Underground escrita por Isa


Capítulo 7
6 de abril de 2011


Notas iniciais do capítulo

Se os parágrafos não estiverem espaçados corretamente, não é culpa minha. Não sei o por quê, mas o Nyah não considerou dessa vez os que estavam prontos no Word e eu tive que arrumá-los. Fiz o melhor possível, desculpe qualquer transtorno.
Boa leitura!



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6 de abril de 2011 – 22:00

 

            Hoje mais coisas foram explicadas detalhadamente, mas deixe-me falar de uma coisa que aconteceu ainda ontem.

 

           Ontem à noite, quando acabei de escrever e guardei o diário numa mesa-de-cabeceira, bateram à minha porta. De início me assustei, mas então lembrei que tinham pessoas cuidando da segurança do prédio e me levantei para abri-la. Quem seria àquela hora?

 

          Acho que no fundo, no fundo, já sabia quem era antes de abrir a porta. Johnny entrou no quarto antes que eu tivesse a chance de negar sua entrada.

 

          - O que faz aqui? – perguntei em voz baixa.

 

          - Feche a porta, tranque de preferência, não quero acordar ninguém. – ele também falou baixo. Com certeza ele se referia principalmente à Blake. Já que eu estava querendo falar com ele, por mais que tentasse fingir que não, fechei e tranquei a porta.

 

         - Sempre acabamos trancados, hum. – falei, mas não era para ter graça, era uma ironia. Continuávamos conversando sem fazer muito barulho.

 

         - Eu não tinha como adivinhar que ela voltaria, Kate.

 

         - Tudo bem, ela é sua noiva, você tem mais é que ser feliz com ela. – não adiantava mais fingir que não era sobre esse assunto que queríamos falar.

 

         - Mas eu não me decidi ainda, não sei se devo continuar com ela.

 

         - Sugere o quê? Que devo sentar e esperar pacientemente sua decisão? Poupe-me. – dei as costas a ele e sentei-me na cama, cruzando os braços.

 

         - Não é isso, Kay. Só não quero magoar Blake. – ele agachou-se à minha frente – Eu não quis dizer que não sei com quem quero ficar, quis dizer que não sei se seria certo deixá-la.

 

         - Não seria mesmo, me conheceu outro dia.

 

        - Por isso mesmo sei que quero ficar com você, foi preciso muito menos tempo para gostar de você. – por que ele tinha que parecer tão irresistível? Quando Johnny começou a se aproximar não pude evitar beijá-lo, o puxei para mim enquanto ele me abraçou pela cintura. Era errado, mas eu não podia evitar. Quantas chances teria de achar alguém como ele? Ainda mais sem saber se conseguiria escapar daquilo tudo pelo que estávamos passando. Mas, se algo acontecesse, eu gostaria de ter sido “a outra”?

 

        - Johnny, tem que se resolver. – falei, mas mantendo-me próxima a ele. Já estava resistindo ao beijo, resistir à proximidade também seria meio difícil.

 

        - Faz dois anos que estamos juntos, já disse que tenho que me preocupar com ela. E ser trocada por alguém que conheço há dias não deve deixá-la muito conformada. – falou ele. Suspirei e me afastei de Johnny, levantando-me da cama.

 

        - Você está certo, essa situação toda é inaceitável. O certo é esperar tudo isso passar, e depois nos resolvermos. – eu mesma não queria fazer aquilo com ninguém. Dois anos namorando e depois noiva de um cara, chega uma outra que ele conhece fazem alguns dias e o tira de você. Não parece muito agradável, e muito menos correto.

 

        - Está certo, assim é melhor para nós e para Blake. – Johnny levantou-se e, antes de sair, parou à porta – O que acha disso tudo, Kate? Digo, desses zumbis e o gás...

 

        - Não sei o que pensar. Mas aqui parece bem melhor que lá embaixo.

 

       - Teremos que voltar se quisermos salvar os outros. Pelo menos um de nós tem que ir, para mostrar onde está o trem.

 

       - Acho que vou me arriscar. Você não se dá muito bem com David, eu devo minha vida a ele.

 

       - Entendo... Vou com você, precisa de alguém que te dê dicas de como atirar, caso precise. – ele deu um meio sorriso e saiu. Fechei e tranquei a porta, me jogando na cama em seguida. Ah, que saudade do sossego. Quando tudo isso acabar, além de aulas para aprender a atirar, eu iria procurar um lugar bem calmo para morar.

 

 

        Hoje, dia 6, tivemos algumas respostas, como já mencionei. Henry e a mulher latina – que ouvi ser chamada de Sofia - foram nos acordar às nove da manhã. Quando Josh reclamou do horário, disseram que era o melhor, já que planejávamos salvar David e Aaron.

 

        Antes de sairmos, eles nos deram roupas novas e nós cinco tomamos banho – frio, mas banho mesmo assim –, nos deram as também saudosas escovas e pastas de dente*, e em seguida nos reunimos na sala do apartamento para que Henry nos contasse o que sabia.

 

       - Por onde querem que eu comece? – disse ele.

 

       - Do começo, claro. – disse Ethan – Como chegamos à essa situação?

 

       - No dia primeiro de abril – começou Henry – um grande avião sobrevoou a cidade. Não sabemos se era um americano, ou um estrangeiro, se era coisa do governo ou de terroristas. Desse avião foi lançado um gás, e ele transformou praticamente todos da cidade, que o respiraram no momento em que foi disperso, nesses seres, que chamamos de Infectos. Eles são definitivamente zumbis, só que quando querem conseguem se unir organizadamente por um tempo, pelo menos até conseguirem o que desejam. Por isso não vamos lá embaixo, se vissem muitos de nós lá poderiam ter a idéia de se juntar e lutar de igual para igual. Não sabemos se teríamos chance.

 

       - Por alguma razão, alguns que respiraram o gás não foram afetados, deve ser algum tipo de imunidade natural, mas é só uma suposição. Vocês não foram afetados porque aparentemente o maquinista parou seu trem antes que saíssem do túnel, de forma que o veneno não chegou lá embaixo, ou quando chegou já não tinha seu efeito.

 

       - Não há como sair da cidade? – perguntou Blake.

 

       - Não. As pontes foram derrubadas, telefones cortados, só a televisão ainda dá sinal, mas nenhum canal menciona o que aconteceu. E não há canais de programas informativos.

 

       - Bem que senti falta da CNN. – comentou Josh, recebendo um olhar de Ethan que dizia ‘duvido’. – Só porque sou adolescente não posso gostar de permanecer informado? ‘Tá por fora, cara.

 

       - E já que nenhum resgate vem, - continuou Henry - pensamos que seja coisa do governo. Ou isso ou nos puseram em quarentena. Descobrimos da pior forma que os Infectos podem passar seu vírus para nós. – ninguém perguntou como eles descobriram. Óbvio que alguém fora infectado.

 

       - E desde então procuramos sobreviventes, para que possamos passar pelos Infectos e ver se há alguma barca ou coisa parecida no litoral que possamos usar para chegar ao resto do país.

 

       - Mas mesmo essa alternativa não é garantia de nada. – falei, Henry assentiu. – Sem falar que vocês não parecem tão animados assim em achar sobreviventes. Não desceram no metrô para nos ajudar.

 

       - Já disse: os Infectos iam se juntar contra nós, não teríamos chance, e uma das hipóteses sobre o metrô era que fizesse parte disso tudo que aconteceu. A situação com o maquinista era nossa segunda opção. Se conseguíssemos achar alguém na plataforma algum dia, seria a mais correta.

 

       - Tenho certeza que o fato de não terem descido provocou a diminuição no número de sobreviventes. – disse Johnny.

 

       - Você pode estar certo, mas agora isso não adianta. Se ainda quiserem podemos ir ajudar aqueles que dizem ter deixado para trás. – disse Henry, no que todos assentimos. – Não acho aconselhável que o Josh venha, o tornozelo ainda não está cem por cento. E mesmo assim acho bom que apenas um de vocês venha, não quero arriscar. No caso de algum imprevisto acontecer, não quero perder todos os sobreviventes que achei.

 

       - Eu vou. – falei, antes que alguém falasse antes – Devo minha vida a um deles.

 

       - Pois bem, então está decidido? – perguntou Henry, olhando para os outros.

 

       - Também gostaria de ir. – quem falou foi Johnny. Tentei não lhe lançar um olhar de reprovação como Blake fez – Não devo nada a ninguém, mas acho que seria uma boa oportunidade de saber como andam as coisas lá fora.

 

      - Por que não pode fazer isso aqui? – perguntou Henry.

 

      - Não estou afim de ficar parado sem fazer nada, Henry.

 

      - Se for isso, também estou disposta a ir! – interrompeu Blake.

 

      - Nada disso, dois já são mais do que eu indicaria.

 

      - Não importa o que indica, eu não vou ficar...

 

      - Então vou mudar minha frase: dois é mais do que eu permitiria. – falou Henry. – Satisfeita, agora?

 

     Blake olhou para ele com raiva e depois ficou em silêncio, ainda muito irritada. De fato eu ficaria assim no lugar dela.

 

     - Então, vamos? Peguem o que quiserem levar. – Henry levantou-se, eu e Johnny assentimos. Como se alguém fosse respondê-lo de forma inadequada depois do fora que deu em Blake.

 

 

     Meia hora depois estávamos descendo as escadas – eu carregava apenas esse diário dentro do casaco com uma caneta, e Johnny levava a arma. Henry ia à frente.

 

     - Não devia ter vindo. – sussurrei para Johnny – Vai deixar Blake pior ainda.    

      

     - Eu avisei ontem. E acha que vou ficar parado, sem fazer nada, querendo saber o que está havendo, só porque Blake fica tendo ataques de ciúme? Não, obrigado. – ele disse. Hoje o pessoal estava estressado.

 

     - Brigaram de novo?

 

     - Ela acordou ontem. Perguntou onde tinha ido, disse que fui beber água, ela não acreditou e ainda está me olhando torto.

 

     - Com razão, por sinal.

 

     - Isso não vem ao caso.

 

     A essa altura já estávamos quase chegando ao segundo andar. Quando chegamos ao térreo, tínhamos o jipe e mais dois homens armados nos esperando.

 

     - Não irá conosco, Ray. – Henry falou para um deles – Dois deles vêm com a gente, um tem arma.

 

     Ray não me pareceu realmente chateado em se retirar. O que ficou era um moreno alto, de rosto intimidador. Se eu fosse um zumbi assassino, fugiria dele e do fuzil que carregava.

 

     Entramos no jipe depois de conferirmos se a área estava limpa. Eram nove e quarenta e alguma coisa, e alguns Infectos rodeavam o prédio, mas não ousavam se aproximar. Para minha felicidade parecia que a idéia de unirem-se contra nós ainda não passara em suas mentes. O resto da paisagem não mudara muito, só percebi corpos com sangue mais fresco – pelo visto os Infectos atacavam uns aos outros também.

 

    - Não chamamos muitos para vir conosco para não chamar a atenção dos Infectos. – explicou Henry – Com poucos vão pensar, se é que realmente continuam pensando, que vamos para nossa patrulha rotineira.

 

    Me senti voltando no tempo enquanto voltávamos ao metrô, cheguei a sentir-me mal. Só estava indo porque estava em dívida com David, de certa forma. Caso contrário nunca desceria lá novamente.

 

   Chegamos à plataforma com muita cautela. Os ‘zumbis’ poderiam ter dominado o lugar da noite para o dia – literalmente. Mas para nossa sorte parecia tudo como antes... Parecia.

 

   Quando descemos para os trilhos, ouvimos passos, muitos passos, vindos de dentro do metrô e alguns do lado de fora da plataforma. Pareciam estar correndo.

 

   - Não acredito. – resmungou Henry, preparando seu fuzil – Parabéns, vocês dois, são os sobreviventes mais azarados do mundo, desde a Segunda Guerra Mundial.

 


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Notas finais do capítulo

* já estava escrito há um tempo, mas depois do review da Loolis tenho que falar: agora a coisa vai ficar mais agradável, né não, Loolis? x)
E aproveitando queria agradecer a todos que têm acompanhado a fic, deixado reviews, recomendações etc. Não vou citar nomes porque todos, sem exceção, fizeram a diferença na hora de me estimular a escrever e procurar melhorar a história.
Espero que gostem de mais esse capítulo e, mais uma vez, obrigada! =D E, a propósito: Feliz Dia Mundial do Rock!! o/ - Não sei vcs, mas eu adoro x)