E a cada vila que passava não pode deixar de notar seu rosto estampado a frente das barracas militares. “Desertor, denuncie a um oficial”. A guerra entre os reinos continuava, e após o incidente em sua vila, John decidiu não retornar mais a vida de soldado, buscaria agora vingança, a mesma que o cegava e lhe ceifava a sanidez. Quem diabos no mundo desafiaria o exército sozinho?
Vestiu o capuz tentando não chamar atenção e seguiu pela cidade.
–Vejo que não posso dormir perto da cidade – Pensou enquanto olhava atentamente aos arredores – há muitos guardas, alguns rostos podem até ter lutado comigo em batalhas passadas.
Pegou a estrada que levava para fora da vila. Um caminho bem irregular e com deformações na pequena estrada de terra, caminhou com Terror até sentir que o terreno começava a mudar, se tornando um grande pântano, mortal como punhalada ao peito.
Analisou o terreno, mas não tinha escolha, teria que dormir em alguma pequena ilha ao meio do pântano.
Sentou e começou a comer um pedaço de queijo, e alguns pedaços de pão, até ser interrompido por um canto meloso e lindo, como uma sinfonia tocada por anjos e anjos.
Hipnotizado pela melodia, deixou o cavalo e começou a seguir o som. Em meio as águas lamacentas uma dama de branco se destacava flutuando a poucos centímetros da agua. Ela definitivamente era dona do canto. Ao invés de mãos a criatura dispunha de garras, seu vestido branco e seu rosto quase mumificado não deixavam dúvida: Era uma Banshee.
A cantoria suave e doce se transformara em gritos mortais, tais tão fortes que roubam a essência de quem ouvisse. John sai do transe tarde demais, já ouviu a última canção da banshee... O que vem a seguir é a morte. A alma sai de seu corpo paralisado, e sua essência vital sai como um gás de sua boca, sua vida se esvai e tudo fica preto. MORTE. Sem reação, apenas dor, culpa. Culpa por não ter salvo sua amada, culpa por não conseguir ao menos vinga-la. Mas ... Mattias John, morto? Sim...
– Onde estou? – Disse John olhando ao arredor – Que lugar mais quieto...
Ele estava em um lugar todo branco, sem cor alguma, começo ou fim.
–Pequeno John, é pra isso que bebeu as almas? – Disse uma voz misteriosa a suas costas.
–O que é você? – Disse se virando pra ver o dono da voz – Seria um demônio?
–Sim, exatamente. Sou você, em poucas palavras, sou seu demônio – Disse a criaturinha vermelha.
O pequeno demônio tinha cerca de dez centímetros, com minúsculos chifres saindo de sua cabeça, e sua pele vermelha era a única coisa que lhe dava um ar quase horripilante.
–E o que aconteceu comigo? – Disse John
–Você morreu, ora – O diabinho sorriu sarcasticamente
–Morri? – John se assustou – Pelas mãos daquela banshee?
–Não diria pelas mãos, e sim pela voz dela- Riu colocando as pequenas patinhas sobre a boca.
– E aqui seria o inferno? Acabou pra mim?
–Não exatamente, depende de você – voou para o ombro direito de John – Diga-me... O quanto você deseja vingança.
Em um sorriso bem aberto surge a resposta que o ser diabólico gostaria de ouvir:
–Muito.
– Lhe darei mais uma chance de ter sua vingança, te tornarei um meio-demônio.
– O que você ganha com isso?
O diabo sorriu e ignorou a pergunta – Desperte John.
John acordou no fundo do pântano, procurou a espada na bainha e não a encontrou, tinha que emergir logo ou morreria novamente. Prendeu a respiração e subiu. Pegou ar e observou a sua volta, lá estava a Banshee, sua assassina.
Mexeu levemente a água para atrair a criatura. Poucos segundos depois ela estava flutuando sobre John, mas as folhas podres sob a água o deixavam invisível para quem olhava por cima. Ele sorriu e saltou da agua, agarrou no pescoço da criatura que se pois em gritos de desesperos. Quando ela começaria cantar a sinfonia da hipnose John a afogou nas aguas do pântano pelo pescoço. Seu corpo magro rebatia conforme se afogava e seus cabelos negros se esvoaçavam na agua. Bolhas de ar saiam da agua viscosa tornando claro a vitória de John sob sua assassina. Soltou o corpo sem vida da criatura na agua e começou a procurar por seu cavalo.