Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 22
Verdades obscurecidas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo tenso



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SOLUÇO

No escritório do Sr. Millor sento na cadeira. Percebo que ele está muito irritado. Ele gesticula e senta na ponta da mesa bem próximo a mim. Ele está tentando me intimidar, me pôr medo para eu me comportar como um bom garoto. Mas ele não dividiu uma cela com um cara como o Mario, e se o Mario não me intimidou ele não tem a menor chance.

– Por que você começou uma briga com Melequento Jorgerson?

Não posso dizer a verdade, isso envolveria todo mundo e não posso deixar a verdade vir à tona. – Não sei. Disse em tom baixo

– O que faço com você, Strondus? Recebi uma ligação de um pai te acusando de coagir seus amigos a consumirem álcool. O treinador de luta livre de Dumont está te denunciando, sobre você ameaçar seu melhor lutador. Você está no limite, caminhando para ser um delinquente para sempre. Quando vai entender que suas atitudes só prejudicam a si mesmo? Ou você explica direito tudo isso, ou não terei outra escolha senão te suspender.

Estou na merda. Não adianta nada me defender. Ele não acreditaria. Seria inútil.

– Não tem nada a dizer sobre as acusações?

– Não

– Vá lá para fora e espere eu decidir o que farei contigo.

Novamente sentado numa cadeira de metal, aguardando resolverem meu destino. Portas fechadas e cadeiras de metal são tema recorrente em minha vida.

Olho para cima e vejo Astrid entrar no escritório do diretor acompanhada de Kendra, Hanna e Amanda.

Minutos depois elas saíram e o diretor me chama.

Entrei e me sentei colocando os cotovelos nos joelhos e pensando no que Millor falou para mim. Estou no caminho certo para ser um delinquente para sempre. Astrid estava certa, sair é a forma de deixar o passado para trás. Em outro lugar não saberão quem eu sou ou o que fiz.

Terminei meu serviço comunitário, mas ainda não chegaram meus papeis de soltura. Bocão vai me matar quando souber o que aconteceu. O que vai acontecer quando eu voltar para o DOC?

Minha mãe chega. – Olá senhora Strondus. Obrigado por ter vindo.

– Já posso leva-lo?

– O rapaz agredido por ele ainda não prestou queixa, mas a politica me obriga a manter seu filho fora da escola até ser resolvido. Ligarei para você depois que informar o supervisor do distrito e informa-lo da duração da suspensão de Soluço.

Mamãe se agita e então olha para mim, aparentava um profundo cansaço. Seu olhos tinham marcas enormes. Marcas essa que eu coloquei ali. Ela está sofrendo, por minha causa. Eu destruí a minha mãe.

Chegando em casa fui para meu quarto e fiquei ali até anoitecer. Bocão chega e bate na minha porta.

– O que você pensa que está fazendo? Recebi uma ligação do diretor da escola dizendo que você foi suspenso por duas semanas. Quer voltar pra o DOC?

– Claro. Está com as algemas aí? Falo estendendo os braços

Bocão me encara bem perto. – Escuta aqui seu criminoso, não tenho nenhum problema em te algemar e te levar de volta para o DOC, mas se você não percebeu seu aniversário de dezoito anos está chegando e sabe qual o presente o sistema te dá? Eles te transferem do DOC para o presidio de adulto. Onde os presos governam e não vai ter um dia em que não vai ser ameaçado e forçado a fazer coisas que você só ouviu falar. Não quero que você vá para lá, você vai entrar um menino sabichão confuso e vai sair um bastardo endurecido. Você será comido vivo lá dentro e não terá ninguém para te salvar. Então, vai me dizer por que anda se metendo em brigas?

– O Melequento insultou a Astrid e eu a defendi.

– o que você está fazendo, Soluço? Ela é sua vítima. Você a atropelou.

– Eu não fiz isso.

– O quê?

– Eu quis dizer que não queria fazer isso.

– Não sei o que está acontecendo, mas não é bom. Se você não é capaz de se manter longe dela, sai da cidade. Ela ligou para o meu chefe esta manhã. Está te denunciando por assedio sexual.

– O quê?

– Ela vai prestar queixa, isso porque você não seguiu as regras.

Não acredito que ela me odeia a ponto de me mandar para a prisão de novo.

– Preciso saber, você teve algo com ela?

– Depende do que algo se refere.

– Sem gracinhas, Strondus.

– Eu não fiz sexo com ela.

– Você a assediou?

– Não. Nós tivemos um relacionamento de interesse mutuo. Acabou. Pronto.

– Como acabou?

Muito mal.

– Aqui estão os papeis de sua soltura assinado. Você concluiu o serviço comunitário.

Apesar daqueles papéis nas mãos minha cabeça só pensava na Astrid, pensei que o que compartilhamos era mais do que vivi com a Kendra. Será que ela se envolveu comigo por vingança?

– Você está livre, mas a escola é um problema. Você não pode voltar para a escola, Soluço?

– Sim

– O mundo não está contra você, você sabe.

Eu afirmei com a cabeça, mas não concordo. Desde que voltei eu tento consertar as coisas, mas só estou lutando até agora.

Depois que Bocão foi embora fui a cozinha e encontrei minha mãe se entupindo de remédios.

– O que está fazendo?

– Tomando remédio para estresse.

–Você pode ter uma overdose dessa merda.

Ela começou a rir. Então é por isso que ela tem se afastado. Se tornou uma viciada em remédios e eu não estava percebendo.

– O meu pai sabe?

– O que acha? Ele não quer pensar em coisas ruins, está muito ocupado. Eu sou uma péssima esposa, uma péssima mãe e fui expulsa do grupo da ajudante das mulheres.

– Pare se se importar tanto com o que pensam. Eu gritei – Você está matando a família.

– E você? Pensou na família quando atropelou Astrid?

– Isso não é sobre mim

– Você não entende. É sobre você. Existem quatro pessoas nessa casa e todas são estranhas umas para as outras. Isso é sobre você. Sobre nós.

Não sei mais quem sou. Pensei que tinha resolvido, mas a traição de Astrid me levou ao começo de tudo.

Minha mãe se apoiou na pia, me aproximei e tentei tocar em seus ombros e mostrar que estava com ela. Eu preciso de ajuda e ela também, mas ela endureceu. – Não me toque.

Corri até o quarto de Luane e bati na porta. Entrei no quarto e olhei para ela.

– Quanto tempo mamãe abusa dos remédios?

– Começou logo que você foi preso, ela diminuiu com o tempo e voltou assim que você voltou para casa.

– E você encara de forma natural?

– Quando ela está drogada não faz perguntas.

Quê? Me nego a acreditar no que eu ouço, quem é a pessoa que está na minha frente?

– Você ainda tem coinciência?

Ela dá de ombros.

Eu pego em seus ombros gritando com ela. – Luane, cresça. Assume a responsabilidade uma vez na vida.

Ela começa a derramar algumas lágrimas, não estou feliz em fazer isso com minha irmã, mas me deixa mais aliviado pelo menos um fio de emoção sair dela. Sinto suas emoções também, mas agora elas estão em conflito com as minhas. Não posso ficar perto dela. Não consigo. Ela sempre foi uma parte de mim. Seu sofrimento é meu, e agora não quero tomar parte disso.

Deixei-a chorando e desci a rua. Não pensava em onde estada indo. Quando me dei conta estava indo para a casa da senhora Reymond. Ela era a única pessoa que eu podia contar. Quem sabe eu possa morar naquele quartinho acima da garagem.

Toquei a campainha contando que ela ouvisse, talvez eu instale uma daquelas lâmpadas que acende quando a campainha toca, assim quando a audição dela falhar de vez isso será uma ajuda.

Quem me atende não era a senhora Reymond e sim o dono do restaurante. – A senhora Reymond está?

– Você não é o Soluço Strondus?

– Sim, sou eu.

– De onde conhece minha mãe? Ele me questionou. Coloco minhas mão nos bolsos. – Eu trabalhei para ela.

– Foi você que construiu o gazebo?

– Sim

– Enquanto Astrid trabalhava aqui? Vocês dois aqui, juntos?

– Com a senhora Reymond

–Ela sabia que você machucou a Asty? Esquece, pela sua cara ela sabia. Claro que ela tentou consertar as coisas.

– Senhor, por favor. Preciso falar com a senhora Reymond. Ela é a única que me resta.

– Minha mãe morreu ontem, pela manhã.

Não, o mundo não pode ser tão cruel? – Você está mentindo.

– Minha mãe teve um ataque cardíaco. Agora, não sei o que andou acontecendo. Mas a mãe da Asty quer você bem longe dela. Respeite essa família e deixa-a em paz.

– Ok, sem problema.


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