Rebeldia Agridoce escrita por Lenka Volkovesque


Capítulo 1
Longo empurrão antes das pedaladas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me, mas vou ter que dar a mesma desculpa de sempre.
Estou enferrujada.
Devaneios de alguém que gosta bastante de tudo que lembre doces, brinquedos e tons pastel.
Devaneios de quem está desintoxicando a própria mente de todos os pensamentos maus.



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Depois da escola, Clara e Sofia vendiam biscoitos. Passavam de casa em casa em sua vizinhança no subúrbio com seus uniformes de escoteira comprados em lojas de fantasia e biscoitos de atacado. Ninguém parecia perceber a fraude, talvez porque estivessem ocupados indo buscar o dinheiro para os biscoitos. Nem notaram que os distintivos eram bottons genéricos comprados na feira! O nervosismo das meninas depois da primeira tarde de venda logo deu lugar aos risos internos da desatenção dos adultos e criancinhas suburbianas. No entanto, sempre havia o risco de encontrar um colega de classe no meio da vizinhança. Para evitar delações, ofereciam uma caixa a mais. Leve dois, pague um. Foi comprado em atacado, mesmo.

Sofia cuidava da tesouraria. Não da escola; dentro do quarteto. Da mesada dela, de Clara e de Isabela pegava 40% e trancava dentro de um diário, no qual escrevia toda a contabilidade. Com sua calculadora grande e colorida, estimava o quanto elas precisariam no futuro e quanto eram capazes de economizar agora. Foi um alívio quando a madrinha de Isabela lhe presentou com uma bicicleta nova e mais bonita que a anterior. A quarta bicicleta do grupo. Agora não precisariam mais economizar para comprar uma. Separava direitinho o dinheiro para comprar biscoitos e brinquedos para revender na rua, massinha e bijuterias para Isabela e Milena confeccionarem e venderem na escola. Como Sofia era a cabeça da turma, passou a oferecer aulas particulares para os colegas; até perceber que tinha mais retorno quando fazia os deveres de casa das outras turmas.

Milena não recebia mesada. Seus pais pouco se importavam com o que faltasse para ela e a comunicação em casa nunca foi decente. Nenhum assistente social foi capaz de tirar ela daquela atmosfera cheia de álcool e palavrões, porque seus pais continuavam juntos depois de onze anos e não batiam nela. Que critérios de merda. Os xingamentos que Milena aprendeu, sua dificuldade de se relacionar e sua agressividade pareciam ser problema só dela e não de seu lar desestruturado. Por pouco, uma tia materna se dispôs a matricular a menina numa escola de renome. Comprava material, mandava dinheiro todo mês só pra ajudar a criar a menina. Mas nunca sequer tentou conseguir sua guarda. Milena não conheceu calor humano de parente algum, apenas a piedade temporária de quem se dava essa intimidade.

Clara foi sua primeira amiga. Sentou ao seu lado porque gostou de sua lancheira e não saiu de perto por mais que Milena pouco respondesse. Criaram afinidade falando mal dos coleguinhas no recreio. Debochavam da dicção do menino esperto da turma. Clara começou a levar Milena para brincar em sua casa e naturalmente, a apresentou a Sofia. Isabela, que fazia balé com Clara, se juntou a elas logo depois.

Ganhou a bicicleta velha de Isabela, naturalmente. Não foi caridade. O quarteto era inseparável e elas sentiam simultânea e silenciosamente que sua amizade era mais sólida que rocha. Unidas pelo desejo de fugir da cidade e vagar de bicicleta. Um sonho de quase cinco meses que seguia firme, alimentado pelas aflições corriqueiras de cada uma delas.

Não vamos brigar

Estou cansada

Não podemos simplesmente dormir agora¿

Não dê as costas, não há nada mais para ser dito

Vire pra cá

Sei que estamos perdidos, mas logo seremos encontrados

Sia - Soon We'll Be Found


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Notas finais do capítulo

Minha irmã também tem onze anos.Não abandona o celular, fala mais gírias que qualquer surfista e, graças à postura que todos os pais têm com seus caçulas, faz mais coisas que eu tinha permissão para fazer na idade dela.Tenho dezessete.Tive uma infância-adolescência um tanto quanto solitária. Especialmente aos onze, mudei de horário e perdi contato com minha melhor amiga por dois anos. Tímida, passei por um período um tanto quanto parado. Nunca sofri de depressão, nem nada do tipo, Graças a Afrodite. Mas passei por tanto tédio que passei a achar que não era capaz de sentir ou reagir. Contrariando a precocidade da geração de minha irmã e a falta de aventuras da minha época, idealizei uma infância recheada de fantasia e aventuras. Assim me inspiro para divertir Bela, Lena, Clara e Sofia, e me divertir também.



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