Desceram da moto, e Monica tirou o capacete, ficou aproximadamente um minuto admirando a paisagem em silencio com o capacete recém tirado nas mãos.

Era verde, ladeado de flores por todos os lados e entrando pelo caminho de pedras dava em um deck, que despontava em um rio, pequeno que deixava ainda mais incrível todo aquele lugar.

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Teria ficado o dia todinho admirando e sentindo o que o lugar lhe transmitia, se o Cebola não tivesse a tirado do transe.

— Ei... Baixinha – Cebola passou a mão em frente ao seu rosto tentando lhe chamar atenção.

— Ah... Cebola, esse lugar é incrível – Monica respondeu ainda anestesiada.

— Espera até ver o deck, vai se apaixonar – Cebola falou quando finalmente passaram por entre o caminho trilhado e ele deu espaço para ela olhar o pequeno rio que se estendia por entre algumas pedras.

Monica permaneceu imóvel, levou calmamente as duas mãos a boca se sentindo arrepiada.

— É... Bem-vinda ao lugar em que crio minhas coreografias – Cebola sorriu ao vê la tão admirada.

— Sério?! Sério que é aqui que cria? Por que nunca me contou? – Monica questionou se aproximando do para peito.

— Ah estava esperando a hora certa – Cebola falou jogando sua mochila em um canto - Acho que essa hora chegou!

— É maravilhoso, obrigada por me mostrar, realmente inspira tudo isso – Monica respondeu respirando fundo o ar fresco - Parece que o ar é mais leve.

— Mo, quero de verdade que você vá bem na sua apresentação, assumi um compromisso junto com você para dançarmos juntos, então espero que sinta a mesma inspiração que sinto quando crio meus passos – Cebola explicou se sentando em um dos banquinhos na extremidade do local.

— Obrigada Cebola, na verdade nem sei como te agradecer, eu não estou, digamos que acostumada com tanta demonstração de preocupação com o que realmente quero sabe – Monica agradeceu levemente emocionada - Que acreditem no meu sonho junto comigo.

— Ei, não precisa me agradecer, eu me preocupo com você, por que diz essas coisas como se ninguém se preocupasse?! – Cebola perguntou a chamando para sentar.

— Ah Cebola minha vida não é tão fácil como acham – Monica respondeu se sentando ao seu lado, criando coragem para contar.

— Como assim?

— Tenho regras para quase tudo lá em casa, jeito de sentar, de comer, de me vestir, para eles musica não é carreira, para o meu pai a dança é só uma aventura de uma criança sonhadora – Monica começou a contar com lágrimas nos olhos - Ele espera ansioso pelo dia que eu vou chegar em casa falando que cresci e esqueci tudo isso.

— Ah Mo para, isso não deve ser tão ruim, você tem tudo o que quer, na hora que quer, é só fazer birra que seu pai deve mudar de ideia – Cebola falou a olhando com atenção.

— Haha, você está falando isso porque não tem regras que seus pais impõem, pode pegar sua moto e viajar o mundo todo a hora que quiser, seguir a carreira que sonha, não é obrigado a comparecer a eventos que não gosta, e muito menos é obrigado a ficar com alguém que não ama. – Monica contou enxugando uma lágrima que caiu sorrateiramente.

— Monica, pra eu ter o que eu quero eu preciso ralar e muito, não me fala que é fácil, você pode ter tudo o que quer estalando o dedo, comigo é diferente – Cebola se defendeu.

— Desculpa, eu não quis dizer que é fácil, na verdade nem quero comparar, só estou falando que minha vida não é assim como vocês pensam – Monica tornou a explicar.

— Não precisa se desculpar baixinha, mas uma coisa me intrigou, como seus pais não apoiam o que faz a filha deles feliz? – Cebola perguntou indignado – E como assim você é obrigada a ficar com alguém que não ama?!

— Ah Cebola é complicado.

— Estou disposto a ouvir – Cebola fez menção para ela continuar a falar.

— Na verdade minha mãe sempre me incentivou com o fato de eu dançar, quem não gosta é meu pai, ele tenta engolir, mas me envolve em tudo que é ligado a empresa, até mesmo com o filho do sócio dele, me faz comparecer em todos os eventos, e já me fez prometer que se eu não passar nessa prova no final do ano eu volto e me dedico a carreira administrativa.

— Como assim com o filho do sócio dele? – Cebola cruzou os braços.

— Bem vindo a minha vida Cebola, te falei que não era fácil.

— Mas Mo você não pode deixar, tem que ter voz ativa, não é o que você sonha, você ama dançar, e todo mundo que te conhece sabe disso, é ótima no que faz – Cebola se alterou um pouco – Desculpa, mas é que eu me estresso com essas coisas, você dança com tanto amor, e eles também não podem obrigar você a gostar de alguém que não gosta, isso tudo é status, eles não pensam em amor?!

— E você acha que eu não sei, que eu já não tentei falar?! Mas envolve muita coisa, sou a filha de um grande empresário do Rio Cebola, e meu pai diz que fica feio no ramo deles um filho ou filha que não liga para a sucessão, que não se preocupa com o negocio da família, e tem também o Fabinho que aproveita que meus pais querem nos juntar e não colabora, eu já tentei falar de todas as formas que não gosto dele, mas ele tem certeza que ficaremos juntos, o sonho dos nossos pais é que nos unimos, para finalmente os Boa Pintas e os Sousas firmarem um laço maior que o empresário.

— Quer que eu dou uma conversada com ele? Com esse Fabio ai?! Se quiser coloco ele no lugar dele rapidinho – Cebola falou se levantando.

— Não Ce, nem inventa, deixa isso pra lá, agora estou em São Paulo, longe dele, isso já é um começo, só preciso passar nessa prova e pronto, estou livre – Monica concluiu também se levantando.

— Vamos ensaiar? – Cebola perguntou tentando mudar de assunto que estava claramente chateando os dois e ele sabia que dançar os fazia focar nos passos e esquecer pelo menos provisoriamente isso.

— Que?!

— Vamos ensaiar Mo, vamos repassar tudo que temos pronto até agora, e se tivermos ideias vamos acrescentando – Ele concluiu tirando o celular e colocando a musica que tinham escolhido para apresentarem.

— Ta, ok – Monica falou se colocando de pé.

Escolher a musica foi uma das partes mais fáceis, Monica já tinha uma lista das que gostava e que seriam fortes candidatas, ai então foi só o Cebola ir passando de uma em uma, até chegar na que achou que casava os movimentos. Ela não era tão agitada para ele dançar como estava acostumado, mas adaptaram juntos todos os passos inclusive os de hip hop para seguirem a melodia da musica chamada Apologize*.

Ao compasso que a musica iniciou, o vento gelado no qual invadia o local, bateu em seus corpos, esvoaçando seus cabelos, Cebola já a envolveu no primeiro passo e ela continuou conforme tinham ensaiado.

Monica se soltou para desempenhar seus passos solos de balé, nesse momento Cebola foi para trás, ela rodopiou e deu inúmeros saltos duplos com pousos leves, assim que terminou seu solo, Cebola se uniu a ela novamente para entrarem em cânone que consistia numa espécie de movimento sombra, Monica começou os passos que ensaiaram de hip hop, sendo seguida pelo Cebola com alguns segundos de diferença dando um efeito incrível para quem assistia, após alguns outros passos Cebola a pegou pelos braços e a rodou duas vezes a apoiando no final sobre seu peito.

Monica se dividiu entre ir desligar a musica no celular ou continuar naquela posição tão perto do rosto dele, não teve muito tempo para pensar quando sentiu a mão dele passar por entre seus cabelos e a puxar para perto da boca dele, ela relutou no começo dando um murrinho quase nulo em seu peito, mas logo depois amoleceu o seu corpo e o entregou para aquele beijo que por tantas vezes tinha imaginado como seria.

Separaram as bocas e abriram instantaneamente um sorriso, ainda de rostos juntos, Cebola pegou em suas duas mãos e num ato regado de carinho lhe pousou um beijo na testa, Monica o abraçou e ele retribuiu, os virando para o por do Sol que se instalava ao longe.