“...Apenas duas pessoas solitárias

Para foder o amor e torná-lo mau”

— E.V.O.L, Marina And The Diamonds

Fim de expediente: ela enfim poderia ir para casa, aproveitar aquele dia.

Há cinco anos, casara-se com o homem de sua vida, e dessa união vieram dois lindos filhos: Noah e Luna, gêmeos fraternos, de dois anos e meio. A razão de viver de Thalia.

Era para a foto de sua família que ela olhava quando o telefone tocou; por sorte, o sinal estava fechado, então aproveitou os segundos que tinha para conectar o celular ao carro e atender à chamada.

― Então: já está em casa? Quero desejar meus parabéns ao meu segundo casal favorito! ― ela sorriu ao reconhecer a voz. Mas como não reconhecer, se a ouvira há pouco mais de uma hora?!

― Você é realmente dos anjos! ― ela comenta ― Obrigada por ficar com as crianças hoje!

― Sem problemas, Lia! Posso ficar com os dois numa... ― e então, o som de algo se quebrando se faz ouvir.

― Que parte de sua casa meus filhos quebraram dessa vez? ―Thalia sabia que seus filhos não eram santos, então nem se preocupou em perguntar o que acontecera.

―A sala! Mais especificamente, o aquário! ― o amigo suspira ― Cheshire, sai de perto da Dory! ― e ela ri, imaginando o desespero de Nico ao enxotar o gato para longe do peixinho ― Não ria: esse gato é tão louco quanto à pessoa que me presenteou com ele.

― Que espécie de amiga eu seria, se não lhe desse um gato para fazer companhia?

― Tchau, Thalia! Tenho que por seus filhos para dormir! ― ele tentara parecer zangado, mas sabia que era impossível. ― Boa sorte e boa noite! ― pelo tom de voz, Thalia entendeu o que o amigo queria dizer.

― Será boa mesmo! ― ela ri maliciosamente ― Boa sorte você, com esses dois pestinhas aí! ― e seu riso se transforma em um suspiro longo. ― Pode dizer a eles que os amo? Muito mesmo?

Não gostava de se afastar dos filhos, mas quando raramente o fazia, só confiava em duas pessoas para cuidar deles. Como Annabeth e Percy não estariam disponíveis, teve que ocupar Nico, o melhor amigo solteiro, que não deveria ler histórias de ninar numa sexta-feira à noite.

― Ouviram, ragazzos? Mamãe ama muito vocês! ― escuta a voz de Nico, e em seguida a dos filhos, gritando em resposta. ― Agora eles já sabem!

― E você? Sabe que eu também te amo?

― Sim, mamãe: eu sei! ― ambos riem, ao lembrar-se do surgimento desse apelido ― E eu também te amo, mas tenho que cuidar de dois bebês!

― Cuide bem dos meus filhos! ― ela solta o ultimato, antes de desligar e voltar a dirigir.

Um trajeto curto a separava de sua casa. De tempos em tempos, ela lançava um olhar feliz para o banco de passageiro, onde descansava o presente que daria ao marido; estava ansiosa para descobrir a reação do mesmo quando o recebesse, mas o tempo ― na verdade o culpado era o trânsito ― parecia indisposto a cooperar e, mais uma vez, ela se viu presa em um sinal fechado.

Resmungando um pouco, Thalia olha para os lados, na esperança de se distrair com a paisagem, mas tudo o que consegue é uma cena digna de primeira página: cabelos loiros claríssimos, reconhecíveis mesmo no escuro, um sorriso encantador, de arrancar suspiros de qualquer garota... De fato, ele arrancava suspiros de uma garota no momento, mas seus lábios estavam ocupados em beijar a dona de longos cabelos castanhos.

Era um grande furo de reportagem e Thalia não podia deixar passar, então, aproveitando-se de sua habilidade e de sua câmera profissional ainda estar no carro, ela ajeita o foco e tira uma sequência de fotos, mostrando-os em várias poses. Antes de partir, tirou mais uma foto, onde era possível ver o sorriso do loiro e o perfil da morena.

O sinal volta a abrir, e o caminho que Thalia tomava torna-se repentinamente mais longo.

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A parte ruim de ser criativo é que, junto com o dom de dar vida às loucuras de sua mente, vem também a insônia. Eram onze horas da noite, ele tinha que aproveitar o fato de as crianças estarem dormindo para poder descansar também, mas estava ali, deitado na cama, revisando as matérias que iriam as bancas na próxima semana.

― Estou indo dormir! Não invente de ouvir música alta durante a noite: lembre-se que temos crianças em casa! ― sua irmã mais nova o alerta, seguindo para o próprio quarto, sem lhe dar tempo de responder.

Mas ele jamais se esqueceria das crianças que dormiam no quarto ao lado: Noah, seu afilhado, e sua irmã gêmea, Luna, eram as criaturinhas mais importantes de sua vida. Podiam ser filhos de um casal de amigos ― mais especificamente, filhos de sua melhor amiga ―, mas ele os amava como se fossem seus. Duvidava muito que, com o ritmo de vida que levava, fosse um dia ter seus próprios filhos, então cuidava dos gêmeos com todo o carinho.

Estava deitado na mesma posição, agora cedendo ao cansaço, pronto para dormir, quando um ruído o desperta. Podia jurar que ouvira a porta se abrir, mas não teve chance de se levantar para checar, pois um corpo esguio se chocou contra o seu, aos prantos.

Ainda atordoado, Nico leva uma das mãos aos cabelos negros, cortados curtos, sentindo uma lágrima tocar seu ombro desnudo. A cabeça aninhada a ele se ergue, permitindo-o ver um par de brilhantes olhos azuis, banhados em profunda tristeza.

Aquilo estava errado. Muito errado! Era pra ser um dia feliz, repleto de comemoração, não de dor. Ela não deveria estar chorando em seus braços: deveria estar em outros braços, e seus olhos deveriam brilhar de prazer e felicidade. E no momento, brilhavam devido às lágrimas que escorriam numa torrente.

Encarando os olhos intensamente azuis, e incapaz de falar devido ao susto, sua mente formulava a pergunta que de seus lábios não passava: o que acontecera com Thalia?