Senti alguém cutucando o meu braço e abri os olhos. Chloe estava na minha frente, quase caindo de tanto sono, e parecia impaciente.

— Minha querida, você é surda ou o quê? – Ela perguntou num tom irônico – Estou te chamando há uns dez minutos!

— Que horas são? – Perguntei meio sonolenta

— 6h. Ou você levanta, ou eu te deixo aqui e você perde a aula.

— QUÊ? Nós só temos que acordar às 8h!

— Não no Brasil, amada. As aulas começam às 7h aqui, esqueça a sua rotina escolar de Londres.

— Eu tinha me esquecido completamente. – Falei e pus a mão na cabeça, que latejava

— Ih, passou a noite acordada pensando no crush?— Ela perguntou enquanto ria

— Crush? Como assim? – Perguntei confusa e ela pareceu lembrar de algo

— É uma gíria brasileira. Crush é o alguém que você gosta ou até ama, que no seu caso, é o Harry.

— Isso não faz o mínimo sentido. Brasileiros são estranhos, isso é até legal.

— Sim. Mas, continuando, não dormiu esperando uma mensagem, né? – Ela perguntou com um sorrisinho e eu gargalhei

— Que ridículo, claro que não fiz isso. – Falei e ela ergueu as sobrancelhas

Ok, aquilo era mentira. Não sabia como a Chloe havia acertado em cheio, mas ela o fez. Era impossível dormir pensando que poderia perder uma mensagem estilo Harry Styles. Curtas, no meio da madrugada e fofas. Eu só fui idiota, porque o sol nasceu e eu não recebi nada dele, nem de ninguém.

— Você falou com algum deles? – Chloe perguntou e eu neguei

— Não sei. Acho que nada. – Falei e peguei meu celular.

Ok, eu estava completamente enganada. Haviam mais mensagens do que imaginava. Depois de muito tempo, tipo dois minutos, eu consegui lê-las. Dentre elas estavam:

“Eu quero que volte agora, dê um tapa no Harry, mande ele virar homem e depois vá embora. Mentira, a fossa dele é uma fonte de comédia para mim. Eu deveria me sentir mal por pensar assim? Eu não ligo. Xx Louis”

“VOLTE AGORA, EU MEIO QUE ESTOU MORRENDO DE SAUDADES. Xx Zayn”

“Ok, porque você não está comigo no corredor indo em direção a aula de química? :( Xx Mackenzie”

“Eu não acredito que você foi para o outro lado do mundo e não lavou o banheiro antes! Xx Els”

“Peixinho, peixinho, peixinho nadando num rio de tomates raivosos e famintos. Xx Niall”

Eu estava acostumada com os tipos de mensagens do Niall. Mostrei as mensagens para Chloe, e ela engasgou de tanto rir quando viu a do Niall.

— MEU DEUS! GENIAL, NIALL! – Ela falou e continuou rindo, como se aquilo realmente fizesse sentido

— Vocês tem o mesmo tipo de doença mental? – Perguntei e ela assentiu

— Ok, temos aulas para assistir! – Ela falou e me empurrou para dentro do banheiro

Tomei um banho e me vesti, rezando para que o dia não estivesse muito quente, pois não tinha uma roupa apropriada para o calor. Caminhei até a cozinha e havia um bilhete na geladeira. Falava sobre algo como a minha tia ter ido trabalhar e pedindo para que nós a desculpássemos.  Peguei uma maçã em cima da mesa e fui até a sala.

— CHLOE! TEMOS QUE IR! – Gritei

— ESTOU SAINDO! – Ela gritou de volta

Chloe saiu saltitante do quarto e eu a encarei com os olhos arregalados.

— Você sabe que nós só vamos até a escola, certo? – Perguntei e ela assentiu

— Só que, diferentemente de Londres, há no máximo um garoto bonito na escola. Fazemos o que pudemos para chamar a sua atenção. E com bonito, eu quero dizer lindo, uma amostra grátis de um anjo ruivo.

— Isso é ridículo, mas tudo bem. – Falei e ergui as mãos – E sua paixonite-extremamente-obsessiva-e-irritante pelo Malik?

— Continua. Meu coraçãozinho está em Londres, mas meu cérebro não. – Ela falou e eu gargalhei – Você deveria pensar nisso.

— Acho que deixei os dois naquele aeroporto. – Falei e ela rolou os olhos

[...]

Uma aula que nunca vai deixar de ser chata, em qualquer país, sempre será a de álgebra. O professor parecia altamente irritado, mas os alunos não ligavam. Com uma batida na lousa, ele conseguiu a atenção desejada. A aula seguiu de maneira tediosa, até que senti meu celular vibrando no bolso. O peguei e li da maneira mais discreta que consegui.

“Eu gostava bem mais da aula de geografia quando tinha alguém para dormir no meu ombro. Xx Harry”

Passei alguns segundos, ou minutos, analisando aquela mensagem e sorri. Ouvi um pigarreio e soltei o celular, que caiu dentro da bolsa.

— Celulares não são permitidos na sala de aula, Karinna. – O professor que-eu-nem-lembro-o-nome falou e estendeu a mão em minha direção

Eu bufei e entreguei o celular, o fazendo sorrir sarcástico.

— Começou o ano bem, novata. – Ele falou com desprezo

— Tendo você como professor, comecei com todo o azar possível. – Falei em alto e bom som

— Fora. – Ele falou furioso e apontou para a porta

Eu sorri e saí em direção a porta. Sim, primeiro dia de aula e eu já ia conhecer a sala da coordenação.

Caminhei pelos corredores da escola, até chegar na diretoria. Uma mulher mais velha pediu que eu esperasse em uma das cadeiras que ficavam ali, pois havia um garoto na sala. Eu fiz o que ela pediu e passei um tempo olhando a parede da sala de espera.

— Ei, você é britânica, né? – A mulher me perguntou sorridente

— Na verdade, sou brasileira, mas estava morando na Inglaterra. – Falei e ela assentiu

— Bem, eu... – Ela começou, mas parou quando um garoto ruivo passou pela porta da sala da diretora, com a maior cara de despreocupação, como se tudo aquilo fosse quase um dever.

— Hoje tem chá, Beth? – Ele perguntou enquanto ria e sentava ao meu lado

— Muito engraçadinho, você! – Ela falou e ele deu de ombros

Ele não estava me olhando, então pude encará-lo à vontade. Ele parecia não ter me notado ali, mas quando seus olhos se encontraram com os meus, eles se arregalaram e sua boca fez o formato perfeito de um “O”. Ele me encarou até perceber que eu estava confusa, e desviou o olhar. Ele parecia ter tomado um choque ali mesmo, de tão arrepiado. Eu o encarei, até que ele me dirigisse alguma palavra.

— Perdeu algo? – Ele falou num tom grosso e eu neguei

— Não. E você? Achou sua educação? – Perguntei e ele riu

— Você é mais nariz empinado do que eu poderia imaginar. – Ele falou e desviou o olhar – Qual é o seu nome?

— Karinna. – Falei e ele suspirou

— Achei que você iria morrer lá. – Ele falou enquanto ria fraco

— Você me conhece? – Perguntei, mesmo sabendo a resposta

O rosto daquele garoto era tão familiar.

— Mais do que você pode imaginar. – Ele falou num tom arrogante – Prazer, sou o Caio. Mas acho que você já me conhece.