O garoto do capacete vermelho escrita por Puella


Capítulo 4
Bem vindos à Cidade dos Construtores


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A Cidade dos Construtores não era uma cidade comum. Ela existia desde de 1955, era uma cidade meio militar, meio futurística e meio badalada. A sua população em grande maioria era jovem e continha pessoas de diversos cantos do mundo. Cientistas, engenheiros, designers, empresários, banqueiros e outras pessoas interessadas em injetar dinheiros em meios de tecnologia.

Digamos que para existir, a Divisão F1 precisava de fundos monetários para concretizar suas ações, que por sinal, eram muito caras. Então, graças a algumas mentes brilhantes, a Divisão passou a ser tratada como um ambiente onde haviam heróis, cavaleiros e nobres dispostos a lutar e morrer para proteger os civis – acrescentado de um certo glamour e charme para tornar a tarefa menos brutal. Em pouco tempo os Pilotos passaram a ser uma figura que despertava o fascínio das pessoas, especialmente os jovens. É claro, tudo uma mera fachada quando se descobre o quão frio e cruel é o destino de um Piloto que se põe ao risco.    

Era mais uma tarde na cidade quando uma nova leva de jovens loucos e desgarrados de casa vinham para formar a nova safra de pilotos para entrar em combate e integrar as formações da divisão.

Para entender esta estrutura, vamos por partes. Divisão F1 é uma corporação estratégica, tecnológica e “militar” que se divide em três nivelamentos. Começando de baixo temos a F3, onde ficam os recrutas iniciantes, que treinam em um período de um a dois anos, onde os que não tiverem desempenho desejado são eliminados, ou em alguns casos, desistem. Acima destes, temos a F2, a divisão dos chamados pilotos-testes que participam dos experimentos das armaduras que serão utilizadas pelos Pilotos de elite. Os Pilotos em F2, dependendo do talento costumam ser selecionados pelas escuderias, consequentemente se tornando Pilotos de elite. E por fim, esses Pilotos de elite são os que compõe a tropa oficial da Divisão, conhecida por Tropa Especial. 

Agora, voltando a leva de jovens desgarrados, bem, muitos deles olhavam com certo fascínio a grande muralha de 50 metros que cercava todo o território da cidade, que era próxima aos arredores de Greenwich. Os ônibus que levavam os grupos atravessaram um portão alto, onde sentinelas faziam escolta. Niki tinha o rosto vidrado e colado na janela, visivelmente encantado pela aparência moderna da cidade, feita de arranha-céus, fabricas e montadoras. Havia também alguns metrôs de superfície que entrecortavam a cidade passando próximos aos prédios. Em nada lembrava Viena e seu jeito fino e clássico. A cidade era industrial, cinza e tão nublada, mais até que a própria Londres.

Lilly fitava a janela, também. Fazia algum tempo que a jovem ignorava o inglês galante que insistia em puxar assunto com ela. Nesse meio tempo ela acabou se perdendo de Niki, que ficou sentado no fundo do ônibus. O tal James parecia ter irritado Niki, que resolveu ficar sentando no seu canto. Quando ela o fitou achou engraçado ver como agora ele não parecia mais irritado, e sim encantado com a vista da cidade.

— Hey, princesa, qual é o seu lance com o ratinho ali?

Lilly o fitou com pouco interesse.

— Nenhum, apenas nos conhecemos durante a viajem. E por favor, não me chame de princesa. É Dungl.

— Ah – James pareceu ponderar um pouco, prestando atenção no sotaque austríaco da garota – certo, princesa.

— Eu desisto – a jovem se arriou na cadeira.

James encarou Niki que estava bem atrás deles, o austríaco notou que o inglês olhava para ele, e estão lhe olhou com uma expressão ranheta.

— Acho que o seu amiguinho ratinho não foi muito com a minha cara.

Lilly riu com sarcasmo.

— Ah, com certeza.

— Com certeza o quê?

— O que mais seria? – disse a menina visivelmente impaciente – Não foi só ele que não foi com a sua cara. Eu também não fui. Você chamou ele de rato, e esperava que ele fosse ser simpático?

— É uma brincadeira – ele riu – ou não concorda que ele pareça com um?

— Não interessa. Não pode sair por aí ferindo a autoestima dos outros.

James a fitou com uma expressão boba.

— Ora, eu só...

— Agora me deixe apreciar a paisagem, ok? - ela o interrompeu de maneira brusca - Obrigada.

Alguns bancos atrás, Niki apenas olhava para os arranha-céus da cidade, o que era mais engraçado é que para uma cidade-base de operações especiais, a Cidade de construtores lembrava mais uma cidade entupida de rótulos e propagandas das mais variadas coisas, desde bebidas, cigarros e marcas de camisinhas, bancos além das próprias construtoras – as ditas escuderias.

O austríaco achava que a tão falada Cidade dos Construtores era uma base militar onde jovens vinham para treinar para posteriormente combater os anômalos. Mas olhando assim, não parecia isso. Era apenas concreto e marcas publicitárias estampadas.

Os ônibus pararam em frente a um enorme prédio, deveria ter uns 15 andares. Na frente de sua entrada algumas pessoas já os aguardavam, o mais estranho era que eles não pareciam militares ou agentes de segurança.

Um deles era baixo, usava óculos redondo e tinha o queixo furado. O outro era louro e mais alto, usava uma camisa com os três primeiros botões abertos, ao lado deles um homem de olhos azuis chamativos, tinha bigode e usava uma boina preta na cabeça e uma camisa amarela. Ao lado deles um rapaz jovem de cabelos castanhos e nariz pontudo, tinha uma prancheta na mão, do lado dele um outro sujeito calvo de rosto comprido, um senhor barrigudo de cara rosada e finalmente um homem um pouco mais velho que utilizava um terno preto.

(Bernie Ecclestone, Max Mosley, Colin Chapman, Luca di Montezemollo, Frank Willians, Stanley, Ken Tyrrel)

Todos os jovens desceram do ônibus, formando um aglomerado alinhado em frente ao grande prédio. De trás dos homens citados apareceu uma outra figura, que diferente deles trajava uma roupa mais próxima da de um piloto, um macacão branco com insígnias da Divisão. Ele tinha costeletas negras e era um pouco calvo, os cabelos pretos eram bem penteados e arrumados com gel. No lado esquerdo de seu macacão estava escrito “Stirling Moss”, um dos participantes da primeira leva de Pilotos da década de 1950, que agora trabalhava na Divisão com um dos encarregados do setor de recrutamento.

Ele observou os jovens parados olhando para os lados, alguns confusos, outros ansiosos e aqueles que apenas olhavam atentos a qualquer coisa. O inglês pensou com certo desânimo que aqueles ali em sua maioria eram apenas jovens loucos se posando de corajosos, rebeldes e arregões bem lá no fundo da alma. Mas, Stirling não esperava encontrar no meio daqueles rapazes uma... uma garota? O homem limpou um dos olhos e piscou olhando novamente para a figura feminina que parecia tentar fugir da atenção de um outro camarada de cabelos loiros.

Já no meio dos rapazes, Niki encarava os homens na entrada do enorme prédio, que tinha o nome de “Paddock”. Os tais homens pareciam cochichar uns aos outros olhando um instante ou outro para o bando de jovens desmiolados recém-chegados. Niki ouviu um resmungo feminino próximo a ele, e notou que sua ex-colega de acento e conterrânea tentava de forma vã fugir das tagarelices do mesmo inglês idiota que os abordara em Londres. Qual era nome dele mesmo? Pensou, não sabia ao certo, mas se recordava de que o sobrenome rimava com algo similar a anta – o que descrevia bem, pensou o austríaco com certa maldade.

Hey asshole!

James e Lilly olharam para o lado e viram Niki caminhar na direção deles.

—  Tá falando comigo, rato?

Niki pareceu indiferente ao apelido depreciativo.

— Existe outro além de você?

James o fitou com deboche.

— Não sei, me diga você, meu caro amigo cara-de-rato – o inglês retorquiu com um risinho cinco.

— Ora não se preocupe, eu conheço bem um quando vejo. E outra, não sei se você percebeu, mas ela não está a fim de ficar um idiota inglês na orelha dela.

James congelou o sorriso, aquele merdinha o chamou de idiota inglês.

— Escuta aqui o –

— Chega! – Lilly falou alto chamando a atenção dos dois – Sem brigas por favor, acabamos de chegar aqui, certo? – ela então encarou James – olha cara, eh, James, lamento informar mas, eu não tenho interesse em transar com você ou qualquer outra coisa que você goste de fazer com garotas, estou aqui por outros motivos – a garota puxou Niki pela mão, ele parecia tão estático quanto James – e outra coisa, você não faz muito o meu tipo. Com licença, obrigada.

Os dois se afastaram do inglês que recuperou a postura. Era a primeira vez que recebia um fora certeiro sem nem ter tentado suas intenções, até porque, para Hunt, garotas eram interessantes para um certo fim. Intrigado o inglês deu um meio sorriso. Mostraria para ela que ele era muito mais interessante do que qualquer roedor.

— Veremos bonequinha...

Niki olhava de soslaio para Lilly que parou de repente, eles estavam um pouco longe do inglês. Internamente adorou ver que ela desprezava caras daquele estilo, mas achou estranho pensar aquilo, afinal, assim com ela, estava ali por outros motivos. Liesel Dungl o olhou com seus olhos tom de âmbar brilhante, dando-lhe um sorrisinho tímido.

Danke, Niki.

Em meio àquele emaranhado de marmanjos, quem sabe, aquele rapazinho ranzinza poderia de alguma forma ser um possível amigo. Foi a sensação que ela teve quando o frio Niki lhe devolveu o agradecimento com um sorriso tímido que mostrava seus dentes de rato.


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Notas finais do capítulo

Eu já estava com esse pronto, mas esqueci de postar antes (é que não tem muita gente lendo isso, enfim), mas tá aí. Se alguém gostou, comente, bou adorar saber o que está achando dessa ideia louca rsrsrs

Bjs!



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