Fazia seis anos que aquele bilhete chegara a Elsa. Seis anos que o colar repousava em seu pescoço dia e noite. Seis anos que ela mantinha a janela aberta, onde quer que ela esteja.

Naquela noite, observava as estrelas pela varanda de seu castelo. Há algumas horas, escapara de sua própria coroação. Quase machucara Anna novamente, e se culpava por isso. O gelo e o frio que nunca a incomodara, quase tiraram a vida da pessoa a quem mais amava. Embora tenha sido acidental, Elsa não conseguia pensar que, se ela tivesse se controlado, se tivesse esperado mais um pouco, insistido para que Anna conversasse em particular com ela, tudo seria diferente. Tudo estaria bem, ela estaria comemorando o noivado de sua irmã junto com os convidados, talvez tivesse aberto os portões por mais tempo. Talvez... Não, estava delirando. Mesmo se tivesse feito tudo isso, Jack Frost não voltaria.

Porque ele partiu? Porque demora tanto para voltar? Porque me abandonou? Porque, quando eu mais precisei, ele não esteve ao meu lado, como prometeu? Por quê?

Perguntas como essas rondavam sua mente todas as noites, antes de adormecer. O amigo que a acompanhou desde que começou a viver trancada no quarto fora embora no seu aniversário de 15 anos. Ela, como sempre, correu para a janela na primeira oportunidade que teve. Mas Jack não estava lá. Nem quando a festa terminou, ou na semana seguinte. Nem quando os pais de Elsa faleceram, muito menos quando Anna cantou pela última vez na sua porta.

Ela sentia como se tivesse perdido parte de si. Nunca conseguiu se sentir completa novamente, nunca. Nem quando se dava ao luxo de brincar um pouco com a neve. Ela se afastou de tudo o que poderia a fazer lembrar-se dele, escondeu todos os pequenos presentes em um canto do armário e quase jogou fora o lindo vestido, mas não pode tirar o colar. Quando tirava, ela se sentia desprotegida, como se algo, ou alguém, a vigiasse. E, de certo modo, era a única coisa que realmente a ligava com Jack.

Quando sua coroação se tornou inadiável, ela pediu para a Lua o trazer de volta. Mas ela não a respondeu. Porém, naquela noite, Elsa sonhou com o albino que sempre a fez rir. No sonho, ele pedia desculpas. Estava ajoelhado no chão de um lugar desconhecido à Elsa, parecia estar preso e ferido, e sempre repetia a mesma coisa. “Elsa me perdoe. Eu não posso pará-lo”. Ela não entendia o que aquilo significava, não sabia por que sonhava com aquilo. Os olhos de Jack, aqueles olhos cheios de esperança e luz, pareciam ter se apagado, como se uma sombra tivesse tomado conta deles. O sonho se repetiu por alguns dias, até que ela finalmente desistiu da ideia de Jack voltar a vê-la.

Culpa dele ou não, Elsa o esqueceu, parcialmente. Já não sonhava com o menino de cabelos brancos, já não lembrava quem lhe dera o colar, já inclusive o tirara para dormir. Mesmo com aquela sensação de estar sendo vigiada, Elsa dormiu sem o colar que a fazia tão bem.

Mas naquela noite, colocou novamente o colar, mesmo que esse ficasse escondido sobre a pesada capa. Ela queria ter um pedaço de Jack consigo para essa apresentação.

Jack era de um jeito ou de outro parte da história dela, parte de sua infância e adolescência. Parte dela. Uma parte que ela queria mais que tudo esquecer.

Mas olhar o céu pela varanda na noite de sua coroação a lembrava dele. Agora, segura e em paz no seu castelo, ela chorava. Chorava por Anna, a quem amava, mas que deixou para trás. Chorava por seu povo, que merecia uma rainha melhor. Chorava por si mesma, desejando ser normal. Chorava por Jack, querendo que ele a tomasse nos braços e ninasse, sussurra-se no seu ouvido até ela dormir, como fez tantas vezes.

Mas de algum modo, ela sabia que não era possível. Elsa sabia que ele estava distante, sabia que ele não viria, talvez nem se importasse.

Ele não se importa, pensou, deve estar muito ocupado com todas essas coisas de Guardião para lembrar-se de mim.

Elsa recuou, balançando a cabeça para afastar esses pensamentos de sua mente. Ela não sabia que horas eram, mas tinha certeza que deveria ser tarde. Ao cantar e liberar todos os seus poderes, se sentiu exausta. Nunca os usara com tanta força e por tanto tempo, também nunca chorara tanto quanto aquela noite. Só queria se encolher embaixo dos finos cobertores que criara e adormecer, esquecer seus problemas por um tempo. Olhou mais uma vez para a enorme Lua Cheia no céu antes de dar as costas e fechar a porta da varanda. Partiu para seu quarto, parando à frente do espelho. O colar destacava-se contra a pele pálida de seu pescoço, sendo a primeira coisa em que seus olhos focaram. Ela suspirou, criando uma camisola e a vestindo logo em seguida. Olhou-se no espelho novamente e, num impulso, arrancou o colar, caminhando até a porta de entrada. Com lágrimas nos olhos, lançou o colar escada abaixo, o vendo parar no último degrau, já percebendo que aquela sensação voltara. Olhou ao redor, sem avistar ninguém. Entrou no castelo, abraçando-se tentando afastar o sentimento. Em poucos minutos, deitada confortavelmente em sua cama, adormeceu.

E, pela primeira vez em meses, sonhou com Jack Frost.