As Crônicas da Tempestade escrita por Cavanhaque maroto


Capítulo 32
Capitulo 29 - Recepção calorosa


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal, beleza?
Estou de volta com mais um capitulo, desculpe o hiato.



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Capítulo 29 – Recepção calorosa

Tribo da Água do Norte, Capital

O barco parou no porto da capital com um tranco leve familiar do metal contra o gelo, mas o Avatar mal o percebeu, estava paralisada com o clamor das milhares de pessoas que vieram vê-la voltar triunfante após longos meses fora. Os gritos foram ensurdecedores, cartazes berrantes com seu nome sacudidos como bandeiras e máscaras coloridas do Espírito Azul, como as que usara na Revolução da Nação do Fogo, foram distribuídas entre as pessoas como um símbolo de vitória. Lana imaginava se todos os cidadãos da Tribo da Água do Norte estariam lá por ela e sentiu as pernas estremecerem de expectativa, porém o primeiro pensamento fora fugir.

Mas todas as dúvidas a abandonaram quando sentiu o toque suave da mão de Kaijin na sua lhe dando a coragem e o apoio que precisava para seguir em frente. Ele também estava nervoso, ela sabia pelo jeito em que estufava o peito para parecer orgulhoso em sua farda azul da marinha tribal, mas era tudo uma encenação para o povo. Ele sorriu para ela e a empurrou de leve para o centro das atenções.

— Avatar Lana, Avatar Lana, seja bem vinda de volta — um jornalista disse se aproximando, sua voz ecoando pela multidão através dos amplificadores. Ela apertou a mão estendida e assentiu com a cabeça e murmurou um obrigado que foi abafado pelos gritos — Que tal dizer algumas palavras para essa galera que veio recebê-la?

Lana ia negando, mas o jornalista enfiou o microfone em sua mão e lhe deu um joinha em expectativa.

— Err, olá — ela ensaiou observando as milhares de pessoas — Meu nome é Lana, como muitos de vocês sabem eu sou o Avatar. Me pediram para dizer algumas palavras... tenho que admitir que este não é meu forte. Mas eu quero deixar bem claro que eu estou aqui por causa de vocês e por vocês, muita coisa mudou nos últimos meses, muitos entes queridos perderam suas vidas no campo de batalha por esta chance de mudança. — Ela deu uma pausa para ver a reação da multidão que agora fazia silêncio — Não será fácil aceitar a mudança, mudar é assustador, eu mesma sei bem disso pois foi assustador pra mim mudar. Nada será como costumava ser, por mais que tentemos nunca será igual, o único caminho a se seguir é para frente sempre, mas eu lhes garanto que nosso povo não sangrou à toa, hoje o mundo se torna mais justo e livre e uma nova Era grandiosa começa. — Uma lágrima desceu por sua face — Eu não lutei sozinha pois tinha ao meu lado os guerreiros mais corajosos e leais de todas as nações e neste dia em diante nos lembraremos deles com carinho e respeito que merecem pelo trabalho bem cumprido! Eles são os verdadeiros heróis!

As palmas estouraram por todo canto e Lana saboreou aquele momento e pela primeira vez na vida sentia-se querida por quem era e não por ser o Avatar. Da multidão um senhor de idade abriu sua passagem e caminhou, quase correndo, em sua direção e lhe deu um abraço apertado. Lana reprimiu as lágrimas que teimavam em descer.

— Estou orgulhoso de você Lana — mestre Kan lhe disse mantendo-a contra si — Bem vinda de volta, minha filha. Que bom que voltou em segurança, querida.

— Eu tinha alguém para me dar cobertura — ela sorriu para o mestre e apontou com a cabeça para Kaijin

Mestre Kan ergueu o braço para ele e num instante o soldado orgulhoso desapareceu e o garoto correu para os braços de seu avô. Kaijin tentou balbuciar algo, mas não conseguiu, só o olhar de Kan já foi o suficiente para ele.

— Seu pai estaria orgulhoso, Kai — o mestre disse com as mãos no rosto do neto — você é o homem que ele sabia que se tornaria e um dia será o líder que esta tribo precisa.

O rapaz assentiu voltando a postura de soldado.

— Vamos entrar, devem estar cansados da viagem — mestre Kan disse e acenou para o satomóvel que os esperava.

Durante toda a viagem a população jogava flores por onde passavam e tiravam fotos de sua salvadora que acenava energética da janela do carro. Esse era o dia mais feliz da vida de Lana, todo aquele carinho a fazia esquecer da garota órfã que chegara àquela cidade nove anos atrás suja e assustada com o destino que outros escolheram para ela e tornava os horrores do campo de batalha suportáveis. Sim, tudo havia sido por eles, pelas pessoas que contavam com ela.

Após tomar um banho quente e pôr novas roupas confortáveis, Lana passou a tarde deitada em frente a lareira no seu quarto, era tão bom poder ficar à toa depois de tanto tempo, era quase estranho não ter ninguém querendo te matar o tempo todo. Ela, a cada momento, refletia sobre o seu discurso.

Ela apanhou um espelho no criado mudo e se olhou por um bom tempo, realmente podia ver o quanto mudara desde que saíra da Tribo da Água do Norte para lutar ao lado da Aliança, as coisas que teve de fazer... Tudo isto estava no passado, o futuro que importava, uma longa era de paz estava por vir.

Foi nesse momento que Lana percebeu que seus olhos brilhavam outra vez. O espelho se estilhaçou no chão quando ela o largou assustada, não, aquilo não podia estar acontecendo de novo. Ela respirou fundo e acalmou o coração e após um longo momento se abaixou e pegou um pedaço do espelho, o brilho havia sumido e ela estava de volta no controle.

— Tenho que ir à Cidade República — ela murmurou sem tirar os olhos do próprio reflexo.

 

 

Estradas de Ferro, Reino da Terra

Dalai acordou com um salto quando despejaram a água gelada na sua cara. O rapaz se levantou já em guarda preparado para conter a ameaça, mas tudo que encontrou foi o vagão escuro e vazio, exceto apenas pela maldita dominadora de ar rindo ainda segurando o balde.

— Que merda... — ele começou tirando a camisa molhada

— Já estamos para chegar em Cidade República — ela informou e lhe jogou uma muda de roupa que trazia na outra mão — Você precisa de um disfarce, se alguém reconhecê-lo, você morre.

Hana deu um sorrisinho e virou com deboche para o outro lado para que ele pudesse vestir a calça jeans escura e o moletom verde, em seguida calçou de volta os tênis cheios de buracos. Com o cabelo raspado e a barba aparada combinada com as novas roupas, Dalai parecia bem diferente do Filho da Tempestade que foi julgado na Nação do Fogo alguns dias atrás. Por que concordei com isso mesmo? Ele se perguntava.

Estava viajando com Hana há uma semana seguindo de um veículo para o outro dando voltas e voltas em todo o Reino da Terra, não, o antigo Reino da Terra e recém nomeado País da Terra pelo Rei da Terra que anunciou formalmente o fim da monarquia e o alinhamento com a Aliança. Fírion estava determinado a mostrar mudanças o quanto antes e logo iniciara um monte de novas medidas por debaixo do pano. Atakano ficara para trás para impedir o ditador louco de executar todos os novos membros do senado que ele não gostasse e manter as aparências enquanto planejavam o resgate de Raidou.

Dalai se perguntava se Laya estava bem, contudo lembrava que não tinha mais o direito de se preocupar com ela. Com a queda da família real ele esperava que o príncipe fosse devolvido, no entanto até o momento o bebê ainda estava sob custódia de Firion.

Viajaram na maciota e, em alguns casos, por rotas usadas por contrabandistas do deserto que Dalai ainda tinha contato. Alguns desses contatos se viram inclinados a entregá-los para ganhar uns trocados a mais, porém uma boa amaciada do rapaz deu um jeito de mantê-los calados. Agora estavam em um trem que levava mantimentos para Cidade República onde iriam encontrar o contato da Irmandade.

— Já terminei — Dalai disse para a companheira de viagem jogando as roupas velhas para fora do trem e acrescentou com sarcasmo — Agradeço pela decência de se virar. Você é bem educada para alguém que joga baldes de água nos outros.

— Não queria constrangê-lo, logo você que é um homem tão respeitável — ela falou mordiscando um pedaço de carne seca que que furtara dos caixotes de mantimentos — Além disso, faço mais o tipo dos caras altos e malhados, sabe os realmente gostosos.

— É uma pena te decepcionar com esse corpo magrelo.

— O que foi? Feri seus sentimentos?

— Se eu ainda tivesse algum...

Ela ergueu a sobrancelha

— Então uma garota quebrou o coração do poderoso Filho da Tempestade? Essa eu preciso ouvir.

— Quem sabe outro dia.

— A menos que tenha algo melhor para fazer, eu acho que tempo de sobra. Qual é, se vamos trabalhar juntos preciso saber mais de você — ela incentivou e o puxou para o lado dela no chão e esperou com paciência ele começar.

— Eu a conheci em uma época negra da minha vida. Tinha acabado de fazer fama no Reino da Terra como bandido e ainda tinha muitas cicatrizes da morte de Iann e tudo o que eu desejava era destruir tudo o que vinha pela frente. Em menos de um ano eu liderava uma gangue de meninos de rua em Bee Wan e detinha certo status entre os figurões do deserto. — Ele falou mas sua voz soava distante — Foi ai que um dia durante uma viagem política o satomóvel do primeiro ministro Huaq foi atacado por saqueadores do deserto e toda família regente de Zaofu foi feita de refém. Mas a filha caçula conseguiu fugir e de alguma forma acabou vindo parar em Bee Wan. — Sorriu com a memória — Na época eu não sabia quem ela era e nem me importava para falar a verdade, mas ela parecia tão perdida e assustada...

— E você a salvou? — Hana indagou.

— Não, eu a assaltei é claro — Dalai piscou para ruiva — Ela nem reagiu quando Mizu levou suas joias e seu sapato. Mas eu a encontrei novamente dois dias depois surrada e faminta, ela tentava roubar pães de uma padaria, mas o dono a pegou no ato e eu pensei: nossa que amadora! E não sei por que mas intervim e dei uma surra no padeiro e corremos junto para um beco.

— Você não a violentou, não é?

Dalai sorriu e balançou a cabeça;

— Não, ela fez algo que eu nunca sonharia: ela dividiu o roubo comigo. Eu ri dela e ela ficou irritada e comeu tudo sozinha, depois disso a levei ao meu covil e a pus debaixo da minha asa. Vivemos juntos por dois meses, a princípio meus irmãos não quiseram aceitá-la pois sabiam que ela não era como nós: vira latas. Mas ela se dedicou e aos poucos ganhou um espaço no bando. Aos poucos fomos nos aproximando e tudo rolou naturalmente...

— Então ela tomou a iniciativa — Hana rolou os olhos e riu.

— Finalmente eu tinha encontrado alguém pra quem eu queria ser bom, quando eu estava com ela eu não queria destruir tudo, podia ser eu mesmo: um garoto assustado e magoado. Depois de algumas semanas ela me contou quem era de verdade e eu disse que não ligava, que estava apaixonado. E quando achei que havia encontrado a felicidade, cismei de realizar um golpe perigoso, um político corrupto chamado Rimau, que comandava uma vila de bandidos. O plano deu errado e minha gangue foi capturada, eu consegui escapar.

— Essa vila é...

— Eu voltei assim que anoiteceu, foi quando vi que Mizu e Laya estavam amarradas a dois troncos de madeira no pátio da vila e Ramau as chicoteavam. Nenhuma das duas me entregou. — Dalai sentiu a respiração pesada — Eu só surtei. Deixei o monstro que todos acreditavam que eu era vir à tona e se banquetear, gostaria de dizer que estava fora de controle mas eu tinha total consciência do que eu estava fazendo e eu gostei de esmagá-los. Quando amanheceu já não restava mais vila, salvei meus irmãos, logo descobrimos que esse ato não poderia passar em branco e em alguns dias depois o primeiro ministro caiu sobre Bee Wan e nos capturou.

— O que aconteceu com a garota?

Dalai lhe lançou um olhar de dor.

— Laya foi quem chamou o pai. Ela nos entregou.

A mão de Hana pousou em seu ombro.

— Eu fiz um acordo com Huaq para soltar meus irmãos se eu não resistisse a prisão.

Nesse momento o trem parou. Dalai se levantou e apanhou a mochila com seus pertences e desceu para olhar a cidade, olhar sua nova vida. Hana foi logo a trás. O contato não demorou a aparecer, era um cara moreno com ascendência tribal vestindo uma camiseta rasgada e calças de couro.

— Há quanto tempo Hana — ele sorriu para a amiga e a abraçou, depois se virou para Dalai e o avaliou — Você parecia mais alto na TV. Eu sou Etay, aluno da Irmandade.

— Dalai, prisioneiro.

— É melhor irmos, já estão atrasados — Etay anunciou e em seguida disparou para o muro do terminal, este que ele pulou facilmente e depois tomou impulso para um galho da árvore espiritual.

— Bem-vindo à Cidade República, garoto do deserto — Hana disse e disparou logo atrás de Etay.

Dalai sorriu e os seguiu.


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