Já havia se passado uma semana dês de que eu fui ao cemitério pela ultima vez. Minha avó havia brigado comigo naquele dia por ter me atrasado e assustado-a. Pelo que os vizinhos sussurravam ao me verem passar ela havia ligado a policia com medo, não conseguindo ajuda por não ter nem 24 horas que eu havia desaparecido.

Já era segunda feira novamente e eu, por precaução, deixei um bilhete na geladeira avisando que demoraria um pouco. Eu estava com saudade de visitar meus pais no cemitério e teria de ir hoje.

Não demorou a que eu chegasse à escola e tivesse todos os olhares virados para mim. Já havia me acostumada com isso dês de que cheguei aqui. Eu era conhecido como o estranho da escola.

Ao chegar à sala não foi diferente. Sentei-me na minha cadeira de costume, que já se tornou a minha cadeira naquela sala. Ninguém sentava perto, afinal, ninguém queria contato com o estranho da turma.

Estava completamente distraído, apenas ouvindo musica e olhando para a janela como de costume, e continuaria assim se não fosse ouvir a cadeira ao meu lado ser movida. Será que comentei que as mesas da sala eram de dupla? Acho que não...

Assim que olhei para o rosto da pessoa ao meu lado, não pude deixar de reparar que seu rosto era muito familiar. Pude notar, também, que todos olhavam para a nossa mesa, mas eu estava muito mais concentrado em observar o garoto ao meu lado.

Era ele, o mesmo garoto do cemitério, dos cabelos negros e das bochechas avermelhadas. Ele parecia não ligar para a atenção posta sobre si, apenas me olhou e moveu sua cabeça em um cumprimento, e eu apenas lhe retribuo, voltando a prestar atenção do lado de fora da janela.

**.**

Logo que deu o horário do intervalo eu virei e peguei meu lanche costumeiro dentro da mochila, um pacote de batatas. Vir-me-ei para a mesa e passei a comer lentamente. Toda a sala estava acostumada com o fato de eu não sair da sala no intervalo. O que eu não esperava era que o garoto ao meu lado ficasse também.

Logo vi ele colocando uma caixa de morangos em cima da mesa com meia dúzia de morangos. Não sabia o que falar, apenas lhe observei comendo o primeiro, mordendo primeiro a ponta, fazendo um pouco do liquido do morango escorrer pela lateral de sua boca. Nossa, como esse garoto consegue ser tão sensual naturalmente.

Vi ele passar a língua para limpar, logo mordendo o resto do morango, tirando apenas a parte das folhas e colocando-a de volta na caixinha transparente. E só então ele pareceu notar o meu olhar em si, olhando-me de volta. A deixa perfeita para que eu desviasse o meu olhar.

Coloquei três batatas de uma vez em minha boca, tentando não ficar vermelho, o que era difícil, pois já sentia minhas orelhas quentes. Ainda bem que tenho o cabelo comprido nessa parte. Logo ouvi um resmungo vindo dele, como se quisesse chamar minha atenção.

Assim que lhe olhei, percebi que ele me olhava e estendia-me um morango, logo desviando os olhos para a mesa. Apenas neguei com a cabeça, dando-lhe um esticar de lábios ao que ele voltou a me fitar. Logo também lhe estendi o meu pacote de batatas, este que foi recusado também e recebi um sorriso seu.

Assim desviei os olhos e voltei a comer. Já estava quase acabando o meu pacote quando achei ter ouvido algo. Logo tirei os fones e olhei para o garoto ao meu lado que parecia querer esconder o próprio rosto com os cabelos.

– Hm... Disse algo? – perguntei, quebrando o meu tratado de silencio. Afinal, ele não parecia uma má pessoa.

– Uhum... Meu nome... SungMin – vi ele me olhar, levantando um pouco a cabeça. Suas bochechas estavam um pouco coradas, o que o deixava bem parecido a uma criança.

– KyuHyun... – estiquei meus lábios em uma tentativa de sorriso, recebendo uma risada dele e vi que havia desviado os olhos para a mesa novamente.

Logo o sinal tocou e eu coloquei as ultimas batatas na boca, levantando-me rapidamente para jogar o pacote no lixo. Vi que ele iria se levantar para jogar o pacote dos morangos e logo o peguei de sua mão, dando-lhe mais um de meus sorrisos desajeitados e fui jogar os dois fora, vendo-o abaixar a cabeça um pouco vermelho.

Logo as pessoas entravam na sala e eu sentei-me ao lado de SungMin mais uma vez, desligando a música de meu celular e guardando-o em meu bolso junto aos fones. Logo o olhei de soslaio e percebi que ele escrevia algo em seu caderno. Acho que não faria mal me aproximar apenas um pouco dele...

**.**

A campa finalmente bateu e eu logo arrumei meu material, pegando meu dinheiro e colocando no bolso de meu casaco. Hoje o clima estava um pouco frio e eu não estou a fim de pegar um resfriado. Coloquei a toca em minha cabeça e levantei-me para sair, notando SungMin de pé ao lado de nossa mesa com o rosto quase escondido no cachecol e, na cabeça, com uma toca cor de rosa.

Ele rápido se aproximou de mim ao notar que eu havia terminado de arrumar meu material e parou ao meu lado, dando-me um pedaço de papel onde ele havia escrito algo para que eu lesse. Acho que não estava tão à-vontade para falar comigo ainda.

“Vai para o cemitério? Podemos ir juntos?”

Apenas sorri para si e assenti, mas ainda sem mostrar os meus dentes. Não gostava de mostrar esse sorriso a ninguém, ele pertencia a minha omma e apenas a ela. Além de meu Appa, é claro.

Logo íamos andando lado a lado em direção a saída da escola, sem nos pronunciarmos. Notei que todos nos olhavam com espanto, como se fosse impossível ver-nos andando juntos pela escola. Ou talvez seja apenas surpresa por me ver andando com alguém, mesmo que não falássemos nada.

Logo que saímos do colégio eu puxei a manga de seu casaco e mostrei-lhe a lanchonete, apontando-a. Logo ele entendeu e entrou junto comigo ali, esperando que eu terminasse de comprar as coisas.

Assim que terminei, sai junto com ele da loja. Cheguei a lhe oferecer novamente algumas batatas e dessa vez ele aceitou, pegando uma e comendo-a lentamente, pegando pedaços bem pequenos por vez, o que me fez ficar curioso já que ele comia os morangos com tanta vontade.

Estávamos quase chegando quando parei em uma lixeira e joguei o pacote fora e ele abaixou um pouco o cachecol, mostrando seu queixo. Ele parecia temeroso, mas criou coragem para falar comigo.

– Hm... Quem vai visitar? – ele me olhou e acho que notou o meu rosto meio triste, era automático ficar mal ao falar disso – Não precisa falar, se não quiser...

– Eu quero – disse, olhando-o de soslaio, vendo-o abaixar a cabeça – Vou visitar meus pais. Eles faleceram semana retrasada.

– Sinto muito...

– Bem, mas e você? – virei meu rosto em sua direção, olhando-o. Ele fez um bico, abaixando a sua toca para cobrir melhor suas orelhas. Realmente bem fofo, se não fosse um garoto.

– Meu irmão mais novo... Morreu há um mês. Assalto a mão armada...

– Sinto muito...

Foi tão automático quanto ficar triste ao lembrar de meus pais. Minha mão foi para seu braço, afagando-lhe carinhosamente. Vi ele me olhar nos olhos e esticar os lábios pra mim, tampando seus lábios com o cachecol novamente. Percebi logo que ele ficou constrangido e soltei seu braço.

Entramos calados no cemitério, olhando a paisagem, vendo uma ou outra pessoa nos túmulos, o que era bem raro realmente por aqui. Logo cheguei à frente do tumulo de meus pais e ele passou direto para o tumulo de seu irmão.

Ajoelhei-me, pegando as costumeiras flores e colocando-as entre os dois túmulos. Fiz a reverencia e sentei-me, pegando o costumeiro caderno e colocando-o em minhas pernas, abrindo-o na pagina certa, dando uma ultima olhada em SungMin antes de começar a escrever, vendo-o colocar flores ali.

“É omma, eu sei, eu demorei, nee?! Mas sei que a senhora vai me entender. Afinal, foi pensando na vovó. Como eu lhe disse, ela ficou bem preocupada comigo. Chegou a chamar a policia, acredita? Mas eles não fizeram nada. Pelo que eu entendi pelos cochichos dos vizinhos fofoqueiros –não brigue comigo, você sabe que eles realmente são fofoqueiros- os policiais só entram em ação a partir do momento que já tem mais de 24 horas que a pessoa desapareceu.

Para acalmar a vovó, passei o resto da semana chegando no horário normal, por isso não vim lhe ver. Mas orei todas as noites pela senhora, pois mesmo que eu não acredite nessas coisas, eu sei que a senhora sempre acreditou, então farei isso pela senhora.

Ah, nem lhe conto. Lembra do Dubu? Sim, aquele cachorro da vovó. Ele fez cria com a cadela do vizinho, a Koko. Eles tiveram lindos filhotes de labrador. Queria que a senhora estivesse aqui para ver. Vovó me deixou ficar com um, o nome dele é Hero. O que achou do nome? Achei um nome bem forte...

Ah, hoje eu fiz uma espécie de amigo na escola. Bem, não somos amigos ainda, mas foi o mais próximo que fiz disso até agora. Mesmo que eu quisesse ficar longe de todos para não me magoar como me magoei com você sabe quem, eu não consigo. Ele também perdeu alguém recentemente. O irmão dele foi morto em um assalto, triste, não é?!

Eu o vi pela primeira vez aqui mesmo, na ultima visita que lhe fiz. Ele estava no tumulo do irmão dele que é seu visinho de quadrado - isso significa que o tumulo dele esta no mesmo quadrado que o seu, ou no mesmo quarteirão, como preferir-. Ele esta se mostrando bem legal, até agora. E bem tímido também.

Ele só começou a estudar hoje. Não sei o porquê, ainda não tive coragem de perguntar. Quem sabe algum dia eu não pergunte e lhe conte?

Bem, saranghaeyo, de seu filho KyuHyun.”

Olhei para o lado e percebi que SungMin já estava se levantando. Logo fiz reverencia para o tumulo de meus pais e me pus de pé, guardando o caderno na mochila e indo em direção a SungMin.

– Vamos? – perguntei e ele apenas assentiu.

Fiz uma leve reverencia para o tumulo em que vi as rosas que ele havia trazido em cima e fomos saindo do cemitério calmamente. Logo ele fez uma reverencia para mim, indicando o ponto de ônibus do outro lado da rua e como eu continuaria em frente pela mesma direção que viemos, fiz uma reverencia e fui.

Bem, pelo menos agora eu conheço alguém.