Anjo Mau escrita por annakarenina


Capítulo 42
Summerland


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é narrado por Emily Foster



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 Eu ouvia — com medo — o barulho das plantas esbarrando uma nas outras, e definitivamente, não era o vento. 

 Philip, já posicionado a minha frente e com os braços para trás, aguardando o que estava por vir, parecia calmo, mas tão alerta como uma águia. Seus olhos percorriam todo o quilômetro quadrado em um rápido movimento, mas sem tirar a atenção de Claire, que parecia tão assustada quanto eu.

 De repente, duas formas humanas saíram de lá, com a mesma luz que envolvia Claire. Não — eu estava errada, eram cinco no total. 

 Eles saíram e diferentes direções, e seus olhos — todos tão claros que pareciam transparentes, me procuravam por trás de Philip. Ele deu um passo para trás, obrigando-me a fazer o mesmo, e puxou-me com delicadeza para mais perto das suas costas, para que eu pudesse segurar-me nele. 

 A primeira para qual olhei era uma mulher que aparentava ter uns trinta anos, mas sua beleza inconfundível, tal como a luz que a envolvia, deixava claro que não se tratava de uma humana, e sim de um anjo. Ela inclinou a cabeça diversas vezes procurando o meu olhar, mas não conseguia fixar em mim, pois eu estava a observando por uma pequena fresta entre o braço musculoso e o corpo de Philip. Em seguida, olhei para o ser masculino ao lado dela, com a mesma aparência irreal e a luz envolvendo-o de forma assustadora. Haviam outros três também, dois homens e só mais uma mulher, que era menor que ela, porém, parecia tão selvagem quanto. 

 — Dê-nos a guardiã, Philip. Você sabe que só com encontraremos a paz novamente.

 Todos os anjos conheciam Philip. Isso era assustador. Será que eu já estive com eles também e já os chamei de amigos quando eu era um anjo?

 — Jamais. Vocês são recém criados, não venham para cima porque são inúteis. 

 A mulher a qual olhei primeiramente, olhou para Claire de repente, como se aguardasse alguma ação dela. 

 — Cadê os outros? — Perguntou Claire a ela.

 — São lentos. — A mulher olhou para Philip novamente. — Onde estão seus amiguinhos, Philip? Onde estão os outros que caíram com você? Eles te enganaram, não foi? Eles fizeram você acreditar que só caiu para ter os poderes da guardiã… mas não te contaram que você só estava em busca do seu lindo amor

 — Espero que estejam no inferno.

 A mulher fez uma careta.

 — Como está agressivo! Nem parece o Philip de antes! — Ela gargalhou. — Vamos, Philip, você pode ter trezentos anos, mas ainda é só um anjo. Somos arcanjos, você não é páreo para nós. Temos todos os poderes que tínhamos no céu. Não há como você se defender.

 — Entenda, Myrela, você não voltará para o céu caso entregue a guardiã a Lúcifer. 

 Ela bufou.

 — Não importa, eu serei uma fugitiva, todos seremos. Eu só quero que meus amigos parem de morrer. 

 Eles estavam morrendo… por mim

 — Isso não é culpa dela! — Gritou Philip, e eu quase ouvi um eco na floresta.

 — É claro que é! Lúcifer está sedento por sangue! Ele a odeia! Ele só retirará suas garras do céu caso alguém interfira com a guardiã! Ele a quer, e se for para tê-la, nós a daremos.

 E foi nesse momento que eu busquei compreender o que acontecia — de verdade. Os anjos não possuíam mais o lugar que moravam. Eles estavam perdidos, sozinhos e sem rumo. Lúcifer invadiu o céu, invadiu suas casas e tudo isso por causa de mim. Como eu iria fechar os olhos e vê-los, todos eles, em apuros?

 E então, saí de trás do Philip, com a respiração presa, e a garganta seca.

 Ele virou para trás, com o olhar de assustado para mim.

 — Emily…

 Eu o olhei. Eu olhei aqueles lindos olhos acizentados. 

 — Eu não posso deixar Lúcifer tirá-los do céu por minha causa.

 — Emily não… eles estão bem aqui…

 — Eles foram colocados para fora do céu! Eles estão em um lugar que nem pertence a eles…

 — Eu não posso deixá-la na mão do Lúcifer. Eu não permitirei que ele a toque, Emily.

 Philip olhou para Myrela, que parecia satisfeita com a minha atitude. 

 Aproximei-me lentamente da mulher, que parecia sedenta por mim. Eu sabia que estava indo para um ninho de cobras, e corria o risco absurdo de não sair dessa. Mas eu não poderia deixar que Lúcifer interferisse no céu, ou na vida desses anjos.

 Quando cheguei perto o suficiente de Myrela, ela segurou em meu braço com força, puxando-me para si. 

 — Peguem-no! — Gritou ela, de repente, apontando um dedo para Philip. 

 E tudo deu errado.

 Em uma pequena e mísera fração de segundos, os três homens que estavam com eles avançaram numa velocidade quase impossível de acompanhar em direção à Philip, que nesse momento foi arremessado bruscamente no chão. Eu ouvi o barulho dos seus ossos encontrando a rigidez do solo — e arfei. 

 — Não! — Berrei inutilmente enquanto um dos anjos posicionava-se em cima de Philip e o socava bruscamente no rosto. — Pare, não! — Me remexi constantemente tentando soltar-me do anjo que me segurava, mas parecia inútil. 

 E então o outro anjo surgiu atrás de Philip, e o levantou, prendendo-o com força sob dois braços extremamente fortes e rígidos. Eu torci o rosto, apavorada, enquanto via a agonia nos olhos de Philip. Sua garganta estava presa, sendo pressionada por braços enormes do anjo atrás dele, e Philip fitava o nada, imóvel — e tornava-se tão vermelho quanto o sangue. 

 Eu gritei, como se sentisse a sua dor — e de fato, eu sentia perfeitamente. Vê-lo daquela forma, indefeso e doentiamente machucado, me fazia ter todas as sensações dele. 

 Philip soltou um rangido alto e segurou a cabeça — com dificuldade, do anjo que o prendia por trás. Inutilmente ele impulsionou-o para frente, de modo a tombá-lo, porém o anjo pareceu enraivar-se mais — e a sufocá-lo mais, sem sair do lugar.

 Myrela observava tudo com olhos brilhantes, e segurava meu braço numa força desesperadora e insuportável. Eu me rebati, enfurecida. Ela sorriu para mim, enquanto zombava com o olhar. 

 — Me solta! — Gritei, e quando virei-me para Philip novamente, seu nível e consciência parecia ínfimo, e seus olhos, que entregues à eles. 

 — Caroline, a adaga — disse um dos anjos masculinos, o que o segurava pelo pescoço. 

 Adaga? Que Adaga?

 E nesse momento, a outra menina que aparecera com o bando ergueu sua mão, e em menos de dois segundos um objeto pontiagudo e visivelmente brilhante surgiu em cima da sua palma. A adaga era num tamanho médio, mas a região da lâmina brilhava como se nunca antes fora usada.

 — Pare! — Gritei, e foi como se eu nem existisse.

 Caroline apressou-se em transportar a adaga até o outro anjo, e enquanto isso, Philip perdia a vida em um lento processo entre manter-se consciente até afundar-se para sempre na morte. 

 Eu soquei com toda a força que eu tinha o rosto de Myrela, contorcendo-me em diversas posições buscando dificultar a minha imobilidade — mas eu era tão fraca que a mulher ainda me segurava com apenas uma das mãos.

 De repente, fui esbofeteada no rosto — e senti-o queimando após dois segundos que senti a pressão nele. 

 — Não, por favor! — Implorei, enquanto a adaga era entregue na mão do anjo. Philip estava prestes a revirar os olhos quando o objeto ameaçadoramente pontiagudo foi posicionada contra ele. 

 E numa pequena, ínfima — e quase inexistente — fração de segundos, eu gritei como nunca havia gritado antes. A dor, raiva e ódio dentro de mim cresceram. Algo alertou-se dentro de mim como se eu tivesse despertado uma força jamais sentia em toda a minha vida. Um ser negro, obscuro rangeu no meu corpo como se quisesse de toda forma ser libertado. E a minha garganta sufocou enquanto queimava, ardia, rasgava. 

 Meu coração saía pela boca, e todas as minhas terminações nervosas apontavam para uma necessidade urgente de respostas. Ela precisava de respostas, meu corpo precisava de respostas — o meu ser, quem eu era, precisava de respostas.

 Era como se minha alma, como se meu espírito — como se meus poderes, todos eles —, trabalhassem juntos, em harmonia, e um equilíbrio perfeito e jamais alcançado antes dentro de mim foi libertado. 

 Uma chama brotou por todo o meu corpo, um calor imenso, descomunal, inacreditável — e dolorosamente atordoante — quis sair. 

 Os anjos haviam parado, e pareciam assustados com a figura que viam. Eu brilhava — não, eu queimava como se todo o meu corpo literalmente pegasse fogo. Eu era o próprio fogo, a própria água, a própria terra e o próprio ar em um único ser. E eu, pela primeira vez, os sentia transcendendo dentro de mim, espalhando-se por todas as partes do meu organismo — do meu ser. 

 E nesse momento, eu olhei para Philip, implorando pela sua consciência. 

 Olhei para o anjo que antes me impedia de salvá-lo, e Myrela estava boquiaberta, assustada, numa expressão confusa entre fugir ou permanecer. 

 — Não pode ser… — Disse ela, abismada. 

 E então ela tentou afastar-se, em passos lentos.

 Mas a fera dentro de mim ordenou-me que eu a estraçalha-se. 

 Imediatamente o ser que parecia ser uma outra Emily avançou na direção dela, em uma velocidade feroz, mortal e visivelmente ameaçadora. 

 A fera queria sair, queria explorar o mundo a fora — ela queria ser humana, queria lidar com humanos — e queria, acima de tudo, mostrá-los o quão forte ela era.

 A fera era eu, numa força descomunal e jamais entendida antes.

 Myrela começou a correr, e sua rapidez, como um anjo era realmente impressionante. Mas realmente impressionante até o momento em que eu desejei buscá-la e trazê-la para a morte. Eu era muito mais veloz, muito ridiculamente mais rápida que ela. 

 — Por favor…

 Ela implorou, gritando enquanto tentava a todo custo fugir de mim por dentro da floresta. 

 Mas eu parei no caminho, quando algo dentro de mim remexeu-se, alertando-me que eu deveria ir atrás de Philip — que ele estava em perigo.

 Virei meu rosto e vi o anjo que o prendia tentando terminar o trabalho.

 E a raiva novamente cresceu de forma descomunal dentro de mim

 Mas dessa vez, eu queria matar realmente o inimigo. 

 Corri, de volta ao campo. O anjo percebeu a minha aproximação, e num gesto rápido levantou a adaga de modo a ganhar força para rasgar a garganta de Philip. 

 — NÃO! 

 Gritei, atirando-me para cima dele. Os dois anjos capotaram um em cima do outro, enquanto Philip caiu para trás em cima de mim. Seu peso era pequeno, quase como um simples objeto o qual eu impedi a queda. 

 Ele estava inconsciente, mas a sua respiração — junto com seus batimentos cardíacos — eu conseguia ouvir de forma surpreendentemente bem. Na verdade, eu ouvia tudo o que eu quisesse com uma precisão inabalável e surreal.

 Claire e os outros anjos tentaram fugir também, avançando para o inicio da floresta que parecia interminável. Eu corri até eles, e de repente, surgi exatamente na frente de todos, antes mesmo que pudessem cruzar aquele quilômetro. 

 — A guardiã… — disse um dos anjos.

 — Ela liberou os poderes — terminou o outro.

 — Como fez isso? — Perguntou Claire, parecendo indignada. — Como os libertou sozinha? Você é a guardiã, e não Deus! — Desta vez, ela aumentou a voz de forma considerável. 

 Eu não respondi — apenas desejava seu sangue. 

 — A raiva — respondeu o primeiro que falou.

 — Não — eu disse — o amor. 

 Avancei até ele, e atirei, com toda a força que tinha a minha mão e seu rosto. Ele rolou, desfigurado no chão, até parar inconsciente.

 Os outros anjos se afastaram, e o olhar de pavor em cada um de seus olhos pareceu evidente. 

 — Evan! — Gritou Claire, aflita.

 Ela me fuzilou com os olhos.

 — Stan, a adaga — disse a loira, fazendo um gesto com a cabeça.

 Mas foi tudo rápido de mais para eu conseguir acompanhar. Os dois anjos de repente sumiram do meu campo de visão, tudo tornou-se limitado. Como num flash, eles desapareceram. E antes que eu pudesse desviar o olhar novamente, Stan estava bem na minha frente, segurando a minha cabeça com uma pressão incômoda… E senti um ser atrás de mim.

 Era Claire. Eu estava imobilizada — eu iria morrer.

 E antes de fechar os olhos e aceitar a morte, eu ouvi uma voz de agonia vindo de trás. Um barulho de carne aguçou meus sentidos. E uma luz muito forte veio do mesmo lugar.

 Algo tombou-se nos meus tornozelos.

 Stan, assustado, largou-me, e quando eu me virei, vi Philip com dor, segurando a adaga repleta de sangue em suas mãos, e aos seus pés, Claire morta.


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Notas finais do capítulo

E ennnnntão meninas, o que acharam? Me contem pelos reviews!!!!!! BEIJOS GIGANTES *-*



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