Eu dormi, entretanto quando Edward, uma hora depois, saiu do meu lado eu apenas assisti pela fresta da janela a lua levantar no céu, pensando no que eu tinha lhe contado . Edward levatou e foi dormir na desconfortável poltrona; me arrependi de não ter pedido para ele ir dormir melhor em seu quarto, mas, eu verdadeiramente me senti melhor só com o fato de ele estar no mesmo espaço que eu.
Olhei para a poltrona e ele dormia enrolado a uma manta de cor bege, desviei meu olhar novamente para a janela. O tempo estava escuro, tanto pelo temporal que caia lá fora quanto pela hora, que pelo relógio de cabeceira eu pude constatar que eram quase nove e meia da noite.

Eu precisava ir embora.

Minha cabeça pesa quase uma tonelada, quando levanto da cama, com as lembranças que eu despejei para fora a poucas horas atrás. Meio cambaleante vou a cozinha pegar um copo d'água para a minha garganta, que arranha só de respirar.
Tento ao máximo não fazer nenhum barulho para não o acordar,porém não tenho muito sucesso; um estrondo de trovão que ecoa por todo o apartamento me assusta e faz com que eu deixe o copo cair no chão, solto um grito quando sinto alguém atrás de mim e ao me virar vejo um Edward assustado e aliviado ao mesmo tempo.

—Me desculpe, eu não quis assustá-la- disse sem jeito- Eu acordei e não a vi dormindo achei que poderia ter acontecido algo com você.

Suspirou aliviado e levou uma de suas mãos ao seus cabelos, que estava mais bagunçado do que o de coatume, devido a soneca e a má posição na poltrona que ele teve.

—Hm tudo bem. Eu só vim beber um pouco de água e o trovão me assustou e eu sem querer deixei cair um de seus copos- me senti mal por tê-lo quebrado.

—Oh, não se preocupe foi só um copo, está tudo bem- sorriu- Você se cortou ou algo assim?

—Não. Mas, minha cabeça parece que quer ganhar vida própria e virar um cavalo para poder sair galopando por aí.

Apertei um lado de minha cabeça onde latejava enquanto o ouvia rir.

Era um som agradável, como uma brisa de primavera no parque.
Balancei a cabeça para espantar os pensamentos.

—Eu acho que eu já vou embora.

Ele hesitou um instante.

—Tudo bem, o dia foi cheio para você eu entendo.

Assenti.

—Mas, Isabella, eu gostaria de me desculpar com você.

Arregalei os olhos surpresa.

—Se desculpar pelo quê exatamente?

Ele inspirou fortemente antes de olhar nos meus olhos.

—Bem primeiro de tudo quero me desculpar por aquele dia em seu apartamento e também por insistir em algo sobre o qual você não era obrigada a me dizer.

Eu abri a boca para protestar e ele levantou o dedo indicador, um claro sinal para que eu esperasse ele terminar.

—Sim, eu sei que sou do FBI e sou um conhecido seu, mas, Isabella a partir do momento em que você não quisesse se abrir para mim eu teria que entregar o caso para outra pessoa, ainda mais com a sua dificuldade de ficar próxima a homens. Mas eu não fiz. Eu escondi de você quem eu era e o que eu realmente queria, descobri quem você era no momento em que coloquei os olhos em você naquela festa e não pude evitar ficar surpreso com o quão perto você estava. Quero dizer, se eu tivesse sido honesto desde o primeiro momento você provavelmente não teria medo de mim e talvez vendo como eu sou com Alice... talvez pudesse até confiar em mim e ver que os homens não são todos iguais, mas falhei nessa tentativa e eu lamento muito por isso.

Eu o encarei por um segundo, de cabeça baixa, Edward colocou as mãos nos bolsos de sua calça jeans.

—Edward, isso é...-engoli em seco- isso é ridículo.

Ele me encarou com o cenho franzido.

—Quer dizer, absurdo. Deixa eu te contar uma coisa, durante muitos anos da minha vida eu achei que vivia infeliz pelo simples fato de não ser conhecida e popular no colégio e por não ser como elas eram. Mas aí veio James, alto, forte, bonito e simpático a primeira vista; eu me encantei por ele,claro, e me apaixonei pelo simples fato de ele me enxergar, eu vi nele uma maneira de mudar quem eu costumava ser, realmente mudou, só que para pior. Acredite, foi a pior decisão de toda a minha vida- tomei um longo suspiro antes de continuar- Mas, Edward eu perdi minha confiança em homens e quando eu olho para cada rosto é o dele que eu vejo, não vou mentir, tive medo de você sim, porém, tive medo de você ser diferente e eu fazer a burrada de me iludir novamente com a bondade alheia; sabe, eu vejo como você é com Alice e... às vezes gosto de me imaginar no lugar dela, porque eu gostaria daquilo, muito mais do que eu posso imaginar.

Pensei na forma que os dois irmãos interage um com o outro, apesar da clara diferença dos dois, não resta dúvida de que o amor entre eles é mútuo, o que me faz ter um sorriso sincero nos lábios e um doloroso aperto no peito.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas de Edward, o brilho em seus olhos e a confiança que antes estavam estampadas em seu rosto foi desmanchando aos poucos, até que ele soltou um sorriso amarelo para mim.

—Bem, eu entendo você e quero que saiba Isabella que não precisa mais se sentir tão ameaçada, ninguém a conhece por aqui e garanto que...Phil não virá atrás de você-
Estremeci só pela menção do nome dele- e você pode contar comigo como um irmão se preferir, ficaria honrado de tal ato e acredito que Alice vai ficar mais que feliz por ter uma nova Barbie para produzir.

Sorri para ele e gostei, até demais, de apenas sorrir para ele.

—Eu agradeço muito a você Edward e quero que me desculpe por ser grossa demais

—Você não tem nada de que agradecer a mim Bella, eu particularmente não fiz nada, você que foi forte o bastante para quebrar a barreira do seu medo e se abrir para um desconhecido.

Tentei não sorrir largamente por ele ter me chamado de Bella, ele me chamou de Bella e eu não senti dor, apenas um acelerar de coração que me assustou. Contudo apenas sorri sem graça.

—Bem acredite ou não, mas você fez mais do que imagina- disse sincera- é, eu realmente preciso ir embora, eu trabalho cedo amanhã então...

—Oh, sim claro. Eu levo você, só preciso pegar as chaves do car...

—Não, não precisa- o interrompi- Eu posso pegar um táxi sem problemas.

—Isabella eu não vou deixar você sair daqui a uma hora dessas de táxi.

—Edward, eu quero ir de táxi para casa- falei convicta. Ele suspirou derrotado e uma pergunta muda nos olhos. E eu sabia qual pergunta ele estava se fazendo e sabia também que ele não a faria. Ao invés disso maltratou os próprios cabelos em frustração, me assustei ao notar que sentia minhas mãos coçar para acariciar seus cabelos também.

—Tudo bem, só que eu irei chamar o táxi, posso?

Como resistir a um simples pedido? E aquele olhar pidão me desmontou.

—Tudo bem- bufo derrotada e ele sorri.

Tudo bem, esqueça olhar pidão, esse sorriso com certeza me desmontou e ali eu soube do macete dele e de Alice para conseguir tudo o que queria.

O sorriso, não qualquer sorriso,mas um quente,tenro, suave e claro um daqueles que faz até um coração de granito derreter como gelo ao sol.

*
As semanas se passaram rapidamente e em nenhum dia consegui tirar da cabeça que eu precisava ir a delegacia falar sobre o que me aconteceu com um estranho, Edward me tranquilazava toda vez que ligava para o celular que Alice me obrigou a comprar. Ele dizia que eu podia tomar o tempo que eu precisasse, mas eu estava sufocando com tudo entalado na garganta.

Ângela chegou de viagem cerca de duas semanas depois deu ter contado a Edward minha história, porém ao invés de ir direto para a sua nova casa com Mike ela veio me ver.
Então eu a fiz sentar no sofá e lhe contei tudo o que eu tinha passado desde que ela saiu de Forks com seus tios. Jamais vou esquecer da sua reação quando disse a ela que eu tinha medo dela me achar suja e podre, por ter vivido-mesmo sem querer- uma vida daquela.

—Ah, por Deus Isabella, não acredito que você chegou sequer a pensar que eu te rejeitaria, das tantas vezes que eu disse estar aqui disposta a te ouvir e ajudar em seja lá o que for que você estivesse passando, das tantas vezes que eu disse que não acreditava em você ter vindo para New York trabalhar com uma coisa que você nem tem especialidade. Eu disse a você que poderia confiar em mim para qualquer tipo de problema e porra esse é um problema e tanto.

Ela gritava com raiva e andava pela sala de visitas de um lado pro outro.

—Ângela eu não podia arriscar, por favor não fique com raiva de mim. Ele ameaçou matar todos aqueles que eu amo e eu jamais iria suportar ver qualquer um ferido ou...morto por minha causa, então aguentei até ter um plano melhor para fugir.

Olhei para as minhas mãos e deixei as lágrimas escorrer livre dos meus olhos, eu já não segurava o choro.

—Ah Sol, me desculpe, eu não estou com raiva de você, eu quero matá-lo com as minhas próprias mãos e no entanto eu tenho orgulho por você ter enfrentado o seu medo e ter saido daquele inferno- disse terna se abaixando na minha frente, pegou minhas mãos e as apertou fortemente- Eu amo você minha irmã, nunca mais pense que eu irei te abandonar,não importa qual situação, isso jamais irá acontecer, eu te prometo.

Solucei e me joguei nos seus braços, que me receberam com um carinho que eu jamais senti, mas que eu já vi em Edward e Alice.

—Me desculpe Ang- murmurei no vão de seu pescoço.

—Tudo bem anjo, está tudo bem. Acredite, fico imensamente feliz por você ter tido Edward para te ajudar-olhou em meus olhos-mas Sol, você já marcou o dia de dar o seu depoimento?

Estremeci só de pensar.

—Edward tem conversado bastante comigo por telefone e eu cheguei a uma conclusão.

Ela olhou para mim com expectativa e sorriu em encorajamento.

*

E aqui estava eu, numa quarta-feira de sol sentada numa cadeira na delegacia de Nova York; estava mais apreensiva que o normal e minhas mãos não paravam de tremer.
Edward estava aqui a trabalho, porém em nenhum momento me deixou só, até agora. Ele tinha entrado a pouco mais de dez minutos na sala do delegado e cada segundo que se passava eu estremecia com o frio que eu sentia por dentro.

A porta da sala a minha frente se abriu e eu prendi a respiração, Edward- todo glorioso em seu uniforme do FBI-veio ao meu encontro e se abaixou na minha frente.

—Bella-disse suave-o delegado Jenks está pronto para ver você agora.

Meu coração quase saltou para fora do meu peito com essa declaração.

—Tudo bem-sussurrei me levantando, sua mão segurou meu pulso antes mesmo que eu desse o primeiro passo para porta.

—Olha, se você achar que não está pronta para isso, tudo bem Bella. Você pode ter o tempo que quiser.

Olhei em seus belos olhos verdes tentando me acalmar e suspirei.

—Você vai estar lá comigo?

—Logicamente que sim- respondeu sem hesitar.

—Tudo bem então- inspirei e expirei antes de dizer convicta:- Eu estou pronta.