As Crônicas da Tempestade escrita por Cavanhaque maroto


Capítulo 5
Capitulo 4 - O outro lado da moeda




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Capitulo 4 - O outro lado da moeda

Polo Norte, Tribo da Água do Norte.

Lana estava cercada. Dois oponentes a rodeavam como tigres pacientes para dar o bote. Mas ela não daria esse gosto a eles, não se deixaria ser intimidada facilmente. Movimentando os braços rapidamente ela sentiu sua energia fluir pelo corpo alcançando a água ao seu redor em total harmonia como uma extensão de seu próprio corpo. Essa sensação de poder indescritível invadiu a mente agora desperta além dos sentidos naturais.

De um instante para o outro seu braço já não era formado apenas por carne, mas também pela água que o envolvia. Percebendo isso, seus oponentes tomaram iniciativa: uma ação conjunta de movimentos suaves retirando água dos riachos que cortavam o pátio transformando-a em um imenso tubo. No entanto, ela utilizou-se de seus novos braços extensivos para agarrar um pilar próximo e se puxar para longe do tubo. O contra-ataque não tardou a vir. Manipulando seus novos braços ela os dividiu em tentáculos menores e os projetou como lanças de gelo sem pontas em seus oponentes, que desprevenidos, quase não puderam evitar o ataque sendo arremessados pelo pátio.

O irmão da direita rangeu os dentes e se conectou com a água agora disposta no chão da arena e lhe moldou para se tornar um chicote e o atiçou para cima de sua oponente, mas ela rolou para o lado se desviando apenas para ser surpreendida pelo outro irmão que agora usava a água acumulada como pilares de gelo em sua direção. Dessa vez, a garota saltou por cima do primeiro bloco e escorregou para esquivar-se do segundo pilar e se conectou com a água.

A menina fez mãos invisíveis agarrarem os tornozelos e braços de seu inimigo imobilizando-o sem demora. O irmão restante estalou o chicote para cima dela, porém Lana usou a cobertura dada pelo pilar de gelo para sair ilesa enquanto moldava o gelo em uma lâmina azulada.

O chicote estalou a sua frente, mas ela já o esperava e decepou sua ponta com uma das mãos ao mesmo tempo que a outra trazia um tubo contra seu oponente restante que voou indefeso direto nas piscinas da arena.

— Muito bom Avatar! — o mestre na dominação de água exclamou indo de encontra a aluna.

— Obrigado mestre Kan. — O Avatar o saudou com uma mensura — Já nos conhecemos há anos, o senhor pode me chamar só de Lana.

— Você já me disse isso milhares de vezes Avatar Lana, mas ainda não consigo me acostumar. — o mestre abanou a mão e em seguida ajeitou os óculos de aro fino folgado por cima no nariz.

Mestre Kan acenou com a cabeça:

— Mesmo em todos os meus anos de experiência nunca vi alguém dobrar a água de maneira tão engenhosa Lana — ele acrescentou levantando as sobrancelhas.

Lana se encheu de orgulho:

— Acho que é porque eu sou única, mestre. Embora seus ensinamentos possam ter pouquinho a ver com isso — Lana brincou enquanto observava seus dois parceiros de treino se levantar doloridos — Acho que posso ter pegado pesado demais com eles, sabe, como eu venho do Reino da Terra, eu não sou o que podem chamar de muito delicada.

— Meus netos são bem capazes de levar uma surra de vez em quando — Kan riu conduzindo-a suavemente pelo cotovelo  — Isso vai fazer bem para eles, precisam abaixar a bola um pouco, uma lição de humildade nunca é demais.

O mestre não pôde deixar de sorrir. A pequena garotinha que chegara por aqueles portões anos atrás estava se tornando uma bela mulher. Podia-se perceber que muitos garotos da tribo achavam o mesmo já que passavam pelo pátio de treinamento pela manhã apenas para vê-la treinar, embora nenhum deles tivesse coragem o suficiente para se aproximar. Lana era uma jovem bonita, radiante em seus dezessete anos, de olhos cinzentos claros e cabelos castanhos lisos que lhe caiam pelos ombros até as costas, possuía curvas femininas chamativas para sua idade, causando inveja em muitas garotas mais velhas e suspiros de muitos rapazes.

— Seu treinamento está quase concluído, minha jovem — disse o mestre — em algumas semanas estará pronta.

— Quer dizer que poderei ir a Cidade República com vocês? — Lana indagou ansiosa. Nem imaginava o quanto ela ansiava por aquilo.

— Isso não cabe a mim decidir.

— Mas o senhor mesmo disse que...

— Você sabe muito bem que estou aqui apenas para te ensinar a dominação de água Lana, não possuo influência o suficiente na Lótus. — ele lhe deitou um olhar tristonho. — Fírion sabe ser bem rígido as vezes. E parece especialmente ranzinza quanto ao assunto.

— Mas você é o chefe da Tribo da Água do Norte! Deve haver algo que possa fazer — ela suplicou enquanto deixavam a área de treino e voltavam para os alojamentos.

Ele podia não admitir, mas não conseguia dizer não aquela garota.

— Vou tentar convencer aquele velho cabeça dura, quem sabe ele me escuta pra variar. — Ele disse por fim.

— Ah! O senhor é melhor! — Lana o abraçou e saiu saltitante — Fico te devendo essa.

A sala do Conselho da Tribo da Água do Norte fervilhava de gritos e discussões nada amigáveis, por mais que tentassem não conseguiam chegar a um consenso.

— Calados! — bradou Firion, o chefe da Lótus Branca e presidente do Conselho — Todos calados!

Aos poucos o silêncio foi se fazendo à medida que os generais engoliam seus orgulhos e obedeciam a suas ordens. Firion olhou de um lado ao outro a desafiar qualquer um a dizer alguma coisa e prosseguiu:

— Voltaremos ao assunto a ser discutido, e espero que os senhores mantenham a compostura desta vez! — ele falou. Visto que ninguém se manifestaria, prosseguiu — Nossa inteligência em Omashuu relatou uma possível aliança entre o Reino da Terra e a Nação do Fogo em uma tentativa de nos fazer recuar. Akame deixou as negociações nas mãos de Raidou, seu cão selvagem na tentativa de nos intimidar. Mas sabe o que eu acho senhores? Que fazem isso porque nos temem! Porque se sentem ameaçados com nossas ideologias! Temem perderem seus privilégios e se tornarem iguais a todos, e sabe o que digo senhores? Que devemos ir à guerra, devemos mostrá-los nossa convicção a nossa causa!

Os presentes concordaram com acenos e gruídos.

— Mas a guerra é nossa melhor solução? Deve haver outra maneira. — disse mestre Kan fitando o presidente do conselho — Como pregamos a paz e somos nós os primeiros a pegar em armas? Isso não está certo velho amigo, arriscar a vida de meus compatriotas desta forma sem termos certeza das reais intenções da Senhora do Fogo...

— Sabe tão bem quanto eu que esses hipócritas da Nação do Fogo só entendem a guerra. Akame é uma ditadora e ambos sabemos do que ela é capaz para assegurar seus interesses. — Rebateu o presidente — Nunca abrirão a mente para nossa filosofia. Devemos expurgá-los, ou serão sempre um obstáculo em nosso caminho em busca da paz.

Mestre Kan franziu o cenho indignado.

— Pense nas vidas que se perderão com essa investida Firion, nas famílias que destruiremos! Se formos derrotados...

— Temos o Avatar ao nosso lado Kan! Não perderemos. — Firion interrompeu em tom cortante.

Kan permaneceu com um pé atrás.

— Me prometa que só usaremos a violência se for necessária, que só atacaremos se não pudermos fazer a paz. — O mestre impôs.

— E que meio mais prático para isso se não intimidando-os com uma demonstração de força? — Firion indagou socando a mesa de madeira — Por esse e outros motivo que levaremos o Avatar ao conselho em Cidade República, veremos o quão temerosos nossos inimigos ficarão com sua grandiosa presença.

Kan suspirou:

— Já tivemos essa conversa, ela não está pronta Firion, você sabe disso.

— Estou disposto a correr o risco se isso nos der a vantagem.

— Ela é uma criança não uma arma!

— Ela é o Avatar! Está destinada a isso. Você não pode protegê-la para sempre Kan, eu não deixarei. — Firion disse inflexível se virando aos demais presentes — Todos a favor do plano ergam a mão.

Todos ergueram suas mãos, menos mestre Kan.

— Está decidido — Firion bateu com o martelo na mesa — o Avatar vem conosco a Cidade República, informe-a.

Sozinho em sua sala mestre Kan se viu encurralado. Isso é mesmo o certo a se fazer? Ele se fez a pergunta que atormentava os homens desde a sua criação, uma pergunta na qual ninguém nunca encontrou respostas. Ele levou a mão até o colar que trazia no pescoço e passou o polegar carinhosamente deixando se perder em lembranças felizes.

— O que devo fazer Mila? — ele perguntou aos mortos.
Com esforço devido ao joelho machucado há anos, ele se levantou da cadeira e foi até a janela. A sua cidade estava tão linda como no dia em fora criada. Seus córregos cristalinos cortavam as formosas ruas congeladas tão azuis que resplandeciam a luz do sol e davam um brilho astral a sua terra natal. Jovens e idosos passeavam despreocupados pelas ruas cuidando de suas próprias vidas sem fazer a menor ideia do que os esperava. Eram felizes porque confiavam no seu líder para tomar as decisões certas para o bem de seu povo.

— Como posso mantê-los seguros se anseiam pela guerra? Você é que deveria estar no meu lugar Mila — ele sussurrou ainda fitando a cidade abaixo — Não sei se posso lidar com isso sozinho. Você deveria estar aqui comigo, seria uma governante muito melhor do que eu sou.

Lana ouviu batidas na porta e foi atender.

— Mestre Kan? O que faz o senhor aqui a essa hora? — ela indagou ao abrir a porta para o velho homem, ele parecia estranho.

— Falei com Firion — ele disse, mas seu tom era triste — você virá conosco a Cidade República.

Lana abriu o maior dos sorrisos e o abraçou animada, finalmente sairia daquela jaula congelada! Finalmente conquistara a confiança da Lótus Branca, agora tomaria parte nas decisões do Conselho e mostraria que já não era mais uma criança. E o melhor de tudo é que conheceria a Cidade República e a ponte para o mundo espiritual, sempre sonhara com isso. Mas por que o mestre parecia tão triste?

— Mestre, o que foi? Há algo errado?

Ele deitou-lhe um olhar pesado:

— Temo que não iremos a Cidade República para turismo. Vamos para começar uma guerra.


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