Dois meses depois...

      Eu estava nervosa. Muito nervosa. Muitas coisas tinham acontecido na minha vida desde então. Primeiro, eu fui acusada da morte da minha melhor amiga. Fui mandada para um reformatório, descobri que era uma bruxa e vim parar nesse universo paralelo. Depois, o Ritual que faria com que eu recuperasse os meus poderes deu errado e eu fui taxada de mentirosa, golpista e farsante. Fugi da casa onde estava e fui sequestrada pela minha meia irmã assassina e o comparsa dela, que na verdade estava do meu lado. Minha irmã foi morta pelo comparsa farsante, que agora está preso, e eu estou aqui, no meio do bosque onde tudo aconteceu, com um bruxo pago para realizar Rituais, meu noivo, minhas primas e um Conselho de bruxos inteirinho me observando.

      Acontece que, depois da morte da Sabrina e da prisão de Henry, muita coisa aconteceu. Eu estava oficialmente noiva e iria me casar com Cauê. Jacqueline e Lívia já haviam se casado e Melissa fez as pazes com Henry, indo visita-lo todos os dias. Tudo parecia perfeito... Mas quando eu me casar com Cauê, vamos assumir o governo desse mundo bruxo, pois sou a única herdeira de meu pai. O Conselho nunca aceitaria uma humana como rainha, então fizeram questão de participar do Ritual para terem certeza de que eu realmente sou quem digo ser. Eu estava me cagando.

      - Podemos iniciar o Ritual! – Disse o bruxo. Olhei para o céu. Era noite de Lua Nova, a noite correta para se fazer o Ritual. Não tinha porque algo dar errado. Cauê, Melissa, Lívia e Jacqueline estavam posicionados cada um em uma coordenada geográfica em relação a mim. Seguravam velas apagadas em suas mãos. – Estamos todos reunidos para o Ritual de Transformação de Allana, filha de Emanuel! – o bruxo continuou. O silêncio pairava sobre o bosque. – Que o fogo Sagrado se acenda para a purificação dessa pobre alma!

      Instantaneamente, as velas que estavam nas mãos do meu noivo e primas se acenderam com uma chama brilhante.

      - Eu invoco o Norte! – Quando o bruxo proferiu essas palavras, Melissa caminhou até a minha direção e colocou a mão livre em minha cabeça, induzindo para que eu me ajoelhasse.

      - Que o fogo Sagrado devolva seus poderes e nunca mais os tire de você.

      Ela se afastou, dando espaço para a voz do bruxo:

      - Eu invoco o Sul! – Dessa vez foi Jacqueline quem andou em minha direção e colocou a mão em minha cabeça.

      - Que o fogo Sagrado devolva seus poderes e lhe dê sabedoria para usá-los!

      Ela voltou para o seu lugar.

      - Eu invoco o Leste! – Lívia veio com um sorriso até mim, imitando o procedimento das outras.

      - Que o fogo Sagrado devolva seus poderes e que você seja muito feliz com eles.

      Quando Lívia voltou para o seu lugar, o bruxo invocou a última coordenada.

      - Eu invoco o Oeste!

      Dessa vez foi Cauê quem caminhou até mim. Ele colocou sua mão em minha cabeça e eu pude sentir todo o amor que ele sentia por mim através daquele toque.

      - Que o fogo Sagrado devolva os seus poderes e que eles te mostrem sempre o caminho certo a seguir.

      Quando Cauê voltou para seu lugar, eu senti que podia levantar. Quando olhei novamente para o bruxo, ele estava segurando em suas mãos um pote com um líquido vermelho.

      - Agora, depois da invocação das coordenadas geográficas e do fogo Sagrado, chegou a hora da imposição do óleo Sagrado!

      O bruxo mergulhou os dedos indicador e médio na tinta e caminhou até mim. Fez um sinal de “mais” na minha testa. Voltou para o seu lugar em silêncio.

      Ficamos todos em silêncio por alguns instantes. Eu não estava sentindo nada de diferente, o que começou a me preocupar. Se esse Ritual desse errado, eu saberia que realmente não sou a verdadeira Allana.

      - Allana agora nos provará que recebeu seus poderes de volta! – O bruxo disse, quebrando o silêncio e me deixando com mais medo ainda. Ele estendeu a mão e uma pedra de tamanho médio se materializou nela. Eu estava muito nervosa, sem saber o que iria acontecer. – Você irá, com seus poderes, fazer com que essa pedra levite de minha mão até a sua. Assim, ficará provado de que você é realmente Allana, filha de Emanuel.

      A hora H tinha chegado. Era agora ou nunca. Eu não fazia ideia de como levitar aquela pedra até mim, mas eu teria que fazer. Eu tinha que conseguir. Comecei a mentalizar para ela se mover até mim, mas nada aconteceu. “Pedra, venha até mim!” eu pensava, e nada. Todos estavam me olhando ansiosamente e eu estava com vontade de chorar. Não estava conseguindo trazer aquela pedra até mim.

      Resolvi desistir de tudo. Eu não era uma bruxa, tudo foi um grande engano. Olhei aquela pedra uma última vez, mostrando todo o ódio que eu estava, e então ela se mexeu. Aos poucos, foi levitando da mão do bruxo e chegando até mim.

      Melissa deu um grito de felicidade. Eu comecei a chorar. Cauê correu até mim e me abraçou. Era verdade. Eu era uma bruxa.