“Olá omma. Sei que não é comum eu vir aqui aos fins de semana, mas eu queria muito lhe contar uma coisa que aconteceu ontem. Muito mesmo. Mas acho que seria mais fácil lhe contar narrando a história e dizendo como me sentia... Espero que não fique muito extenso. Será que é problema se eu colocar o nome flashback? Acho que não... A senhora sabe que eu gosto dessas coisas estilo livro, certo?! Bem, vamos lá.

Flashback on

Já era sexta feira, e como eu e SungMin sempre fazíamos nos dias pares –segunda, quarta e sexta- estávamos saindo do cemitério. O clima estava cada vez pior esses tempos, e descobri que meu amigo era muito friento.

Hoje ele teria que ir andando para sua casa, pois havia perdido o seu dinheiro do ônibus, e eu até lhe ofereci dinheiro, mas ele não aceitou, então resolvi lhe acompanhar até sua casa, mesmo sob seus protestos quanto a isso.

Andávamos lado a lado e eu comecei a reparar em SungMin. Ele esfregava as mãos freqüentemente, tentando esquentá-las. Pelo que eu entendi, suas luvas haviam descosturado e ele teria que costurá-las novamente neste fim de semana.

Assim que passamos em frente a uma loja de roupas de frio eu puxei SungMin para dentro junto comigo, logo fui em direção a área de luvas para frio e encontrei a luva perfeita. Rosa, da cor da toca que o mesmo tanto usava, com um desenho de morango nas costas dela. Não hesitei em comprá-la para ele, sempre sob protestos.

– Não precisava, KyuHyun. Eu ia costurar as minhas e... – cortei-o, pegando-lhe as mãos e colocando as luvas uma em cada mão.

– É um presente, Min... Posso... Chamá-lo assim? – perguntei, segurando suas mãos com as minhas após colocar as luvas corretamente.

– Claro, Kyu...

Sorri para ele e soltei uma de suas mãos passando a andar junto consigo, nossas mãos ainda juntas. Minha luva vermelha em contraste com suas rosas com um morango. Eu nunca mais esqueceria aquele nosso contato.

Flashback off

Omma, não quero que me odeie, principalmente porque não estas mais comigo para me dizer o que fazer, só quero que saiba que eu estou deixando-me aproximar de SungMin. E tenho medo disso. Por favor, se achas que eu deveria me afastar, avise-me. Dê-me apenas um sinal. E eu irei afastá-lo.

Bem, era apenas isso que eu queria lhe contar. Nunca irei lhe esquecer, omma.

Saranghaeyo, de seu filho KyuHyun.”

**.**

Faz duas semanas que comecei a falar com ele. Dois dias desde que lhe dei as luvas. E hoje finalmente irei vê-lo novamente. Espero verdadeiramente que ele esteja com o meu presente consigo.

Logo me sentei em minha costumeira cadeira, aguardando a vinda de meu colega de mesa. Estava tão concentrado na janela e em meus pensamentos que me assustei ao notar dois garotos sentando-se à mesa em frente a minha. Eles pareciam bem próximos.

Um deles tinha os cabelos normais, castanhos, pelo que pude ver de onde estava, mas o cabelo do outro era, digamos... Bem chamativo! Em um loiro no formato de cuia. Realmente ele não passaria despercebido. Como será que não reparei em si antes?

Logo eles notaram meu olhar sobre eles e me olharam sorrindo, fazendo-me desviar o olhar rapidamente. Tenho que começar a tentar ser mais discreto. E pelo que parecia eles iriam vir falar comigo se certo bochechudo não sentasse do meu lado na mesma hora, olhando-me de soslaio.

Sorri em um esticar de lábios pra ele, como de costume, e peguei sua mão por debaixo da cadeira, reparando nas luvas que havia lhe dado. Quase mostrei os dentes ao ver que ele ainda a usava, mas me controlei. Logo ele tirou suas mãos das minhas delicadamente, e reparei que ele olhava em volta com medo de alguém ter visto algo.

Ato realmente fofo, mesmo para um garoto.

Logo vi ele tirando as luvas e guardando-as em sua mochila ao mesmo tempo em que o professor de redação entrava na sala. Vir-me-ei para frente, reparando que os garotos da cadeira da frente ainda cochichavam algo um com o outro e riam. Mas logo minha atenção foi tirada deles ao sentir SungMin me cutucar e vi ele estender-me um papel.

Não demorei a pegar o papel e abri-lo em cima do caderno, vendo se o professor nos olhava, mas o mesmo estava ainda copiando algo no quadro. Logo não hesitei mais em ler o que tinha escrito ali.

“Eu quero lhe dar algo na hora do recreio. Tudo bem?”

Estiquei os lábios, lembrando-me do fato de SungMin ter a mania de chamar o intervalo de recreio. Logo olhei para ele que me olhava de soslaio e assenti com a cabeça, vendo-o sorrir de leve também. Logo guardei o papel em meu estojo junto com os outros poucos papeis que havíamos trocados durante as aulas.

E logo que olhei para o quadro, pude notar que tinha ali um trabalho. Sim, trabalhos em plena quarta semana de aula. Assim fica complicado. E para piorar, estava ali que o trabalho era em equipe.

– Bem, alunos, atenção. Estamos no nosso ultimo ano antes de entrarmos para uma boa faculdade. Nessas primeiras aulas nós fizemos um resumo de todos os tipos de texto e agora eu quero praticar isso com vocês. Quero equipes de quatro pessoas, sim, quatro. Nem mais, nem menos. Eu contei o tanto de alunos e dará o numero certo. Esse trabalho será para daqui a duas semanas. Vocês escreverão uma história. Pode ser extensa ou curta, vocês escolhem. Mas tem que ser de um fato cotidiano, como nas crônicas. Todos farão juntos, cada um me indicará a parte que escreveu no trabalho escrito para me entregar. Já a apresentação, cada um pode ler a sua parte, ou apenas um lê. Isso fica a mérito de vocês. A pontuação será geral. Bem, é isso. Podem formar suas equipes e juntar suas cadeiras. Vocês têm o resto da aula para decidir sobre o que vão fazer e até começar se quiserem. Qualquer duvida venham a minha mesa.

Eu e SungMin nos olhamos e sorrimos um para o outro. Com certeza faríamos juntos. Mas... E os outros dois? Eu realmente não iria falar com mais ninguém, e acho que SungMin também não, então... O jeito era esperar os que sobrassem.

– Hei, vocês – olhei para cima e vi os dois garotos das cadeiras em frente a nossa falarem conosco – querem fazer com agente? Estamos apenas nós dois e eu vi que vocês não estão com ninguém ainda, então...

Eu e SungMin apenas assentimos com a cabeça e vi o de cabelos pretos apertar as próprias mãos embaixo da mesa. Logo ouvi o garoto loiro perguntar algo sobre juntar as mesas deles na nossa e apenas assentimos novamente.

Não demorou a estarem os dois sentados na nossa frente falando animadamente sobre algumas de suas idéias. Eu permaneci calado, notando o desconforto de SungMin. Para passar-lhe mais confiança, pus minha mão sobre as suas que continuavam entrelaçadas. Logo tinha seu olhar sobre mim de forma um pouco assustada.

Estiquei os lábios pra ele, tentando lhe passar mais segurança. E parece que funcionou, pois logo ele soltou o ar pela boca, entrelaçando os dedos de uma de suas mãos com os de minha mão que antes segurava as suas duas.

Os dois a nossa frente pareceram não ter notado nada, apenas continuaram falando suas idéias para o trabalho e eu continuei apenas olhando-os falar, vez ou outra fazendo alguma careta para mostrar que não gostei ou apenas assentindo com a cabeça caso concordasse. Eles pareciam bem animados.

E assim a aula correu, eu e o garoto ao meu lado concordando e eles falando.

**.**

A campa para o intervalo finalmente tocou e todos passaram a retirar-se da sala. Os dois que sentavam a nossa frente, que agora eu sabia chamarem-se HyukJae e DongHae, chamaram-nos para lancharmos com eles, mas apenas negamos com a cabeça.

Peguei minhas batatas na mochila e coloquei-as em cima de minha mesa, olhando em seguida para SungMin que observava o ultimo aluno sair da sala antes de virar-se finalmente para mim.

– Feche os olhos! – ele disse, surpreendendo-me.

– Mas...

– Sem mais nem menos, apenas feche os olhos – ele disse passando as mãos em meus olhos fazendo-me fechá-los e logo colocou minhas próprias mãos em meus olhos.

Permaneci de olhos fechados por tempo indeterminado, inquieto com a movimentação de SungMin. Logo ouvi a cadeira dele ser arrastada e imaginei que ele sairia da sala e me deixaria só ali, mas essa idéia logo foi excluída ao que eu senti algo em meu pescoço e logo a cadeira se mover novamente a minha frente.

– Pode abrir agora – ouvi-o dizer enquanto pegava as minhas mãos e tirava-as da frente do meu rosto.

Assim que abri os olhos e olhei para baixo pude sentir o que tinha em meu pescoço que o esquentava. Era um cachecol, vermelho como a luva e a toca que eu estava usando semana passada. E ele era muito mais confortável que o meu cachecol preto que joguei fora.

– Hm... Kyu – olhei para ele e pude ver seus olhos brilharem em expectativa – Você gostou?

– Sim, é muito gostoso, Min. Obrigado. Nunca tive um tão macio, onde comprou? – perguntei, pegando suas mãos nas minhas. Eu estava começando a gostar de segurá-las.

– Eu que fiz... Fico muito feliz que tenha gostado – notei suas bochechas ficarem coradas e, pela primeira vez, mostrei-lhe os dentes ao sorrir. Mesmo que minimamente e muito rápido, eu entreguei o meu sorriso a ele.

– Eu não apenas gostei. Eu amei!

**.**

“Bem, omma. Segunda e eu estou aqui. A senhora nem imagina o que me aconteceu hoje. SungMin, lembra dele? Estou falando bastante dele com você, não é mesmo? Ele se tornou um grande amigo, mesmo que em tão pouco tempo.

Hoje eu lhe entreguei o meu sorriso, sim. Eu sorri para ele. Você não se importa, não é mesmo? De eu sorrir para ele? Afinal, você não me mandou nenhum sinal de que era para eu me afastar dele.

Aliás, aqueles morangos que a senhora me enviou pela vovó, foram um sinal, não é mesmo? Afinal, eu já lhe contei que SungMin sempre come morangos e vez ou outra eu aceito um quando ele me oferece...

Hoje ele me deu um cachecol. Sim, um cachecol vermelho. Ele me lembrou a senhora. Vermelho, que era a sua cor preferida. E, ainda por cima, foi feito a mão. Ele que o fez pra mim. O que a senhora acha que isso significa?

Lembro que a senhora uma vez me disse que quando fazemos ou damos algo à outra pessoa, é porque gostamos muito dela e porque ela significa muito para nós. Lembra? Bem... A senhora acha que esse é o caso? Eu sei que quando eu dei a luva pro SungMin, esse foi sim o significado. Mas acha que a parte dele foi o mesmo?

Eu queria tanto que a senhora estivesse aqui comigo para me ajudar...

Saranghaeyo, de seu filho KyuHyun”.