*Beca*
Estou até feliz, acabei de receber um email, era da gravadora, vou começar a trabalhar lá a partir de amanhã, finalmente algo que irá me fazer ocupar a cabeça.
— E aí, pequena?!
— Amy!
— Está melhor? Percebi que estava toda desligada hoje no ensaio.
— Você sabe que é por causa de Chloe, não adianta fingir que não acha que elas se pegaram hoje.
— Ãã...Beca, tenta esquecer isso, quer um pouco de confiança?- ela colocou a mão embaixo do braço e se aproximou de mim.
— Não, não! Eu estou bem, relaxa aí.
Ela riu.
— O que vai fazer amanhã? Podemos sair para comer, vou distrair um pouco você.
— Ah, amanhã eu começo a trabalhar na gravadora, nem vai dar.
— Ué, seu estagio não tinha acabado?
— Eu sei, é que...ELES ME CONTRARAM!- falei gritando e ficando de pé na cama.
— MENTIRA! BECA, ISSO É MARAVILHOSO!
— Eu sei!- eu dava pulos encima da cama.- Eu estou tão feliz com isso.
Ela me pegou de cima da cama.
— Estou feliz por você, baixinha.
— Obrigada!- falei dando um abraço nela, que me carregou e depois soltou.
— Já falou com Jesse? Não é por nada, mas sei que vocês mantiveram a amizade, e ele vai adorar saber disso.
— Ah, é verdade!
Peguei meu celular.
— Eu vou indo para meu quarto, ah, Cynthia tinha razão, Lily é muito esquisita.- dei risada.- Beijos, pequena.
— Beijo!- cochichei, enquanto Jesse atendia a ligação.
— Pequena?
— Jesse! Oi! Preciso te contar uma coisa!
— Diga!
— ME CONTRATARAM!
— O PESSOAL DA GRAVADORA? ESTÁ BRINCANDO!
— É sério!
— Caramba, pequena! Estou muito, muito feliz por você!
— Queria te agradecer, você me apoiou desde aquela época! Sério, devo muito á você. Ah eu estou tão feliz.
— Imagina, tudo isso é mérito seu! Parabéns!
— Obrigada!- ficamos em silêncio por um tempo.- E sua garota?- não vi problema em perguntar, somos amigos.
— Lara está ótima!
— Então o nome dela é Lara?!
Me virei para a porta e vi Chloe entrar no quarto, não faço a mínima ideia do tempo que ela está ali, apenas sorri e voltei a prestar atenção na chamada.
— Ah, você ainda não sabia?
— Não!
— Pensei que eu tinha te contado! Ah, minha nossa, é verdade, vocês nem se conhecem!
— Pois é...
— Precisamos marcar algo algum dia desses, quero apresentar vocês, ela vai gostar muito de ti, e visse e versa.
— Certo! Tenho certeza que sim. Vê com ela e me avisa.
— Aviso sim! E você e aquela pessoa...
— Ah, não tenho muito o que dizer sobre isso, não deu muito certo, mas eu estou bem.
— Sinto muito, qualquer coisa...eu estou aqui!
— Eu sei disso!- ficamos um tempo sem falar nada novamente.- Então, era isso, só queria te contar mesmo.
— Ok, então. Enorme beijo, pequena. Até qualquer dia!
— Beijo, até!
Eu desliguei a chamada.
Chloe me fitava de sua cama. Ela estava esperando que eu dissesse alguma coisa, porém, eu não sabia o que dizer.
Me sentei na escrivaninha e peguei meu notebook. Comecei a ajeitar as coisas, peguei meu fone, e os equipamentos que eu ia usar, vou começar a mexer na demo.
Antes de eu pudesse colocar os fones, escutei Chloe me chamar. Girei a cadeira para olha-la.
— Pretende me contar quando?
Não entendi o comentário.
— Do que está falando?
— Sério, Beca, escutei sua conversa com Jesse, você ligou até para ele! O que eu te fiz?
Ah, eu não comentei com ela sobre a proposta de trabalho.
— Está brava, por que irei começar a trabalhar? De novo isso?
— Beca, o problema não é esse!- ela falou quase num grito.- Eu já entendi que você consegue conciliar as duas coisas. O problema é você não ter me contado!
Revirei os olhos, ela ficou incrédula com minha atitude, acho que esperava que eu me redimisse.
— Desculpa, ok? Apenas pensei que você estivesse ocupada com outras coisas.- falei mantendo a voz firme e séria, então me virei de volta para a escrivaninha. Pude ver seu queixo cair.
— O que está acontecendo?
— Ah, nada, Chloe, nada!
Coloquei o fone, não dando mais atenção para o que ela diria logo em seguida. Até eu me surpreendi com minha reação. Sei que estou descontando por conta do me ciúme, mas não vou me redimir.
 Eu tentei, de todas as formas, me concentrar no que estava fazendo, mas eu simplesmente não conseguia, não sou boa em trabalhar com música quando estou irritada.
Deixei a música Let It Go, do James Bay, tocar. Joguei a cabeça para cima, apoiada na cadeira, e fiquei encarando o teto. Não me arrisquei olhar, mas sei que Chloe ainda está no quarto, quase consigo sentir seu cheiro daqui.
De repente, minha música foi interrompida, era Chloe. Abri os olhos marejados, vi seu rosto logo de cara, e não achei isso ruim.
— Está assim, por que eu passei a tarde na casa de Melissa?
Levantei minha cabeça e olhei no fundo de seus olhos azuis.
— Estou assim, porque...- respirei fundo.- porque passei a tarde tentando mentir para mim mesma que você não estaria com ela, porque minha cabeça não para de imaginar o que vocês fizeram a tarde, porque eu penso em você fazendo com ela, o que não quis fazer comigo, o que não conseguiu. Estou assim, porque eu sei que se beijaram dentro daquele carro!- falei quase num grito.- Porque você não conseguiu me olhar nos olhos desde a hora que chegou, e isso só acontece quando se sente culpada.
— Não fizemos nada demais, Beca.- ela falou, não me olhando, como fez o dia todo.
— Ah, qual é, Chloe? Eu te conheço. Eu entendo todos os seus tipos de silêncio.
Ela sabia, sabia que eu tinha razão.
— Eu...
— Não quero que me fale, não quero saber, só...pare de negar. Só pare de me cobrar algo que eu não te contei, quando você sabe que me deu motivos para eu não falar nada. Liguei para Jesse, sim, não acho que a amizade dele seja melhor que a sua, mas dessa vez, eu precisei do parabéns dele. Desculpe, eu simplesmente não consigo conciliar o beijo que você me deu antes de sair e o beijo que deu nela quando chegou, e por isso, eu não consigo te tratar como se estivesse tudo bem.
Ela se calou, mas não me importei, não esperava ouvir mais nada.
Coloquei o fone de volta.
Ela saiu dali, acredito que tenha ido dormir, irei me deitar daqui a pouco também, mas primeiro, irei escutar titanium, para não ir dormir pensando apenas no que aconteceu hoje, mas também, pensando em uma amizade de anos.

*Chloe*
Passei as costas da mão nos olhos. Olhei no relógio: 7:22. Por que eu tenho que acordar tão cedo?
Levei um susto por não ver Beca na cama, e não só por ela não estar aqui, mas por sua cama estar arrumada. Ela não dormiu em casa?
Passei os olhos pelo quarto.
Suas pernas estavam dobradas encima da cadeira, seu cotovelo apoiado no braço da mesma e sua cabeça apoiada em sua mão. Ela dormira ali?
Me levantei e fui até ela. Tirei seu fone e o coloquei encima da escrivaninha. Antes de fechar a tela do notebook, olhei para ver se ela tinha trabalhado em alguma coisa, mas só vi a música titanium pausada, ela dormiu escutando nossa música? Tive vontade de beija-la, da mesma forma que ontem a noite, quando discutíamos.
Tirei o pouco de cabelo que estava em seu rosto e acariciei sua bochecha. Ela reagiu ao toque, abrindo os olhos lentamente.
— C-Chloe?
— Você dormiu aqui.
Ela inclinou a cabeça para estalar seu pescoço.
— Ai!
— É melhor deitar em sua cama.
— Na onde?
Sorri ao ver que ela ainda estava meio que dormindo.
— Venha cá!- falei puxando sua mão. Ela obedeceu apesar de estar meio fora de si. Ela acabou indo para a minha cama.- Não, Becs, não é aí.
Ela suspirou fundo.
— Eu gosto desse cheiro.- falou enfiando a cabeça no travesseiro e adormecendo novamente.
— Tudo bem...- falei, mais para mim do que para ela, que sei que não me ouvia mais.
As meninas gostaram da ideia de nossos ensaios serem ás 16:00, então Beca terá tempo para dormir.
Algo começa tocar pelo quarto.
Demorei para descobrir que vinha do celular de Beca. No visor estava escrito “Vamos, acorde, você tem que trabalhar!”. Então Beca começava hoje na gravadora?
— Ai, não!- ela tomou o celular de minhas mãos, eu não tinha nem visto que ela tinha se levantado.
— Você começa hoje?
— Por que eu estava na sua cama?
Dei um sorriso.
— Você quem quis se deitar aí, parece que gosta do meu cheiro...- falei provocando-a.
— C-Como assim?- abri a boca para explicar, mas ela continuou.- Ah, ok, eu preciso me aprontar, depois você me explica essa...história.- falou com os olhos semicerrados.
Ela entrou no banheiro apressada. Vai levar tempo até ela se acostumar a acordar cedo.
Queria poder dizer o quanto eu estava feliz por ela ter conseguido a proposta de trabalho. Complicado isso.
Não demorou muito e ela saiu do banheiro. Ela estava enrolada na toalha, e eu, como não sou boba, não deixei de reparar nela.
Tínhamos falado sobre se trocar no quarto, então, fingi que eu estava normal, mas eu sei, e ela também, como fico por tê-la se trocando na minha frente.
Ela vestiu uma saia preta e uma blusa básica. Ela estava tão linda. Minha nossa, como seguir em frente com ela sendo tão...ela?
Ela me olhou, eu tenho certeza que queria me perguntar se ficou bom, como sempre fez, mas sei que seu orgulho jamais deixaria.
— Você está ótima.
Ela pareceu satisfeita, tendo exatamente o que parecia faltar: minha opinião. Então deu um sorriso largo.
— Obrigada. 
— Como você vai chegar lá?
— Ah, eu...Caramba!
Ela estava tão acostumada em ter Jesse a levando, eu sabia que se esqueceria.
— Vamos, podemos ir no meu carro!
— Mas...
— Relaxa, vamos logo, Beca, vai se atrasar!
Ela foi comigo, apesar de ontem. Acho que nós duas resolvemos passar por aquilo, esquecer, espero que sim.
Eu fui de pijama mesmo, só vesti um short, já que eu durmo sem.
Entramos depressa no carro.
Ela parecia tensa. Me contou uma vez que seu chefe era bem estressado e de pavio curto, ela com certeza está nervosa, queria muito poder acalma-la.
Começou a tocar Say something e eu aumentei o volume, adoro essa música, penso muito em Beca quando a escuto.
— Você pode explicar o fato de eu ter acordado em sua cama?
Dei risada.
— Você dormiu na cadeira, então te acordei, para que não tivesse um treco na coluna, e mandei você ir para sua cama, mas você se deitou na minha e disse “eu gosto desse cheiro”.
Suas gargalhadas ecoaram pelo carro.
— Você está brincando!- ela falou entre risadas.
— Não! É sério! Beca, você disse mesmo isso!
— Não disse não, eu me lembraria.
— Você estava sonolenta. Cara, eu juro!
O som de minha risada favorito no mundo aumentou, aquilo era melhor que qualquer música.
— Eu não acredito!- ela falou batendo em sua coxa de tanto rir.
Não sei porque ela achara tanta graça.
— É sério.- falei quase enfartando de rir com seus soluços.
— Ai, ai.
Ela suspirou, tentando se acalmar.
Permanecemos em silêncio por um tempo. Então, escutei ela rir novamente, provavelmente lembrando do ocorrido.
— “Eu gosto desse cheiro”.
— O que?- falei rindo.
— É engraçado, quando estamos com sono, devemos parecer bêbados.
— Nem todo mundo, eu fico bem...- tentei achar a palavra certa.
— Chata!
— Ham? Não! Eu não fico chata.
— Você fica insuportável quando está com sono, por isso gostamos que você durma cedo, para não acordar dando patada em todo mundo.
— Sério?
— Sim!
— Há, há, muito engraçado.
Ela riu.

*Beca*
Não consigo imaginar eu falando que gostava do cheiro dela. Eu já disse que é meu cheiro favorito no mundo, mas não para ela. Eu ria só de pensar, deve ter sido muito engraçado.
Ter vindo com ela, me acalmou muito, eu estava bem nervosa. Mas é obvio que não direi isso em voz alta.
Eu estava bem tensa por conta de meu chefe, lembro-me bem da forma como ele tratava todo mundo, principalmente Dax. Então estava com medo, estou com medo, mas ela está aqui, comigo, agora, e não existe algo que possa fazer com que eu me sinta mal, não nesse momento.
Eu a olhei, eu estou perdidamente apaixonada.
— O que foi?- ela falou me olhando com um sorriso, desviando novamente para prestar atenção no caminho.
— O que?
— Que você está me olhando?
— Nada, só estou te olhando.
— Mas por quê?
Eu dei um sorriso e não respondi sua pergunta.
Depois daquele momento, não demorou muito para chegarmos. Ela parou o carro e me olhou.
— Por que está me olhando?- falou no meio de uma risada.
Eu ri também.
— Eu só estou te olhando. Obrigada pela carona e por...
— Por?
Fechei os olhos. Droga. Eu vou ter que dizer em voz alta.
— Eu estava bem tensa, você me ajudou, obrigada.
Ela sabia que eu não conseguia dizer aquilo de uma outra forma, ela sabe o quão fechada eu sou com meus sentimentos, aquilo já era o bastante para ela.
— De nada, pequena. Bom trabalho, vai dar tudo certo.
— Obrigada.
— Que horas você termina?
— 11:40. Mas fique tranquila, eu pego um taxi.
— Nada disso, eu venho te buscar.
— Mas eu...
— Beijo!- ela falou antes que eu desse alguma desculpa.
Sorri.
— Beijo.
Desci do carro, bem mais calma do que quando entrei.
Me sentia mais leve.
Entrei na empresa, feliz por estar aqui.
— Ah! Eliza, né?- falou meu chefe ao me ver.
— Beca, meu nome é Beca.
— Ah, certo. Você agora não vai mais ficar com a parte do café, ok? Você será como meu braço direito, irá me auxiliar, me dar ideias, e essas coisas, seu assistente, para caso você precisar imprimir algo para passar para mim, ou para te ajudar a mostrar suas ideias, suas músicas, está sentado ali onde será sua cabine, acho que o nome dele é Lucas.
— Ok, certo, certo.- passei o que ele disse na minha cabeça, eu com certeza tinha um papel bem mais importante agora.
Ele saiu sem me dizer mais nada, apressado, como sempre.
Fui até a cabine onde um rapaz mexia no computador.
— Você é o Lucas?
— Ham? Ah, não.- ele me olhou, tive a sensação de que já o vi antes.
— Ah, desculpe.
Fui saindo.
— Ei! Você sabe quem é a Eliza?
— Não, desculpe.
— Ok, obrigada.
Dei as costas de novo e saí.
Minha ficha caiu.
Voltei para a cabine correndo.
— Ele confunde o nome de todo mundo, acho que eu sou a Eliza.
Ele riu, entendo a situação também.
— Prazer, Lucas!- falou estendendo a mão, ainda tirando onda com o ocorrido.- Brincadeira, meu nome é Luke.
— Ah, calma!- associei o nome do garoto com seus cabelos loiros e seu corpo definido.- Você trabalhava na rádio da universidade Barden, né?
— Beca!
Ele me puxou para um abraço.