficaria muito triste se, hipoteticamente falando, ele estivesse muito animado para mostrar algo a alguém e essa pessoa educadamente recusasse por bons motivos? – Falei, fazendo George gargalhar à menção das palavras “hipoteticamente” e “alguém”.

              - Bom, essa pessoa hipotética e totalmente imaginária teria que pedir sérias desculpas hipotéticas e totalmente imaginárias. – Ele sorriu. – Enfim, sério agora, eu sei o que ele queria te mostrar, e é uma pena que você tenha perdido a chance... – George provocou, sabendo que eu ficaria curiosa.

              - E você não estaria nem um pouquinho inclinado a me dizer o que é?

              - Nem um tiquinho, Granger. - O ruivo cruzou os braços em uma pose convencida.

              - Nem se eu fizesse uma das suas tarefas? – Tentei.

              - Na-na-ni-na-não.

              - Por favor, George?

              - Vai ter que descobrir sozinha. Isto é, se o Fred quiser mostrar depois desse seu vacilo... – Ele provocou mais uma vez antes de se despedir com uma piscadela. Bufei e fui em busca de Harry e Ron para irmos comer.

               Todos os times de Quadribol festejaram como se fosse o Natal quando Umbridge permitiu que as equipes fossem reorganizadas.

              - Eu vou dar um beijo naquela mulher! – George comemorou.

              - Vai que ela vira princesa... – Comentei, esquecendo que eles não entenderiam.

              - Não peguei essa, Mione. Será que suas piadas estão ultrapassando a velocidade das nossas? – O ruivo exclamou com horror.

              - É uma história trouxa, de uma princesa que transforma um sapo em um príncipe com um beijo.

              - Mas isso é uma coisa perigosa de se ensinar para crianças! Que tipo de pais são esses trouxas? – George disse, escandalizado. – Vou ter que vigiar os filhos do meu irmão se você for ensinar esse tipo de coisa para as criaturinhas...

              - George, nós não temos nem... – Comecei uma explicação, quando George piscou e me interrompeu, dizendo que já sabia.

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              Depois de adormecer na Sala Comunal e dizer ter tido uma conversa com Dobby, Harry convocou um encontro do grupo. O elfo mostrara uma sala que só aparecia quando era necessitada, e se chamava Sala Precisa. Era perfeito, não aparecia nem mesmo no Mapa do Maroto, e quaisquer vestígios externos da existência do cômodo desapareciam assim que todos estivessem dentro dela.

              Antes, no entanto, tínhamos que escolher um nome para a associação. Cho sugeriu que usássemos a sigla A.D, para Associação de Defesa, mas Gina teve a ideia de usar as mesmas letras para significar Armada de Dumbledore, e assim ficou decidido. Escrevi o título em um pergaminho, juntamente com os nomes de todos e pendurei na parede.

              O treinamento começou: era fácil sentir que todos estavam dando o melhor de si. Eu desviava o olhar sempre que encontrava com o de Fred, mas fora isso a reunião correu sem maiores eventos.

              Saímos da sala sorridentes, tentando não levantar suspeitas e saindo em pares ou trios. Fred e eu sobramos, e aproveitei a chance para fazer as pazes com ele.

              - Fred, me desculpe. – Puxei sua manga enquanto ele estava prestes a sair com George, que me lançou um sorriso e um sinal de positivo com a mão para me encorajar enquanto ia embora da Sala Precisa. – Eu sei que você só queria fazer uma surpresa, e que deve ter dado muito trabalho para preparar.

              - Eu não fiquei bravo, Mione. Eu entendo seu lado, e é totalmente compreensível que você não queira se arriscar agora. – Ele sorriu calorosamente. – É que o que eu quero te mostrar é realmente muito especial, e acho que você vai gostar.

              - Merlin, será que você e George nunca vão me contar o que é? – Protestei, rindo.

              - Estou surpreso que aquela matraca não deu com a língua nos dentes até agora... – Fred ponderou, também risonho. – Era de se esperar que alguém tão inteligente como você soubesse que o ponto principal de uma surpresa é o segredo.

              Revirei os olhos e estendi minha mão.

              - Vamos, então?

              - Vamos.

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              O tão esperado jogo contra a Sonserina chegara, e tão esperadas quanto a partida em si foram as provocações da casa inimiga que todos sabiam que seriam lançadas a nós. Malfoy aparentemente desistiu de perseguir Harry e resolvera atacar Ron: todos os membros da Sonserina usavam broches que diziam “Weasley é nosso rei!” e cantarolavam uma música que zombava das habilidades de Ron.

              - Mione! – Fred me abordou na mesa do café. Engoli minha torrada antes de me virar para ele, e mal tive tempo de cumprimentá-lo quando um cachecol foi enrolado no meu pescoço. Fred me puxou para um beijo pelas pontas de lã do acessório, me fazendo corar. – Para dar sorte. Te vejo no campo!

              Durante o jogo, o coro foi ainda mais forte que na mesa do café: Ron errou muito por causa do nervosismo que as provocações causavam. Fred sempre sorria quando seus olhos percorriam a plateia e me encontravam, mas sem deixar que isso atrapalhasse seu desempenho. Finalmente, Harry pegou o pomo e acabou com aquela partida sofrível. Fui para o campo comemorar, e Fred me puxou para um beijo arrebatador no meio das comemorações, me segurando pela cintura e deixando seu corpo se sobrepor ao meu como naqueles clássicos beijos que só se via no cinema. [N/A: https://67.media.tumblr.com/fb2363a3b26f9d7fab50bc6f2819fa44/tumblr_oaeulukva01vrph23o8_250.gif GIF DE GLEE PORQUE SIM!]

O momento não durou muito tempo. Mal tive tempo de me separar de Fred e a multidão já me carregava para longe, mas consegui ver um dos gêmeos e Harry pularem em Malfoy, que estivera gritando insultos com seus amigos. De longe, não consegui reconhecer qual dos irmãos era, mas me preocupei quando os dois envolvidos foram mandados ao escritório de McGonagall.

              Esperei na Sala Comunal ansiosamente, tentando focalizar meu olhar no dever de casa em minha frente. Fred entrou no recinto e disparei até ele.

              - Era você?

              - Se você se refere ao homem gostoso rebatendo todos os balaços perfeitamente, sim, era eu mesmo, obrigada. – Ele deu uma piscadela e um sorriso charmoso, e dei um tapa em seu ombro.

              - Fred, foi você que brigou com Malfoy junto com Harry ou não? – Bufei, impaciente.

              - Quê? Teve uma briga e eu perdi? Droga, eu sabia que devia ter ido no banheiro antes do jogo para não ficar com vontade depois... – Ele grunhiu, desapontado. – Aliás, conte os detalhes! Que orgulho do meu irmãozinho, criei-o tão bem!

              - Eu não vi muita coisa, só sei que quando a Grifinória ganhou, Malfoy começou a berrar insultos e só consegui ver Harry e George pulando nele. Eles foram mandados para a sala da McGonagall.

              Minha surpresa foi inimaginável quando, logo depois de Minerva estabelecer uma punição de uma semana de detenção para cada um, Umbridge adiciona mais um decreto educacional: ela agora tinha autoridade sobre todos os castigos. McGonagall obviamente ficou furiosa, mas estava impotente para fazer qualquer coisa senão observar George, Harry e Fred (que nem na briga estava envolvido) serem banidos de qualquer tipo de jogo de Quadribol.

              - Eu nem estava envolvido! A mocreia tá despirocada! – Fred protestou na Sala Comunal, bufando e se jogando no sofá.

              - Fred, você tecnicamente ainda pode jogar... – Tentei.

              - Com que vassoura, Hermione?

              - Ela confiscou as vassouras? – Exclamei.

              - Sim. – Harry grunhiu, inconsolável.

              Ron ficou para tentar animar Harry, e eu puxei Fred para fora da sala.

              - Quer me mostrar a sua surpresa? – Tentei, tirando minha última carta da manga. Afinal, se era uma coisa tão importante, com certeza animaria ele.

               - Tem certeza? – Ele ergueu uma das sobrancelhas, cético.

              - Contanto que você prometa que vamos tomar cuidado e que não seremos pegos, sim.

              - Então eu prometo! Vem logo! – Ele sorriu, me puxando para a passagem que reconheci como a que levava para a Dedosdemel. Saímos no ar frio de Hogsmeade, e Fred apertou seu abraço em mim. – Ok, agora feche os olhos.

              Sem pestanejar, deixei que ele me guiasse pela rua, e aos tropeços, chegamos em um batente. Ouvi uma chave entrar em uma fechadura e fui conduzida para dentro do lugar, batendo a cabeça em alguma coisa no caminho.

              - Fred, eu não sei quantas vezes já tropecei, bati o pé e outras partes do corpo nessa caminhada. – Abri os olhos involuntariamente para falar com ele, e só recebi os braços abertos de Fred em resposta, mostrando o lugar.

              - Bem-vinda à Gemialidades Weasley, Hermione Granger! – Fred se empoleirou em um corrimão e gritou suas saudações para mim, e sinalizei para que ficasse quieto. O lugar estava em fase de construção, com paredes pintadas pela metades e inúmeras caixas espalhadas pelos cantos. Haviam cordas, estátuas de plástico cômicas e mais milhares de acessórios amontoados, e consegui visualizar de cara o que eles tinham em mente para a tão sonhada loja.

              - Fred... Como vocês conseguiram?

              - Não conte para ninguém, mas Harry nos deu o prêmio do Torneio, e ainda por cima usei o dinheiro que ganhamos com nosso trabalho suado nas esquinas do mundo bruxo... – Fred brincou com uma piscadela, me fazendo rir.

              - Estou tão orgulhosa de vocês, Fred! – Pulei em seus braços, apertando-o em um abraço de urso que ele retribuiu logo que o recebeu, tirando meus pés do chão e me rodopiando até que caíssemos em uma caixa de doces esquisitos.

              - Aqui vai ficar uma menina vomitando as Vomitilhas em um pote... – Ele apontou para um espaço vazio enquanto me conduzia saltitando pela loja. – Aqui vai ter um stand felpudo rosa para as coisas da Bruxa Maravilha, ideia do George.

              - Como vocês estão fazendo tudo isso? – Indaguei. Não achei que sobraria dinheiro para uma tropa de construção, então eles teriam que estar fazendo alguma coisa.

              - Toda noite nós usamos a passagem da Dedosdemel para vir aqui, fazer as coisas e voltar. Aí para dormir usamos aqueles comprimidos azuis que te dei no começo do ano passado, só que agora eles têm nome: Sono Reciclável.

              - Fred, vocês dois são gênios.

              - E tem mais.

              Fomos para onde ficariam os caixas, e Fred abriu uma porta que se esconderia dos olhos do público. O cômodo revelado era simples: haviam pufes embalados em plásticos, almofadas e um sofá que parecia vindo do porão dos Weasley. Haviam balcões e mesas, e parecia principalmente ser um lugar que os gêmeos e os funcionários usariam nas folgas ou para relaxar.

              - Vai ser principalmente para sair de tudo, mas quando você estiver aqui pode ter outros propósitos. – Ele murmurou em meu ouvido, sorridente, enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.

              - Como o quê? – Sussurrei, me virando para ele e colocando os braços ao redor de seu pescoço enquanto me esticava para olhá-lo em seus olhos.

              - Almoçar, é claro! Hermione, você anda com uma mente muito suja! – Ele brincou, gargalhando.

              - Como eu não pensei nisso antes? É óbvio! – Ironizei, rindo também.

              - Ou podemos fazer isso...

              Fred me colocou em cima de uma bancada rápida e avidamente, segurando os dois lados de minhas coxas e se colocava entre elas, prensando seus lábios contra os meus. Corri meus dedos em sua nuca, puxando-o com força mais para perto. [N/A: http://66.media.tumblr.com/cf49767181f98fed0c5eb23cbdb10c8f/tumblr_obuqxpm0rO1tsjizho1_500.gif ] 

              - Gostou da surpresa? – Ele ofegou, sorrindo orgulhosamente.

              - Não poderia estar mais orgulhosa.