O Legado Rajaram escrita por SBFernanda


Capítulo 1
O Legado Rajaram


Notas iniciais do capítulo

Li, finalmente, a Saga A Maldição do Tigre, e fiquei, como a grande maioria, muito inconformada com o fim de Kishan, ele pareceu só sofrer. Confesso que essa Oneshot não é o que realmente esperava, mas é algo que de certo modo me faltou, algo que realmente me mostraria que ele estava feliz com a escolha dele e do Destino. Enfim, caso alguém leia, eu peço que deixe suas impressões sobre a One.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/663082/chapter/1

O Legado Rajaram

Estava tudo escuro, exceto naquele cômodo, onde as luzes do abajur sempre ficavam acesas. Tínhamos ouvido o som que indicava que o habitante daquele local estava acordado e por isso seguíamos bem lentamente para lá. Quando a porta se abriu, no que a empurrei, vi os olhos dourados me fitarem e o sorriso mais lindo do mundo se abrir, iluminando o meu início de dia. Tinha um pequeno cupcake na mão, com uma única vela acesa e me apressei para o lado de meu filho, que segurando nas grades do berço, já se encontrava em pé.

- Parabéns pra você... – começamos a cantar, eu e Ren, que tinha seguido atrás de mim e agora estava com nosso filho no colo. Ele batia palmas animado, olhando para a vela acesa. – Assopra? – o incentivei e ele não demorou a fazê-lo, com minha ajuda e de Ren, logo a vela estava apagada e lhe entreguei o cupcake, o pegando logo em seguida.

Anik Kishan Rajaran estava comemorando o seu primeiro ano de vida e apesar de não entender muito sobre o mundo, sobre si e sobre nossa história, era um menino esperto e extremamente amado, é claro. Nosso filho já tinha o nome escolhido antes mesmo de sabermos que ele nasceria, como em tudo em nossa vida, o destino vinha se fazendo presente. Porém, eu não pensaria em qualquer outro nome para meu menino. Uma homenagem ao Sr. Kadam, nosso segundo e querido pai, e a Kishan, membro de nossa família que fazia muita falta para todos nós. Ren, eu sabia, pensava no irmão sempre que olhava para os olhos de nosso filho.

- Que tal o presente? – ouvi a voz de meu marido e o vi pegando o embrulho que trouxera junto consigo. Tinha dito que aquilo não era necessário, pois Anik não entendia ainda, mas ele estava tão feliz embrulhando o primeiro presente de aniversário de nosso filho que não insisti. Ren, desde que descobrira que iria mesmo ser pai, vivia com os olhos brilhando e um sorriso no rosto. Eu não estava tão diferente assim, pois desde que me apaixonara, este fora o destino que eu queria ter: ser mãe. E era. Anik estava animado rasgando o papel com a ajuda de Ren e quando viu o que tinha dentro soltou um gritinho animado.

- Raaarw! – ele imitou um rosnado e nós dois rimos do pequeno. – Kitan!

O presente de Anik era um tigre de pelúcia com o pelo preto. Ele era apaixonado por meu tigre branco, mas desde que ele nascera, eu contava as melhores partes de minha aventura, de Ren e de Kishan para ele. Não queria que ele não soubesse suas raízes e era uma forma de fazer o tio estar presente na vida de nosso pequeno filho. Por isso, logo que viu o tigre negro, Anik gritou o nome do tio: Kishan.

Aprender o nome do tio tinha rendido um grande momento de ciúmes por parte de Ren. Anik tinha falado a primeira palavra: mamãe e apenas alguns meses depois falara papai. Porém, não passou muito tempo até Kishan aparecer daquele jeito: “Kitan”. Eu comemorara e Ren esboçou um sorriso saudoso, mas pouco depois o ciúme ficara aparente e tive de explicar toda a história que eu contava a Anik para que aquilo diminuísse. Não havia motivos para ciúmes, eu lembrava, mas parecia impossível, mesmo depois de todos os anos.

Logo que começamos a chamar Anik pelo nome, ainda na barriga, Ren se mostrou relutante em usar o segundo nome dele, que era o mesmo de seu irmão. Demorei a conseguir fazê-lo falar, mas enfim percebi a dor em seu olhar. Eles passaram anos separados, mas sabiam que estavam bem. Até mesmo a rivalidade era algo normal entre os irmãos, mas agora que sabia que nunca mais o veria, chamar o filho pelo nome de Kishan era praticamente impossível para ele. Por isso, concordamos em quebrar a tradição da família Rajaram, ou assim brinquei, e o chamamos pelo seu primeiro nome, em lembrança do Sr. Kadam, que sempre era chamado pelo sobrenome.

Tínhamos muito o que fazer, pois nosso dia seria cheio. Por isso, saímos logo para a área de café do hotel, após trocarmos a roupa de Anik e lutamos para o fazer comer alguma coisa. Distraído como estava com o tigre, era difícil chamar sua atenção. Meus pais adotivos não gostaram muito de nossa viagem bem no dia do primeiro aniversário do neto, como eles diziam cheios de si. Mas após muita conversa, eu e Ren concordamos que era mais do que na hora de fazermos essa visita.

Estávamos novamente na Índia. Apesar de nossa casa ainda estar no mesmo lugar e da mesma forma, estávamos ainda viajando e, assim sendo, nos hospedamos em um hotel. Eu ainda via o nervosismo pelos olhos brilhantes de Ren enquanto ele fazia caretas ao dar de comer para Anik. Era a primeira vez que visitaríamos um templo de Durga desde a nossa aventura. Eu tentava parecer forte, mas estava igualmente nervosa e ansiosa.

Um mês atrás, quando estávamos tentando decidir o que fazer no aniversário de nosso filho, dei a ideia de levá-lo ao templo, na India. Ren achou estranho, pois apesar de toda a nossa aventura, não éramos frequentadores de templos ou igrejas. Por isso, ao receber seu olhar confuso, me vi novamente nervosa, como muitos anos antes, e tendo de me explicar de forma constrangida:

- Acho que precisamos, Ren. Desde que nos casamos não fomos lá. Sei que Durga e Kishan não vão acordar mais, mas precisamos. Anik é um presente eu quero que ele veja...

- Ele é muito pequeno, Kells, não vai se lembrar quando for maior. – Ren logo me cortou, tentando trazer a verdade à tona.

- Eu só... – tentei pensar em algo mais plausível, mas então desisti. Desde a batalha onde nossas mentes tinham ficado conectadas não conseguíamos esconder mais nada um do outro, sempre sabíamos o que o outro realmente sentia, mesmo sem ouvir isso. – Preciso saber que Kishan está realmente feliz. Eu prometi um final feliz a ele e até ter essa certeza meu coração não estará sossegado, Ren. – então vi o ciúmes em seus olhos em seguida a compreensão. Ele me abraçou com carinho e me deixei relaxar contra seu peito. – Você entende?

- Entendo, Kells... Mas ele pode não aparecer. – sua voz era calma, carinhosa, como apenas Ren sabia ser.

- Eu sei. Eu só... – parei, suspirando. – Sonhei com isso. Talvez seja um sinal de que vai acontecer. Ou talvez Kishan queira apenas ver o sobrinho. Não custa tentar, não é?

- Não... – ele então deu um pequeno sorriso. Ren sabia que eu me culpava por não garantir um final feliz para o irmão, como tinha prometido. Eu o tinha pego lendo inúmeras vezes a carta de Kishan, que ficava guardada em segurança em nossa casa, e quando perguntei a ele o motivo tudo o que respondera era que seu irmão tinha amadurecido.

Por isso estávamos ali, na India, perto do local que tínhamos estado há tantos anos, seguindo para o mesmo tempo em que vimos Durga e seu tigre ganhar vida pela primeira vez em nossa aventura. Enquanto Ren colocava nossas coisas no carro, contava aquilo para Anik que estava em meu colo e agarrado ao tigre de pelúcia.

- Sua mãe me deu o primeiro beijo nesta noite, Anik. – Ren contou, um sorriso de vitória em seus lábios, enquanto entrávamos no carro e ele dava partida. – Eu já estava apaixonado por ela há muito tempo e estava com medo de ela não me dar permissão de beijá-la, como fizera na primeira vez.

Eu sabia que dali há alguns anos teríamos de contar toda a história novamente, pois nosso filho não se lembraria, mas naquele momento a história era mais para nós dois. Dois apaixonados eternos que não conseguiam deixar de se declarar o tempo todo.

- Mamãe não tinha como saber que a permissão era algo que mudaria algo. Não estava pronta para isso. Queria muito o beijo, mas não queria parecer desesperada por ele e acabou falando não. – ri com a lembrança e Ren também.

- Então, quando consegui aquele beijo fiquei eufórico. Não conseguia ficar longe da mamãe, Anik, e a cada instante, mesmo como tigre, tentava tocá-la e ter mais de sua atenção.

- Por isso quase me derrubou em frente ao templo. – tinha desistido de fingir contar a história para nosso filho que estava alheio a tudo, brincando com seu novo presente.

- Não deve culpar um homem apaixonado por fazer algumas coisas sem controle. – Ele piscou para mim, pegando minha mão e depositando um beijo nela, mas logo a soltando para voltar a conduzir o carro. A estrada estava calma, como já notara que era naquela parte da cidade, em direção ao templo.

Não demoramos a chegar e assim que Ren estacionou, descemos e fitamos o local onde tudo começara. Ele passou as mãos por meus ombros, deixando o corpo encostar no meu e o silêncio permaneceu até Anik soltar uma gargalhada e nos tirar do transe. Ele olhava para o tigre e em seguida olhou para o templo.

- Trouxe uma coisa. – disse Ren indo até o carro. Quando voltou tinha diversas frutas em uma cesta. – Não custa nada tentar, não é mesmo? – Seu sorriso tentava ser genuíno, mas apesar da esperança que tínhamos, nossa fé continuava fraca, como da primeira vez que tínhamos estado ali, ou quase.

- Mesmo que não dê certo, acho que estamos fazendo o certo. Talvez pudéssemos fazer sempre isso, escolher uma data para que Anik tenha mais contato com sua outra cultura. – enquanto falava, nós entrávamos no templo que em nada mudara.

- Acho que pode ser uma boa ideia. Assim também mantemos as história em dia. – comentou Ren em voz baixa. O templo estava vazio, mas não paramos até encontrarmos a estátua de pedra de Durga e Damon, que agora sabíamos ser Kishan.

- Não entendo porque o nome permaneceu sendo Damon. – comentei, colocando Anik no chão. Ele dava poucos passinho e tinha parado em frente ao tigre de pedra e olhava deste para o seu de pelúcia, menor.

- Deve ser por conta do amuleto. Kishan não deveria querer que fosse o seu nome. Ele amadureceu. – novamente seu tom de voz era orgulhoso. Ele tinha orgulho do irmão, ao mesmo tempo que percebi a saudade.

- Que tal fazermos como da primeira vez? – retirei da bolsa de Anik duas flanelas. Na primeira vez que tínhamos estado ali limpamos a estátua, tirando sua poeira e desta vez eu o faria com mais carinho. Ao ver Ren concordar, me abaixei ao lado de Anik e o puxei junto comigo. – Ele é o titio Kishan. – sussurrei para ele e senti o olhar de Ren, que limpava os braços de Durga, em mim. – Ele é um tigre grande e muito bom, como já contei, e ele vive com Durga. Ele é o pai de todos os tigres.

- Kitan! – Anik sacudiu o seu tigre de pelúcia e em seguida olhou para o tigre de pedra e só então para mim. Seu sorriso aumentou e lá estavam alguns dentinhos que estavam nascendo à mostra.

Nos ocupamos em limpar toda a estátua com carinho enquanto vigiávamos Anik que arrastava o seu tigre pela sala com seu passinhos vacilantes. Quando enfim terminamos, Ren depositou as frutas na vasilha que ficava aos pés da deusa e eu peguei Anik no colo. Nós dois ficamos lado a lado e Ren me abraçou antes de começar:

- Durga, sei que faz algum tempo desde que aparecemos, sei que nossa fé não muito cresceu desde a primeira vez que estivemos aqui e não tem nenhum motivo para que apareça para nós, mas peço que considere nossos corações e nossos desejos e atenda aos mais sinceros.

- Peço que aceite nossa oferenda e se possível, que nos dê um sinal ou resposta. Sei que nossa vida já está seguindo o curso normal, mas se possível, permita que nossos corações recebam o conforto de que precisam. Eu apenas preciso saber que Kishan está bem. Que ambos estão.

Mantive meus olhos fechados, mesmo quando Anik começou a se remexer. Não sabia se Ren também estava com os olhos fechados, mas em minha mente pedia diversas vezes que recebêssemos uma resposta. Na primeira vez, Ren teve de se transformar em tigre para que algo acontecesse, mas essa opção não existia mais. Ficamos ali por poucos segundos, porque logo o tigre de pelúcia caiu e Anik reclamou.

Me abaixei, enfim aceitando que nada aconteceria, que tinha tido apenas um sonho e me iludira com ele. Ren ficou ao meu lado enquanto Anik caminhava para a estátua. Nenhum de nós disse nada, mas ao olhar em seus olhos percebi a tristeza ali presente. Ele também esperava ver Kishan. Dei um pequeno sorriso, lhe tocando o rosto carinhosamente e me repreendendo por fazê-lo acreditar em um sonho meu depois de todo esse tempo. Quando então ouvi o que pensei ser impossível.

Anik correu para longe quando o barulho de pedras se movendo começou. Não houve tremos ou mesmo um rugido, mas o tigre a nossa frente se movia aos poucos, mudando a posição que estava e se sacudindo como se espanasse poeira para longe. Durga, um pouco acima, fazia o mesmo, mas nossos olhos estavam fixos do tigre negro que nos fitava.

Os olhos dourados pareciam divertidos, quase como se esperasse que disséssemos algo e então ele se fixou nos meus por alguns instantes, antes de se desviar para os de Ren. Só então o tigre negro olhou para a mulher ao seu lado e em seus olhos eu vi um brilho que aqueceu meu coração antes de ouvir as voz dela preencher o local.

- Sua oferenda foi aceita e agradeço por ela. – toda a superioridade e magnitude de Durga não existia naquele momento. Ela era Anamika. – É muito bom vê-los novamente Kelsey e Ren. Sentimos sua falta.

- Não pensamos que realmente iam aparecer. – Ren confessou, pois eu estava sem voz, olhando de um para o outro, absorvendo o olhar de Kishan e o guardando em minha memória.

- O sonho de Kelsey foi um sinal. Seu coração precisava ser consolado. Esta culpa sem fundamento precisava ser sanada, minha irmã. – desta vez meus olhos se prenderam nos dela e sorri, verdadeiramente, com o modo que antes tanto me irritara. – Lembra-se de quando esteve aqui pela primeira vez? – acenei, confirmando. – Lembra-se do que disse em relação ao seu tigre, na época?

- Que eu tinha um tigre para me proteger em época de guerra. Realmente o tive. – Ren pegou minha mãe ao lembrarmos da guerra que enfrentamos juntos. Foi então que me lembrei de algo mais. – E disse que sabia que eu o amava tanto quanto você amava o seu tigre. – meus olhos seguiram para Kishan e os dele estavam em mim.

- Kitan! – a voz fina nos tirou de nosso topor e eu ri. Anik tinha estado olhando amedrontado para Kishan, mas agora agarrava a orelha de seu tigre de pelúcia e olhava para o real. Kishan o olhou e então Durga o tocou levemente.

Não demorou mais um segundo e o homem que era Kishan estava a nossa frente, estendendo os braços para meu filho. Anik não esperava aquilo e se afastou, assustado.

- Oh, não, Anik. Vai lá. Lembra? Titio Kishan é um tigre e um homem também.

- Eu estava doido para lhe conhecer, camaradinha. – mas os olhos de Kishan pararam em Ren. Este estivera quieto todo o tempo. Absorvera o que eu e Durga falávamos e agora se fixava no irmão. – E queria lhe ver também, irmão.

Os dois se ergueram e rapidamente se abraçaram. Aquilo pareceu indicar a Anik que o homem era bom, pois seu pai o abraçava, assim ele se afastou de mim e foi para perto dos dois. Ren logo pegou nosso filho no colo e o levou até Kishan. Por um instante, o tempo que me levantei e, assim como Anamika, fiquei olhando os três, Kishan nada fez a não ser fitar os olhos dourados do sobrinho.

- Meu olhos, afinal. – era como se apenas vendo ele pudesse ter certeza de que o que vira de fato acontecera.

- E seu nome, irmão. – Ren confirmara que não mudáramos nada da visão de Kishan e isso pareceu o deixar mais feliz. Meu marido então passou nosso filho para os braços do irmão, que o pegou com zelo e o balançou, murmurando palavras em hindi.

- O deixa feliz de trazer Anik aqui, Kelsey. Kishan lamentou não poder conhecer o sobrinho... – Anamika me chamou com aquela frase e me aproximei. Logo a cobra que estava enrolada em seu braço se esticou em minha direção.

- Fanindra! – me alegrei, esticando a mão para tocar-lhe a cabeça. Tinha pegado um carinho grande por ela. – Senti a sua falta também, minha amiga. – mas assim como todos nós, Fanindra olhava para Kishan e Anik.

- Você é um menino muito especial, Anik. Eu vi... – Kishan sussurrava e então olhou para Durga com um olhar conspiratório. – Eu e tia Ana vimos. Seus pais te criarão muito bem e eu sempre estarei com você.

Por mais simples que aquelas palavras pudessem ser, senti meus olhos se encherem de lágrimas e logo Ren estava do meu lado, me abraçando pelos ombros e sorrindo. Assim como para mim, aquele estava sendo para ele um momento de rever seu irmão e saber que ele estava bem e feliz.

- Você está feliz, irmão? – fiquei feliz de ter sido Ren a perguntar e olhei para Kishan esperando sua resposta. O mesmo o olhou e em seguida me olhou, sorrindo abertamente.

- Estou. Sinto falta de vocês, da mesma forma que Anamika sente falta do irmão. O tempo para nós passa de forma diferente do que foi para vocês, mas somos felizes juntos. Diga-me, Kelsey, o que vê em meus olhos. – ele sabia que apesar do meu medo, eu saberia identificar aquilo, pois era a mesma forma que ele me olhara há anos atrás.

- Você a ama. – falei simplesmente, sentindo o peso de meu coração ir embora junto com a afirmação.

- Sim. E olhamos por vocês, especialmente. Estão em minha mente e, como prometido, uma parte de meu coração será sempre seu, Kelsey. Mas meu amor por completo é dela.

Aquilo me alegrou. Anik mexia no rosto do tio. De alguma forma era como se nosso filho soubesse o que estava acontecendo, que aquele era um momento único.

- Nosso tempo é curto. – disse Kishan me entregando Anik com certa relutância. – Infelizmente não podemos ficar aqui tanto quanto queríamos, mas estamos felizes por termos lhes visto. Eu preciava deixar o coração dos dois livres desse peso e acho que minha carta não fez isso sozinha. – Ren pegou minha mão ao mesmo tempo que Kishan olhava para Anamika, que acenou afirmando. – Nem sempre poderemos fazer isso, mas prometo que acompanharei o crescimento dele. Ele é o legado Rajaram...

- Ele...? – Ren pareceu querer perguntar algo, mas Kishan ergueu a mão.

- Não posso falar mais do que isso irmão, mas lembre-se: crie-o como fomos criado e ele será um grande homem, como você.

- E como você, irmão.

- Espero poder ser exemplo agora, sim. Mas ele será maior. Ele será especial. Anik Kishan Rajaram, nunca deixará nossas raízes morrerem, eu sei. – ele sorriu e então se transformou. Chegou perto de mim e me abaixei com Anik ainda nos braços. O que aconteceu em seguida me pegou desprevenida. Kishan soprou, ou o mais perto disso que o tigre pode fazer, no rosto de Anik.

- O que ele fez? Por que ele fez isso? – Perguntei para Anamika que já voltava para seu lugar, como Kishan que nos dirigia um olhar saudoso.

- Ele o abençoou. Sentiremos falta de vocês, não nos abandonem... – pediu e eu me aproximei com nosso pequeno no colo e ela estendeu um dos braços para mim, tocando-me o ventre. – E eu abençoo o que está por vir.

No mesmo instante tanto Durga quanto Kishan voltavam a virar pedra, não antes de o ver piscando para nós. Ren se virou para mim no mesmo instante.

- O que está por vir? O que ela quis dizer com isso?

- Ela sempre estraga as coisas. – brinquei, sentindo meus olhos com lágrimas, mas desta vez era de perfeita felicidade. Kishan estava feliz, ele tinha tido o seu final feliz. – Acho que Anik ganhará um irmãozinho.

- Você está grávida? – vi um sorriso se formando nos lábios de Ren, ao mesmo tempo que o brilho lhe aparecia nos olhos.

- Sim, Ren, e ele foi abençoado por Durga. Só espero que isso seja melhor do que ser a protegida dela. – ri, mas logo eu e Anik estávamos presos nos braços de Ren, que nos abraçava e me beijava.

- Nã! – gritou nosso bebê, empurrando o rosto de Ren que riu.

- Acho que Kishan jogou algo mais nessa benção dele. – ambos rimos enquanto saíamos dali de mãos dadas e uma alegria nova.

Ser realmente feliz dependia de inúmeros fatores e um deles era a família. Saber que mesmo longe alguém tão querido e amado estava feliz, amando e com sua própria família nos deixava feliz de uma forma completa. As dificuldades da vida hoje eram coisas simples que aprendíamos a enfrentar juntos e agora viria uma ainda maior: dois filhos pequenos e um deles que ganhara o ciúme de sua mãe. Eu estava feliz, finalmente, estávamos todos com um final feliz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém leu? Se sim peço que me diga o que achou, por favor?

Essa One é uma ideia que tive e que pensei em talvez desenvolver. Além do mais, pesquei algumas coisas que me lembrei durante os livros para poder escrever. Bem, se alguém ler e gostar da ideia, estou pensando seriamente em continuar e fazer dessa One o prólogo. O que acham?

Agradeço a quem ler desde já.