Underground escrita por Isa


Capítulo 5
5 de abril de 2011


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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5 de abril de 2011 – 11:30

 

         O clima continua tenso, mas tenho uma ótima notícia, ou eu acho que o seja. Só não a passarei agora pois os fatos se explicarão sozinhos.

 

         Acordei na manhã seguinte com meu casaco me cobrindo, Johnny devia tê-lo posto ali. Ele ainda dormia do outro lado do banheiro. Ótimo, agora além de estar presa ali, estava presa e num ambiente não tão amigável quanto antes. Eu esperava que estivesse errada, quem sabe Johnny esquecesse o que tinha acontecido e voltássemos a conversar como os amigos que nos tornamos. Realmente odeio o desespero, quando eu fico nervosa as coisas não dão muito certo.

 

         Já mencionei a fome, a propósito? A última vez que comi foi no outro vagão com o resto do pessoal, no dia 3, quando dividimos barras de cereal e outros lanches de viagem que trazíamos nas bolsas ou nos bolsos. Começava a me sentir fraca e tinha medo de, na hora que fôssemos tentar passar por aqueles monstros, zumbis, sei lá, perdesse minhas forças e ficasse pelo meio do caminho. Não que achasse que Johnny me abandonaria, pelo contrário, então seria pior porque morreríamos os dois – sem falar no fato dele estar tão alimentado quanto eu.

 

         - A arma está carregada. – ele falou, me assustando pois estava distraída pensando em nossa situação, nem vi que Johnny acordara – E o cara guardava a munição junto ao coldre da arma, então também consegui pegar. – ele sorriu – É preciso amar os tiras.

 

         - Então podemos tentar sair hoje?

 

         - Se não conseguirmos hoje, armados, não conseguiremos nunca. – ele estava certo, a arma era a única coisa que nos permitia nos defender. Só ela poderia acabar com aqueles seres quando eles nos atacassem.

 

         - E Kate... – ah, de novo não. Esqueça, esqueça. Eu gritava em minha mente. – Ahm, tome cuidado lá fora, certo? Tente ficar atrás de mim, já que não vai haver arma para você. A não ser que queira ficar com essa.

 

         - Não se manusear e aposto que você percebeu isso, engraçadinho. – ele deu um meio sorriso.

 

         - Ora, uma repórter teria que se defender, certo? Sou advogado e fiz aulas de tiro para isso, devia aprender também.

 

         - Se eu sair daqui com certeza vou aprender.

 

         - Acho uma ótima idéia. – ele então pegou o coldre, tirou a arma, que creio que era uma pistola ou 9 milímetros – não entendo desse tipo de coisa -, dele e começou a conferir as balas dentro dela. Pôs o coldre em sua própria cintura, já que deixara as munições ali dentro.

 

         - Quando vamos tentar? – perguntei, olhando meu relógio. Eram dez e meia da manhã. – Acho melhor não esperar chegar a noite.

 

         Ele me olhou de forma sugestiva. Me levantei revirando os olhos rapidamente e disse:

 

         - Eu sei que luz não faz diferença aqui embaixo, mas estive pensando, talvez esses humanos estranhos venham lá de cima, e só vemos eles no que seria a noite, certo?

 

         - Pior que é, mas nunca prestamos atenção durante o dia, se eles só aparecerem à noite podemos até arriscar... – Johnny parou e pensou por uns instantes.

 

         - Já pensou que sendo dia e eles só saindo de noite, talvez nos possamos literalmente encontrar uma luz no fim do túnel?

 

         - Quer dizer, sair daqui de baixo, chegar até a plataforma?

 

         - Isso! Nossa teoria é de que o lado de onde viemos de trem deve estar mais próximo, então podemos passar pelos outros falar com eles para que nos sigam e chegar lá em cima! – claro, poderia dar certo tanto quanto dar errado, mas era o melhor plano que tínhamos até o momento, e parecia pender mais para certo do que para o errado.

 

         - Se for assim acho melhor irmos logo. – peguei meu casaco e o vesti, Johnny fez o mesmo com o dele e preparou a arma. – Eu abro as trancas e você chuta a porta para abri-la, com a arma preparada para o caso de ter ‘algo’ do lado de fora.

 

         Ele assentiu e fui até as trancas da porta. Destranquei a primeira, e, na segunda, fiz o velho método “1,2,3”, no que recebi um rápido olhar de reprovação de Johnny. Mas deu certo, no três ele chutou e a porta abriu-se, e, embora estivesse preparado, Johnny não teve necessidade de atirar. A barra estava limpa, por enquanto.

 

         - Vamos. – disse ele, num tom nem muito baixo, nem muito alto.

 

         Seguimos cautelosos para o lado de fora. Fomos andando pelo vagão na direção da porta olhando para todos os lados. Quando finalmente chegamos à porta, fui na frente abri-la para que Johnny não precisasse baixar a guarda.

 

         Saímos para o lado de fora, que continuava muito escuro, mas não o breu de costume pelo menos – só a luz de meu celular bastava. Mais um sinal de que luz chegava ali por algum lugar. Nenhum sinal de criaturas, então fomos para a direção oposta a do vagão onde estávamos escondidos, na direção que estavam os outros. Nessa hora já estávamos correndo, não era nossa intenção perder tempo, não sabíamos o quanto demoraria chegar à plataforma.

 

         - Eles já estão acordados. – sussurrei, ao ver alguém andando dentro do vagão.

 

         - Não fique tão confiante. – disse Johnny – Não se esqueça que podem não ser exatamente eles. – engoli em seco. Ele estava certo.

 

         Chegamos perto do vagão encostados a ele para que não nos vissem. Paramos ao lado da porta, de onde chamei o nome de David, alto o bastante para que quem estivesse lá dentro nos ouvisse.

 

         Ouvimos passos se aproximando da porta, Johnny tinha a arma preparada, quanto mais o som dos passos aumentava, mais eu segurava minha respiração.

 

         Então alguém abriu a porta e saiu do vagão.

 

         - Ah! – quem gritou não foi nenhum de nós dois, foi quem havia saído. Era Josh. Respirei aliviada, nunca ficara tão feliz de ver alguém.

 

         - Tudo bem, Josh. Somos nós. – Johnny baixou a arma.

 

         - Estão vivos! Pensamos que tivessem sido pegos, aqueles bichos ficaram rondando o outro vagão por um bom tempo. E onde arranjaram a arma?

 

         - Respondemos lá dentro, Josh. – falei – Assim podemos explicar tudo o que houve para os outros também. Seu tornozelo melhorou?

 

         - Não está cem por cento, mas já consigo andar e correr. Mancando, mas rápido o suficiente caso seja necessário. – ele sorriu – Agora vamos entrar que estou desconfiado daquelas coisas aparecerem.

 

         Subimos no vagão e os outros nos recepcionaram bem, exceto David e Blake. Ele não falou com nenhum de nós dois e ela foi um tanto fria comigo e discutiu baixo com Johnny. Não pude ouvir o que falavam.

 

         - Agora, podem nos contar como arranjaram a arma e conseguiram se safar? – perguntou Ethan, sorrindo por estarmos bem.

 

         - Nos salvamos porque o Johnny conseguiu achar um banheiro que estava inteiro, no outro vagão. As janelas do vagão estavam quebradas, então não haveria segurança alguma, mas o banheiro era espaçoso e, graças a Deus, as trancas estavam ok. – expliquei, já que Johnny não parecia muito disposto a falar.

 

         - Arranjamos a arma num, bem, num cadáver no outro vagão. Quando tentávamos sair do banheiro e voltar para cá, vi a arma na cintura de um homem caído no chão. Pelo distintivo era um tira. Enfim, pegamos a arma mas tivemos que voltar logo em seguida por causa de mais um daqueles seres. Então... – lá vamos à omissão de partes constrangedoras da estória – acabamos dormindo e hoje tivemos uma idéia, além da óbvia de voltar pra cá.

 

         - Percebemos – quem falou foi Johnny – que esses seres costumam aparecer apenas à noite, então pensamos que, se tentarmos chegar até a plataforma andando pelo túnel cedo, ainda de dia, encontraremos quase nenhum ser, ou mesmo nenhum, pelo caminho. No caso de encontrarmos algum temos a arma para nos defender, assim conseguiríamos chegar até a plataforma e sair daqui, chegando à superfície.

 

         - É um plano suicida. – David deu de ombros.

 

         - Ah, posso saber por que, ó voz da razão? – ironizou Johnny.

 

         - Porque as balas que tem aí não dariam conta dos seres caso muitos aparecessem.

 

         - Temos mais balas dentro do coldre. – falei. Então por um momento David pareceu sem argumentos. Mas falou:    

 

         - Mesmo assim, vocês não sabem quanto têm de percorrer parar chegar à plataforma, e continuo achando essa teoria das criaturas só saírem de noite um tanto furada. Podem muito bem estar errados.

 

         - Podemos sim, realmente, – falei – mas temos que arriscar. Ou vamos fazer o quê? Ficar aqui até Deus-sabe-quando?! Não, obrigada. Mesmo que vocês não venham conosco, ou mesmo que Johnny decida ficar por causa de Blake, eu vou pegar essa arma e vou, nem que seja sozinha, tentar sair daqui!

 

         Todos ficaram em silêncio por um tempo, até que Johnny disse, olhando para a noiva:

 

         - Vou tentar, Blake. Com ou sem você.

 

         - Quero ir também. – falou Josh – Cansei de ficar aqui sentado... e preciso exercitar meu tornozelo. – ele acrescentou dando de ombros.

 

         - Eu vou. – Ethan levantou-se de um dos bancos – Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, é o que dizem. Prefiro testar a capacidade de corrida dele a manter-me em inércia.

 

         - Eu fico, não aposto um centavo nessa teoria. – disse David. Me perguntei se ele realmente não acreditava que estivéssemos certos, ou se o seu orgulho era quem falava mais alto.

 

         - Tenho cinqüenta anos e problemas cardíacos, essa história de andar muito ou correr não dá pra mim. – Aaron suspirou, triste. Só restava Blake, que olhava de David para Johnny decidindo com qual dos dois deveria ficar.

 

         - Fico aqui. – ela pareceu procurar uma desculpa esfarrapada e acabou achando uma bem sugestiva para Johnny – Sou enfermeira, alguém pode se machucar na minha ausência.

 

         A troca de olhares dos dois foi fulminante, tanto que desviei meu olhar para meu relógio. Meia hora se passara, tínhamos que sair dali.

 

         - Ok, então vamos logo. – falei.

 

         - Ei, Kate. – olhei para trás e era Aaron – Se conseguirem, peçam que mandem alguém para nos ajudar aqui. – assenti e então eu, Johnny, Josh e Ethan saímos do vagão.

 

         Johnny ainda estava mal encarado, então achei melhor não puxar nenhum assunto, só o cutuquei para que pegasse logo a arma. Os outros dois pareciam tensos, na verdade eu mesma estava tensa. E lá fomos nós, talvez em direção à liberdade.

 

         E é enquanto andamos que escrevo isso, amanhã, ou hoje mais tarde, espero, escreverei mais, contando como acabou nossa tentativa.


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Notas finais do capítulo

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