Estava na hora do que eles chamavam de intervalo. Embora eu não estivesse acostumado a comer como um "humano", percebi que como todos estavam fazendo isso, era melhor eu ser um deles também.
Enquanto eu estava na fila, um ou dois meninos vieram falar comigo, perguntando se eu não queria me juntar à eles. Eu não sabia como era esse negócio de "se juntar", mas a impressão que deu foi que eu deveria andar com eles.
Um deles se chamava Henry. O outro que parecia com ele se chamava Josh e tinha mais um que me lembrava uma vara de bambu de tão alto e magro que o garoto era. Os dois meninos pareciam ter vergonha dele.
– E então cara... Já se interessou por alguém?
Henry, o mais velho, perguntou. Ele tinha um olhar sarcástico, e esperava ansioso pela minha resposta.
Automaticamente Emily me veio à cabeça.
– E então...?
– Emily Stanford. - Seu nome inteiro soou bonito de repente.
Ele franziu o cenho como se estranhasse.
– A Em? - Perguntou Josh. Eu assenti. - Ah cara, ela é estranha...
– Por que?
– Quer dizer, por que você se interessou por ela? Digo, tudo bem que você não conhece o colégio inteiro ainda... - Ele parou e ficou pensativo de repente. - É, é isso... Você não conhece muitas pessoas. Têm tantas gatas por aí...
Eu assenti. Eu queria saber mais sobre a minha caça. Eu precisava de informações sobre ela. Onde morava, o que fazia, seus hobbies... Mas antes, eu precisava parecer interessado nela.
– Como ela é? Por que é estranha?
Henry me olhou por longos segundos, como se me desse um tempo para pensar se era isso mesmo o que eu queria saber.
– Há uns dois anos, houve boatos de que ela era uma bruxa. Ela sempre foi muito reservada. Só tem uma amiga, não fala com quase ninguém, quase nunca come, age como se fosse uma paranormal sei lá - ele soltou uma risada zombeteira. - Mas no fundo, é só uma virgem mal comida.
– Virgem?
Ele me olhou sério.
– Por que cara? Acha mesmo que aquela ali não tem o cabaço?
Eu suspirei. Os palavreados humanos me irritava algumas vezes. Provável que ela esteja tendo dificuldades em conhecer seus poderes. É por isso que é tão reservada.
Eu não respondi, apenas soltei uma risada abafada.
Enquanto eu tentava ser sutil em encontrar Emily, os garotos estavam em uma área escondida do colégio, que parecia estar abandonada faz alguns anos. Eles fumavam algo que fedia a gás e incomodava um pouco.
– Tome, pegue um - estendeu um dos garotos, o do meio.
Eu recusei e ele deu de ombros.
– Ei Phil, parece tenso, tá preocupado?
Eu enrijeci.
– Preocupado? - Eu fiz uma careta. - Com o que seria?
– Deve estar procurando a sobrenatural - Henry cutucou Josh, enquanto acendia um cigarro. - Senta ai, garoto!
Mas eu não sentei. Não sentei porque havia algo errado. Eu sentia que algo estava muito errado. Esse sentimento... Eu não sentia desde... Desde quando eu era um anjo.
E este sentimento só significava uma coisa: alguma coisa ruim estava acontecendo.