A Destinada escrita por Vick Alves


Capítulo 6
O Partir do Coração


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!
Capítulo novo!
Podemos nos ver nas notas finais?
Boa leitura!



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Após o momento em que desabei em seus braços, eu somente via o que se passava, mas minha mente não tinha força o suficiente para raciocinar. Angela segurou minha cabeça, seus olhos estava cheios de lágrimas de desespero. Ela apoiou meu corpo sobre seus ombros e foi forte o suficiente para me levar até o carro, me colocou no banco de trás e entrou às pressas no carro. Deitada, conseguia compreender um pouco: estava deitada no banco detrás do carro, sentia frio o suficiente para parecer que estava congelando, olhando-me pelo retrovisor vejo-me pálida e com os lábios roxos e miúdos. Angela se vira e passa a mão quente sobre minha perna, seus olhos brilhantes boiam nas próprias lagrimas e entre soluços ela diz:

– Você vai ficar bem, estou te levanto para casa.

Minha cabeça caiu sobre o banco e minha visão se apagou, foi como o sono mais profundo que já tive. Minha mente se mantinha clara, enquanto sentia minha pele enxergada e fria. Senti um braço forte me apertar e depois me balançar, abro os olhos e sinto minha imunidade ficar cada vez mais crítica. Mas aqueles olhos que demoro um pouco a reconhecer pela mente fraca e o balanço forte, mas sei que é meu pai. Ele sorri tão sereno que sinto meu coração relaxar, o medo desaparece.

– Olá, querida – ela diz – não se preocupe, vou cuidar de você.

Meus batimentos se acalmam e eu relaxo a cabeça em seu peito, seus batimentos estão tão acelerados quanto os meus estavam. Sem perceber, volto a adormecer. Dessa vez acordo com o som da água quente despencando em minhas costas, o choro miúdo da minha mãe e os saltinhos de Judy passeando pelo meu quarto. Fico parada, se elas perceberem que estou acordada ficarão calmas em minha frente e me esconderão o que acontece.

– É o terceiro banho, por favor. Essa temperatura deve baixar, não vou perder minha menina por uma febre.

Minha mãe se ajoelha á beira da banheira e segura minha mão, meus braços gelam e meus dentes batem descontroladamente. Meus olhos continuam quase fechados, mas pela pequena brecha vejo uma lágrima escorrer pelo rosto de mamãe. Nunca a vi chorar tão silenciosa, tão de repente, uma imagem vem em minha mente. Aquela pequena menina de cabelos claros rodea o jardim enquanto grita pela mãe entre gargalhadas, seu vestido bate em seus tornozelos e seus cabelos voam com o vento com suave cheiro de flor, a mãe a encontra e a agarra tão forte que consigo sentir a emoção. As palavras vêm em sua cabeça “minha pequena princesa, não sabe o quanto esperei para tê-la em meus braços”. Até aquele choro manhoso, a mãe a acolhe e a beija. Talvez nunca soubesse o quanto ela me amava, minha mãe agora com o coração acelerado via sua filha quase partir de seus braços por algo banal. Eu abri os olhos, o sorriso mais grandioso que vi se formou em seus lábios e ela me rodeou com seus braços e me beijou milhares de vezes como em sua lembrança. Mais tarde, me levou a cama e me cobriu por diversas cobertas e ainda tinha um sorriso maior ao pentear meus cabelos e logo depois sentar-se ao meu lado.

– Quase você me matou – ela relembrou com o sorriso molhado pelas lágrimas, mas logo seu olhar doce se transformou em severo e sua voz soou como um sermão – Saiba que está proibida de sair com Angela por um bom tempo, espero que tenha aprendido que não deves sair dessa forma!

Ela deu uma piscada e saiu do quarto levanto mais algumas mantas que recusei, logo em seguida Angela entrou. Ela sorriu em minha direção e logo arrumou um pequeno espaço embaixo dos meus cobertores, seu leve cheiro de flores ainda permanecia em sua pele e cabelos que estavam praticamente colados em mim.

– Desculpa – ela desabou repentinamente – quase achei que perderia você, não sei se dá para perceber, mas eu estava chorando.

Minha voz quase morta se transformou numa gargalhada alta, ela colocou a mão em minha boca para manter o silêncio. Os olhos de Angela entregavam o quanto ela havia chorado, mas suas feições delicadas apagaram a impressão devastadora que deveria ter.

– Parece que você foi picada por abelhas em ambos os olhos – brinquei, nós duas rimos. Até sentir um frio tão grande que gemi, ela logo me lançou um olhar preocupado e tratou de me cobrir. Desde então, a conversa tomou um rumo sério – O túmulo.

Ela se ergueu e segurou uma mão, que estava trêmula como todo seu corpo.

– Eu não estou entendendo – seus olhos procuravam o rumo entre os meus, ela suspirou e tentou voltar à concentração – Por que você tem um túmulo?

Eu balancei a cabeça, meus lábios se movimentaram e sem sair nenhum som eu pronunciei “eu não sei”. Ela entendeu o que havia dito, pois voltou a prestar atenção. Senti um frio repentino na espinha, e logo meu corpo tremeu de dor como se tivesse despencado de uma grande altura. Ela mordeu o lábio e virou o olhar procurando a bolsa, então voltou a me encarar.

– Vou procurar resposta. – ela sussurra, agora tudo se transformaria num segredo, nosso segredo – Acho que deve voltar á dormir, antes que sua mãe me mate: acho que não falta muito!

Ela beijou minha testa e então saiu do quarto, dando espeço ao pequeno furacão que saltou em minha cama. Benjamin parecia elétrico quando me viu, percebi a leve marca de lágrima em sua bochecha e seus olhos avermelhados. Seu abraço durou tempo o bastante para ele voltar a chorar de emoção, seu de longe poderia saber que estava acelerado enquanto ele repetia sem parar o quanto me amava. Me sentia tão serena á o ver, poucas coisas comparavam ao quanto eu o amava. O quanto meu irmão é importante, eu o agarrei novamente enquanto ouvia ele soluçar ao pé dos meus ouvidos.

– Acho que não vou ganhar presente esse ano – ele murmurou.

– Por quê? – pergunto imitando seu desapontamento.

– Falei ao papai do céu, que não precisava me dar presente se você ficasse bem. – logo ele formou um grande sorriso – Mas não acho ruim ficar sem presente, tudo que importa é você ficar comigo.

Não consegui conter o choro por seu desabafo, senti a lágrima rolar suave por minha bochecha até ele a recolher com suas mãos, e liberar um sorriso acolhedor. Um grito corre pela casa a procura dele, com certeza é Judy. Ele suspira desapontado e beija minha testa com delicadeza, e salta da cama logo sumindo.

Me sinto liberta por poder estar só, tento me manter focada no que aconteceu. Me sentia insegura por tudo que havia acontecido, as memórias estavam vivas o bastante para me perturbar. Mas o escuro relaxante da noite logo me dominou, meu piscar já estava lento e eu já havia bocejado milhares de vezes, até repentinamente ouvi um rosnar furioso. Virei-me, mas só havia eu naquela escuridão. Então voltei a me posicionar a dormir, o sono me domino logo depois.

Eu estava novamente naquela sala, e a mulher ainda estava viva. Ela se contorcia encima daquela cama, seus ossos facilmente visíveis enquanto o sangue escorria pela sua perna. Quando um jato de sangue surge junto com um choro horrível.

Salto junto ao despertar.

O escuro somente cresceu, sinto o vento em minha nuca que logo vira um leve acariciar. Angela ainda deve estar aqui. Mas quando ouço o rosnado cruel, viro-me tão rapidamente que meu cabelo voa até meu ombro. Uma sombra obscura, seu cabelo flutuava enquanto caiam sobre seu rosto, seus olhos eram profundos e escuros e tudo que escorria sobre seu rosto era o sangue de seus olhos. Não havia boca ou mesmo nariz. O ser era corcunda e tão magro que conseguia contar os ossos de sua face, sua veste seria totalmente branca senão o sangue que escorria entre suas pernas. No momento em que o grito saiu de meus lábios e meus pelos arrepiaram por todo o corpo, meu corpo se ergueu ainda deitado e quando encostei a ponta do nariz no teto, uma força me jogou brutamente até a parede. Meus ossos se remoeram como os de Judith e sentia eles se despedaçarem por todo meu corpo. A criatura não se mantinha quieta, soltava um rugido cruel enquanto via meus olhos escorrerem sangue como os seus. Queria gritar, mas minha garganta estava totalmente fechada. Não conseguia sequer mexer um músculo, estava começando a arquejar e meu nariz a espumar sangue. Ela começou a se arrastar pelo chão tão lentamente eu escutava seu ranger enquanto via a mancha grande no assoalho, sua unha encravou-se em minha perna e puxou. Tente não morrer, tente ficar viva, pensei. Quando estava sentada ao chão, minhas mãos se levantaram e a jogou contra parede. Ela então flutuou e penetrando no teto, formando uma rachadura mofada. Me encolhi na parede, meu choro era tão fino que incomodava meus próprios ouvidos. Aquela sensação de que não voltaria a respirar, e meu coração que parecia não bater o que fazia sentir falta da meu pulsar. Mesmo no escuro, vi uma fumaça que continuava a rosnar sair de dentro da caixa que minha mãe me deixara, logo pulei sobre ela e a joguei debaixo da cama.

Rapidamente corri do quarto até a sala onde tínhamos aula, ainda ofegante tranquei a porta. Meus olhos boiavam em minhas próprias lágrimas, um vazio assombrava meu coração. Sentei-me e me debrucei sobre meu violoncelo, uma doce música logo surgiu completando aquele espaço. A cada nota havia um sentimento, e todas juntas vinha a sensação de estar morta. Quando o rosado do céu da manhã começou a surgir, me sentia segura o suficiente para sair da sala e voltar ao meu quarto. Mesmo curiosa pela caixa, o demônio já havia me mostrado que era bem mais forte, não poderia arriscar morrer pela minha curiosidade. Mesmo assim, senti a insegurança dele tocasse alguém que eu amasse. Logo me veio a imagem do frágil Ben, ele está são e salvo?

Logo saltei soltando o violoncelo e correndo pelo corredor nas pontas dos pés, estava a pisar o primeiro degrau para ver se meu irmão estava bem, mas voltei atrás ao ouvir de longe a voz de minha mãe. Corri para o meu quarto me enfiando debaixo dos inúmeros cobertores, logo ouvi o quebrar do saltinho no assoalho e em seguida o ranger da minha porta. Estava virada em direção a parede com os olhos levemente fechados, ela acariciou meu ombro em círculos e me puxou. Assim que abri os olhos, ela sorriu.

– De doze em doze horas – eu torci o nariz e franzi o cenho, com certeza era horrível. Para ela me acordar tão cedo. Já deveria ter de dopado antes, fico surpresa de não lembrar do gosto – Não é tão ruim assim.

Me apoio sobre os braços e me ergo virando o pequeno copo inteiro na boca, era péssimo. Mas com um pouco de força consegui engoli e forçar um sorriso. Ela passou a mão em minha testa e sorriu, a febre abaixou milagrosamente. Ouvi um pequeno rugir, meu coração acelerou ao ponto de quase empurrar para fora do quarto. Me ajoelhei à beira da cama, meu coração continuava acelerado tanto como minha respiração. No balbuciar da das frases pude entender algo, mas pouco o suficiente para esquecer a história. Banhei-me e desci para o café, todos já estavam na mesa, inclusive Angela. Percebi o café mais nutritivo que Judith havia posto, meu estômago se revirou e roncou e minha boca salivou a ver tudo que ela havia posto.

– Bom dia – disseram em uníssono.

Logo senti o clima diferente, menos formal do que antes. Eles estavam se esforçando para me ver feliz, não pude evitar sorrir. Depois de diversos assuntos agradáveis e de desviar de alguns negativos que minha mãe quis trazer a tona, meu pai me fez o favor de lembrar que deveríamos consertar a janela. Angela prometeu ajudar, o que não me surpreende. Ajudei a levar alguns pratos até a cozinha e logo depois me apressei para a aula com Sr. Banks, e mesmo com todo o alvoroço ainda cheguei atrasada.

– Bom dia Sr. Banks.

Ele somente confirmou minha presença, e sentou-se à mesa entre suspiros. Ele puxou o violoncelo para perto e me entregou ainda evitando olhares, sem ao menos perguntar o motivo comecei a tocar com o máximo de leveza que pude a mais doce música que não consegui segurar a emoção, minhas mãos estavam tão suadas que a o arco deslizou caindo no chão. Meu dedo cerrou pelo cavalete e logo senti o aquecer do sangue descer e a mão do Sr. Banks vir ao socorro. Uma pequena menina sangrenta e miúda nos braços, a seguro em meus braços o que me faz sentir proteger um demônio. A mão dele se afasta após minha estranha pausa, eu engulo seco e meus olhos voltam a marejar. Rapidamente empurro o violoncelo em seus braços e corro daquela sala antes de alguma convulsão venha me atormentar, logo me enfio no primeiro banheiro e lavo meu rosto com água abundante e dou descarga.

Assim que saio do banheiro me deparo com meu pai carregando uma extensa corda em direção ao meu quarto, o sigo e assim tenho certeza que seus planos incluem usar uma polia para subir o vidro. Angela está disposta e segura-lo assim que o vidro entrar no quarto, ela sorri em minha direção enquanto ajuda papai.

– Kristen! – ela comemora. – Você tem muita força no braço para conseguir quebrar um vidro como esse.

– Acho que foi medo, meu medo de insetos é tão grande que nunca duvide da minha capacidade de quebrar qualquer coisa – menti enquanto ria.

Ela me iluminou com um riso cativante, que eu retribui. Quando ouvi o rosnar novo da caixa dessa vez entendi plenamente o que queria dizer.

– Volte à sala.

Dessa vez a curiosidade venceu e eu voltei no tempo certo para a continuação, fingi um mal enjoo e tenho certeza que ele acreditou. Meu dedo continuava sangrando, foi o atrativo final para que ele segurasse minha mão novamente e eu a apertasse como se tirasse sua memória.

A menina miúda e sangrenta permanecia em seus braços, seu olhar furioso a encarava cada vez mais severo. Os médicos saíram as pressas, com o bip ainda alto e cruel. Assim que só, ele se ajoelhou com a pequena em seus braços, seus olhos lacrimejavam quando ele beijou sua testa e sorriu.

– Kristen Watson Hallen – a lágrima rolou – minha filha, perdoe-me pelo meu ato. Mas o demônio deve morrer.

O demônio deve morrer.

Ele soltou a menina que caiu brutalmente no chão e, consequentemente, chorou. Ele se debruçou por cima a criança para acobertar seu choro, e somente se levantou como o choro havia sessado. A pequena menina agora estava menor roxa e jorrava sangue pela sua pequena boquinha. Ele a pegou em seus braços e chorou diante de seu próprio ato cruel.

Aquela cena foi o final, para eu não aguentar mais a visão. Já chorava e não me aguentava de tanto soluçar, aquela cena tão fria havia me partido, mas chorar não iria resolver. Me levantei criando forças o suficiente para o jogar contra a parede de forma sobrenatural, ele tomou tonalidade roxa, mas somente chorou em silencio o suficiente para eu o soltar e correr até meu quarto. Corri até ele secando as lágrimas que caíram e segurando as outras, de repente meu mundo parou a ver o vulto vermelho saltar da janela. Percorri até o quarto cada vez mais rápido ao socorro daqueles olhos que ainda brilhavam em minha direção e aqueles cabelos vermelhos que flutuavam enquanto seus lábios se mexiam sem sair som “Kristen, me ajuda”. Isso me trouxe a realidade de correr até ela e tentar ao menos segurar a ponta de seus cabelos, mas fracassei. Vi seu corpo despencar de uma altura imensa e ser partido pelo vidro no fim de sua jornada, rapidamente grudei-me a corda e deslizei, minhas mãos pegavam fogo e assim que cheguei elas estavam totalmente rasgadas. Mas me agarrei ao seu corpo enquanto gritava abafado, ela não podia partir, minha esperança deveria ficar comigo.

– Angela?! Por favor, não me deixa...

Eu implorava como uma criança enquanto segurava sua cabeça, suas costelas haviam sido quebradas por cima do vidro fino que estava em pé e sua cabeça havia sido batida no chão. Não posso deixa-la partir, mas logo sua carne fica fina e seus ossos visíveis como a mulher em minha visão, seu corpo vai ficando cada vez mais fino e suas expressões mais frias e horripilantes. Agarrei-me a ela com tudo que pude, enquanto minhas lágrimas molhavam seu rosto que era tão brilhante.

– Você prometeu – minha voz ficava mais abafada – Não vou falhar assim para te deixar morrer, Angela. Como uma irmã me amou e como uma irmã te amarei.

Abracei mais forte seu corpo que ficava cada vez mais leve, até perceber que não estava abraçando nada a não ser o pó. Segurei o pó nas mãos e o soltei no ar, acho que sofreria menos se não tivesse nada dela a não ser a lembrança de seu sorriso, assim que soltei o pó e o forte lento o levou para longe. Ouvi um sussurro baixo.

– Não chore agora ela é só o pó!

Aquela frase que Angela me dissera uma vez me destruiu. Mas não tanto como agora. Eu abraçava sua roupa enquanto a desejava voltar, e passei o tempo dessa mesma forma tentando sentir seu cheiro e pensando como seria a partir de agora.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer do fundo do meu coração á Garota Confusa, por me ajudar e me inspirar sempre. Não sei se é pedir demais que os leitores fantasmas apareçam! Gosto tanto de responder vocês e saber o que acham, não sabem o quanto são importantes para mim.
Por favor, podem espalhar por aí tudo sobre Kristen porque ficarei mais feliz ainda em ter mais de vocês para amar.
Com um imenso carinho, até o próximo!
Conversem comigo e me inspirem nos comentários!



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