Esqueça toda aquela baboseira de Romeu e Julieta, Jack e Rose...

Essa é uma verdadeira história de amor proibido.

Porque ela... Uau, ela é a garota mais absurdamente linda e incrível da face da terra. E eu... sou o cupido dela.

E antes que você comece a me imaginar como um bebê balofo de fralda com um arco encantado cheio de coraçõezinhos, deixe-me esclarecer umas coisas:

1- Aqueles pintores romanos tinham muita criatividade. Até demais.

2- Eu não sou um bebê balofo de fralda. Na verdade eu posso até passar por um cara comum se você ignorar o fato de que na verdade eu tenho alguns milhares de anos de idade.

3- E quanto ao arco de coraçõezinhos... Bem, aquilo é tão absurdo que eu nem preciso comentar. Se eu tivesse acesso a um arco de verdade eu provavelmente atiraria uma flecha bem no meio da minha testa por ser tão estúpido a ponto de ter me apaixonado por uma garota que deveria ser minha tarefa.

Ao longo dos meus milhares anos de existência eu já fui cupido de várias e várias mulheres. Mas nenhuma delas conseguiu se comparar a ela:

Kate Evelyn Dunne. Loira, olhos verdes, dona do sorriso mais irritantemente encantador de todos. Ela era linda sem precisar fazer nenhum esforço, era inteligente sem se exibir por isso, era engraçada sem nunca ser má...

E para o meu desespero, era humana.

–Dá pra você se concentrar no seu trabalho pelo menos uma vez? –reclama minha colega Ivye. –Você está pensando nela, não está? Dan, por favor, tira isso da sua cabeça! Você sabe que é impossível.

Suspiro, mas não tento responder, por que sei que Ivye tem razão. É contra todas as leis.

–Olha, se concentra. Ele está bem ali. Você tem que começar a pensar em um modo de fazer os dois se encontrarem. –ela diz, apontando para o bonitão idiota que estava a alguns metros de distância de nós.

Ele não podia nos ver é claro, nenhum humano pode. Mas nós estamos sempre aqui, sempre perambulando pelas ruas, tentando fazer almas gêmeas se encontrarem.

E a alma gêmea de Kate se chamava Ben Erik Dunahill. Eles não sabiam disso ainda, mas tinham a mesma banda favorita. A mesma música. A mesma cor. O mesmo livro. O mesmo filme.

Foram, literalmente, feitos um para o outro.

E minha missão era fazer isso acontecer. Fazer os dois se encontrarem e terem uma vida digna de contos de fada. Mas havia estragado tudo isso quando me apaixonei por Kate.

–Eu sei, Ivye... Eu vou dar um jeito. –murmuro.

–Aham, e eu nasci ontem. Dan, seu prazo está acabando. Você tem dois meses. Se eles não se encontrarem em dois meses... Nunca mais se encontrarão. Nunca ficarão juntos. Se você a ama mesmo tem de fazer o possível pela felicidade dela. E a felicidade dela... é ele, Dan.

–Eu sei, Ivye! Já estou farto de saber disso, ok? Eu queria poder simplesmente unir os dois, deixar ela ir... Mas não é assim tão simples. –exclamo, olhando para o bonitão estúpido do Ben passar a mão pelos cabelos. –E o seu casal? Está dando tudo certo? –pergunto a Ivye, fugindo do assunto.

Ela leva as mãos à cabeça e dá um grito angustiado.

–As coisas estão indo de mal a pior! Eles moram em países diferentes, estão a quilômetros de distancia um do outro, e agora aquela pateta da Lucy está prestes a se casar com o cara errado! Eu já não sei mais o que fazer, Dan! Meu prazo está acabando, eu só tenho um mês. Se eu não conseguir fazer algo...

–Eles nunca poderão ficar juntos. –completo.

Funciona da seguinte maneira: Nós, cupidos, recebemos a missão de formar um casal. O prazo é de seis meses, seis meses para fazer os pombinhos se encontrarem. Se tudo der certo, maravilha! Eles vivem felizes para sempre. Mas se o cupido não conseguir cumprir seu prazo...

Os dois pombinhos seguem caminhos diferentes. Andam em direções opostas e nunca, jamais, irão se encontrar. Irão acabar ficando com as pessoas erradas. Ou sozinhos, em sofrimento.

Esse é um dos motivos pelos quais tantas pessoas passam a vida inteira sem encontrar a tal pessoa certa: seus cupidos falharam. Ou simplesmente porque ela não estava destinada a ficar com ninguém nesse plano de vida. Eu não sei, sou só um cupido, não tenho acesso a informações como essa.

–Você vai conseguir, Ivye. Em todas essas centenas de anos, você nunca falhou com ninguém. Vai dar tudo certo. –tento tranquiliza-la.

Ela segura a minha mão e agradece silenciosamente. Ela não precisa dizer nada, após todo esse tempo juntos nós aprendemos a desvendar um ao outro.

–Eu tenho que ir. –ela diz. –Meu prazo está no final, e eu não posso perder tempo. Você também não. È melhor começar a pensar em um modo de uni-los, Dan. Você sabe que é a coisa certa a se fazer.

Então ela se vira e sai andando pela multidão. Começa a emitir um brilho suave e depois desaparece, indo até o seu casal de pombinhos. Dou uma última olhada no bonitão que ainda está a apenas alguns metros de mim, esperando seu metrô chegar, e faço o mesmo que Ivye. Desapareço aos poucos e deixo meus pensamentos me levarem a ela.

E quando a encontro não posso controlar o suspiro que escapa de mim. Ela esta sorrindo enquanto conversa com uma amiga. Amiga essa que eu sei que conhece Ben, a alma gêmea de Kate.

Eu poderia começar minha missão naquele instante. Seria simples sussurrar algumas palavras no ouvido daquela amiga, fazendo-a perceber de repente como seria uma ótima ideia apresentar os dois. Eles se conheceriam, e é claro, se apaixonariam, e minha missão estaria completa.

Eu poderia simplesmente fazer isso e terminar essa história bem aqui.

Mas ao invés disso, eu me sento ao lado de Kate, mesmo sabendo que ela não pode me ver, e fico ali admirando seu sorriso.

Estranho seria se eu não houvesse me apaixonado por ela.