A Destinada escrita por Vick Alves


Capítulo 8
Forças para Lutar


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores e amoras! Sentiram saudades?
Desculpe-me pela demora, com a volta das aulas as coisas complicam.
Nos vemos nas notas finais?
Boa leitura!



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Minhas costelas estão doloridas e ainda arquejo, meu peitoral queima tão flamejante quanto uma fornalha. Uma luz repentina surge tornando minhas pálpebras vermelhas, deslizo meus dedos delicadamente perto do meu rosto e sinto o macio do forro. Uma cama. Lentamente meus olhos se abrem, minha visão é embaraçada mas logo tenho um foco, primeiramente parecia que fazia séculos que não abria os olhos, pois um raio de sol veio direto em meu olhar. Mas logo me acostumo.

— Você acordou – não consigo reconhecer a voz calma e levemente alegre. – Olá, Kristen.

Um homem surge em minha frente, seu abdome é esculpido e sua blusa está pendurada em seu pescoço. A olhar fixamente para ela vejo que está rasgada, porém a aparência do homem é tão bela que não consigo pensar que algo ruim irá me acontecer. Cabelos delicadamente ondulados, olhos castanhos, porém no fundo consigo ver o esverdeado, pele suavemente negra e um sorriso estonteante. Suas mãos caem sobre meu rosto empurrando uma mecha de cabelo para trás, seu outro braço levanta minha cabeça e apoia sobre seu peitoral. Porém ainda continuo perdida, meu olhar percorre o local e mesmo assim não consigo identificar, meu coração dispara e meus dentes rangem, quando percebo minha pele colada na dele e dou em conta que somente visto as peças intimas e há uma facha enrolada ao redor das costelas em que feri. Seu queixo lentamente se posiciona encima da minha cabeça, não era algo malicioso, e sim um gesto carinhoso e calculado. Por algum tempo me senti protegida, estava tão frágil naquele momento. Mas me lembrei que estava num lugar estranho, abraçada com um estranho. Recuei entre múrmuros.

— Quem é você?!

Ele pareceu surpreso, com minha mão levantada já como uma ameaça. Estava nessa mistura no momento, tão frágil porém uma ameaça. Meus olhos estavam secando de tão arregalados, quando ele se levantou e caminhou ao redor da cama, com uma mão atrás das costas e outra a altura dos meus olhos.

— Fale logo! Quem é você?!

— Ela não te contou, não é?

Quem não me contou o que? Meu coração acelerou mais e mais, deveria ter desconfiado de tudo. Me sinto tão omissa.

— Quem não me contou o que? – perguntei com a voz tremula e já engolindo seco.

— Angela.

— Angela?

Ele assentiu, e um nó se formou em minha mente. Sua surpresa era isso, acabar comigo? Angela também acreditava no demônio. Agora as coisas faziam sentido, o porque que ela me trouxe aqui e a surpresa que sua mãe não me revelara. Igual á todos no momento, Angela queria me matar. Um frio subiu pela espinha fazendo-me tremer, a costela deu uma pontada e eu me curvei e gemi de dor. Então senti novamente sua pele rodear-me, senti vontade de dar uma cotovelada, mas estava fraca demais.

— Kristen – meus olhos caminharam em direção a sua voz, com um sorriso aflito em seu rosto e expressões cansadas. Ele se distanciou, e de frente a cama apoiou-se. Somente o encarei cabisbaixa o suficiente para assumir meu erro, havia sido fraca e pagaria por isso. Mas, como ele sabia meu nome? – Sou eu, John Sparks.

— John? – murmurei.

Ele assentiu e alargou os braços esperando um abraço. Meu pulmão soltou o ar que havia se acumulado sem perceber, minha visão ficou estranha até eu perceber que eram meus olhos que estavam boiando nas minhas próprias lágrimas, um sorriso se acende em meu rosto e eu salto em seus braços. É tão reconfortante estar em seus braços novamente, aquele abraço me trouxe as lembranças que John tinha em mente naquele momento, estava se conectando a mim. Memorias minhas, tão antigas. Erámos três e tudo de encantador acontecia quando estávamos juntos naquele jardim, várias cartinhas com seu nome e letras ilegíveis. Aqueles abraços, eram tão mágicos. Angela...

Com certeza foi ela, eu a culpei e pensei mal de uma pessoa que deu tudo de si para esse momento. Mas simplesmente não estava aqui para ver, ela merecia o maior mérito. Jamais poderei retribuir.

Ele recuou para ver meu rosto, e acariciou com as mãos apoiadas em meu pescoço e os polegares grudados em minhas bochechas. Seus olhos brilhavam tanto que seria incapaz de descrever, seus lábios grudaram em minha testa como fazia quando criança.

— Senti tanto a sua falta, Kristen.

— Eu também senti, eu também senti! – estrilei.

Alguém apareceu em na porta, um senhor baixinho com a cabeça coberta de fios brancos. Seus olhos se arregalaram em minha direção, e logo me encolhi de vergonha nos braços de John. O homem colocou o vestido e uma bandeja com café e torradas no criado-mudo.

— Era da minha mulher, acho que serve na senhorita.

Abaixei a cabeça como forma de agradecimento, e por um segundo concordei com Judith: Me sentia nua. O senhor deixou o quarto e dando lugar ao meu suspiro de alivio. Com esforço comi algumas torradas e John me ajudou com o vestido, que ficou um pouco largo e curto.

— Como eu vim parar aqui? – pergunto entre bocadas.

— Assim que o enterro acabou eu senti sua falta, tudo estava preparado para te ver. Você não estava entre a multidão então resolvi procurar você em direção ao lugar onde te vi, a encontrei com o vestido rasgado toda suja e machucada, consegui conter um pouco de sangue uma camiseta. Mas tive que sair às pressas com você no colo procurando algum lugar onde pudesse cuidar melhor, então o senhor me ajudou. – ele explicou, mas algo em seu olhar estava estranho. – Mas o que aconteceu com você?

Como poderia mentir?

— Eu estava cansada do enterro, então fui dar uma volta lá por cima. O vestido estava incomodando então soltei o zíper, ouvi um barulho e então corri até o alto e acabei caindo. Tinha muito vidro e eu...

— Tudo bem, precisamos ir... – ele me interrompeu.

Ele se aproximou, sua mão forte correu por baixo da minha coxa e a outra segurou minhas costas. Ele me ergueu enquanto eu somente descansava em seu ombro, ele me balançava muito que até fazia cócegas.

Assim que nos despedimos John me colocou no carro e deu partida enquanto eu acenava para o senhor. Assim que entremos na mata, ele virou-se para mim com uma expressão estranha. Como se estivesse confuso e amedrontado.

— Por que Angela morreria agora, perto da surpresa?

Aquela era a pergunta que somente eu não sabia responder, pelo o que acontecia nos últimos dias. Somente conseguia encarar Angela como uma pessoa que tem uma vida dupla, alguém que eu não pude conhecer.

— Essa é a pergunta que mais me intriga. Mas, você não me contou sobre a surpresa...

— Angela queria lhe presentear e pediu minha ajuda, mas assim que se aproximou de você percebeu que estava vazia e só. Então pensou e reacender a chama que tínhamos quanto criança, ela pagou todas as despesas para eu estar aqui.

— Por quê? – penso alto.

— Angela estava com os dias contados, tinha juntado muito dinheiro para pagar as pessoas que tinha divida. Mas percebeu que não devia nada a eles e sim as pessoas que ela fez mal, então resolveu que daria sua vida para recompensar essas pessoas... para recompensar você.

Agora algumas coisas faziam sentido: porque ela me disse aquilo na lanchonete, porque queria tanto me ajudar e porque era sempre tão gentil. Ela não foi sempre assim o tempo inteiro, mas agora queria me recompensar enquanto eu que a devia tudo, inclusive ter John ao meu lado.

— Eu lamento, Kristen...

— Não é culpa sua, não lamente. – respondi no ato.

Alguns minutos se passaram até conseguir reconhecer a estrada, então em seguida vejo minha casa o que me faz conseguir voltar a respirar novamente de alivio. Não consigo esperar John, salto do carro e caminho com uma perna enquanto arrasto a outra até a porta, que meu pai abre.

— Kristen, o que houve?

Balanço a cabeça tentando planejar uma boa história, mesmo que no fundo sabia que minha voz demonstraria a dor emocional, mas pouco me importa. Ele já tinha me ferido, mas eu não seria cruel ao ponto.

— Fui assaltada, me deram uma facada porque eu tentei reagir – passo a mão no pescoço e sinto falta do colar – levaram as joias da mamãe, lamento.

Papai me acolhe em seus braços e me guia até o sofá, manda Judy buscar água e preparar um banho. Logo em seguida ouço vozes baixas discutindo, silencio-me para ouvir, mesmo assim está baixo demais. Porém logo em seguida John adentra na sala, sorri levemente para mim e senta no sofá á minha frente.

— Está tudo bem, acho que ficarei por aqui durante alguns dias. Seu pai quer que eu fique aqui até o aniversario de Ben como agradecimento, mesmo que o maior agradecimento que eu possa ter é vê-la bem.

— Melhor assim.

Me levanto e caminho com dificuldade até o corredor, onde vejo minha mãe transferindo algumas coisas para a prateleira mais alta. A caixa estava no centro aberta com uma velha bailarina dentro, não demoro muito para perceber que aquilo eram lembranças, lembranças de todos nós.

— Não precisava colocar a caixa, eu prefiro o violoncelo.

Ela balança a cabeça e parece um pouco surpresa, passa a mão delicadamente sobre a bailarina e se vira em minha direção.

— Eu não coloquei a caixa aqui, achei que a ideia fosse sua.

Antes que meu coração parasse durante frações de segundos e voltasse a bater acelerado, uma nova facada invisível veio em direção a minha garganta, engulo seco. Eu não havia mudado o lugar da caixa, eu não havia nem tocado nela. Caminho chocada em direção ao meu quarto e me deito em minha cama.

...

Viro de um lado para o outro, coço as pálpebras e tento me erguer durante várias vezes não consegui, até me levantar e caminhar em passos dançantes até a janela do outro quarto. Passo pela cerca elétrica e me sento na janela, respiro fundo e sinto a brisa da noite, ouço o barulho do vento movimentando as folhas e olho para a lua prateada que ilumina o céu junto com as milhares de estrelas. Agora as Três Marias tinham um significado para mim, de três estrelas insignificantes de Órion, agora elas eram o motivo de eu querer passar tanto tempo admirando o céu da noite. No meio me ilustrava o rosto angelical, não demorei muito para perceber que se tratava da minha mãe. Na esquerda me ilustrava o rosto sofrido, era com certeza Ruthie. E na direita me ilustrava um rosto amigável, era Angela. Um frio invadiu meu peito, nunca havia sentido tanto algo assim, saudade. Aquela vontade imbatível de querer estar com alguém, querer ouvir a voz da pessoa, o desespero sufoca e faz ter medo de coisas simples, que a vida faz esquecer o valor.

— Kristen... – ouço o sussurrar e viro-me, é John. – Como eu passo?

Levo o dedo indicador aos lábios pedindo silêncio.

— Estão desativadas.

John passa ainda cuidadoso sob as cercas, e se senta na beira da janela com uma expressão amedrontada. Eu sorrio comigo mesma, e volto a olhar o céu.

— Você não tem medo de cair? – ele pergunta incrédulo.

— Na verdade não, é a melhor sensação estar aqui... você presente que vai cair, então começa a pensar melhor nas coisas como se fosse seu único segundo, mas quando percebe ainda está são e salvo.

Passo as pernas afora e começo a balança-las, o vento bate mais forte em direção as árvores que balançam sem parar. Ouço um murmuro distante que chama minha atenção, olho para baixo e enxergo uma capa vinho, os movimentos lentos mesmo assim o tecido dança no ar. Um medo aflige-me, minha vontade era simplesmente cair para que tudo aquilo passasse, quando meu corpo se inclina na esperança de cair, sinto uma mão segurar meus braços.

— O que está fazendo?

A voz me desperta com um susto da grande ilusão, começo a arquejar até minha respiração voltar ao normal e sentir o calor voltar ao meu corpo. Inclino-me para trás, saio da janela, passo pela cerca e começo a correr nas pontas dos pés em direção ao jardim, pouco me importava a voz aflita de John gritando pelo meu nome. Sinto pontadas por todo o corpo pela falta do oxigênio, não consigo respirar enquanto corro tão velozmente, simplesmente paro quando meus dedos tocam o tecido de seda vinho que dançava pelo jardim. Um rosto se vira em minha direção, coberto pela escuridão não consigo enxerga-lo.

— Kristen? – a voz é do Sr. Banks.

— O que faz aqui?

O olhar tomado pelo espanto, uma espada lustrosa na mão e na outra um cordão amarrado ao crucifixo artesanal.

— O que você ia fazer com isso?

— O demônio precisa morrer – ele grita com voz grave. – A caixa já se movimenta, a noite já é fria e as pessoas morrem. O demônio aos poucos se espelha entre as pessoas, sua alma já foi condenada ao inferno...

Suas palavras me fazem ficar paralisada por um tempo, minha mente focava nas pessoas mais importantes para mim. Sei que o que mais quero era senti-las perto de mim, porém o que realmente importava era que suas almas fossem salvas, assim como dizem as crenças: A alma é o verdadeiro nós, o que importa de verdade.

— Como eu mudo isso? – pergunto com a voz tremula de temor.

Assim que sou puxada pela realidade, percebo que ele me guia em direção à floresta próxima. Assim que percebe que estamos fora do alcance de qualquer um, ele para e encara-me com os olhos semicerrados, percebo sua respiração ofegante e fria. Parecia ainda mais amedrontado que eu.

— Lute.

Lute? Mas por que motivos lutaria? Balanço a cabeça sem me desfocar de seus olhos, respiro fundo armazenando todas as minhas memórias boas novamente: meu violoncelo, minha família, meus amigos... desde que tudo começou a acontecer, nada tem sido a mesma coisa. Eu não sou a Kristen. Sou fruto de um espirito maligno, condeno a alma de todos ao meu redor. Já havia acontecido com Ruthie, em seguida Angela, seria sempre assim?

— Quais são meus motivos?

— A vida de quem você ama – ele me responde – lute por eles. Lute por você. Encontre seus motivos, e eu lhe ensinarei como se lutar.

...


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Notas finais do capítulo

O que você usaria de motivos para lutar? E a surpresa... o que acharam?
Até o próximo!



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