SEXTA FEIRA: São quase cinco horas da tarde, e eu não vejo a hora de correr até a rodoviária. Serão seis horas de viagem ate Jacarandá, a cidade da minha infância.

Após uma longa viagem tive que descer no meio da estrada e ir até a única pousadinha.

No dia seguinte fui a imobiliária, consegui vender a casa e legalizar tudo no cartório. Faltava esperar mais duas horas para pegar o ônibus de volta a São Paulo. Achei uma lojas de doces, comprei para minha mãe pois ela gostava muito deles e ao sair uma moça me perguntou as horas.

Era a Anne, minha amiga de infância. Estava triste, parecia mais velha, cheirava a cigarro e a bebida e usava um velho moletom cinza. Logo depois veio o marido. Eu o reconheci, era Carl, meu melhor amigo da infância. Ele tinha ganhado uma bolsa de estudos para Harward, mas estava tão diferente. Estava magro, curvado, gaguejava e parecia levemente retardado. Fiquei muito triste ao vê-lo assim, o que havia acontecido com ele?

Após ele ter ido, eu e Anne caminhamos pela cidade e paramos na frente de uma fonte. A fonte de Jaca com Landa. Ela sugeriu que fizéssemos pedidos para a fonte. Ela queria sair da cidade, ser livre e viajar pelo mundo. A minha vida era assim, mas eu estava sozinha. Talvez um marido e filhos eram o que me faltavam.

Anne fez o seu pedido e agora era a minha vez:

— Eu...eu..se eu pudesse...mudaria tudo... seria diferente...

Então, de repente senti algo, uma sensação de dejá vu e mudei de idéia:

— Mudaria tudo...seria diferente... mas sempre haveria desafios... tristezas e alegrias... eu não quero perder tempo me arrependendo...lamentando se escolhi certo ou errado... não quero isso... eu desejo... que seja tudo como Deus quiser.

— PLOC

— PLOC

— Amém...

— PLOC

— Que foi?

            - Pareceu que foram três moedas.

            - Não, uma deve ter ricocheteado.

            Quando voltei, mamãe tinha feito o jantar e estava vendo novela. Fui deitar tranqüila, mas pensando no Carl.