Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 4
Confronto com a dor


Notas iniciais do capítulo

Esse é o momento do primeiro encontro dos dois.



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SOLUÇO

Estou mantendo um sorriso no rosto durante a festa de boas vindas, como meu pai mandou. É um sorriso completamente falso, mas os amigos de minha mãe parecem acreditar. Acho.

Minha mãe ficou o tempo todo no meu pé, me abraçando em público e eu fingindo ser o filho mudado. Me pergunto por quanto tempo vou aguentar essa farsa. Esquece eu, quanto tempo ela conseguiria? Meu pai nem nota a mudança de personalidade dela. Por que aparências importam tanto para meus pais?

– Soluço se tornou religioso enquanto esteve fora. Diz minha mãe para a senhora Guiller, enquanto segurava meu braço, me forçando a encarar a esposa do reverendo. – Não é, Soluço?

– Sim, orei todos os dias, disse de imediato, sabendo que não era só a senhora Guiller que ouvia. A verdade? Orei todos os dias que sobrevivi ao reformatório, por voltar para casa e consertar as coisas. A declaração de minha mãe de que me tornei religioso é falsa, porque nós nunca conversamos sobre o tempo que passei na prisão. Ela nunca perguntou e eu nunca contei.

Além disso, ela não quer saber a verdade. Se fingir curasse essa família, então por mim tudo bem. Eu achava isso tudo uma palhaçada, mas por mim tudo bem. Senhora Guiller foi levada para outro lado, deixando-me com minha mãe.

– Abotoe essa camisa mais. Ela sussurrou

Olhei a camisa, só tinha dois botões desabotoados. Não ia discutir com minha mãe hoje. Com tanta coisa para consertar, brigar por um botão desabotoado era risível.

Enquanto abotoava a camisa, olhei para a gótica apoiada na parede. Peguei um copo de suco de groselha e me dirigi até ela. Tentei manter o sorriso o máximo possível, mas meu rosto já estava doendo.

– Tome, falei estendendo o copo para ela. – Seu favorito.

Ela sacudiu seu cabelo super preto. – Não é mais.

Legal, estou com um copo que ninguém quer nas mão. Dei um gole. Argh, não sei como isso pode ter sido sua bebida favorita um dia.

– Agora só bebo a boa e velha água.

Isso vindo de alguém que misturava groselha com tudo e não comia sem encher o prato de ketchup, mostarda e queijo parmesão ralado. Isso não combinava com Luane, queira minha irmãzinha admita ou não.

Parei um instante para observar o cenário. Berk é uma cidadezinha pequena, mas a palavra festa atrai aos montes. – Quase uma multidão aqui essa noite.

– Sim, mamãe chamou todos eles. Disse ela

– Papai não tentou detê-la?

Ela deu de ombros. – Para quê? No final das contas ela sempre faz o que quer mesmo.

Passaram-se vários minutos até ouvir a voz de Luane novamente. – Mamãe te fez se vestir assim? Olho para minhas roupas, uma calça de linho e uma blusa social tão apertadas que mal consigo respirar.

– Essas roupas te fazem parecer sério.

Eu deveria dizer o que o cabelo dela tingindo de preto parece? Pensei rapidamente, mas percebi que a escuridão nela vai muito além do cabelo e das roupas. Discutir com ela no meio de uma festa não era o melhor momento.

Luane se remexeu. – Logan está dando uma festa em sua casa essa noite.

– Duas festas em berk na mesma noite? Cara, as coisas estão mudadas.

– Mais do que você imagina, Soluço. Vai aparecer na festa do Logan?

–De jeito nenhum. Já era um saco ser olhado de forma rude por um bando de adultos.

– Por que? Você vai?

Luane me olhou com a sobrancelha arqueada. Já entendi, ela não vai.

– Deveria ficar de olho na mamãe.

–Por quê?

– Porque ela acabou de pegar o microfone.

Então ouço a voz de minha mãe ecoando pelo jardim.

–Obrigada a todos por vir. E por receber meu filho Soluço de volta de braços abertos.

Braços abertos? Minha própria mãe não encosta em mim a não ser publicamente. Não aguento mais uma palavra. Temo pegar aquele microfone tanto quanto temo o encontro que está por vir com meu psicoterapeuta de transição.

Porque o que estou prestes a falar não será falso ou fajuto. Me encaminho em direção ao parque da cidade. No caminho retiro a minha camisa de dentro da calça super apertada e desabotoei todos os botões até ficar completamente aberta.

É a primeira vez que me sinto livre desde que cheguei. Posso chegar e desabotoar a camisa sem que ninguém me veja ou olhe torto.

Como desejo poder voltar no tempo e começar tudo de novo. A vida não te permite isso. Você não pode apagar o passado, mas eu vou tentar fazer as pessoas esquecerem.

Cheguei ao parque e encarei o velho carvalho onde eu costumava subir quando era criança. Melequento e eu disputamos quem chegaria mais alto.

Eu venci, antes do galho que eu estava quebrar e eu cair no chão. Fiquei com o braço engessado por seis semanas, mas não me importei, eu venci.

Procurei pelo galho quebrado. Será que a árvore passou por tantas estações que apagou o passado?

Um suspiro me pega de surpresa enquanto circulava a árvore. Exatamente à minha frente, encostada no tronco da velha árvore, estava Astrid Hofferson.

ASTRID

Notei um movimento e logo percebi que não estava só. Levantei minha cabeça. Havia um garoto na minha frente, um que reconhecia de meus pesadelos. Ele não era uma ficção da minha imaginação. Era realmente ele, Soluço Strondus, em carne e osso, olhando para cima como se procurasse algo importante. Um suspiro escapou de minha boca.

Ele me ouviu e rapidamente focou em mim. Ele não se mexeu, nem quando seus gélidos olhos verdes se conectaram aos meus.

Ele cresceu no último ano. Ele agiu duramente no passado, mas agora Soluço tinha uma aparência ameaçadora. Sua expressão era dura, sua camisa estava desabotoada , mostrando seu peito definido. Aquilo, combinado com a calça apertada que ele estava usando, representava perigo.

Eu estava paralisada. Com raiva. Com ansiedade. Com medo.

Estamos num empasse, nenhum dos dois falava. Apenas nos olhávamos.

Estive cara a cara com ele várias vezes, mas agora é diferente. Ele nem ao menos parece ele, exceto pela postura confiante que sempre teve e sempre terá.

– Isso é embaraçoso. Ele quebra o silêncio. Sua voz mais profunda e mais sombria do que eu lembrava.

Não é apenas vê-lo fora da janela do meu quarto.

Nós estamos sozinhos.

Está escuro.

E isso é, tão diferente.

Preciso voltar para a segurança do meu quarto, eu tentei ficar de pé. Precisava voltar para segurança do meu quarto, mas ao tentar me levantar, sinto uma dor quente, como se fosse a dor de um tiro.

Observei chocada e perplexa enquanto ele deu um passo a frente e segurou meu cotovelo.

Eu automaticamente soltei meu braço de seu controle. Memórias de ser enfiada em uma cama de hospital, incapaz de me mexer vieram a minha mente enquanto me endireitava.

– Não me toque. Eu disse.

Ele levantou as mãos como se eu estivesse dito “mãos para cima”.

– Você não precisa ter medo de mim, Asty.

– Sim... eu preciso. Eu disse em pânico.

Eu o ouvi suspirar, depois ele deu um passo para trás. Mas ele não foi embora, ele apenas me olhou de forma estranha. –Nós éramos amigos.

– Isso foi a muito tempo atrás. Eu disse. – Antes de você me atingir.

– Isso foi um acidente. Eu já paguei meu débito com a sociedade por isso.

Aquele momento estava durando mais do que eu podia suportar.

– Você pode ter pago seu débito com a sociedade, mas e o seu débito comigo?

Depois que as palavras deixaram meus lábios, não acreditei que realmente as havia pronunciado. Virei e segui até em casa e não me detive até abrir a porta e entrar. Cori para o meu quarto e me tranquei dentro do armário, como fazia quando era criança e meus pais brigavam. Apenas fechava os olhos e apertava os ouvidos e cantarolava uma música qualquer.

Fechei os olhos. A imagem do Soluço, em pé na minha frente está marcada em minha mente. Embora ele não esteja mais perto, eu ainda posso ouvir sua voz sombria. A noite do acidente, a dor que senti, minha vida mudando, tudo isso voltando para me assombrar.

Começo a cantarolar.


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Notas finais do capítulo

Parece ruim, mas foi o primeiro impacto.