Beyond Two Powers escrita por Annie


Capítulo 1
Prólogo - Quando os destinos foram traçados


Notas iniciais do capítulo

Olá, todos. O capítulo foi completamente escrito em itálico pois os acontecimentos são apenas flashbacks. É um ponto importante de se ver que os flashbacks NÃO acontecem no mesmo ano. A diferença da idade das personagens de agora em diante não refletirá na mesma diferença de idade que elas tem neste capítulo.
Bom, é só isso. Espero que gostem!



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ADELAIDE

Em um reino de liderança firme e riquezas imensas, cujo nome Reino do Ouro retratava de todas as formas possíveis tudo o que lhe envolvia — considerando que, em seu país, era comum que os Reinos e Ilhas fossem nomeados em tributo àquilo que existia em maior abundância em suas terras —, uma jovem princesa caminhava animadamente pelo jardim de seu Palácio. Com apenas dez anos de idade, Adelaide Mirana Cecília não vivia sob a supervisão de seus pais, que já não mais estavam vivos.

Ela vivia sob a supervisão de generais e nobres. E não era a única.

Melissa Miranda Cecília era sua irmã mais velha; mais especificamente, quatro anos mais velha. O rei e a rainha do Reino do Ouro haviam padecido quando Adelaide tinha apenas sete anos e sua irmã, onze. Desde então, as famílias com maiores riquezas e poder ofereceram-se para cuidar das garotas e garantir que ambas crescessem boas o bastante para assumir o poder um dia. As coisas teriam ocorrido de forma distinta caso as meninas tivessem familiares que também pudessem tomar o poder; no entanto, elas não tinham, e em seu país, aquilo significava que teriam de observar enquanto Generais e nobres controlassem tudo até que Melissa completasse dezoito anos e tomasse a liderança do Reino.

Tudo aquilo acabava por ser complicado demais para Adelaide, considerando a idade que tinha, porém ela se esforçava para entender e ser compreensiva com todos. Sabia que, quando fizesse dezoito anos, sua irmã teria de se casar. E não necessariamente com um homem que amasse. Não, desde seus sete anos, Adelaide tinha uma certeza: princesas e príncipes não se casavam por amor uns aos outros. Eles se casavam por amor a seus Reinos.

Naquele dia, em especial, Adelaide soubera que Melissa se reuniria pela primeira vez com todos os generais e eles contariam a ela tudo que estava ocorrendo no Reino, para demonstrar o trabalho que ela teria no futuro. Na opinião de Adelaide, eles estavam tentando desencorajá-la. Entretanto, ela não entendia sobre política — era nova demais para entender —, então optava por se calar.

Saltitou pelo jardim do Palácio, com o cabelo preto preso em um coque alto, firme e elegante, com fios de cabelo serpenteando por outros, causando um efeito semelhante ao de elásticos. Uma pequena tiara pendia no topo de sua cabeça. Os olhos castanhos atentos vasculhavam o jardim em busca de diversão, porém o que verdadeiramente lhe chamou atenção foi aquilo que estava fora de seus limites: a floresta de Badlands.

A floresta também era conhecida como Floresta Negra, e não havia uma única pessoa que tivesse coragem de se aventurar nela. Entretanto, Adelaide era uma criança. E estava entediada.

Quando caminhou até o começo da floresta, ela se virou, garantindo que ninguém a seguiria, e notou um guarda surgindo no jardim. Temendo que ele a visse, a princesa correu para dentro da mata, escondendo-se atrás de uma árvore monstruosamente grande.

Então ela ouviu. Um barulho longínquo, quase como duas espadas se chocando. Adelaide apertou os lábios, curiosa demais para se conter. Em menos de um instante, estava segurando a barra de seu vestido e correndo floresta adentro.

A cena quase fez com que ela perdesse o equilíbrio. Em uma área escura da floresta, dois homens de condições completamente diferentes batalhavam. Um deles era claramente um ladrão ou um rebelde; vestia trapos, o cabelo consideravelmente longo estava coberto por sujeira e havia um corte profundo em seu ombro. A única razão para que ainda não estivesse morto era certamente a espada que segurava em frente ao corpo, defendendo-se do oponente.

O outro homem provocou calafrios em Adelaide.

Seu traje era uma armadura pesada, polida e em perfeito estado. O cabelo não estava à vista, tal como grande parte do rosto, pois ele utilizava um capacete que contornava os olhos e o queixo. Não havia um único ferimento visível, e até mesmo sua espada reluzia mais que a do adversário. Quando viu o brasão em seu peito, Adelaide sentiu vontade de gritar. Era o desenho de uma pedra preciosa, circulado por espirais elegantes e brilhantes.

Um soldado do Reino do Cristal. O Reino rival ao Reino do Ouro.

O soldado abaixou sua espada em um golpe decisivo, pronto para cortar o adversário ao meio se fosse preciso, porém um grito estridente e inevitável de Adelaide o fez parar.

A princesa apenas se deu conta do que havia feito quando ambos os homens pararam sua luta, virando as cabeças para olhá-la. Ela sentiu a boca ficar imediatamente seca.

— Eu não... — começou, baixinho, balançando a cabeça. — Eu sinto muito. Eu... Só...

— A Princesa Adelaide — reconheceu o soldado, com um tom estranhamente ameaçador. Aproveitando sua única oportunidade, o ladrão apertou sua espada e avançou contra o soldado. O homem ergueu o braço, mal fazendo esforço, e passou a lâmina brutalmente pela barriga do maltrapilho, jogando-o ao chão em agonia. Adelaide sentiu as lágrimas queimarem em seus olhos. — Princesa, princesa, não é seguro andar sozinha por aqui.

Conforme falou, ele levantou a espada. Adelaide sentiu cada músculo seu enfraquecer.

— Por favor, não — pediu, com um soluço. — Por favor, eu posso...

— Eu sei muito bem o que princesas podem fazer — interviu ele, de forma grosseira, e deu um passo na direção da garota. — E sei muito bem o quanto o seu Reino lamentaria perdê-la, princesa.

Quando ele deu um passo decisivo na direção de Adelaide, ela gritou. E, além de gritar, estendeu os próprios braços à frente de seu corpo, apontando as palmas das mãos para o soldado, que simplesmente sorriu diante da tentativa da pequena de se proteger.

Ela sabia que não havia tempo para o guarda chegar até ali. Além do mais, ele jamais a ouviria. Seus gritos não eram tão fortes. Ela não era forte.

Adelaide fechou os olhos, desejando com todas as suas forças que alguém pudesse ajudá-la. Que algo pudesse salvá-la. Mas sabia que aquilo era impossível, então mudou seu desejo. Quis que tudo em torno de si, exceto por ela mesma, pegasse fogo. Imaginou a floresta em chamas, com cada uma das folhas queimando, desde que aquilo pudesse salvá-la.

Então, quando finalmente abriu os olhos, uma esfera de fogo lançou-se de suas mãos diretamente para o rosto do soldado. E, de repente, o fogo não era mais sua imaginação.

Era magia.

MAXINE

A garota não teria mais que dezoito anos. Os cabelos loiros caíam ao redor de sua cabeça com suavidade e leveza, serpenteando suas bochechas. Eram levemente cacheados, e duas pequenas traças eram ligadas no topo de sua cabeça. Sua pele era branca e delicada, os lábios rosados carregavam um sorriso de orgulho.

Ela teria a postura de uma princesa perfeita se não fossem pelas pesadas correntes de ferro fundido presas em seus pulsos.

Os soldados a jogaram no chão, perante o governante das Ilhas de Rubi. O homem olhava com pesar para a garota ajoelhada no chão. Aquelas correntes prendiam não apenas uma camponesa, não apenas uma transgressora da lei. Não era apenas uma feiticeira que estava ali, mas sim sua filha. A Rainha Margareth, madrasta de Maxine, a olhava com desprezo enquanto o Rei Edward segurava suas lágrimas. Não queria ter de exilar sua própria filha. Era sangue do seu sangue, sua única pérola, sua única princesinha.

Mas regras eram regras e ele, como rei, sabia muito bem disso.

A garota não parecia abalada. Dava sorrisos estreitos e ousados para sua madrasta, enquanto zombava de seu próprio pai através de seus profundos olhos azuis. Ao lado do trono da rainha, o pequeno Elliot, príncipe das Ilhas de Rubi e sucessor do trono, observava todo o julgamento com lágrimas grossas rolando por seu rosto. Ele amava sua irmã mais velha. Maxine era amorosa e muito cuidadosa com o caçula, sempre lhe fazendo sorrir depois de um longo dia de lições sobre política e economia. Estava louco para correr diretamente para os braços de sua irmã, mas o olhar cruel e maquiavélico de sua mãe o fazia encolher-se no pequenino trono montado para ele.

— Maxine Chase, — o rei chamou em alto e bom som — você é acusada de praticar magia e feitiçaria em nosso reino. Essas acusações estão corretas?

— Estão, meu rei. — a voz da moça soava como ácido para os ouvidos do pai.

— Você é mesmo uma feiticeira?

Todos ali presentes viam o enorme esforço que Edward fazia para não derramar rios de lágrimas. O embargo em seu timbre era claro; ele estava quase implorando para que sua filha omitisse a verdade. Maxine continuou com o sorriso superior no rosto. Não sentia remorso em ver o pai daquela forma. Durante seus dezessete anos de vida, morando na miséria e passando fome, seu pai jamais dera as caras e perguntara se ela precisava de ajuda. O grande e bondoso Rei Edward deixou sua ex-mulher morrer de fome, e abandonar sua única filha sozinha no mundo cruel. Agarrar-se a seus poderes era a única coisa que fazia Maxine se sentir menos solitária.

— Você é realmente uma feiticeira? — ele perguntou, numa segunda tentativa de fazer com que sua filha se salvasse.

— Sou, Majestade.

Ela ergueu seu indicador no ar, e uma faísca azul saltou de sua ponta, bailando pelo ar até flutuar na frente do príncipe, estourando em seu nariz, fazendo o pequenino sorrir. Margareth, enojada com aquilo, mandou que tirassem o mais novo do julgamento.

— Esta é sua última chance de nos dizer a verdade, Maxine. — o rei inclinou-se em seu trono, olhando fundo nos olhos azuis da moça, cujos quais ela havia os herdado dele — Você está sob pressão para dizer tais afirmações?

— Não, pois o que acabou de ver aqui foi real.

Edward suspirou pesadamente e voltou-se a encostar em seu trono, batendo seu cetro três vezes no chão, sinalizando que o destino da prisioneira havia sido selado. Após três longos segundos mergulhados em puro silêncio, ele ergueu os olhos marejados na direção de sua filha. Os soldados enlaçaram seus pulsos com violência e ergueram-a para cima, enquanto sua sentença era anunciada para todo o júri.

— Eu, Edward Crowley, rei das Ilhas de Rubi, condeno Maxine Chase ao exílio por praticar bruxaria. Não serás aceita mais em nossas terras, e em nenhuma outra que partilhe de nossas alianças. Levem-na para Badlands.

Maxine sorriu para sua madrasta. Fincou firme seus pés no chão e olhou no fundo dos olhos de seu pai, com um grande ar de deboche ao seu redor.

— Meu irmão será um grande rei, Edward. Espero que não siga os mesmos passos que os seus.

. . .

Abandonada na floresta proibida, Maxine se sentia mais livre do que nunca. A mata era repleta de mana, liberando energias e matérias novas que a feiticeira teria de aprender. Era a primeira a entrar em Badland e estar viva por mais de doze segundos. Era como se a mata quisesse recebê-la, quisesse tê-la por perto. Sentou-se na grama verde e passou os dedos pela mesma, vendo-a crescer imediatamente. Seus poderes estavam ainda mais potentes e intensos naquele lugar.

Se levantou assustada ao ouvir um choramingo. Era como um ronronar sôfrego de um lagarto ferido, e vinha de algumas árvores atrás de si.

Engatinhando pela grama, ela empurrou uma pedra pesada que havia ali, libertando um dragão de sua prisão. O animal era relativamente pequeno, facilmente ficaria em seu ombro, mas possuía garras e dentes afiados capazes de cortar qualquer tipo de coisa. A cauda escamosa do lagarto alado estava ferida e sangrava. Com cuidado, ela estendeu a mão brilhante de energia sobre o ferimento, que imediatamente cicatrizou-se e parou de sangrar. O animal parecia imensamente agradecido. "Obrigado por livrar-me de meu sofrimento. Devo minha lealdade a você, feiticeira. Sou Lance, o Guardião. Qual seu nome, minha ama?"

— M-Maxine. — respondeu exasperada ao ouvir a voz rouca e profunda do dragão em sua cabeça.

"Maxine, sou devoto a você, assim como a floresta."

— Devoto a mim? Mas…

"A floresta a escolheu como sua Dama. A verdadeira Dama de Badlands."

Maxine ergueu-se do chão enquanto o dragão voava para seu ombro e pousava com delicadeza no mesmo. Agora, tinha um reino somente seu. E faria de tudo para ajudar e salvar da morte os seus irmãos de sangue mágico. Nunca havia se sentido tão feliz em sua vida. Era o início de um novo ciclo de sua vida. O início de sua vida como verdadeira feiticeira.


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Notas finais do capítulo

Espero que todos tenham gostado. Por favor, deixem seus comentários para que nós saibamos os pontos positivos e negativos e possamos melhorar ou continuar de acordo com eles.



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