As Crônicas da Tempestade escrita por Cavanhaque maroto


Capítulo 22
Capitulo 19 - Fagulha




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Capítulo 19 – Fagulha

Nação do Fogo, Minas de Nitrus

Seus passos ecoaram pelos estreitos corredores de metálicos da mina. Cada passo de liberdade era uma dádiva após seus anos de prisão em Valu, finalmente aprendera o valor da verdadeira liberdade. Cabeças se baixavam em reverencias à medida que passava de queixo erguido por seus irmãos, eles a amavam como sua libertadora e era exatamente isso que ela se tornara.

Yuzushi desviou seu caminho para ajudar um companheiro a carregar outro ferido para os médicos. Uma baixa infeliz da guerra pela liberdade de seu povo das mãos dos tiranos governadores. Disse algumas palavras de conforto ao corajoso guerreiro e se retirou de volta aos seus afazeres supervisionando o andamento de seu exército.

Uma figura conhecida surgiu ao seu lado e lhe informou

— Mei Chan fracassou em sua tentativa de assassinar a senhora do fogo, minha senhora. Parece que foi detida pelo cão de guarda de Akame.

Sua líder a encarou fria.

— Onde ela está agora?

— Morta infelizmente. Abatida pelos arqueiros reais.

Yuzushi assentiu com o semblante carregado em pensamentos e intrigas.

— Uma pena, perdemos uma jovem com tamanho potencial dessa maneira certamente é um desperdício. No entanto, o recado já está dado, a essa altura Akame deve estar se borrando nas calças! Nossos números crescem a cada dia, ainda mais agora com o incidente em Kyoshi e o massacre desenfreado do nosso bom general à Nação do Ar. O povo clama por justiça e logo nossa Senhora descobrirá quem detém a verdadeira força em nossa nação! — seus olhos faiscavam com uma malícia cruel em imaginar os inimigos que a jogaram na prisão, seu desespero, sua dor e em breve, sua destruição.

— Senhora seus convidados chegaram. Eles a aguardam na ala oeste no Hal Principal. – O companheiro disse. – Não me parecem estar muito satisfeitos com a espera.

— Excelente. Diga que logo estarei com eles. – E antes que o homem fosse embora, acrescentou – E Buler... Bom trabalho.

Ele assentiu e se virou para resolver seus deveres. Desde que fugira de Valu, Buler esteve sempre ao seu lado, embora durante a última rebelião não passasse de um moleque melequento, se provara ser competente em seu novo posto sem sucumbir as pressões desse fardo. Extremamente leal e devoto a causa, a fazia lembrar-se de seu sobrinho a muito perdido durante a guerra. Coloque a cabeça no lugar mulher! Tem trabalho a fazer.

Após se lavar e vestir roupas limpas e frescas, apenas uma camisa regata, calças e suas botas favoritas. Admirou-se no espelho e o que viu a agradou, para uma mulher na casa dos trinta e poucas estava bem conservada ainda mantendo o corpo em forma preparado para o combate repleto de cicatrizes. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo e em seu pescoço brilhava sua dog tag dos seus tempos do exército. Ela passou a ponta do polegar na inscrição e sorriu nostálgica ao ler seu velho apelido das linhas de frente quando era apenas uma tenente do exército da Nação do Fogo, Fagulha destacava-se no meio de seu nome.

Passado o devaneio, apressou-se pelos corredores escuros das minas, tão familiares quanto a palma de sua mão, até que o metal deu lugar a terra batida e finalmente a calçada de pedra do Hall superior oeste onde se encontrava a entrada principal e dava acesso aos demais níveis abaixo por túneis subterrâneos complexos.

Dois jovens esfarrapados e uma comitiva de dez homens a aguardavam pouco pacientes, sem dúvidas membros da Lótus Branca e guerreiros poderosos. Atakano brindou-os com um sorriso felino e disse com sua melhor voz de veludo:

— Espero não tê-los feito esperar muito, estive ocupada com alguns assuntos urgentes. Sejam bem-vindos a Nitrus.

Um dos jovens, nitidamente impaciente deu um passo à frente. Assumia uma postura ereta mesmo coberto de sujeira e fuligem, apresentava uma fina etiqueta e fluidez nos passos. Seu rosto era bonito exceto pela horrenda cicatriz que cortava sua face até olho oculto com um tapa olho, dando-lhe um aspecto misterioso e intimidante.

Exatamente como ela gostava.

— Mestre Firion agradece sua cooperação e nos enviou para contribuirmos com a sua causa Atakano. Esperamos que colabore com nossa parceria e cumpra com sua palavra.

Crianças enviadas para me vigiarem, Yuzushi concluiu saboreando o momento, o desgraçado não confia em mim para libertar meu povo! Mesmo livre ainda seria supervisionada por moleques. A líder da resistência apertou sua mão com firmeza e piscou para o rapaz, se divertindo com a confusão em seu olhar.

— Você é igualzinho ao seu pai. Lutei com ele há dez anos, lamento pela sua morte prematura — ela observou-o bem. — Espero que não seja um galanteador como o seu velho, isso seria ruim para as minhas meninas, elas só conhecem homens brutos, certamente iriam se derreter pelo seu charme tribal, Kaijin.

Ainda com um sorriso no rosto, seu olhar se voltou a menina que observava tudo por debaixo do capuz verde escuro. Percebendo a situação, Kaijin as apresentou:

— Senhora essa aqui é Lana, o avatar. Mestre Firion espera que possa ensina-la sobre os segredos da dominação de fogo de Nitrus, ele acredita ser de grande importância que Lana domine tais técnicas para derrotar o Filho da Tempestade.

Lana acenou com a cabeça e retirou o capuz.

— É um prazer conhecer uma grande guerrilheira como a senhora mestra Atakano.

Yuzushi gargalhou com sabor com aquela declaração.

— Já fui chamada de muitas coisas, criança, mas nunca de mestra. Não sou o que os ortodoxos considerariam um exemplo de pessoa. Eu só sou boa em matar pessoas – seus olhos faiscaram – Sou muito boa no que faço. Aliás, chegaram em uma hora conveniente. — Ela acenou com as mãos para Buler que se esgueirara por ali enquanto conversavam — Tragam o espião.

O homem partiu imediatamente voltando algum tempo depois com dois soldados que arrastavam um homem semiconsciente. O sangue seco grudara em sua roupa da surra que levara e seu rosto inchado e roxo com os hematomas. Lana o encarou inexpressiva insensível ao sofrimento do homem acorrentado.

— Não entendo que ponto quer provar aqui senhora Yuzushi, mas creio que não seja necessário.

Atakano rodeou o homem ferido ignorando o Avatar. Seus dedos se fecharam nos cabelos do homem o forçando a olhar para ela e com a mão livre cerrou os punhos e lhe acertou um murro no rosto fazendo jorrar sangue no chão.

— Então, rato, onde está sua senhora agora? Acha que pode vir até aqui na minha casa e se passar por um dos meus irmãos? — ela o acertou novamente, agora com as costas da mão — Olha pra mim! Quero veja o meu rosto quando eu te mandar pra outra vida. Agora me diga, que informações estava passando a seu superior?

O homem respirou dolorosamente e lhe cravou os olhos com ódio e cuspiu sangue em seu rosto. Atakano limpou o rosto com as pontas dos dedos, ela sorria com a loucura tomando seu rosto.

— Parece que está com sorte hoje, avatar — ela comentou se virando para a garota que observava calada a tudo — Vai ter a chance de testemunhar o meu grande talento!

Yuzushi Atakano agarrou a cabeça do espião com as duas mãos e o fitou nos olhos. Ela controlou a respiração buscando força em seu interior e então permitiu que sua energia interior explodisse dentro de si, sentiu o calor inundando seu corpo e permitiu que esse calor se tornasse exterior.

Foi aí que os gritos começaram.

O espião gritou de agonia se debatendo inutilmente nas correntes tentado escapar. Seus olhos estalaram com o calor e derreteram em sua face escorrendo pelo rosto enquanto a fumaça com o cheiro nauseante de carne queimada impregnava o ar. Seus lábios e língua incharam com bolhas fazendo desejar por uma morte rápida. Enfim o espião parou de lutar e tombou para o lado.

Ainda calada diante daquela demonstração brutal Lana resistiu ao ímpeto de vomitar e sentiu o coração se contrair. Aquela era a mulher que libertaram? Se era tão poderosa e cruel a ponto de fritar os miolos de alguém com as mãos sem dúvidas poderia se tornar um problema no futuro. Pelo visto Kaijin também concordava pois trocaram um olhar de entendimento.

— Vamos aos negócios crianças — Yuzushi Atakano falou como se nada tivesse acontecido.

 

 

Os ventos arfaram nas cerejeiras quando Dalai adentrou nos jardins do Palácio Real. Vestia uma camisa de mangas cumpridas pretas por baixo de uma armadura parcial que cobria seu peito esquerdo e ombro. Prendendo os cabelos que cresciam rebeldes uma bandana cinza que em conjunto com a barba ainda por fazer lhe dava um aspecto desleixado similar à de um vagabundo do Reino da Terra se comparado aos trajes formais e uniformes militares da corte da Senhora do Fogo, esta que se mostrara em seu reinado bem exigente com tais medidas.

Ao centro do delicado jardim, um pequeno grupo de pessoas se reunia. O círculo interno de confiança da Senhora era composto principalmente por militares e conselheiros, além é claro, agora com o nômade renegado do ar. Sentados em almofadas dispostas ao ar livre e luz do sol. Dalai se sentou ao lado de Lian Fu nos lugares mais afastados da senhora.

— Sabem muito bem por que eu os convoquei aqui — a senhora Akame iniciou a cessão — O movimento de Atakano está ganhando força nos vilarejos de classes mais humildes e suas tropas estão aumentando rapidamente, logo se tornaram um incomodo se somado a guerra em que lutamos. Não podemos ter dois frontes de batalha. A ameaça deve ser contida pela raiz e rapidamente. General?

Raidou que bebia um gole de seu licor vermelho disse:

— A melhor estratégia no momento seria enviar tropas para Nitrus e sitiar a cidade e forçar uma rendição do grupo, o que poderia levar meses que não dispomos.

O conselho começou a murmurar e a expor suas opiniões até que a senhora pediu silencio.

— O que supõe então general? Não podemos esperar meses para acabar com o movimento, com todo esse tempo o inimigo e seus seguidores poderiam organizar uma nova força e romper o sítio e acabar com nossas tropas pegas de surpresa. O que sabemos sobre esses rebeldes?

— Apenas o que os rumores dizem, mas sem dúvidas podemos afirmar que a Aliança Libertadora está agindo por debaixo dos panos e apoiando os rebeldes. Uma clara evidencia disso é a fuga de Atakano de Valu, uma prisão impossível de se invadir sem ajuda do pessoal interno.

— Então não disponibilizamos de informações suficientes sobre com o que estamos lidando? — indagou um ministro.

— Não exatamente — quem falou foi um jovem guarda costas real conhecido como Fong — Nossa inteligência nos passou a informação sobre o próximo possível alvo dos rebeldes. Atacarão um forte ao norte onde estocamos cerca de oitenta porcento de nossas reservas de suprimentos para a guerra. Um alvo ousado, mas duramente protegido.

Dalai estremeceu ao lembrar da imagem da mulher louca que vira em Valu. Mas tinha de admitir que ela tinha colhões, bater de frente com todo o poderio da Nação do Fogo com apenas algumas tropas de guerrilheiros despreparados já que seus antigos companheiros haviam sido presos ou executados na última guerra civil anos atrás.

— Acredito que pode haver outra solução — Lian Fu disse e os olhos se viraram para ela tanto em censura quanto em expectativa — Durante o ataque rebelde realizaremos uma armadilha e capturaremos alguns soldados para o interrogatório.

— Acredito que posso contar com você para realizar tal tarefa certo capitã? — general Raidou disse — enquanto isso enviarei mais tropas para conter as manifestações no resto do território. Se prolongado, esse conflito pode acabar comprometendo a vantagem que temos sobre a Aliança Libertadora, algo que Firion deseja mais do que tudo.

— É só destroçarmos seus homens e esmagarmos seus espíritos — Dalai disse sem cerimônias — Se seu líder cair o movimento irá se dissipar. Atakano é a fagulha que começou o incêndio, ela é um símbolo e se tem algo que eu faço é acabar com símbolos. Estou farto dessa maldita guerra e acho errado que pessoas da mesma nação lutem entre si, não vejo nada no futuro além de mortes sem sentido.

— Obrigado pela sua presunção sempre tão marcante Dalai. — O general demônio disse — Moralismo à parte, infelizmente você está certo, você é o nosso trunfo mais uma vez, então dessa vez comporte-se rapaz. Estamos em uma corrida contra o tempo.


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