Underground escrita por Isa


Capítulo 3
3 de abril de 2011


Notas iniciais do capítulo

É, demorei muuuuito para postar novamente e nem sei se quem acompanhava antes vai ler x) Mas se alguém de antes estiver lendo peço que me desculpe pelo imeeenso atraso - culpa dos estudos, foi por uma boa causa, passei direto no meio do ano.
E espero que quem esteja começando a ler agora aprecie a história Bjos e boa leitura! =D



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3 de abril de 2011 – 22:00

 

            Desculpe por ontem, quem quer que esteja lendo isso, nem foi uma emergência, foi algo do tipo “Ah, não! Preciso fazer algo quanto a isso!” Tinha que tomar uma iniciativa. Quem dera não tivesse tomado.

 

         Enfim, matamos a mulher. Sim, foi o único jeito de nos livrarmos dela e do risco que ela parecia representar. Pode parecer cruel, mas se você estivesse na mesma situação que nós...

 

         O resto do dia passou sem maiores complicações, só alguns ruídos ecoando do túnel, mas conseguimos juntar nossos casacos – e, infelizmente, o de outras pessoas se é que me entende – e nos deitamos no chão para dormir. Não creio que qualquer um de nós tenha feito isso, não por mais de meia hora.

 

         Ontem acordamos com olheiras, ninguém tinha disposição sequer para tentar sair de lá. Mas minha profissão me fez ficar ansiosa e curiosa, e, quando estávamos todos sentados nos bancos do vagão, desolados, logo perguntei o que faríamos, afinal. E esse foi o motivo da interrupção de minha escrita.

 

         - Eu e Josh temos que ficar aqui. – falou Blake – Ele por causa do tornozelo e eu para cuidar de “possíveis ferimentos”. – ela revirou os olhos, olhando para Johnny em seguida.

 

         - Fatos são fatos, querida. – ele deu de ombros e levantou-se – Olha, que tal eu e a Kate irmos lá fora, o resto fica aqui. Depois do que aconteceu ontem não é bom muitos de nós lá fora.

 

         - Não é bom vocês irem sozinhos correndo mais riscos. – falou David.

 

         - Você tem complexo de Super-Homem, cara? Todos aqui, com exceção do Josh, somos adultos e sabemos tomar decisões sozinhos, muito obrigado.

 

         - Mas essa não é exatamente uma situação para agirmos sozinhos. – David levantou-se também – Estamos presos aqui, com sabe Deus o quê acontecendo lá em cima, e aqui embaixo também não parece estar muito bem. Então se você ainda não se acostumou a viver em sociedade, acho bom repensar seus princípios se quiser sobreviver!

 

         Os dois se encararam com raiva por um instante, cheguei a pensar que começariam a bater um no outro, mas Johnny apenas virou-se para mim e me perguntou:

 

         - Vai querer sair e fazer alguma coisa ou ficar aqui sem fazer nada?- ótimo, lá estava a decisão em minhas mãos, e qualquer escolha que eu fizesse deixaria alguém irritado. Bem, se era pra chatear alguém, pelo menos que eu não ficasse sentada naquele lugar tendo que encarar a pessoa. E eu realmente queria descobrir o que estava havendo.

 

         - Eu... Vou com o Johnny. – de fato David pareceu não gostar muito da minha decisão, então só o olhei de soslaio uma vez e saí quando Johnny abriu a porta para que eu passasse, saindo ele mesmo em seguida. Os outros só ficaram em silêncio, Blake parecia cansada de discutir com o noivo, então também não fez nada para nos impedir ou apenas impedi-lo.

 

         - Pensei que fosse querer ficar. – disse ele, enquanto ligávamos os celulares e íamos andando pelo túnel.

 

         - Quase fiz isso, mas achei melhor chatear alguém mas fazer alguma coisa, do que chatear alguém e ficar sentada tendo que agüentar seu olhar de ódio pra mim. – sorri no final da frase, não era uma declaração ofensiva. Johnny também sorriu.

 

         - Blake vai ficar muito insatisfeita. Vai dizer que é por este tipo de comportamento que ainda não nos casamos.

 

         - Ah, vocês parecem se dar bem. – dei de ombros, ao mesmo tempo que olhava para frente e para os lados na escuridão, não dava para ter uma conversa tranqüila naquele lugar.

 

         - As aparências de fato enganam. Desde que decidimos nos casar nossa relação não é mais a mesma coisa, passamos a conviver mais e como conseqüência brigamos mais. Devo admitir que isso é culpa minha, tenho uma...

 

         - Personalidade forte?

 

         - Ia dizer grande teimosia, mas do seu jeito soa melhor. – até que, quando ninguém estava tentando assumir o comando da situação, Johnny era um cara simpático. De fato seu problema era ter que seguir ordens; com certeza não era do exército.

 

         Paramos de andar e falar quando ouvimos um barulho ecoar pelo túnel, antes até do ponto do dia anterior. Só faltava ser alguém – ou seria algo? – igual àquela garota. Sentia falta de outras pessoas normais como nós que sobrevivemos ao desastre do trem.

 

         Os ecos foram aumentando e pareciam estar em maior número do que antes. Estava ficando nervosa, e começava a pensar que era melhor recuarmos, e a aceitar que pelo visto havia sido uma decisão ruim sair do trem.

 

         - Johnny... – comecei.

 

         - ‘Tá, já sei, percebi. – ele disse – É melhor voltarmos, não é?

 

         - Com certeza. – vi duas formas surgirem mais à frente na penumbra.

 

         E mais uma vez nos viramos e corremos, e, já que os ‘seres’ apareceram mais perto do que antes, chegamos rápido ao nosso vagão, mas as coisas não estavam muito bem por lá.

 

         Umas quatro pessoas, três garotos adolescentes de moicano e uma mulher morena, sujos como a garota do dia anterior, tentavam invadir o trem, e estavam parados bem à porta de modo que não havia chance de passarmos por ali. Paramos de correr antes que nos vissem ou ouvissem – para nossa sorte abaixamos as luzes dos celulares enquanto corríamos.

 

         - O que fazemos agora? – perguntei baixo.

 

         - Podemos atravessar para a outra ponta dando a volta no vagão, porque acho que nosso vagão era o último então...

 

         - Indo para o outro lado vamos achar outro ou outros descarrilados além do que continuou ligado ao nosso. Quem sabe tenham mais sobreviventes.

 

         - Podíamos ter pensado nisso antes, droga. Mas agora não há tempo para lamentações, passamos correndo ou tentamos ser discretos? – perguntou Johnny.

 

         - Correndo. Assim os outros podem perceber que estamos bem, e não se esqueça que há algo atrás de nós também. No três a gente corre.

 

         - Esse negócio de ‘três’ nunca funciona, vamos agora. – Johnny disse, e me puxou, fazendo com que recomeçássemos a correr. Os quatro que tentavam invadir o vagão logo nos perceberam e começaram a seguir-nos, eu e Johnny aceleramos.

 

         Estava tão desesperada que não sei como descrever aquela cena, só conseguia ver flashes do que acontecia à minha volta. O pessoal do nosso vagão olhando enquanto fugíamos, aqueles humanos estranhos atrás de nós, a escuridão à frente tomando conta de tudo com apenas as luzes dos celulares para nos ajudar. Até que finalmente avistamos.

 

         De fato havia outro vagão, em pior estado que o nosso, mais amassado, mas parecia ter uma porta decente o suficiente para conseguirmos nos salvar.

 

         Quando chegamos até ele, os seres no nosso encalço, Johnny abriu a porta um tanto emperrada e entramos, fechando-a em seguida. E, quando pensamos que podíamos descansar, percebemos que havia janelas sem vidros, eles estavam completamente quebrados e nossos perseguidores poderiam muito bem passar por ali se percebessem.

 

         - Ali! – Johnny apontou para o fundo do vagão – com tantos ou mais corpos quanto o nosso, e nenhum sobrevivente – e lá havia uma cabine que provavelmente se tratava do banheiro.

 

         - Ah, não acredito! – murmurei, então ele me puxou mais uma vez pelo pulso e no instante seguinte estávamos entrando no banheiro. Mal fechou a porta, Johnny fechou os trincos – eram dois não muito eficientes, mas que serviam na situação – e encostou-se à porta, arfante. Me sentei na tampa do vaso, arfando tanto quanto ele. Olhei o banheiro e percebi que até era bem espaçoso, pois havia ainda uma mini-cabine de troca de roupas. Nunca agradeci tanto as inovações nas construções do metrô feitas no fim de 2010.

 

         E foi o máximo que registrei do lugar, pois eu estava à beira de um ataque de nervos. O que faríamos agora? Não podíamos sair com aqueles seres lá fora, não havia como pedir ajuda. Estávamos perdidos! Tudo acabado! E era a primeira vez que eu perdia a cabeça. Eu precisava de um ombro amigo, alguém para me acalmar, e por isso, quando Johnny se agachou na minha frente, olhando nos meus olhos e perguntando se eu estava bem eu o abracei, como se nos conhecêssemos desde o jardim de infância.

 

         - Kate, se machucou ou coisa assim? – perguntou ele, estranhando minha reação, mas retribuindo meu abraço mesmo assim.

 

         - Nós vamos morrer aqui, não tem mais jeito, vamos morrer. – era o que eu conseguia dizer, e Johnny me consolava, dizendo que tudo ia ficar bem e o que costuma se dizer à pessoas desesperadas.

 

         Quando o soltei não sabia se sentia vergonha ou se me deixava levar pelo cansaço e desmaiava ou coisa assim.

 

         - Foi mal, eu surtei.

 

         - É compreensível. Se quiser tem uma pia para lavar o rosto e um Box mínimo com um chuveiro que duvido que tenha água quente. – ele deu um meio sorriso tranqüilizador.

 

         - Os metrôs antes da reforma eram piores. – comentei enquanto nos levantávamos e eu ia lavar o rosto.

 

         - Bem, pelo menos eles não descarrilavam. – ele deu de ombros indo lavar o rosto depois de mim.

 

         - Engraçadinho. Mas o que faremos agora? Esperamos um tempo até ter certeza de que aquelas coisas foram embora ou ficamos aqui até alguém vir nos salvar ou essa doideira acabar?

 

         - Também não sei, Kate. Não sei mesmo

 

 

            E aqui estou eu no dia 3 de abril enfim. Dormir no banheiro não foi fácil, só tínhamos dois casacos e foi um pouco constrangedor ter que dormir bem perto de Johnny para nos esquentarmos, principalmente pelo fato dele ser um homem comprometido.

 

         Mas desde então não tomamos nenhuma decisão ou ouvimos algo além de ecos de gritos – provavelmente daqueles ‘humanos’ ou quem sabe das pessoas lá de cima. O dia - temos noção dele pelos nossos relógios – passou relativamente calmo. Enquanto escrevo Johnny fica olhando o que estou fazendo, ele diz que é estranho ver alguém escrever sobre ele e pede minha ajuda para achar a solução. É, só escreverei no dia 4.


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Notas finais do capítulo

Deixe seu review, ficaria felicíssima
Agradço desde já por ler a história =D